sexta-feira, setembro 15, 2017

CECÍLIA MEIRELES, IMRE KERTÉSZ, RUBEM ALVES, FOCILLON, ALMEIDA PRADO & KOELLREUTER, DEBORAH POYNTON & LUCIAH LOPEZ

QUEM OLHA PROS OUTROS NÃO VÊ A SI MESMO – Imagem: arte da pintora sul-africana Deborah Poynton. - Houve um tempo em que acreditava em tudo. Acreditei no que diziam, no que expressam olhares verdadeiros, até em mentiras, gostava disso, gostava porque, naquela hora, tudo era verdadeiro. Acreditei nas horas, não sei quantas outras, sei que era, nisso acreditei. Acreditei no espaço, era longe; quando mais ia, mais demorava chegar. Fui. Léguas, quanta distância. Chegava cansado, satisfeito. Não era o que eu esperava, nem precisava. Bastava ter ido, aprendido que ir muitas vezes é mais que voltar. E voltei, muitas vezes, perdi a viagem e não me cansei de saber que ir é voltar quando a gente não quer. Tantas vezes cheguei na porta fechada, peito aberto. Chorei, força da expressão; deveria sorrir para saber o tamanho da besteira: nada melhor que rir do que não tem o menor sentido. Foi e entornei risos e lágrimas. Quantas vezes apesar de certo, aquiesci; quantas vezes completamente equivocado, perdi a vez de compreender. Errei, muito. Horas muitas de incompreensão. Queria invulnerável, dono de todas as razões. E jurava: um dia acerto. Quanto mais teimava, mais errava. Com o tempo aprendi com minhas falhas, até amei minhas fraquezas. Não por autocomiseração, mas por ver-me humano, indesculpavelmente humano, deliciosamente humano. Foi quando aprendi a amar. Até então eu não amava a mim, amava qualquer coisa, ou nada. Pensava que amava, eu que me iludia e só me valia do prazer. Errar fazia parte de mim, para aprender. Pisava na bola e me ria. Nisso eu me reconhecia: era qualquer coisa fora do convencional, assim eu era. O que valia era ser eu mesmo. Estava cansado de ser quem eu admirava, de ser outro que não eu próprio. Assim me fiz. Reconheci meus erros, dei topada a torto e a direito, me ria. Mas cobrei de mim o infalível. Foi quando me descobri que não era super-herói. Tudo era só o que queriam de mim, o indefectível. Não era eu, mas me esforçava, queria ser o melhor, o maior de todos. Quando me descobri frágil, meu mundo caiu. Sou apenas um ser humano. Queria ser super-herói, além-do-homem. Olhei no espelho, sou apenas o que sou. Nada mais. Isso não sou eu, certo ou errado, liso ou endinheirado, pronto para assumir meus erros e seguir em frente. Quem olha pros outros não vê a si mesmo. Nada mais, sou apenas o que sou, nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: especiais com as Cartas Celestes 1 e 8, Sonata 1 for guitar & o Concerto Fribourgeois do pianista e compositor de música erudita Almeida Prado (1943-2010); o Quartet piano nº 1 op 25 Brahms, Concerto nº5 Vieutxtemps & Israel Phylarmonic Zubim Mehta da premiada violinista alemã Viviane Hagner; Ter Pezzi per pianoforte do compositor, professor e musicólogo Hans-Joachim Koellreuter; e Sonata for cello & piano nº 1 op 38 de Brahms, Grand Tango de Astor Piazzolla, Água e Vinho de Egberto Gismonti & O canto do cisne negro de Villa-Lobos, da violoncelista francesa Ophélie Gaillard. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ALEGRIA DE ENSINAREnsinar é um exercício de imortalidade. De algum a forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais. [...] Agora o que desejo é que você aprenda a dançar. Lição de Zaratustra, que dizia que para se aprender a pensar é preciso primeiro aprender a dançar. Quem dança com as idéias descobre que pensar é alegria. Se pensar lhe dá’ tristeza e porque você so sabe marchar, como soldados em ordem unida. Saltar sobre o vazio, pular de pico em pico. Não ter medo da queda. Foi assim que se construiu a ciência: não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Todo conhecimento começa com o sonho. O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas do corpo, com o a água brota das profundezas da terra. Como Mestre só posso então lhe dizer uma coisa: “Conte-me os seus sonhos, para que sonhemos juntos!” [...] O menininho sonhava. Como Deus, que do nada criou tudo, ele tomou o nada em suas mãos, e com ele fez o seu carrinho. Imagino que, também como Deus, ele deve ter sorrido de felicidade ao contemplar a obra de suas mãos...Trechos  da obra A alegria de ensinar (Ars Poética,1994), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui e aqui.

