Ao som do álbum Lady on a Bike (Nonesuch Records Inc, 2025), da dupla pop
cinematográfico eletrônico Ringdown, formada pela copmpositora,
violinista e cantora estadunidense Caroline Shaw & pela
compositora, cantora e multi-instrumentista estadunidense Danni Lee Parpan,
celebrando as possibilidades do amor, de fazer música de novas maneiras, de
criar conexão e comunidade em um mundo separatista. Veja mais aqui.
Tirar proveito pra se lascar depois... – Sabe aquela do... Ah, sem enrolação: Zé Vicário era infeliz de
nascença e, ao seu próprio juízo, sua vida servia só pra mangação. E isso conta
de sua vesgueira – Tá olhando pra onde, hem? E tanto de apelidá-lo Trêsóim -,
razão pela qual usava um ridículo tapa olho para disfarçar. E não era só,
outras mais não poupava o vulgo com diversidade de alcunhas, como as suas
visíveis orelhas de abano desiguais – Oxe! Uma é maior que a outra? Além de
prógnato, buchudo e coxo, avalie. Era tratado como um horrendo patinho feio que
sequer poderia jamais ser um cisne ou ganso, nunca! Ocrídio, mesmo. Nem adolescia
direito quando os pais morreram. Primeiro a mãe que sempre achava graça nas
suas trapalhadas, sempre às gaitadas, e, um dia, com uma gargalhada estrondosa
depois da refeição numa festa, viu-se tão insultado de desejá-la morta ali
mesmo. Pronto: ela engasgou-se numa indigestão, de defuntar entalada na hora,
carregando remorso pro resto da vida. Já o pai, pouco tempo depois, sucumbira
atingido por um raio globular de restar cinzas aos ventos. Hem, hem. Sozinho se
virou na vida e foi arrumando o que fazer, seguia os passos paternos: foi
ajudante de pedreiro, depois cobrador de ônibus, derrubador de árvores
frondosas, vendedor de chicletes na entrada do cinema, afora outros afazeres ocasionais
levados no bico. Assim foi amadurecendo a misturar sonhos e desejos com o seu
costumeiro repasto: arroz com carne seca e feijão, chovesse ou fizesse sol. E
com um café quente e forte. Quando puxavam conversa contava uma nova versão da
mesma história – Como foi mesmo, hem? -, agora verdadeira! E era uma diferente
da outra, desdizendo-se, a ponto de ser acometido duma asfixia toda vez que se
via contra a parede: Abre o jogo, vai! Coagido, cagava-se todo e caía na
pinoia. E em cada aperto arriava todo esfolado pelas febres, cólicas, coceiras,
convulsões, que redundavam em complicações respiratórias: Aperta a venta desse
cara prele morrer logo, vai! Salvo pelo gongo, ele se perdia ruminando e era o
que mais o consumia, porque se via inutilizado, pouco pra si, a dolorosa
impotência odiosa que relutava, ocasião em que preferiria jactar-se com
superpoderes e rechaçar suas vulnerabilidades, vingando-se de Deus e do mundo
de tanta humilhação. Foi então o dia em que sonhou com o pai revelando uma
botija embaixo do abacateiro do quintal. Tô cagado da sorte! Foi ver a casa
onde nascera e estava mudada, não havia mais quintal nem nada, gente estranha e
mal-encarada ocupando. Perdeu a viagem e, para não voltar arrastando as malas,
achou melhor dar um passeio pelo pântano atrás do arruado, revivia a infância.
Foi lá que mal sentou-se na beirada do alicerce, ficou matutando: um
formigueiro acunhou nos seus guardados, dele sair levantando terra aos pinotes.
