segunda-feira, setembro 04, 2017

ASCENSO, PAULO FREIRE, WALTER BENJAMIN, BUÑUEL, JANACÓPULOS, TONI MORRISON, ADRIANA ASTI, MANOEL BENTEVI & CATENDE

VOU DANADO PRA CATENDE – Isso é planta que brilha ou pulga do mato? É o trem das Alagoas, alesado! Eita! Lá vou eu pra terra da morena do cabelo cacheado. – Se assunte, seu cabra! É tupi ou do Congo? Larga de ser folgado, bestão! Ué, homem de Palmares só é macho se tiver furunfado de saia por aqui! Oxe, tais pensando que tais aonde, hem? É cana-caiana, maior canavial, haja cana da boa pra gente chupar! Ih, já chegou! E lá ia eu do Leão XIII pra Árvore da Vida, só pra ver a Mulher da Sombrinha sair meia noite do cemitério, na sexta de Zé-Pereira. Coisa mais bonita de se ver. Ah, como era bão! Saía trocando as pernas pelo arruado da usina até subir pra Serra da Prata e de lá vê o Caudal de Pelópidas, os versos cantados de Bartyra, jogando conversa fora nos copos e meiotas com Marcos Catende, até findar no mundo perdido: - Onde é que eu estou? Isso aqui é bom demais! – Te aquieta, fuleiro! Lá eu namorava as estrelas de todas as constelações! Tinha moça bonita pra passar troco e ficar todo trocado! Uma infieira de moça sestrosa e de tuia! Cada uma mais linda que a outra! Valei-me que assim eu folgo! – Segura o jipe, safado, essa tua cachaça já está passando da conta! Ah, quanto seio bonito, quanta coxa de perna jeitosa, ah, é embaixo duma saia dessa que eu quero me esconder! Eu quero é mandar ver até me perder no trevo pra correr bicho em Lage Grande. – Ah, já passou, tais quase é em Agrestina! Danou-se! Ah, se não tem história, eu invento. Faz a volta, cambiteiro, que o paraíso é lá pra trás. Vambora pra terra de mulher vistosa! Eu só espichando o pixaim, metido a poetar: se o mundo está de pernas pro ar, não sou eu que sozinho vou essa zona consertar. Né, não? E se tudo está troncho de tão desfigurado, é que fazem dum redondo findar mais que quadrado! U-hu! A coisa está bisonha e cheia dos tremeliques, é que não tem nada de sério, vai se ver, é só trambique! O pencó está engrossando, chega mudar de figura! Pois é, tanta chatice tola pra pouca criatura. É gente como a praga de gravata lavada, tem até enxerido sem lenço só dizendo: é descontramantelo da desembestação! É a maior danação! Eu só largando os meus motejos, todo cheio de tantos brocardos, haja quantos adágios entre fogos e ventos, pelos raios dos trovões, pelas clareiras e coivaras, e eu todo bacurau feito flecha entre cunhatãs e cunhãs: quando aparecia a papaceia na boquinha da noite é que as mocinhas biqueiras faziam as onze e eu lá só espiando, mutuca no roçado, só curtindo o cheiro das calcinhas estufadas minando nas intimidades. Ah, quanto cangote cheiroso de moça namoradeira que passa toda reboladeira e eu na tubiba pra fazer sopa. Só se ouvia as mães aflitas gritando: - Segura chinela na sola do pé, menina! E eu só ali amoitando o gingado dela. – Se ajeite, sem-vergonha! Oxe, nunca fui desses mecos! Mentira, foi sim. Vixe! Querem queimar meu filme! Destá! Estou ligado é no percurso dos pés andejos das mocinhas que querem se perder por aí, preu achar agorinha! E quanto mais ela ia pra lá e pra cá, mais eu queria era ficar. E de vez! Nem vontade de voltar dá. Só me perder num fungado e ficar agarrado nela de nunca mais largar, só na cantiga do trem: vou danado pra Catende, Ascenso, vou danado pra Catende, vou danado pra Catende, com vontade de chegar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: Ascenso Ferreira, Inezita Barroso, Alceu Valença, Brapo: Brasília Popular Orquestra & Manoel Carvalho, Lucinha Guerra & Punhal de Prata- Alessandra Leão & Rafa Barreto. Para conferir é só ligar o som e curtir.

