EMOÇÕES QUE ME DOU FELIZ DE SONHAR - Imagem: arte
do pintor, escultor e artista espiritual visionário Alex Grey.- Fora de casa, pé no mundo, passo a passo: andejo
noitedia voo do que sou pro que quero ser, caminho que sei pra me encontrar. Se
vago por todos os trajetos, sei aonde chegar. Se me perco, desencontros nas
trevas, são minhas, para reencontros tardios que nunca foram demais, na horagá e
tudo volta ao normal no meio das trepidações, a ser como era para ser novo
outro dia. Basta a alvorada para que eu saiba pra onde eu tenho que ir, aprendo
a fechar meus olhos pra escuridão da noite e me valho da firmeza, mesmo que
tudo dê errado, mesmo que me seja estranho a passagem ou ignore o paradeiro
inóspito, o caminho é um só: a mim mesmo. Se me desencontro é porque perco a noção
da vida, coisas de ir ali e voltar já, contando até dez, retomando o fôlego,
firmando a razão pra que a emoção seja mais que válida na hora de errar ou de
vingar acertando na veia, e logo me reconduzo como sangue por vasos, corrente
de rio pro mar, reaprumo a direção e sou novamente na estrada do Sol. Mais que
distâncias incertas repletas de altos e baixos, sei das ondas, pulso com as
vibrações, sou roda que gira no dom de voar, passo em qualquer lugar, seja mais
que paradeiros perdidos, mais que ermos atravessados, sei-me sempre na
verdadeira travessia: um palmo abaixo do nariz e tudo é luz, sou pro amor. É
praí que converge todas as minhas errâncias e devaneios: nada mais que a
estrada pra dentro do coração, emoções que me dou, feliz de sonhar. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje
na Rádio Tataritaritatá: especiais com Por que eu não
pensei nisso antes, Bicho de sete cabeça, Beleléu Léu Eu & Sampa Midnight
do compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical Itamar
Assumpção
(1949-2003); Paino Works da pianista e compositora alemã Clara
Schumann
(1819-1896); Pierrot Lunaire & Concerto Piano op. 42 do compositor
austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951); e Libera-me &
amém para uma ausência da compositora,
pianista e percussionista portuguesa Constança
Capdeville.
Para conferir é só ligar o som e
curtir.
PALESTRA ELISEU: ÉTICA, CIDADANIA & MEIO
AMBIENTE
Atendendo convite das professoras Janeide e Romina, realizei
ontem no Colégio Estadual Eliseu Pereira de Melo, em Palmares – PE, a
palestra Eliseu: Ética, Cidadania & Meio Ambiente, pros alunos da instituição
escolar. Veja mais aqui & aqui.
MANIFESTO DA ARTE VISIONÁRIA - [...] Porque essa ênfase na acurácia? Falando pelo
Realismo Fantástico, Fuchs relata que “Desde o início nós queremos re-animar a
arte dos Antigos Mestres. Mas, mais do que isso, nós queremos representar a
imagem fantástica de uma maneira como se ela tivesse sido pintada, não pela
mão, mas pelo próprio sonho, não deixando traços de arte para trás. [...] a Arte do Visionário procura mostrar o que
está além do limite de nossa visão. Através de sonhos, transe, e outros estados
alterados, o artista procura ver o não-visto – atingindo um estado visionário
que transcende nossos modos regulares de percepção. A tarefa que o espera, a
partir daí, é comunicar sua visão numa forma reconhecível para o campo de visão
cotidiana. [...]. Trechos extraídos da obra Primeiro Manifesto da Arte Visionária (Amorc, 2013), do
artista e escritor maltês Laurence
Caruana, expressando que por meio desta arte o artista busca
expressar, em sua obra, suas visões, provenientes de Estados Alternativos de
Consciência (EAC), como sendo experiências entendidas comumente como
espirituais .Veja mais aqui.
PRELEÇÕES RELIGIOSAS - [...]
deuses são seres
que só existem para e através dos homens; por isso não velam o homem quando
este dorme, mas quando os homens dormem, dormem também os deuses, isto é, com a
consciência do homem se esvai também a existência dos deuses. [...] Um ser sem qualidade é um ser sem objetividade, e um ser sem
objetividade é um ser nulo. [...] Deus não é o que o homem é, o homem não é o
que deus é. Deus é o ser infinito, o homem, o finito; deus é perfeito, o homem
imperfeito; deus é eterno, o homem transitório; deus é plenipotente, o homem
impotente; deus é santo, o homem é pecador. Deus e o homem são extremos: deus é
o unicamente positivo, o âmago de todas as realidades, o homem é o unicamente
negativo, o cerne de todas as nulidades. [...] Trechos extraídos da obra Preleções
sobre a essência da religião (Vozes, 2009), do
filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872). Veja mais aqui.
POR UM PÉ DE FEIJÃO - Nunca mais haverá no mundo um ano tão bom. Pode até
haver anos melhores, mas jamais será a mesma coisa. Parecia que a terra (a
nossa terra, feinha, cheia de altos e baixos, esconsos, areia, pedregulho e
massapê) estava explodindo em beleza. E nós todos acordávamos cantando, muito
antes do sol raiar, passávamos o dia trabalhando e cantando e logo depois do
pôr-do-sol desmaiávamos em qualquer canto e adormecíamos, contentes da vida. Até
me esqueci da escola, a coisa que mais gostava. Todos se esqueceram de tudo.
