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segunda-feira, setembro 25, 2017

FAULKNER, PIVA, BOURDIEU, FUREDI, LIA CHAIA, VITOR DA FONSECA, PALHAÇOS, SOCORRO DURÁN & AMANDA DUARTE

POETASTRO METE AS CATANAS SEM ENTENDER DO RISCADO – Imagem: Xilogravura de Amanda Duarte. - Nada dava certo mesmo pras bandas do Doro, tudo gorava de choco e ele nem se emendava: partia pra outra. Dessa vez abandonou a candidatura a presidente, queira mais saber não de política, isso é lá coisa prum sujeito como eu! Que se danem! E saiu vasculhando o que danado ele ia fazer da vida dagora em diante. Perambulando pela feira, ele deu de cara com dois repentistas glosando o maior mote. Ficou de mutuca e acompanhando tudo: vamos sapecar umas parcelas? Vamos de galope à beira-mar, compadre! Agora um desafio malcriado! Uma taboada pequena, uma carretilha, um quebra cabeça, um gabinete repetido, nove palavras por seis, língua d’Angola, dez de adivinhação, coqueiro da Bahia, martelo alagoano, desmancha, rojão pernambucano, trava-língua, ligeira, oitava, dez de queixo caído, quadrão perguntado, mourão voltado, gemedeira, e de pé quebrado, chega, vamos emborcar a viola! Ele prestou atenção em tudo perdendo a noção do tempo: oxe, esses cabras não cantam nada. Vou ser o melhor cantador, ah, se vou! E foi ver os preços das violas, não tinha um tostão furado; valeu-se de duas folhas de compensado e caiu no maior teitei: agora vou me danar no dedilhado da maior violada. Nessa hora chega Robimagaiver e ele ensaia pra ele: ah, se quer ser poeta, o doutor lá do banco disse que a melhor poesia é o soneto. Gostei do nome, vou ser sonetista! Danou-se! E castigou no blem blem desafinando a goela das tripas coração. Foi, então, que cometeu uns versos, logo se achou o pencó do trupé, lascando uns cordéis desajeitados, até cair nas graças dum abastado comerciante que apadrinhou sua empreitada: publicar um livro. Vixe! O bocó cresceu os olhos misturando rimas de nenhuma métrica, decorando tudo a dizer como improviso – na verdade o pior goteira, um meia-tigela. Foi se deparar com o embolado do coco: ah, vou ser o mais afamado coquista! Não deu outra: garranchou numa tuia de folhas de papel na maior das garatujas, juntou tudo e foi ter com o mecenas que empurrou o calhamaço pruma gráfica e, tempos depois do ajustado e aprazado, estava ele com o opúsculo embaixo do sovaco, pra cima e pra baixo, todo ancho e virado da breca! Topou com uns doutores que se diziam poetas e logo estava reunido com o tabelião, o tenente, o contador e outros embecados que recitavam seus plectros e loas como se vates de calibre, bardos da melhor cepa. Falaram duma academia que ele fez de tudo para participar. A exigência era a publicação de um livro, oxe, moleza pra ele, depositou o seu na hora, nem leram, muito menos abriram uma página só que fosse e já deram por acadêmico. Dia lá de reunião, intrometeu-se no meio, viu de tudo que foi zoada e já se imaginava desfilando sobre o tapete vermelho da fama: agora esse povinho terá de me bajular porque virei especial dos especiais, todos terão que lamber o solado dos meus pés. Ufanou-se, maior venta empinada, peito estufado com ar desprezo e indiferença para todos, do Afredo esconjurá-lo por cu doce: agora só todo metido com um deus no bucho, metido a cheio das pregas. Doro nem nem, nada lhe atingia o espinhaço pronto pra desancar o primeiro que lhe aparecesse, só nos compadrios com letrados, dado a ser tal qual beletrista de respeito. Já não cumprimentava mais ninguém, só os seus doutos achegados, mais nada: essa bugrada só merece desprezo! Não me misturo mais não com essa gentinha porqueira. Destá. Era chegada a hora prele se amostrar diante de todos na academia, cobravam-no uma apresentação e não se fez de rogado: abriu a caixa dos peitos e lascou mastigado torando aço, rompendo pé-de-parede como se cantasse ciência, fugia da mira no meio do trabalho feito, mas mantinha a toada própria no maior caqueado da obrigação repetida e enrolada, até rapar a violada, esperando a paga e aplausos. Maior burburinho inquietante, quando um lá se levantou: isso é lá desgraça de coisa que se apresente, homem? Não deu, maior opróbrio, rabinho entre as pernas, Doro escafedeu-se de nunca mais dar as caras. Diziam maldizentes: bem empregado praquele desinfeliz, todo castigo pra corno é pouco! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com os álbuns Coisa mais maior de grande, Moleque Gonzaguinha & Caminhos do Coração, do cantor e compositor Luiz Gonzaga Junior – o Gonzaguinha (1945-1991); o Concerto para Violino de Bach, Chiacona Bertali & Elbo Telemann da violinista e maestro britânica Rachel Podger; Do samba e do jazz, The Man, Diamante verdadeiro e Sway com a atriz, locutora, escritora, cantora e compositora Bia Sion; e os poemas Quem transou com a Madonna no Brasil?, Nada vai apagar meu sorriso, Sexo em Moscou, 100 Vitrines & Picareta Cultural do poeta, ator e roteirista Mano Melo. Para conferir é só ligar o som e curtir.

