DOS DIAS ÀS
NOITES, O AMANHECER - Imagem: Love
painting, art by Hiroko Sakai. -
Espreito a tudo: o que se move e a mim,
distinguindo fedores e perfumes, cantigas e catingas, luzes e escuridão. A tudo
vejo, ouço o movimento, cheiro infortúnio e felicidade: o pêndulo da vida.
Dentes que trincam nas narinas alargadas, bocas abertas e a ira na face dura
pro combate, o súbito agir partindo pro ataque aos que defendem, os que
retrucam, os que revidam, tocam a ira e tudo reverbera repulsivamente. Onde há
guerra havia a paz perdida, desfocada, esquecida. Aos que perscrutam entre
nebulosos e diáfanos, os que contraem as pupilas, estado de alerta. É preciso
tomar cuidado, nunca se sabe. E os que vertem lágrimas, circunspectos ou
alheios, rendidos da hora ante as circunstancias. Ouço o vozerio, algaravias
escuras na vida noturna, admonições eventuais, censura, escancaro. E me calo
prostrado na Noite Obscura, viagem pelas trevas. Tudo passa, o efêmero é a
ordem e tudo se descarta e se transforma. Alguns entristecidos por nada e o
espanto dos olhos aos olhares sensíveis, janelas da alma: força psíquica
intangível irradiando poder especial. E se levantam temores, outras emoções. No
fundo, no fundo tudo está bem, tudo dará certo, quer queira, quer não. É só a
passagem, correnteza de águas do não saber. A tudo presencio e testemunho
conquistas e fracassos, eu próprio entre prêmios e migalhas, todos entre o luxo
e a miséria. Mais que a vida o teor da morte, o falso que se faz real, a
mentira que se faz verdadeira. Sou-me inteiro com as pálpebras cerradas: pineal
exposta às ultrafrequências das mais elevadas oitavas cósmicas. Vou além do
visinvisível, quem vai da Lua ao Sol que vem, sou pro futuro na antecipação da
aurora, emoção intensa e vívida no glorioso amanhecer. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o
compositor, arranjador e professor inglês Gustav
Holst (1874-1934):
The Planets Suite & Symphoniy in F Major The Costwolds; e com a pianista
russa Lola Astanova: Rhapsody in
blue Gershwin & The Chopin Project. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA: Todo parecer é imperfeito: ele oculta o ser;
é a partir dele que se constroem um querer-ser e um dever-ser, o que já um
desvio do sentido. Somente enquanto poder ser – ou pode-ser – é o parecer
apenas suportável. Pensamento do lingüista lituano Algirdas Julius
Greimas (1917-1992), que
desenvolveu contribuições inestimáveis para a semiótica e narratologia.
AS LÁGRIMAS DE OBIRICI – Imagem:
As lágrimas de Obirici, do escultor Mário Arjonas - [...] Mas com Obirici, uma linda jovem [...] Desde curumim ela nutria amor por um único
índio. Nunca havia confessado sua paixão, no entanto. Amava em segredo, em
silêncio, sozinha. Quis o destino que o índio por quem ela era apaixonada fosse
escolhido o chefe guerreiro dos tapi-mirins. Obirici pensou, então, que chegara
o momento para se declarar. – Grande chefe, estou aqui para dizer que te amo.
Quero ser tua esposa, passara vida ao teulado. – Tu não és a única a declarar
amor por mim, Obirici. – Outra índia se apresentou como tua pretendente? – Sim.
Ela diz me amar como ninguém mais me amaria. – Mas eu te amo tanto quanto ela,
mais até. E desde sempre. Desde que soube o que era amar alguém... [...] A outra índia parecia mais afeita ao arco e
à flecha. Seus disparos eram precisos, fulminantes, certeiros. Cada flexha sua
que acertava o alvo era como se acertasse também o coração de Obirici. Aos
poucos, sua vitoria foi se tornando evidente. Perdeu Obirici. [...] Era noite de lua cheia, e para a lua Obirici
chorou. [...] Obirici virou suas
lágrimas, e suas lágrmas viraram um riacho, que foi fazendo seu caminho pela
areia até chegar à aldeia. Primeiro assustados, depois consternados, os
tapi-mirins perceberam que o rio eram as lágrimas de sofrimento de Obirici.