NOS TEMPOS DA PRAIEIRAO voto livre e universal do povo brasileiro. A plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa; o trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro; a inteira e efetiva independência dos poderes constituídos; a extinção do Poder Moderador, e do direito de agraciar; o elemento federal na nova organização; completa reforma do Poder Judicial, em ordem a assegurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos; extinção da lei do juro convencional; extinção do atual sistema de recrutamento. Princípios estabelecidos no Manifesto de 1º de janeiro de 1849, extraídos da obra Os tempos da Praieira (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1981), do advogado, jornalista, historiador e político brasileiro Costa Porto (1909-1984). Veja mais aqui.

CERTO TEMPO DEPOIS - [...] Durante séculos, um pequeno número de escritores encontrava-se em confronto com vários milhares de escritores. No fim do século passado, a situação mudou. Mediante a ampliação da imprensa, que colocava sempre à disposição do público novos órgãos políticos, religiosos, científicos, profissionais, regionais, viu-se um número crescente de leitores – de início, ocasionalmente – desinteressar-se dos escritores. A coisa começou quando os jornais abriram suas colunas a um “correio dos leitores” e, daí em diante, inexiste hoje em dia qualquer europeu, seja qual for a sua ocupação, que, em princípio, não tenha a garantia de uma tribuna para narrar a sua experiência profissional, expor suas queixas, publicar uma reportagem ou algum estudo do mesmo gênero. Entre o autor e o público, a diferença, portanto, está em vias de se tornar cada vez menos fundamental. Ela é apenas funcional e pode variar segundo as circunstâncias. Com a especialização crescente do trabalho, cada individuo, mal ou bem, está fadado a se tornar um perito em sua matéria, seja ela de somenos importância; e tal qualificação confere-lhe uma da autoridade. [...] A competência literária não mais se baseia sobre formação especializada, mas sobre uma multiplicidade de técnicas e, assim, ela se transforma num bem comum. [...] a exploração capitalista da indústria cinematográfica recusa-se a satisfazer as pretensões do homem contemporâneo de ver a sua imagem reproduzida. Dentro dessas condições, os produtores de filmes têm interesse em estimular a atenção das massas para representações ilusórias e espetáculos equívocos. [...]. Trechos extraídos da obra A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução (Brasiliense, 1994), do filosofo alemão Walter Benjamin (1892-1940). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

DA EDUCAÇÃO E DISCERNIMENTO - [...] Nós nos tornamos hábeis para imaginativa e curiosamente “tomar distância” de nós mesmos, da vida que portamos, e para nos dispormos a saber em torno dela. Em certo momento não apenas vivíamos, mas começamos a saber que vivíamos, mas saber que sabíamos e, portanto, saber que poderíamos saber. [...] Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. [...]. Trechos extraídos da obra Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido (Paz e Terra, 2000), do educador, pedagogista e filósofo Paulo Freire (1921-1997), que evidencia na obra Educação e mudança (Paz e Terra, 2014), que: [...] O saber se faz através de uma superação constante. O saber superado já é uma ignorância. Todo saber humano tem em si o testemunho do novo saber que já anuncia. Todo saber traz consigo sua própria superação. [...]. Veja mais aqui e aqui.

PARAÍSO NEGRO - [...] No marulho do mar, uma mulher negra como carvão está cantando. Junto a ela, uma mulher mais nova com a cabeça deitada em seu colo. Dedos estragados desfiam, cabelo castanho, cor de chá. Todas as cores de conchas, areia, rosa, pérola, fundem-se no rosto da mulher mais nova. Seus olhos cor de esmeralda adoram o rosto negro, emoldurado de azul-celeste. Em volta delas, na praia, detritos marítimos rebrilham. Tampas de garrafa cintilam ao lado de uma sandália quebrada. Um pequeno rádio quebrado toca o som das ondas. Nada pode vencer a consolação de que fala a cação de Piedade, embora as palavras evoquem memórias que não são de nenhuma das duas: de envelhecer na companhia de outrem, de palavras partilhadas e pão dividido fumegando no Forno, da plenitude ambivalente de voltar para casa para estar em casa, da simplicidade de retornar para o amor iniciado. Quando o oceano oscila, enviando ritmos de água para a praia, Piedade olha para ver o que veio. Mais um navio, talvez, mais diferente, indo para um ponto, tripulação e passageiros, perdidos e salvos, trementes, pois estão desconsolados há algum tempo. Agora, repousarão antes de enfrentar o trabalho sem fim que foram criados para fazer aqui, no Paraíso. Trecho extraído do romance Paraíso (Companhia das Letras, 1999), da escritora estadunidense e ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1993, Toni Morrison. Veja mais aqui.