ERA DA INCERTEZA: TERAPIA & VULNERABILIDADE -  [...] A invasão do ethos terapêutico nas outras profissões e formas de autoridade é particularmente admirável na relação com seus antigos competidores – as instituições religiosas. Recentemente, o Arcebispo de Canterbury afirmou que a terapia está substituindo o cristianismo nos países do ocidente. De acordo com o Arcebispo Carey, “Cristo, o Salvador” está se transformando em “Cristo, o conselheiro” [...] A politização da emoção emergiu como um importante tema na vida política contemporânea. A intromissão no sentimento das pessoas se tornou institucionalizado sob o presente sistema de governança terapêutica. Há pouca oposição a essa tendência e dificilmente alguma preocupação com as potenciais implicações autoritárias de um sistema de governo que tem como objetivo dizer às pessoas como devem se sentir [...]. Trechos extraídos da obra Cultura da Terapia: cultivando a vulnerabilidade em uma Era de Incerteza (Routledge,2004), do sociólogo britânico Frank Furedi, defendendo que a terapia deixa de se referir a estados mentais exóticos e problemas atípicos para se tornar comum em situações do cotidiano e encarada como um ideologia com objetivos que proporcionem uma espécie de reencantamento da experiência subjetiva, suprindo a vivência emocional com um significado especial, uma vez que o “emocionalismo” ajuda a reconstruir uma forma de espiritualidade bastante inusitado.