Chamaram o arroi de Ibicuiretã, e os açorianos quando aqui chegaram, o
rebatizaram de Passo da Areia, que deu nome ao bairro. Lenda extraída da
obra Lendas gaúchas: 35 histórias com origem
no imaginário popular rio-grandense (RBS, 2007), organizada por Pedro Hasse
Filho. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
ASTECAS - [...] Ora, eu e meus amigos de infância
frequentemente discutíamos, como imagino que até mesmo as crianças cristãs
discutam, a respeito das diferenças entre o corpo do homem e o da mulher, e
aquilo que acreditávamos que homem e mulher intimidade, como faziam, quem ia
por cima, quais as variações, quanto tempo durava o ato e quantas vezes podia
ser feito em seguida. Cada um de nós, primeiro em segredo, depois em reuniões
competitivas, descobriu como verificar se seu tepuli estava bastante ereto e se
seus ovos ololtin continham omicetl masculino em quantidade e capacidade de
projeção não inferiores de nossos colegas. [...] ouvíamos avidamente a caçoada obscena dos trabalhadores adultos e suas
lembranças de aventuras com muilheres, decerto exageradas ao serem contadas.
[...] E lá estava eu, diante do corpo da
mais bela virgem de Aztlan – não uma maatil barata e vulgar ou mesmo uma cara
auyanimi, mas uma verdadeira princesa. [...] E, é claro, após algum tempo, ela abandonava toda a calma e eu já não
estava mais tão nervoso e ambos gritávamos sons desarticulados de êxtase e
deleite. A coisa que de melhor me lembro sobre essa cópula, e de todas as
outras que se seguiram, é quão bem Patzcatl-Ameyadtl personificava o próprio
nome, que quer dizer Fonte de Humores. Quando nos deitávamos, ela era
exatamente isso. Conheci muitas mulheres desde então, mas nenhuma tão pródiga
de humores. Naquela primeira vez, meu primeiro toque em sua tipili fez com que
começasse a produzir um fluido claro como água, embora lubrificante. Logo
estávamos nós dois – e o catre também – escorregadios e brilhantes. Quando
finalmente partimos para o ato da penetração, a membrana de proteção virginal
de Ameyatl, o chitoli, rompeu-se sem oferecer resistência. Ela era apertada
como uma virgem, mas não precisei forçar. Meu tepuli, bem-vindo nesses humores,
penetrou-a sem dificuldade. Em outras ocasiões, Amyatl começava a ficar molhada
nem bem tirava o tochomitl, ou, mais tarde ainda, assim que entrava no meu
quarto. Às vezes, ainda depois, quando estávamos vestidos na companhia de
outras pessoas e nos comportando com impecável propriedade,ela me lançava um
olhar que queria dizer? “Estou olhando para você, Tenamaxtli... e estou molhada
por baixo das roupas”. [...] fiquei
supreso quando a menina fez comigo, coma boca, aquilo que pensei que só
tuilontli masculinos faziam entre si, porque fora o mesmo que Yeyac certa vez
tentara fazer comigo. Mas meu tepuli estava mais maduro então e a menna o
excitou com tanta pericia que irrompi em glorioso prazer. Então ela me mostrou
como fazer o mesmo com xacapili dela. Aprendi que essa pérola discreta, embora
muito menor que o órgão de um mhomem, pode também ser posto na boca, acariciada
com a língua e sugada até impelir a mulher a verdadeiras convulsões de prazer.
Ao aprender isso, comecei a suspeitar que mulher alguma realmente precisava de
um homem, ou seja, de seu tepuli, uma vez que outra mulher, mesmo uma criança,
podia dar-lhe o mesmo tipo de prazer. Quando eu disse isso,a garota riu, mas
concordou, e me falou que o ato sexual entre mulheres se chama paclachuia.
[...] E assim foi, e passamos a nos
divertir um com o outro em todo momento de privacidade possível durante os
cinco anos seguintes, mais ou menos. [...]. Trechos da obra Outono asteca (Record, 2003), de Gary
Jennings. Veja mais aqui.
A SERPENTE DE OURO – [...]