LE FANTÔME DE LA LIBERTÉ – [...] Em o Fantasma da Liberdade, a própria narrativa inicial não surge espontaneamente, já que introduzida ou ligada a um fato histórico: a invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas e sua estada e tropelias praticadas em Toledo, em 1812. Feito que, naturalmente, nada tem a ver com a trama fílmica, mas, que, significativamente, é referido no encerramento do filme como parábola da permanente (e até quando?) violência humana. O sinete inconfundível de Buñuel configura-se não só na engenhosidade dessa construção caleidoscópica, mas, principalmente, na elaboração e condução de cada caso. Nada limita imaginação formada ao influxo do anti-convencionalismo surrealista e batizada pelas preocupações e virtualidades inicialmente enumeradas. A surpresa, o insólito, o nonsense e o exato oposto do habitual e do costumeiro se estabelecem, dominam e medeiam as narrativas. O que se tem, então, é o avesso das coisas dirigido com mestria e informado ou formado por acerba visão critica do comportamento humano. Não da condição humana, que não está em causa. Condicionado por atitude otimista, que, apesar e além de tudo, ainda acredita na espécie humana (daí a ternura ou pelo menos a objetividade com que conduz as personagens), concentra Buñuel seu enfoque ou incisão no modo de agir, no convencional e na hipocrisia do ser humano in societas, no seu interrelacionamento social, mesmo que muito dessa performance origine-se ou seja característica congênita dessa condução. Trecho de O fantasma da liberdade: o avesso das coisas, extraído da obra O cinema de Buñuel, Kurosawa e Visconti: ensaios de crítica cinematográfica (Dimensões, 2013), do advogado e escritor Guido Bilharinho, editor da revista internacional de poesia e autor de livros de Literatura, Cinema e História do Brasil e Regional, sobre a obra O Fantasma da Liberdade (Le Fantôme de la liberté, 1974), do cineasta espanhol Luís Buñuel (1900-1983). Veja mais aqui e aqui. Veja também a Revista Dimensão aqui.

A ARTE DE ADRIANA ASTI
A arte da atriz italiana de teatro, cinema e voz Adriana Asti.

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Poemas de Ascenso Ferreira aqui.
A mulher da sombrinha aqui.
Caudal do Una de Pelópidas Soares aqui.
A arte de Lucinha Guerra aqui.
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OS MOTES GLOSADOS DE MANOEL BENTEVI
Da bobina para o distribuidor
Há um cabo que passa uma centelha clara.
Meto o pé no arranco, ele dispara.
Toda vez que acelero meu motor,
O combustível entra no carburador.
A entrada de ar transforma o gás.
Com a compressão que ele faz,
Forma o jato, o êmbolo vai subindo
Vai queimar na cabeça do cilindro,
A fumaça da gasolina sai por trás.
(Mote: Toda vez que acelero meu motor, a fumaça da gasolina sai por trás)
O meu carro caiu numa rieira,
Era larga, atolava e era funda.
Passei de primeira pra segunda,
E passei de segunda pra primeira.
A buzina do carro era uma campa.
O radiador esquentou, saltou a tampa.
Vi o abismo e fiquei atarantado.
O ajudante pulou e gritou de lado:
Abra o olho, chofer, agora é rampa!
(Mote: Abra o olho, chofer, agora é rampa!)
Poemas extraídos da obra Desmanchando o nordeste em poesia (Bagaço, 1986),
do poeta popular Manoel Bentevi. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A ARTE ADRIANA JANACÓPULOS
A arte da escultura Adriana Janacópulos (1897-1978).

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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