
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o grupo de música instrumental SaGrama, formado por professores do Conservatório
Pernambucano de Música e integrado Sérgio Campelo (flauta e piccolo), Frederica
Bourgeois (flauta), Jônatas Zacarias (clarinete), Claudio Moura (viola
nordestina e violão), Fábio Delicato (violão), Thiago Fournier (contrabaixo),
Antonio Barreto (marimba, vibrafone e percussão), Gilberto Campelo (percussão)
e Neide Alves (percussão): Engenho & Auto da Compadecida; e a cantora Marina De La Riva: Central Constância. Para conferir é só
ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - De um mesmo tronco criou Deus todas as
famílias, tribos e idiomas. Seus são todos os templos e altares, embora, imenso
seja o império do homem. E ainda que alguns desprezem outros, em essência são
irmãos pelo sangue, e aprenderão em algum dia crucial como trilhar uma senda
comum. Pensamento do escritor estadunidense Henry Burke Robins (1874-1942).
A CIÊNCIA E A ORTODOXIA - [...] A matriz coletiva da ciência, em certo
momento, é determinada por um conjunto de instituições que incluem
universidades, sociedades de cientistas e, mais recentemente, os corpos
editoriais de jornais técnicos. Como outras instituições, elas se inclinam consciente
ou inconscientemente pela preservação do status quo – em parte porque as
inovações não-ortodoxas se constituem numa ameaça para sua autoridade, mas
também pelo medo mais profundo de que o edifício intelectual, tão
laboriosamente erigido, possa cair sob seu impacto. A ortodoxia corporativa tem
sido a maldição dos gênios, de Aristarcos a Galileu, Harvey, Darwin e Freud. Ao
longo dos séculos, suas falanges têm defendido tenazmente o hábito, em oposição
à originalidade. [...]. Trecho extraído da obra The Act of Creation (Dell, 1967), do jornalista,
escritor e ativista político judeu húngaro, Arthur Koestler (1905-1983). Veja mais aqui.
JANELA SOBRE A PALAVRA – [...]
Os contadores de histórias, os cantadores
de história, só podem contar enquanto a neve cai. A tradição manda que seja
assim. Os índios do norte da América têm muito cuidado com essa questão dos
contos. Dizem que quando os contos soam, as plantas não se preocupam em crescer
e os pássaros esquecem a comida de seus filhotes. [...] No Haiti, não se pode contar histórias de
dia. Quem conta de dia merece desgraça: a montanha jogará uma pedra em sua
cabeça, sua mãe só conseguirá andar de quatro. Os contos são contados de noite,
porque na noite vive o sagrado, e quem sabe contar conta sabendo que o nome é a
coisa que o nome chama. Em guarani, ñé ~ e signifca “palavra” e também
significa “alma”. Crêem os índios guaranis que os que mentem a palavra ou a
dilapidam, são traidores da alma. [...] Magda
Lemonnier recorta palavras nos jornais, palavras de todos os tamanhos, e as
guarda em caixas. Numa caixa vermelha guarda as palavras furiosas. Numa verde,
as palavras amantes. Em caixa azul, as neutras. Numa casa amarela, as tristes. E
numa caixa transparente guarda as palavras que têm magia. Às vezes, ela abre e
vira as caixas sobre a mesa, para que as palavras se misturem do jeito que
quiserem. Então, as palavras contam para Magda o que acontece e anunciam o que
acontecerá. Trechos extraídos da obra As
palavras andantes (L&PM, 1994), do jornalista e escritor uruguaio Eduardo
Galeano (1940-2015). Veja mais aqui, aqui e aqui.
VIAGEM AO ORIENTE - [...]
Este homem simples tinha algo de tão
agradável e discretamente atranete que atraíra a estima geral. Cumpria suas
obrigações com alegria contagiante, quase sempre cantando ou assobiando, e
jamais era visto, exceto quando dele precisávamos – em suma, o servidor ideal.
Além do mais exercia enorme atração sobre os animais. Quase sempre fazíamo-nos
acompanhar de um cão, que a nós se incorporava por causa de Leo. Era capaz de
domesticar pássaros e atrair boborletas sobre seu corpo. Seu objetivo era
encontrar a chave de Salomão, com a qual seria capaz de compreender a linguagem
dos pássaros e que o conduzira ao Oriente. [...] Leo parecia tão simples e natural, tão saudável, enfim, um amigo
inteiramente desinteressado. [...]. Estava
em toda parte e em parte nenhuma. [...] por
que os artistas geralmente pareciam semi-existir, ao passo que suas obras
permaneciam tão incontestavelmente vivas. Leo fitou-me com surpresa, deixou então
escapar-lhe das mãos o cãozinho com que brincava e respondeu: - Acontece o
mesmo com as mães. Ao gerarem os filhos, amamentá-los e torná-los belos e
fortes, elas próprias passam à insignificância e ninguém mais por elas se
inquieta. – Mas isto é muito triste – disse eu, sem refletir profundamente
sobre o fato. – Não creio que seja mais triste que tudo o mais – retrucou Lei.
– Talvez seja triste ao mesmo tempo belo. A lei assim o determina. – A lei? –
indaguei, curioso. – De que lei está falando, Leo? – A lei de servir. Quem
desejar viver muito deve servir, mas aquele que desejar governar não viverá por
longo tempo. – Então por que tantas pessoas lutam para governar? – É que elas
não compreendem. São poucos os que nascem para governar: estes vivem sempre felizes
e saudáveis. Todos os demais que se tornam senhores através do esforço morrem
sem nada. – Como nada, Leo? – Em um hospital, por exemplo. Não consegui
compreendê-lo muito bem, mas suas palavras ficaram-me na lembrança e me fizeram
julgar que Leo sabia todas as coisas, talvez mais do que nós, ostensivamente
seus senhores. [...]. Trechos extraídos da obra Viagem ao Oriente (Civilização Brasileira, 1971), do escritor
alemão Hermann Hesse (1877 – 1962). Veja mais aqui.
DOIS POEMAS – 1 - Fonte: A vida que passou / - água tombada / dos bordos / de tua
taça. / O eterno fluir, / ó farfalhar de asas... / - Pássaros nascendo, /
invisíveis, das águas. / Tua concha como / um cálice / borbulante, intocado, /
música de sombras verdes / teu murmúrio em cascata. / E o tempo, o tempo, / o
tempo... / gotejando sua mágoa. 2 – Possessão: O poema me tocou / com sua
graça, / com suas patas de pluma, / com seu hálito / de brisa perfumada. / O
poema fez em mim / o seu cavalo; / um arrepio no dorso, / um calafrio, / uma dança
de espelhos / e de espadas. / De repente, sem aviso, / o poema como um raio, /
- Elegbá, pomba gira! / Me tocou com sua graça. / Aceso como chicote, /
certeiro como pedrada. Poemas da escritora e jornalista Myriam Fraga (1937-2016).
A ARTE DE MAUDE DAVEY
My Life in the Nude (2013), espetáculo da atriz, diretora, escritora e professora australiana Maude Davey.
My Life in the Nude (2013), espetáculo da atriz, diretora, escritora e professora australiana Maude Davey.
Veja mais:
Papai Noel amolestado aqui
Crônicas Natalinas aqui.
Ato de Natal de Hermilo Borba Filho
aqui.
Conto de Natal de Rubem Braga aqui.
Véspera de Natal aqui.
A literatura de Tomasi di Lampedusa
aqui.
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