CAPITAL SOCIAL –[...] O capital social é o conjunto dos recursos reais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de interreconhecimento mútuos, ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como o conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros e por eles mesmos), mas também que são unidos por ligações permanentes e úteis. [...] acumulação de capital cultural desde a mais tenra infância – pressuposto de uma apropriação rápida e sem esforço de todo tipo de capacidades úteis – só ocorre sem demora ou perda de tempo, naquelas famílias possuidoras de um capital cultural tão sólido que fazem com que todo o período de socialização seja, ao mesmo tempo, acumulação. Por consequência, a transmissão do capital cultural é, sem dúvida, a mais dissimulada forma de transmissão hereditária de capital. [...] Trechos de O capital social: notas provisórias, do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), extraído da obra Escritos de educação (Vozes, 1998), organizado por Maria Alice Nogueira e Afrânio Catani. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A EDUCAÇÃO, A FAMÍLIA E A ESCOLA - [...] Como a vida familiar se constitui na primeira escola de aprendizagem, os pais devem investir mais na interação mediatizada para tornar as crianças e os jovens socialmente mais hábeis. Também na escola os professores, por meio da mediatização, podem criar adultos mais solidários e mais aptos a responder aos desafios complexos da sociedade futura. Em síntese, se queremos uma sociedade mais solidária, a família e a escola tem de ser mediatizadoras. [...] Trecho da obra Pedagogia mediatizadada: transferências das estratégias para novas aprendizagens (Salesiana, 2002), do professor catedrático Vitor da Fonseca, defendendo que a mediatização é a chave do desenvolvimento social e cognitivo da espécie humana, tornando-se fundamental a aplicação da pedagogia mediatizada na família e na escola. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PALHAÇOS & PALHAÇADAS - [...] O Palhaço é a figura cômica por excelência. Ele é a mais enlouquecida expressão da comicidade: é tragicamente cômico. Tudo que é alucinante, violento, excêntrico e absurdo é próprio do palhaço. Ele não tem nenhum compromisso com qualquer aparência de realidade. O palhaço é comicidade pura. O palhaço não é um personagem exclusivo do circo. Foi no picadeiro que ele atingiu a plenitude e finalmente assumiu o papel de protagonista. Mas o nome palhaço surgiu muito antes do chamado circo moderno. Aliás, seria melhor dizer “os nomes”. Uma das grandes dificuldades que a maioria dos autores encontra ao estudar a origem dos palhaços está na profusão de nomes que essa figura assume em cada momento e lugar. Clown, grotesco, truão, bobo, excêntrico, tony, augusto, jogral, são apenas alguns dos nomes mais comuns que usamos para nos referir a essa figura louca, capaz de provocar gargalhadas ao primeiro olhar [...] Esse nosso personagem imaginário sobreviveu a todas as catástrofes naturais, inclusive às construídas pelos homens. Esteve presente nas batalhas, nas festas e nos rituais mais sagrados, sempre cumprindo o mesmo papel: provocar o riso. [...] O palhaço é o sacerdote da besteira, das inutilidades, da bobeira... Tudo o que não tem importância lhe interessa. É corriqueira a cena em que o palhaço vai fazer alguma coisa muito séria e importante - como, por exemplo, tocar uma peça de música clássica - e acaba nos entretendo com algum detalhe absolutamente insignificante. [...] Durante milênios e até nos dias de hoje valorizamos a sabedoria e a capacidade para vencer, seja lá o que isso signifique. Por isso, a apologia do trabalho, da moderação, do equilíbrio. Grandes valores, sem dúvida, mas a vida não é só isso: existe a farra, a festa, o prazer! E assim o homem vai vivendo, equilibrando-se entre os contrários, compreendendo a necessidade de “ganhar o pão com o suor do seu rosto”, mas criando mecanismos para escapar das pressões cotidianas, reagir aos exageros dos puritanos e se contrapor à tristeza e à violência do mundo. Millôr Fernandes complementou Aristóteles dizendo que “o homem é o único animal que ri e é rindo que ele mostra o animal que é”. Pronto. A principal função do riso é nos recolocar diante da nossa mais pura essência: somos animais. Nem deuses nem semi-deuses, meras bestas tontas que comem, bebem, amam e lutam desesperadamente para sobreviver. A consciência disso é que nos faz únicos, humanos. [...] Palhaço não dá lição de moral, mas também não é amoral. Mas quem sabe a diferença? Quem conhece o limite? Acho que tudo depende do lado que escolhemos na vida e de compreender que, a todo instante, é como se um espelho aparecesse, o muro andasse, trocando os lados de lado. O que é justo num determinado momento ou situação pode ser muito injusto no momento seguinte. A Verdade nunca é absoluta, a bondade nem sempre é o melhor caminho, e por aí vão as coisas, exigindo atenção, sabedoria e um firme exercício de fidelidade aos princípios que norteiam a vida dos que escolhem ter princípios na vida. [...]. Trechos extraídos da obra Elogio da bobagem: palhaços no Brasil e no mundo (Família Bastos, 2005), da atriz, diretora de teatro e especialista em circo, Alice Viveiros de Castro.