O índio da fazenda guarda o segredo da
sua comunidade como o seu próprio. Sabe bem que todos são conversadores, mas
não com os brancos. Mal divisam um rosto claro ou uma roupa diferente,
fecham-se em copas, só abrindo a boca para responderem o necessário. Somente os
seus paisanos fraternos, do mesmo meio familiar, das palestras à porta de suas
casas, lhes ouvem dissertações sobre as trivialidades da vida diária ou das
boas ou más colheitas. Eles sabem como choram as plantas durantes as secas,m de
como a laguna se põe rubra, recordando a morte de antigos guerreiros degolados
e atirados em suas águas por rebeldia; do que diz de o Sol, quando as nuvens
passam por ele; e como os trovões são produzidos por São Isidro, o padroeiro
dos fazendeiros, que, num corcel ferrado e brioso, galipa pelos céus, ordenando
uma boa chuva. Ou também uma maravilhosa historia, por exemplo de Tungurbao,
espécie de Dom João Tem´roio da selva, surgindo em Chuquiten, ninguém sabendo
de onde viera, nem para onde fora, que tocava flauta de ouro em noites de luar,
atrando e seduzindo donzelas com o feitiço de sua música maravilhosa, alta e
clara, que enchia a comarca, jamais ouvida antes, nem depois, e que
desapareceu, talvez, devido às lágrimas das mães de suas vitimas ou porque
terminasse o seu pacto com o diabo... mas, isto foi há muito, muito tempo...
[...]. Trecho do romance A serpente de
ouro (Clube do Livro, 1972), do premiado escritor e jornalista peruano Ciro Alegría (1909-1967). Veja mais
aqui.
SONETO & ODE DE RONSARD - 1 – Soneto: Foi para vós que ontem colhi,
senhora, / este ramos de flores que ora envio. / Não no houvesse colhido e o
vento e o frio / tê-las-iam crestado antes da autora. / Meditai nesse exemplo,
que se agora / não sei mais do que o vosso outro macio / rosto nem boca de
melhor feitio, / a tudo a idade afeia sem demora. / Senhora, o tempo
foge... o tempo foge... / com pouco
morreremos e amanhã / já não seremos o que somos hoje... / Por quê é que o
vosso coração hesita? / O tempo foge... a vida é breve e é vã... / Por isso,
amai-me... enquanto sois bonita. 2 –
Ode à Cassandra: Vem, amor, vem ver se a rosa, / que ontem, fresca e perfumosa,
/ se aberiu ao sol estival, / não perdeu o viço ainda / e conserva, rubra e
linda, / cor a teu rosto igual. / Oh, amor! Vê quão depressa, / fenecendo, a
rosa cessa / de ser bela e ser louçã! / Como é madrasta a Natura, / pois que
tal flor jamais dura / do entardecer à manhã! / Meu conselho é, pois, amor, /
que, enquanto na vida em flor, / encantos possam sobrar-te: / colhe, colhe a
mocidade, / pois comoà rosa a idade / da beleza há de privar-te. Poemas do
poeta renascentista francês Pierre de
Ronsard (1524-1595). Veja mais aqui.
AS CONDECORAÇÕES DE LUCIAH LOPEZ
A poeta Luciah
Lopez é homenageada com a Comenda Internacional Ruy Barbosa "O Águia
de Haia", o Título Honorífico de Embaixadora
da Paz pela OMDDH - Organização Mundial dos Defensores dos Direitos
Humanos, vinculado a Organização das Nações Unidas (ONU), Certificado de Mérito Cultural 2016 e o Diploma de Benfeitor Cultural da Humanidade -
FEBACLA. As condecorações internacionais vêm como fruto de um trabalho desenvolvido
através de sua poesia e pensamento em prol da paz mundial. A cerimonia de
entrega dos títulos aconteceu na Câmara Municipal de Niterói (RJ). no dia 08 de
dezembro, com a presença de artistas e autoridades. Veja mais aqui.
Veja mais:
&
A ARTE HIROKO SAKAI
A arte da
pintora japonesa Hiroko
Sakai.
A ARTE PERFORMÁTICA
DE ALESSANDRA CESTAC
A arte da artista plástica, performer e designer
gráfica Alessandra Cestac.