
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje
na Rádio Tataritaritatá especiais com os álbuns Coisa mais maior de grande,
Moleque Gonzaguinha & Caminhos do Coração, do
cantor e compositor Luiz Gonzaga Junior – o Gonzaguinha (1945-1991);
o Concerto para Violino de Bach, Chiacona Bertali & Elbo Telemann da violinista e maestro
britânica Rachel
Podger; Do samba e do jazz, The Man,
Diamante verdadeiro e Sway com a atriz, locutora, escritora,
cantora e compositora Bia Sion; e os poemas Quem transou com a
Madonna no Brasil?, Nada vai apagar meu sorriso, Sexo em Moscou, 100 Vitrines
& Picareta Cultural do poeta, ator e roteirista Mano Melo. Para conferir é só
ligar o som e curtir.
ERA DA INCERTEZA: TERAPIA &
VULNERABILIDADE - [...]
A invasão do ethos
terapêutico nas outras profissões e formas de autoridade é particularmente
admirável na relação com seus antigos competidores – as instituições
religiosas. Recentemente, o Arcebispo de Canterbury afirmou que a terapia está
substituindo o cristianismo nos países do ocidente. De acordo com o Arcebispo
Carey, “Cristo, o Salvador” está se transformando em “Cristo, o conselheiro” [...] A politização da emoção emergiu como um importante
tema na vida política contemporânea. A intromissão no sentimento das pessoas se
tornou institucionalizado sob o presente sistema de governança terapêutica. Há pouca
oposição a essa tendência e dificilmente alguma preocupação com as potenciais
implicações autoritárias de um sistema de governo que tem como objetivo dizer
às pessoas como devem se sentir [...]. Trechos extraídos da obra Cultura da Terapia: cultivando a vulnerabilidade
em uma Era de Incerteza (Routledge,2004), do sociólogo britânico Frank Furedi, defendendo que a terapia
deixa de se referir a estados mentais exóticos e problemas atípicos para se
tornar comum em situações do cotidiano e encarada como um ideologia com
objetivos que proporcionem uma espécie de reencantamento da experiência
subjetiva, suprindo a vivência emocional com um significado especial, uma vez
que o “emocionalismo” ajuda a reconstruir uma
forma de espiritualidade bastante inusitado.
CAPITAL SOCIAL –[...] O capital social é o conjunto dos
recursos reais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de
relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de interreconhecimento
mútuos, ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como o conjunto de agentes
que não somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de serem
percebidas pelo observador, pelos outros e por eles mesmos), mas também que são
unidos por ligações permanentes e úteis.
[...] acumulação de capital cultural desde
a mais tenra infância – pressuposto de uma apropriação rápida e sem esforço de
todo tipo de capacidades úteis – só ocorre sem demora ou perda de tempo,
naquelas famílias possuidoras de um capital cultural tão sólido que fazem com
que todo o período de socialização seja, ao mesmo tempo, acumulação. Por consequência,
a transmissão do capital cultural é, sem dúvida, a mais dissimulada forma de
transmissão hereditária de capital. [...] Trechos de O capital social: notas provisórias, do sociólogo
francês Pierre Bourdieu (1930-2002),
extraído da obra Escritos de educação
(Vozes, 1998), organizado por Maria Alice Nogueira e Afrânio Catani. Veja mais
aqui, aqui, aqui e aqui.
A EDUCAÇÃO, A FAMÍLIA E A ESCOLA - [...]
Como a vida familiar se constitui na
primeira escola de aprendizagem, os pais devem investir mais na interação
mediatizada para tornar as crianças e os jovens socialmente mais hábeis. Também
na escola os professores, por meio da mediatização, podem criar adultos mais
solidários e mais aptos a responder aos desafios complexos da sociedade futura.