ENQUANTO AGONIZO – [...] Foi Albert quem me contou o resto da história. Ele disse que a carroça estava parada na frente da loja de ferragens do Grummet, com as mulheres espalhadas pela rua com lenços presos ao nariz, e um bando de homens e rapazes de narizes grandes ao redor da carroça, ouvindo o xerife discutir com o homem. Era um homem alto e esguio sentado na carroça, dizendo que era uma rua pública e ele achava que tinha tanto direito como os outros, e o xerife lhe dizendo que ele teria que ir andando; as pessoas não agüentariam aquilo. Ela estava morta havia oito dias, Albert disse. Eles vinham de algum lugar lá no condado de Yoknapatawpha, tentando chegar a Jefferson com aquilo. Deve ter sido como um pedaço de queijo podre entrando num formigueiro, naquela carroça toda desconjuntada que Albert disse que o pessoal temia que de repente caísse aos pedaços antes que eles pudessem deixar a cidade, com aquele caixão feito em casa e outro sujeito com uma perna quebrada deitado num catre em cima do caixão, e o pai e um menino sentados e o xerife tentando fazê-los sair da cidade [...]. Trechos extraídos da obra Enquanto agonizo (L&PM, 2010), do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949, William Faulkner (1897-1962). Veja mais aqui, aqui e aqui.

DOIS POEMAS DE PARANOIA - A piedade: Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento / abatido na extrema paliçada / os professores falavam da vontade de dominar e da / luta pela vida / as senhoras católicas são piedosas / os comunistas são piedosos / os comerciantes são piedosos / só eu não sou piedoso / se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria / aos sábados à noite / eu seria um bom filho meus colegas me chamariam / cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio / bóia? por que prego afunda? / eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as / estátuas de fortes dentaduras / iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos / pederastas ou barbudos / eu me universalizaria no senso comum e eles diriam / que tenho todas as virtudes / eu não sou piedoso / eu nunca poderei ser piedoso / meus olhos retinem e tingem-se de verde / Os arranha-céus de carniça se decompõem nos / pavimentos / os adolescentes nas escolas bufam como cadelas / asfixiadas / arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através / dos meus sonhos. Boletim do mundo mágico: Meus pés sonham suspensos no Abismo / minhas cicatrizes se rasgam na pança cristalina / eu não tenho senão dois olhos vidrados e sou um órfão / havia um fluxo de flores doentes nos subúrbios / eu queria plantar um taco de snooker numa estrela fixa / na porta do bar eu estou confuso como sempre mas as / galerias do meu crânio não odeiam mais a batucada dos ossos / colégios e carros fúnebres estão desertos / pelas calçadas crescem longos delírios / punhados de esqueletos são atirados no lixo / eu penso nos escorpiões de ouro e estou contente / os luminosos cantam nos telhados / eu posso abrir os olhos para a lua aproveitar o medo das nuvens / mas o céu roxo é uma visão suprema / minha face empalidece com o álcool / eu sou uma solidão nua amarrada a um poste / fios telefônicos cruzam-se no meu esôfago / nos pavimentos isolados meus amigos constroem  / [um manequim fugitivo / meus olhos cegam minha mente racha-se de encontro a / uma calota minha alma desconjuntada passa rodando. Poemas extraídos da obra Paranóia (Massao Ohno, 1963), do poeta Roberto Piva (1937-2010).

SOCORRO DURÁN
Com a escritora, professora e acadêmica da APLE, Maria do Socorro Barros y Durán, na Biblioteca Fenelon Barreto. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais:
A música de Gonzaguinha aqui, aqui e aqui.
A arte musical de Raquel Podger aqui e aqui
A arte de Bia Sion aqui.
A poesia e a entrevista de Mano Mélo aqui, aqui e aqui.
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A ARTE DE LIA CHAIA
A arte da artista plástica, performer, fotógrafa & multimídia Lia Chaia. Veja mais aqui.