Foi aí que viu umas coisas estranhas saltando nas suas pisadas. Amiudou a coisa:
eram argolas, braceletes, brincos, abotoaduras, trancelins, pulseiras,
gargantilhas, tiaras, tudo coisa fina ali catado brotando do chão: Ou tão
nascendo assim ou é da botija de pai! Foi remexendo, pegando e empurrando nos
bolsos tudo que pudesse e, carregado de não ter mais onde enfiar, olhou pros
lados e partiu esquivo, na pontinha dos pés. Chegou na sua casa e jogou tudo
sobre a cama, escondido. Surpreendeu-se com um anel. Ah! Era o sonho se
tornando real, ele, conforme seu pai, o tal Giges da Lídia, um pastor do
anel mágico numa caverna e, por meio dele, tornou-se invisível e ascendeu ao
poder. Chegou minha hora! Era só colocá-lo no dedo e virar o aro para dentro,
pronto! U-lalá! Meteu no anelar e foi virando, nada. E agora? Aí correu pro
espelho: só a roupa aparecia, mais nada. Ficou nu e nem ele mesmo se via: era
agora o Homem Invisível que sonhava tornar-se Garabombo. Finalmente
vou lavar a jega! E saiu vingando-se de quem podia. Como tudo era vendável e
tinha sempre um preço acima do seu poder aquisitivo, deu de levar pra casa o
que via e queria. Mostrou-se arrojado, imbuído dum rancor de ultrajado e saiu
revidando tudo que sofrera por toda existência. Aprontou das muitas até cansar.
Quando deu fé havia perdido a identidade e a própria imagem. Quem sou eu? Viu-se
envolto num vazio, a titubear, no meio de uma insônia medonha e com a
insatisfação além dos limites. Aí perdeu a graça: foi o que sobrou de sua
alvoroçada euforia. O anel falhou, parece, e viu-se desmascarado. E o pior: sem
saber ele levantara uma gigantesca lebre envolvendo-se numa roleta russa, na
qual se viu acossado por uma cilada armada por metralhadoras giratórias em que
cada bala, de cada uma delas, vinham inexoráveis petardos de prepotentes
agronegociadores, da gang fardada, do esquadrão da morte, do narcotráfico
neopentec, de quadrilha de roubo de cargas, de sicários de aluguel, de milícias
e de todas facções criminosas, sapecando-lhe raivoso bafo no espinhaço.
Lasquei-me! Seu furtivo passeio foi aplacado por um brutamontes que agarrou
seus culhões com um berro: - Teje preso, linguarudo! Sentindo o aperto tentou
escapulir, quando, por trás, um carro frio e grosso escorregou pelo rego da
bunda enfiando-se no seu fiofó arregaçado: - Foge não, cabra! Lá foi ele
pendurado para uma ordália formada pelos mais asquerosos algozes. Era ele agora
alvo das atrocidades do terror, no centro dum holofote, no meio de um
interrogatório tomado pelo fumaceiro das vozes, com inquirições sobre isso e aquilo,
disso e daquilo, coisas que nem sabia ou se soubesse fazia que não: Deus me
livre, sei disso não! Sabia e todos sabiam, mas ali subjugado, aos apertões e
cascudos, espremido, afolozado, torturaram-no de todo jeito: deram-lhe
beliscões, fizeram-lhe cócegas, sacudiram-no de cabeça pra baixo,
envergaram-no, puxaram, espicharam, esticaram, arrancaram o restinho de
cabelos, deram-lhe murros no espinhaço, quebraram o pau da sua venta,
arrancaram-lhe os dentes e as unhas, furaram os olhos, amputaram as orelhas,
abriram o buraco do umbigo, cortaram os pulsos, toraram os braços, enfiaram-lhe
troços protuberantes, rasgaram-lhe o procto, caparam e findou cotó. Já
imprestável, jogaram-no pela janela. Ufa! Estava por uma peínha de nada quando
um siroco aziago varreu as coisas no seu desassossego. Até isso? Nessa hora
vulnerou indefeso, inepto, aos calafrios, morrinhento e a vida encardida. Teve náuseas
de sua desgraça e, no meio de sombras secretas, aprendia a viver com a
frustração, conformado por não ter o que lhe faltava. Ainda teve tempo de
tentar enfrentá-los, crédulo de vencer o impossível. Aviou-se e era segunda feira,
às últimas horas do primeiro dia da semana – Ou segundo? Sei lá, pensou. Alta
hora da noite ele se debatia em defesa de si e, quase refestelado, foi
acometido por um soluço inarredável, transido de frio, agonizava de véspera sem
morrer, ansiando pelo extraordinário. A noite havia desabado, mas sonâmbulo
eidético estava livre de tudo. Aí arrastou-se até a esquina do quarteirão e
olvidou o clique de um gatilho disparado com silenciador na nuca, a reduzi-lo a
um grito ensurdecedor na calmaria da noite que ninguém ouviu – quem ouviu fez
que não viu, é a vida. Assim foi, até mais ver.