Em síntese, se queremos uma sociedade mais solidária, a família e a escola tem
de ser mediatizadoras. [...] Trecho da obra Pedagogia mediatizadada: transferências das estratégias para novas
aprendizagens (Salesiana, 2002), do professor catedrático Vitor da Fonseca, defendendo que a mediatização
é a chave do desenvolvimento social e cognitivo da espécie humana, tornando-se fundamental
a aplicação da pedagogia mediatizada na família e na escola. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PALHAÇOS & PALHAÇADAS - [...]
O Palhaço é a
figura cômica por excelência. Ele é a mais enlouquecida expressão da
comicidade: é tragicamente cômico. Tudo que é alucinante, violento, excêntrico
e absurdo é próprio do palhaço. Ele não tem nenhum compromisso com qualquer
aparência de realidade. O palhaço é comicidade pura. O palhaço não é um
personagem exclusivo do circo. Foi no picadeiro que ele atingiu a plenitude e
finalmente assumiu o papel de protagonista. Mas o nome palhaço surgiu muito
antes do chamado circo moderno. Aliás, seria melhor dizer “os nomes”. Uma das
grandes dificuldades que a maioria dos autores encontra ao estudar a origem dos
palhaços está na profusão de nomes que essa figura assume em cada momento e
lugar. Clown, grotesco, truão, bobo, excêntrico, tony, augusto, jogral, são
apenas alguns dos nomes mais comuns que usamos para nos referir a essa figura
louca, capaz de provocar gargalhadas ao primeiro olhar [...] Esse nosso personagem imaginário sobreviveu a
todas as catástrofes naturais, inclusive às construídas pelos homens. Esteve presente
nas batalhas, nas festas e nos rituais mais sagrados, sempre cumprindo o mesmo papel:
provocar o riso. [...] O palhaço é o sacerdote da besteira, das
inutilidades, da bobeira... Tudo o que não tem importância lhe interessa. É
corriqueira a cena em que o palhaço vai fazer alguma coisa muito séria e
importante - como, por exemplo, tocar uma peça de música clássica - e acaba nos
entretendo com algum detalhe absolutamente insignificante. [...] Durante milênios e até nos dias de hoje
valorizamos a sabedoria e a capacidade para vencer, seja lá o que isso
signifique. Por isso, a apologia do trabalho, da moderação, do equilíbrio.
Grandes valores, sem dúvida, mas a vida não é só isso: existe a farra, a festa,
o prazer! E assim o homem vai vivendo, equilibrando-se entre os contrários,
compreendendo a necessidade de “ganhar o pão com o suor do seu rosto”, mas
criando mecanismos para escapar das pressões cotidianas, reagir aos exageros
dos puritanos e se contrapor à tristeza e à violência do mundo. Millôr
Fernandes complementou Aristóteles dizendo que “o homem é o único animal que ri
e é rindo que ele mostra o animal que é”. Pronto. A principal função do riso é
nos recolocar diante da nossa mais pura essência: somos animais. Nem deuses nem
semi-deuses, meras bestas tontas que comem, bebem, amam e lutam desesperadamente
para sobreviver. A consciência disso é que nos faz únicos, humanos. [...] Palhaço não dá lição de moral, mas também não
é amoral. Mas quem sabe a diferença? Quem conhece o limite? Acho que tudo depende
do lado que escolhemos na vida e de compreender que, a todo instante, é como se
um espelho aparecesse, o muro andasse, trocando os lados de lado. O que é justo
num determinado momento ou situação pode ser muito injusto no momento seguinte.
A Verdade nunca é absoluta, a bondade nem sempre é o melhor caminho, e por aí vão
as coisas, exigindo atenção, sabedoria e um firme exercício de fidelidade aos princípios
que norteiam a vida dos que escolhem ter princípios na vida. [...]. Trechos extraídos
da obra Elogio da bobagem: palhaços no
Brasil e no mundo (Família Bastos, 2005), da atriz, diretora de teatro e
especialista em circo, Alice Viveiros de Castro.
ENQUANTO AGONIZO – [...]