quinta-feira, julho 02, 2015

HESSE, WISLAWA, XENÓFANES, GLUCK, JALIL, GEIGER, MARILYN, BIA SION & BIG SHIT BÔBRAS.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? NEM TE CONTO! - O Doro depois de tanto pelejar pela vida, passou a dar uma de conformado, só na zona de conforto e a tudo referenciado como normal. Parece que o cara definitivamente ficou às sopas, no limbo da ocasião. Não dá outra, seja o que for, ele tasca: - É normal. Para até disco arranhado na radiola. Pra se ter ideia, ele passou duas horas na fila bancária para receber a mixaria, quando um outro revoltado baixou o decoro na maior palmatória do mundo: - Isso é um vitupério! Nesse banco não se respeita o direito do consumidor! -, e virou-se pro Doro com a maior cara de interrogação. E ele, como se não estivesse nem aí para quem pintou a zebra, na maior cara lisa, balbuciou o refrão: - É normal. O cara saiu revoltando xingando todos os seus antepassados. Até o Robimagaiver, pariceiro da mesma laia e moquém, chegou todo trombudo e na maior apertura, reclamando em ponto de bala: - Rapaiz, tô qui nem capim: quando não chove, não nasce; quando nasce o boi come! -, e ele, como se dissesse que quem tem cabeça de cera não se expõe ao sol, simplesmente largou de forma peculiar: - É normal. Deu nos nervos do parceiro. Ninguém aguentava mais aproximar-se dele que tudo, para ele, estava nos conformes da normalidade. Subiu a conta da luz? Normal. Aumento da gasolina? Oxe. Presunto sumido achado no matagal? Comum. Carestia comendo no centro? Nada demais. Foi aí que Zé Corninho apareceu virado na breca pela constatação de que a sua décima segunda esponsal havia lhe coroado com duas de quinhentos. O Doro, como sempre, pra seu consolo, remediou o seu: - É normal. – Normal, uma porra! -, azedou Zé Corninho: - Chifre de corno ninguém vê, mas que desarruma o juízo, isso faz! E saiu jurando que se ele só tinha dois votos, acabou de perder todos. E ele de si pra si: - É normal, eu num mi inlegeria mermo! Será o Benedito? Não, é a hipnose do Big Shit Bôbras, mesmo! E vamos aprumar a conversa! Veja mais aqui e aqui.

Imagem: A reclining female nude, do artista plástico húngaro Richard Geiger (1870-1945).

Curtindo a ópera Orfeo ed Euridice (Philips, 1994), do compositor alemão Christoph Willibald Gluck (1714-1787), performer Sylvia McNair & Monteverdi Choir Orchestra & English Baroque Soloists, conductor John Eliot Gardiner. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A NATUREZA, ELEGIAS & SÁTIRAS - O poeta, sábio e rapsodo grego Xenófanes de Colofão (570-528aC), foi o fundador da escola eleática expondo suas concepções filosóficas em um poema doutrinal A Natureza, do qual só restam fragmentos. Criticou severamente o politeísmo e o antropomorfismo de Homero e Hesíodo, lançando as bases do monismo, acósmico, caracterizada pelos eleatas. A sua filosofia foi toda escrita em versos, entre eles destaco Ateneu X: Agora o chão da casa está limpo, as mãos de todos / e as taãs; um cinge as cabeças com guirlandas de flores, / outro oferece odorante mirra numa salva; plena de alegria, ergue-se uma cratera, / à mão está outro vinho, que promete jamais faltas, / vinha doce, nas jarras cheirando a flor; / pelo meio perpassa sagrado aroma de incenso, / fresca é a água, agradável e pura; / ao lado estão pães tostados e suntuosa mesa / carregada de queijo e espesso mel; / no centro está um altar todo recoberto de flores, / canto e graça envolvem a casa. / É preciso que alegres os homens primeiro cantem aos deuses / com mitos piedosos e palavras puras. / Depois de verter libações e pedir forças para realizar / o que é justo – isto é que vem em primeiro lugar -, / não é excesso beber quanto te permita chegar / à casa sem guia, se não fores muito idoso. / É de louvar-se o homem que, bebendo, revela atos nobres / como a memoria que tem e o desejo de virtude, / sem nada falar de titãs, nem de gigantes, / nem de centauros, ficções criadas pelos antigos, / ou de lutas civis violentas, nas quais nada há de útil. / Ter sempre veneração pelos deuses, isto é bom. Veja mais aqui e aqui.