ELOGIO DA MÃO - [...] O artista que corta a madeira, martela o metal, molda a argila, talha o bloco de pedra, traz até nós um passado do homem, um homem antigo, sem o qual não estaríamos aqui. Não é admirável vê-lo em pé, entre nós, em plena era mecânica, esse sobrevivente obstinado da era das mãos? Os séculos passaram por ele sem alterar sua vida profunda, sem fazê-lo renunciar a seus modos antigos de descobrir o mundo e de inventá-lo. Para ele, a natureza ainda é um receptáculo de segredos e de maravilhas. É ainda com as mãos nuas, frágeis armas, que ele tenta furtá-los, para fazê-los entrar em seu próprio jogo. Assim recomeça, perpetuamente, um formidável outrora, assim se refaz, sem se repetir, a descoberta do fogo, do machado, da roda, do torno de olaria. Num ateliê de artista, estão inscritas por toda parte as tentativas, as experiências, os presságios da mão, as memórias seculares de uma raça humana que não esqueceu o privilégio de manipular. [...] Nerval conta a história de uma mão amaldiçoada que, separada do corpo, corre o mundo para fazer das suas. Não separo a mão nem do corpo nem do espírito. Mas entre espírito e mão, as relações não são tão simples como as que se dão entre um patrão imperioso e um servidor dócil. O espírito faz a mão, a mão faz o espírito. O gesto que não cria, o gesto sem devir provoca e define o estado de consciência. O gesto que cria exerce uma ação contínua sobre a vida interior. A mão arranca o tato à passividade receptiva, organiza-o para a experiência e para a ação. Ela ensina o homem a possuir o espaço, o peso, a densidade, o número. Criando um universo inédito, deixa sua marca em toda parte. Mede-se com a matéria que ela metamorfoseia, com a forma que ela transfigura. Educadora do homem, a mão o multiplica no espaço e no tempo. Trecho extraído da obra A vida das formas: seguido elogio da mão (Zahar, 1983), do historiador e teórico francês Henri Focillon (1881-1943), analisando as formas de espaço na matéria, no espírito e no tempo, revelando o que de ilusório existe na distinção entre forma e conteúdo e mostrando-nos que a Arte é mais que uma simples sucessão de estilos e momentos.

SEM DESTINO – [...] Só em Zeitz percebi mesmo que o cativeiro tem a sua rotina, que o verdadeiro cativeiro não passa, no fundo, de um quotidiano cinzento. [...] Não tardei muito a perceber que as opiniões favoráveis ouvidas ainda em Auschwitz acerca da instituição dos “Arbeitlager”, se baseavam, forçosamente, em informações exageradas. [...] Trecho da obra Sem destino (Presença. Lançamento, 2003), do escritor húngaro e prêmio Nobel de Literatura de 2002, Imre Kertész (1929-1016), narrando a história de um jovem judeu que se vê subitamente afastado da família e é levado para campos de concentração de Auschwitz situações de desumanidade, de grande crueldade, perpetrados por parte do comando nazista. Veja mais aqui.

CÂNTICO 17 DE CECÍLIATu tens um medo: / Acabar. / Não vês que acaba todo o dia. / Que morres no amor. / Na tristeza. / Na dúvida. / No desejo. / Que te renovas todo o dia. / No amor. / Na tristeza. / Na dúvida. / No desejo. / Que és sempre outro. / Que és sempre o mesmo. / Que morrerás por idades imensas. / Até não teres medo de morrer. / E então serás eterno. Poema extraído da obra Cânticos (Moderna, 1981), da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui e aqui.

FILOSOFIA: CONVERSA SEIS & MEIA
Aconteceu nesta quinta (14/09), no Restaurante O Nordestão, o Café Filosófico: Conversa às seis e meia, com a temática: Por que filosofar no século XXI?

Veja mais:
A arte de Lucebert aqui.
A música de Almeida Prado aqui e aqui.
A poesia de Bocage aqui, aqui e aqui
A literatura de Lya Luft aqui, aqui e aqui.
A arte musical de Viviane Hagner aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
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A FLOR DE LUCIAH LOPEZ
Meu coração se contrai e se expande em resposta ao Amor que me invade com as cores da primavera. É a flor que sai do ventre e traz consigo as línguas faladas e as línguas mortas que distraem a palavra feita da saudade que te reveste. Eu mencionei o seu nome enquanto a seiva corria pelos veios e ranhuras das folhas e pétalas e a elas ajuntei os pensamentos que a voz do meu coração soprou nos meus ouvidos. Nitidamente ouvi o que perdura entre nós -, o seu riso. A espontaneidade da sua risada obedece as curvas habituais no vermelho dos seus lábios e é tudo que eu preciso para me vestir de primavera ao bel-prazer de quem ama e se permite amar.
Prosa poética da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez.

A ARTE DE DEBORAH POYNTON
A arte da pintora sul-africana Deborah Poynton.

 

MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...