Foi Albert quem me
contou o resto da história. Ele disse que a carroça estava parada na frente da
loja de ferragens do Grummet, com as mulheres espalhadas pela rua com lenços presos
ao nariz, e um bando de homens e rapazes de narizes grandes ao redor da
carroça, ouvindo o xerife discutir com o homem. Era um homem alto e esguio
sentado na carroça, dizendo que era uma rua pública e ele achava que tinha
tanto direito como os outros, e o xerife lhe dizendo que ele teria que ir
andando; as pessoas não agüentariam aquilo. Ela estava morta havia oito dias,
Albert disse. Eles vinham de algum lugar lá no condado de Yoknapatawpha,
tentando chegar a Jefferson com aquilo. Deve ter sido como um pedaço de queijo podre
entrando num formigueiro, naquela carroça toda desconjuntada que Albert disse
que o pessoal temia que de repente caísse aos pedaços antes que eles pudessem
deixar a cidade, com aquele caixão feito em casa e outro sujeito com uma perna quebrada
deitado num catre em cima do caixão, e o pai e um menino sentados e o xerife
tentando fazê-los sair da cidade [...]. Trechos
extraídos da obra Enquanto agonizo
(L&PM, 2010), do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de
Literatura em 1949, William Faulkner
(1897-1962). Veja mais aqui, aqui e aqui.
DOIS POEMAS DE
PARANOIA - A piedade: Eu urrava nos poliedros da Justiça meu
momento / abatido na extrema paliçada / os professores falavam da vontade de
dominar e da / luta pela vida / as senhoras católicas são piedosas / os
comunistas são piedosos / os comerciantes são piedosos / só eu não sou piedoso
/ se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria / aos sábados à
noite / eu seria um bom filho meus colegas me chamariam / cu-de-ferro e me
fariam perguntas: por que navio / bóia? por que prego afunda? / eu deixaria
proliferar uma úlcera e admiraria as / estátuas de fortes dentaduras / iria a
bailes onde eu não poderia levar meus amigos / pederastas ou barbudos / eu me
universalizaria no senso comum e eles diriam / que tenho todas as virtudes / eu
não sou piedoso / eu nunca poderei ser piedoso / meus olhos retinem e tingem-se
de verde / Os arranha-céus de carniça se decompõem nos / pavimentos / os
adolescentes nas escolas bufam como cadelas / asfixiadas / arcanjos de enxofre
bombardeiam o horizonte através / dos meus sonhos. Boletim do mundo mágico: Meus pés sonham suspensos no Abismo
/ minhas cicatrizes se rasgam na pança cristalina / eu não tenho senão dois
olhos vidrados e sou um órfão / havia um fluxo de flores doentes nos subúrbios
/ eu queria plantar um taco de snooker numa estrela fixa / na porta do bar eu
estou confuso como sempre mas as / galerias do meu crânio não odeiam mais a
batucada dos ossos / colégios e carros fúnebres estão desertos / pelas calçadas
crescem longos delírios / punhados de esqueletos são atirados no lixo / eu
penso nos escorpiões de ouro e estou contente / os luminosos cantam nos
telhados / eu posso abrir os olhos para a lua aproveitar o medo das nuvens / mas
o céu roxo é uma visão suprema / minha face empalidece com o álcool / eu sou
uma solidão nua amarrada a um poste / fios telefônicos cruzam-se no meu esôfago
/ nos pavimentos isolados meus amigos constroem / [um manequim fugitivo / meus olhos cegam
minha mente racha-se de encontro a / uma calota minha alma desconjuntada passa
rodando. Poemas extraídos da obra Paranóia (Massao Ohno, 1963), do poeta Roberto Piva (1937-2010).
SOCORRO
DURÁN
Com a escritora, professora e acadêmica da APLE, Maria
do Socorro Barros y Durán, na Biblioteca Fenelon Barreto. Veja mais aqui e aqui.
Veja mais:
A arte de Bia Sion aqui.
&
A ARTE DE LIA CHAIA
A arte da artista plástica, performer,
fotógrafa & multimídia Lia Chaia. Veja
mais aqui.