O LOBO DA ESTEPE – O romance O lobo da estepe (Der Steppenwolf, 1927 - Record, 1995), do escritor alemão e Prêmio Nobel de 1946, Hermann Hesse (1877-1962), conta a história de outsider e misantropo de meia idade, alcoolátra e intelectualizado, angustiado por não ver saída da tormentosa condição e que se envolve em incidentes fantásticos e inesperados que o conduzem ao despertar de um longo sonho ao conhecer uma mulher e um músico, numa história surpreendente. Da obra destaco o trecho: [...] Quando voltei a mim, vi Mozart sentado ao meu lado como antes, tocando-me nos ombros e dizendo-me: — Acabou de ouvir a sentença. Já pode ir-se acostumando a ouvir a música de rádio desta vida. Isso lhe fará bem. O senhor é extraordinariamente mal dotado, não passa de um cabeça-dura; mas irá compreendendo pouco a pouco o que se espera do senhor. Tem de aprender a rir, isso é o que se exige. Tem de compreender o humor da vida, o humor patibular. Mas, é claro, o senhor está preparado no mundo para tudo, menos para o que se lhe pede! Está preparado para matar mocinhas, para deixar-se julgar solenemente, decerto também está preparado para mortificar-se durante cem anos e mesmo flagelar-se, não é verdade? — É verdade! Estou preparado de todo o coração — exclamei em minha miséria. — Naturalmente! O senhor está disposto a qualquer tolice que careça de humor, meu caro; para tudo o que seja patético e destituído de graça. Mas eu não estou disposto a dar-lhe nem wcapfennig por toda a sua romântica penitência. O senhor quer ser julgado, quer que lhe cortem a cabeça, ó sanguinário! Por esse estúpido ideal seria capaz de dar outras dez punhaladas. O senhor está disposto a morrer, seu covarde, mas não a viver. Ao diabo! mas terá de viver! Seria bem merecido que o condenássemos ã pena máxima. — Oh! e qual seria essa pena? — Podíamos, por exemplo, ressuscitar a moça e casá-lo com ela. — Não, a isso não estaria disposto. Seria uma desgraça. — Como se não fosse uma desgraça toda a confusão que o senhor já preparou! Mas vamos acabar de vez com todo o patético e os golpes mortais. Já está na hora de ser razoável. O senhor tem de viver e aprender a rir. Tem de aprender a escutar a maldita música de rádio da vida, tem de reverenciar o espírito que existe por trás dela e rir-se da algaravia que há na frente. É tudo o que exigimos do senhor. Lentamente, por entre dentes cerrados, perguntei: — E se eu não me submeter? E se eu vos negar, Sr. Mozart, o direito de dispor do Lobo da Estepe e de vos imiscuirdes em meu destino? — Então — disse Mozart, calmamente — eu o convido a fumar um dos meus maravilhosos cigarros. Dizendo isto, e enquanto tirava num passe de mágica um cigarro do bolso do colete e mo oferecia, deixou de ser Mozart, e fitando-me calidamente com seus olhos exóticos, converteu-se em meu amigo Pablo, bem assim no homem que me havia ensinado a jogar com as figurinhas no tabuleiro de xadrez. — Pablo! — exclamei, palpitando. — Pablo, onde estamos? Pablo deu-me o cigarro e ofereceu-me fogo. — Estamos — disse rindo — em meu teatro mágico, e se quiseres aprender a dançar o tango ou ser um general ou conversar com Alexandre o Grande, tudo isto estará à tua disposição da próxima vez. Mas devo dizer-te, Harry, que me decepcionaste bastante. Esqueceste horrivelmente de ti, quebraste o humor do pequeno teatro e cometeste uma felonia; mataste a punhaladas e manchaste o nosso belo mundo de imagens com as nódoas da realidade. Isso não foi correto de tua parte Espero, pelo menos, que o tenhas feito por ciúmes, quando viste Hermínia dormindo nos meus braços. Infelizmente, não soubeste manejar essa figura; imaginei que havias aprendido o jogo melhor. Espero que procedas melhor da próxima vez. Apanhou Hermínia, que se havia convertido, de súbito, numa figurinha de xadrez em seus dedos, e guardou-a no mesmo bolso do colete de que antes havia tirado o cigarro. Prazerosamente saboreei o doce e pesado fumo do cigarro, senti-me exausto e disposto a dormir um ano inteiro. Oh! agora compreendia tudo: compreendia Pablo, compreendia Mozart, ouvia algures atrás de mim seu riso espantoso, sabia ter em meu bolso centenas de milhares de figurinhas do jogo da vida, suspeitava emocionado o sentido, tinha a intenção de iniciar de novo o jogo, de voltar a estremecer diante de seus desatinos, de voltar a percorrer o inferno do meu interior, não uma vez, mas sempre. Da próxima vez saberia jogar melhor. Da próxima vez aprenderia a rir. Pablo me esperava. Mozart também. Veja mais aqui, aqui e aqui.