Meg Cabot: Guarde suas rejeições para que, mais tarde, quando você é famoso, possa mostrá-las às pessoas e rir... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
Rosa Montero: Desconfia daqueles que têm mais respostas do que perguntas. Daqueles que
te oferecem a salvação como quem oferece uma maçã. Nosso destino é um mistério,
e talvez o sentido da vida não seja mais do que a busca desse sentido... Quero
dizer que nunca ninguém ganhou uma luta defendendo-se. Para vencer, é preciso
atacar... A vida é uma doença terrível que eventualmente mata todos
nós... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Hitomi Kanehara: Quando um peixe fica sem comida, ele tem uma de duas opções: escapar
ou morrer... Veja mais aqui.
EU ESCREVO
POESIA, SENHORES!
Imagem: Acervo ArtLAM.
Eu escrevo
poesia, senhores, eu escrevo poesia, \ mas, por favor, não me chamem de
poetisa; \ eu bebo meu vinho como os pedreiros fazem \ e tenho uma assistente
que fala sozinha. \ Este mundo é um lugar estranho; \ coisas acontecem,
senhores, que eu não revelo; \ eles constroem casas, por exemplo, mas nunca
constroem casas \ para os pobres que não podem pagar por elas. \ E solteironas
estão sempre brigando com seus cachorros, \ homens casados com suas amantes, \
mas ninguém diz nada aos tiranos brutais. \ E nós lemos sobre as mortes e
viramos as páginas, \ e as pessoas nos odeiam e nós dizemos: é a vida, \ e eles
pisam em nossos pescoços e nós não nos levantamos. \ Tudo isso acontece,
senhores, e devo dizê-lo.
Poema da
escritora espanhola Gloria Fuertes García (1917–1998), defendendo em sua
obra a igualdade entre homens e mulheres, o pacifismo e a luta pelo meio
ambiente: Tenho medo de acreditar que o amor é apenas um poema que inventei... Embora
eu seja treinada e sempre ressuscite, decidi nunca mais morrer... Devemos nos
esforçar para curar as sementes, enfaixar os corações e escrever o poema que
irá infectar a todos nós...
EM NOME
DA FAMÍLIA - [...] Nascimento,
união, morte. Quanto mais ela pensa nisso, mais lhe parece que é só isso: uma
roda girando sem parar, movendo-se tão rápido que às vezes nem se consegue
distinguir os raios. É um milagre que ainda haja espaço para a poesia. [...] À
medida que os últimos sinos se extinguem, uma série de gritos masculinos
contorcidos surge de algum lugar próximo; uma cópula tardia entre os lençóis ou
algumas facadas matinais na barriga? Ele sorri. Esses são os sons de sua amada
cidade [...] É a doença da juventude confundir velocidade com
estratégia. Cascalho misturado com mel: o tom perfeito para proferir mentiras e
ultimatos. A pobreza não traz dignidade aos homens. Pelo contrário, incentiva a
inveja e o crime. O rosto de um diplomata deve ser tão ilegível quanto sua
mente. Reinos caem pelo luxo. Cidades ascendem pela virtude. Nenhum diplomata
que se preze deve dizer tudo o que pensa. Apesar de toda a pompa e exagero
sobre as maravilhas de Roma, foi Valência que fez de Rodrigo Bórgia o que ele
é: um clérigo apaixonado por mulheres, riqueza, flor de laranjeira e o sabor
das sardinhas. Sonhos são o que os homens usam para se confortar quando não
conseguem o que querem. Suponho que os grandes homens da história viveram sem
dormir. [...] Às vezes é útil
temer demais alguma coisa, pois isso torna a coisa real bastante suportável. [...], Trechos
extraídos da obra In the Name of the Family (Random
House, 2018), da escritora, jornalista, radialista
e crítica britânica Sarah Dunant, autora de obras como Blood &
Beauty (2013), Sacred Hearts (2008), In the Company of the
Courtesan (2006) e Mapping The Edge (1999), expressando-se que: Mas
qualquer um que tenha sido tão jovem sabe que a grande tristeza do amor é que
seu corpo sente mais quando ele sabe menos. Veja mais aqui.