Agora dava gosto trabalhar... Os pés de milho cresciam desembestados, lançavam
pendões e espigas imensas. Os pés de feijão explodiam as vagens do nosso
sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a plantação parecia nos
compreender, parecia compartilhar de um destino comum, uma festa comum, feito
gente. O mundo era verde. Que mais podíamos desejar? E assim foi até a hora de
arrancar o feijão e empilhá-lo numa seva tão grande que nós, os meninos,
pensávamos que ia tocar nas nuvens. Nossos braços seriam bastantes para bater
todo aquele feijão? Papai disse que só íamos ter trabalho daí a uma semana e aí
é que ia ser o grande pagode. Era quando a gente ia bater o feijão e iria
medi-lo, para saber o resultado exato de toda aquela bonança. Não faltou quem
fizesse suas apostas: uns diziam que ia dar trinta sacos, outros achavam que
era cinqüenta, outros falavam em oitenta. No dia seguinte voltei para a escola.
Pelo caminho também fazia os meus cálculos. Para mim, todos estavam enganados.
Ia ser cem sacos. Daí para mais. Era só o que eu pensava, enquanto explicava à
professora por que havia faltado tanto tempo. Ela disse que assim eu ia perder
o ano e eu lhe disse que foi assim que ganhei um ano. E quando deu meio dia e a
professora disse que podíamos ir, saí correndo. Corri até ficar com as tripas
saindo pela boca, a língua parecendo que ia se arrastar pelo chão. Para quem
vem da rua, há uma ladeira muito comprida e só no fim começa a cerca que separa
o nosso pasto da estrada. E foi logo ali, bem no comecinho da cerca, que eu vi
a maior desgraça do mundo: o feijão havia desaparecido. Em seu lugar, o que
havia era uma nuvem negra, subindo do chão para o céu, como um arroto de
Satanás na cara de Deus. Dentro da fumaça, uma língua de fogo devorava todo o
nosso feijão. Durante uma eternidade, só se falou nisso: que Deus põe e o diabo
dispõe. E eu vi os olhos da minha mãe ficarem muito esquisitos, vi minha mãe
arrancando os cabelos com a mesma força com que arrancava os pés de feijão: -
Quem será que foi o desgraçado que fez uma coisa dessas? Que infeliz pode ter
sido? E vi os meninos conversarem só com os pensamentos e vi o sofrimento se
enrugar na cara chamuscada do meu pai, ele que não dizia nada e de vez em
quando levantava o chapéu e coçava a cabeça. E vi a cara de boi capado dos
trabalhadores e minha mãe falando, falando, falando e eu achando que era melhor
se ela calasse a boca. À tardinha os meninos saíram para o terreiro e ficaram
por ali mesmo, jogados, como uns pintos molhados. A voz da minha mãe continuava
balançando as telhas do avarandado. Sentado em seu barco de sempre, meu pai era
um mudo. Isso nos atormentava um bocado. Fui o primeiro a ter coragem de ir até
lá. Como a gente podia ver lá de cima, da porta da casa, não havia sobrado
nada. Um vento leve soprava as cinzas e era tudo. Quando voltei, papai estava
falando. — Ainda temos um feijãozinho-de-corda no quintal das bananeiras, não
temos? Ainda temos o quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o milho
para quebrar, despalhar, bater e encher o paiol, não temos? Como se diz, Deus
tira os anéis, mas deixa os dedos. E disse mais. — Agora não se pensa mais
nisso, não se fala mais nisso. Acabou. Então eu pensei: O velho está certo. Eu
já sabia que quando as chuvas voltassem, lá estaria ele, plantando um novo pé
de feijão.
Texto extraído da obra Meninos, eu conto
(Record, 1999), do escritor Antônio
Torres. Veja mais aqui e aqui.
A DONZELA DE ZEUS - Caço um rugido de sol / Odisseu sedento e
lasso / alço-me a um mar de ninfas / escarpado / nos ventos de cílios / céleres
/ Das ondas vejo-a nascida / do botão do olho mais dócil / onde um vitral
fundeado / recolhe as velas da nave. / Tomo-lhe a mão / de cambraia / a
vestidura de / incógnitas / Desço / suavemente ao dorso / com as mãos cheias de
lavas / devolvidas ao vulcão / num jogo de fogo e espelho / Só na brasa dos
mamilos / encontro a concha das mãos / suor sereno / arrepio / um mar salgado
na boca / Ó Ítaca distante! / A língua se evola lânguida / estilingue em
espiral / pedra elástica na praia / tomando de assalto o lago / Por um momento
sei-me prancha / e ela um trampolim de pétalas / Na fúria de Poseidon / pousa
Penélope. Poema do poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista Aníbal Beça (1946-2009). Veja mais
aqui.
A ARTE
DE JACQUELINE BISSET
A arte da premiada atriz britânica Jacqueline Bisset no filme Screts (Intimate Games, 1971), dirigido
pelo diretor e ator britânico Philip Saville (1830-2016), no qual a atriz desempenha
uma dona de casa que tem alguns problemas com o marido
que concede uma entrevista de emprego, quando ela se depara com alguém que lhe
ser ela parecidíssima com a esposa dele morta. A partir disso, relacionamentos
se confundem entre uns e outros, levando a uma situação inesperada.
Veja mais:
&
ODE À PAZ
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela
beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
Deixa passar a Vida!
Poema
extraído da Antologia poética (Dom Quixote, 2013), da poeta e ativista social açoriana
Natália Correia (1923-1993) (Imagem: arte do pintor, escultor e artista
espiritual visionário Alex Grey.)Veja
mais aqui.
A ARTE ALEX GREY
Imagem: arte do pintor, escultor e artista
espiritual visionário Alex Grey.