REPENSO O MUNDO – O livro Poemas (Companhia das Letras, 2011), da poeta, critica literária e tradutora polonesa e Prêmio Nobel de Literatura, Wislawa Szymborska (1923-2012), reúne quarenta e quatro poesias da autora, entre as quais destaco Repenso o mundo: Repenso o mundo, segunda edição, / segunda edição corrigida, / aos idiotas o riso, / aos tristes o pranto, / aos carecas o pente, / aos cães botas. / eis um capítulo: / a Fala dos Bichos e das plantas, / com um glossário próprio / para cada espécie. / mesmo um simples bom-dia / trocado com um peixe, / a ti, ao peixe, a todos / na vida fortalece. / essa há muito pressentida, / de súbito revelada, / improvisação da mata. / essa épica das corujas! / esses aforismos do ouriço / compostos quando imaginamos / que, ora, está só adormecido! / o tempo (capítulo dois) / tem direito de se meter / em tudo, coisa boa ou má. / porém — ele que pulveriza montanhas / remove oceanos e está / presente na órbita das estrelas, / não terá o menor poder / sobre os amantes, tão nus / tão abraçados, com o coração alvoroçado / como um pardal na mão pousado. / a velhice é uma moral / só na vida de um marginal. / ah, então todos são jovens! / o sofrimento (capítulo três) / não insulta o corpo. / a morte chega com o sono. / e vais sonhar / que nem é preciso respirar, / que o silêncio sem ar / não é uma música má, / pequeno como uma fagulha, / a um toque te apagarás. / morrer, só assim. Dor mais dolorosa / tiveste segurando nas mãos uma rosa / e terror maior sentiste ao som / de uma pétala caindo no chão. / o mundo, só assim. / Só assim viver. / E morrer só esse tanto. / E todo o resto — é como Bach / tocado por um instante num serrote. Veja mais aquiaqui.

DA PRINCESINHA MIMADA AO TISTU – A atriz, locutora, escritora, cantora e compositora Bia Sion tem desenvolvido uma trajetória nas artes, entre a televisão, o teatro, o rádio e a música – só pra ficar nisso, pois ela é duma versatilidade ímpar e transita por onde o talento der. No teatro ela estreou com A princesinha mimada (1977), depois Festa no Sábado (1978), O girassol mágico (1979), Eu chovo, tu choves, ele chove (1979), Don Quixote de la Pança (1980), Viagem à Imaginação (1981), Band Age (1982), Tistu, o menino do dedo verde (1983), Sapatinho de Cristal (1984), Isadora e Oswald (1984), Feliz Ano Velho (1985), Filumena Marturano (1987), Vira Lats (1989), Ensina-me a viver (1990), Noturno – sonetos e canções de Shakespeare (1991), Antes de ir ao baile (1991), Música divina música (1992), A balada de um palhaço (1993), Os saltimbancos (1984), Fazendo amigos na fazenda (2002) e Tistu (2005). Ela também lançou o disco A levada do Jazz (2008) e tem perseguido sua estrada com muito talento e competência. Veja mais aqui e aqui.