VIOLÊNCIA DO
TERRORISMO - [...] O termo terrorista é um clichê. Eu o chamo de
violência. Não há diferença entre as várias formas de violência. Seja em nome
da religião, de um partido político ou por amor, a violência é a mesma. Quando
damos nomes diferentes para a violência, estamos legitimando sua existência. Eu
associo grupos como o Talibã à ignorância, à violência e ao fechamento de
portas para os outros. […] Considero-me
mais um ser humano do que uma mulher. Devo isso ao meu pai. Ser religioso é
algo pessoal. Não precisa ser no âmbito da política ou do poder. Critico o
islamismo porque nasci nele; pude observá-lo mais de perto. [...] Na
corrida rumo à modernidade, o mundo frequentemente ignora os valores da
civilização. A televisão está nos ensinando a pensar de maneira muito clichê. A
TV está tentando fazer do mundo uma única imagem/voz. Está tentando fazer de
toda a humanidade uma única pessoa, perdendo assim o caráter de ser humano.
[...]. Trechos da entrevista Por que eu crítico o Islã? A TV está tentando
fazer do mundo uma única imagem (NewAgeIslam, 2009), concedida pela
cineasta e roteirista iraniana Samira Makhmalbaf.
JORNADAS DE PASTORIL
[...] As políticas públicas, apesar dos avanços na sistematização de
instrumentos adequados à promoção e proteção das manifestações artísticas populares,
necessitam de aprofundamento nos níveis de acessibilidade, igualdade de
possibilidades e processos formativos eficientes e suficientes, para atender
aos objetivos de uma sociedade mais respeitosa, capaz de reconhecer-se na sua
amplitude cultural. Um aspecto relevante para o fortalecimento das culturas
brasileiras e a construção da cidadania, é a integração educação-cultura, a
priori, indissociáveis. [...].
Trechos extraídos da obra Jornadas de pastoril (Fundaj/Massagana,
2012), da professora, pesquisadora e musicista Dinara Helena Pessoa, que
desde a sua infância está ligada à cultura popular, manifestando-se que: “Quando pequena, dancei mais de 50 vezes o
pastoril... Deixei de ser brincante para ser uma entusiasta do folguedo....
Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
&
VIVA PERNAMBUCO:
PALMARES
A partir de 04
até 15 de agosto de 2025, acontecerá o projeto Viva Pernambuco: Patrimônio,
Cultura e Memória, com a exposição Palmares, Terra de Cultura e de
Grandeza. O evento ocorrerá das 8 às 17h, no Teatro Cinema Apolo,
destacando o patrimônio histórico de casarões antigos, a estação ferroviária, além
de personagens e instituições que marcaram a cultura local. O projeto é desenvolvido
pelo Instituto dos Palmares, com o apoio cultural Redes dos Institutos
Históricos de Pernambuco, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), Ministério da Cultura e do Governo Federal, através do
Instrumento nº 959776 da emenda parlamentar da senadora Teresa Leitão (PT). Veja
mais aqui.
ITINERARTE –
COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:
Veja mais sobre
MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.