LADIES OF THE CHORUS – O musical Ladies of the Chorus (Mentira Salvadora, - Columbia Pictures, 1948), dirigido pelo cineasta estadunidense Phil Karlson (1908-1985), baseado na história do roteirista russo Harry Sauber (1885-1967), contando a história de uma dançarina que se apaixona por um homem rico. Foi este o primeiro que assisti estrelado por Marilyn Monroe e marcando definitivamente a imagem dessa bela mulher na minha adolescência: ela cantando, ela sorrindo, ela dançando, caminhando, enfim, de todas as formas da sua expressão na tela. Acho que vi e revi o filme na época umas trocentas vezes, ficando marcado na minha memória, a ponto de guarda no nome Peggy Martin muito bem guardado no meu apreço. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 IMAGEM DO DIA
 
Grabados – Serie América & Ex Libri, do artista plástico argentino Osvaldo Jalil. Veja mais aqui e aqui.

Veja mais sobre:
A lenda do açúcar e do álcool, Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, História da Filosofia de Wil Durant, a música de Yasushi Akutagawa, Não há estrelas no céu de João Clímaco Bezerra, Cumade Fulosinha & Menelau Júnior, a pintura de Madison Moore, João Pirahy & Pulsarte aqui.

E mais:
Sorria, Canto geral de Pablo Neruda, A desobediência civil de Henry David Thoreau, O feijão e o sonho de Orígenes Lessa, Revolução na América do Sul de Monteiro Lobato & Brincarte do Nitolino, a pintura de Amedeo Modigliani, a música de Sebastião Tapajós, Marcelo Soares aqui.
Psicologia social e educação, a poesia de Pablo Neruda, a pintura de Amedeo Modigliani, a música de Yasushi Akutagawa, a arte de Regina Espósito & Ju Mota aqui.
Recitando Castro Alves: Navio Negreiro aqui.
Devagar e sempre, A monadologia de Leibniz, Estudo do poema de Antônio Cândido, Meu país de Dorothea Mackellar, A arte da comédia de Lope de Vega, o ativismo de Emma Goldman, a arte de Gilvan Samico, a música de Alceu Valença, a xilogravura de Amaro Francisco Borges, Brincarte do Nitolino & a pintura de Nina Kozoriz aqui.
A vida dupla de Carolyne & sua cheba beiçuda, Psicologia da arte de Lev Vygotsky, a poesia de William Butler Yeats, A República de Platão, a pintura de Raphael Sanzio & Boleslaw von Szankowski, a música de Leonard Cohen, o cinema de Paolo Sorrentino & World Erotic Art Museum - WEAM aqui.
Divagando na bicicleta, Onde andará Dulce Veiga de Caio Fernando Abreu, Os elementos de Euclides de Alexandria, O teatro e seu duplo de Peter Brook, a música de Billie Myers, a fotografia de Alberto Henschel, a pintura de Jörg Immendorff & Oda Jaune aqui.
A conversa das plantas, Memória da guerra de Duarte Coelho, a poesia de Cruz e Sousa, Arquimedes de Siracusa, a música de Natalie Imbruglia, a arte de Hugo Pratt & Tom 14 aqui.
Leitoras de James leituras de Joyce, a fotografia de Humberto Finatti, a arte de Henri Matisse & Wayne Thiebaud aqui.
Incipit vita nuova, As raízes árabes da arte nordestina de Luís Soler, A divina comédia de Dante Alighieri, a música de Galina Ustvolskaya, a pintura de Jack Vetriano & Paul Sieffert, as gravuras de Gustave Doré & a arte de Luciah Lopez aqui.
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Brincar para aprender aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Fecamepa – quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel Tataritaritatá & livros infantis aqui.
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