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sexta-feira, setembro 13, 2019

GOYA, ANTÔNIO TORRES, D. H. LAWRENCE, VIRGINIA LEAL, SUSANNA MOTA & A CACHAÇA DE CASCUDO


GOYA & OS MUITOS NOMES DELA – Os muitos nomes dela, todos são uma só: uma obra-prima do universo. Nua e linda, ela é a bela Maria del Pilar que é Teresa e Cayetana e duquesa imortal; a linda e minha Pepita Tudó, minha Olympia de Manet, La Maja Desnuda: a expressividade dos seus olhos, seu brilho e delicadeza de nenhum recato, os braços sobre a cabeça, o dorso desnudo, o púbis oferecido entre as coxas do paraíso - o corpo resplandecido vive para a glória dos mortais! Que seja sempre assim, uma cigana audaz e atrevida na moldura dupla ao alcance da mão. Eu removo a tampa e ela atrevida, de corpo inteiro, na otomana de veludo verde, deitada placidamente no leito, em diagonal, sobre as almofadas de seda e lençol bordado, olhando para mim. Só para mim e minha. Que seja sempre assim, nobre nua e linda fujona lendária e tempestuosa inspiradora em mim o sonho possível. Que seja sempre dia, ou mesmo a noite escura para eu me perder em suas sombras sobre os lençóis. Não há como aplacar a fuga para os meus braços, sou peito aberto para sua âncora, todo seu. Que seja sempre um dia a mais, outra se quiser: em mim inteira como a lua na hora estrelada. Que esteja sempre de volta: as escapadas levam-me para sua alcova em Sanlúcar de Barrameda - o refúgio das loucuras mais incendiadas. Que seja sempre imprevisível nas poses eróticas da nossa fantasia, María Teresa: sou sua emanação disfarçada de pilão nos festivais populares das celebrações escandalosas pelo mergulho dos prazeres, para sedução dos que se arrastam atrás dos seus cabelos negros e cacheados a esconder sua face, para que eu possa descobri-la mais linda que nunca! Que seja sempre sorriso, satisfeita de si, contente com suas graças ao meu dispor: formosa mulher real e nua entre os meus braços. Que seja sempre a entrega e em mim a protagonista suspirante e eu a amo para esquecer o terror do Santo Ofício e todas as coisas mundanas da servidão. Que seja como o vento: a palpitar sem pretextos, viúva iluminada com a franqueza da nudez de sua natureza impulsiva, imantando a minha cobiça com sua penugem púbica farta, aguçando a minha obsessão por tê-la agora e já, tão obscena quanto para furor da Inquisição e o escândalo da filatelia espanhola. Que seja sempre lei, serei absolvido na sua carne e gozo. Para mim, é ela o amor mais que libertário; para ela, sou uma lenda real: a beleza nua feminina jamais poderia ser crime porque sou réu, apenas a celebração da vida triunfal! Enfim, dos muitos nomes dela, as muitas que são nela e são tantas e dela, todas são só para mim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Santa cana que está na roça, aguardente sem mistura, venha a nós o vosso liquido, pra ser bebida à nossa vontade, assim no boteco como em qualquer lugar. O garrão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as vezes em que bebemos menos, assim como perdoamos o mal que ela nos faz, não nos deixeis cair atordoados, livrai-nos da radiopatrulha, amém. Oração da cachaça, extraída da obra Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Segundo o autor, a cachaça tem muitos nomes e está em toda parte e o bêbado inveterado, ao encostar no balcão, oferece o primeiro gole ao santo protetor, Santo Onofre, depois conta a sua mentira ou verdade: Bebe o chefe de polícia / particular ou escondido, / o padre por mais sabido / toma seu trago na missa. / Eu também tive notiça / ou por outra ouvi dizer, / e tanto que posso crer / no dizer de certa gente / que bebendo o presidente / não é defeito beber. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

ALGUÉM FALOU: [...] àquelas bandas tinha razões que só o seu coração podia explicar. Ele estava perdido de amor por uma moça bonita chamada Susana, que vivia na mais pobre choupana à beira do Boqueirão, com um coqueiro solitário à porta. Escondendo-se por trás de uma moita, o vice-rei a contemplava à distância, adorando-a platonicamente. Esse amor secreto o teria levado à decisão de aterrar a lagoa. [...] arborizou toda área. Também fez um jardim, no qual colocou pavilhões fechados, com murais e muitas obras de arte, entre elas a Fonte dos Amores. Para esta, ele fundiu dois jacarés de bronze entrelaçados. Por ordens do apaixonado vice-rei, Valentim pôs nessa fonte um coqueiro de ferro. Era uma reprodução daquele que havia à porta da bela Susana, a musa inspiradora da construção do Passeio Público, que em tempos menos perigosos deve ter sido um lugar tranquilo para os namorados. Resta-nos imaginar se a história da beldade plebeia teve ou não um final de um conto de fadas. Trechos de A bela Susana do vice-rei, extraída da obra Sobre pessoas (Leitura, 2007), do premiadíssimo escritor, jornalista e ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Antônio Torres. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

A POESIA DE VIRGINIA LEAL
TALARIUS LUDUS - Ah, decifra-me e te devoro / porque dos verd(azuis) / nada deves s(ab)er / e no jogo {inter_}valar / - pleno de frinchas / e mistérios -  / há peças {i_}matéricas / vitais. / Esse (vi)ver nas intensidades / é para as retinas dos homens / polissêmicos e {sur_}reais.
ABIDĬTA (da Série “Mulher revolt(S)ada") - Não foi o mar / a lhe tirar a grav{idade} / e fazê-la da(nç)ar / em nu e cru silên{cio} / Não foi o mar / a beber a {leve}za / (d)a ausência de rochedos / em uma tarde de inverno. / Não, definitivamente não foi o mar / a te(ce)r distâncias / vindas de um deus / estranhamente melancólico... / Ah, foi aquele olhar lunar / tão indefinido e belo / trazendo em meio a tantos modelos / uns certos sapatos sem asas... / E tudo se passou / no entre minutos / de conversas / casuais e / adjetivas... / Até que nomes próprios / familiares / puseram-lhe nos calcanhares / o peso perdido... / E sem risos / cheios de banalidades / viu nas castanhas íris / que ele sendo lunar / não se sabia (l)ivre / para flutuar / com a física e as leis / que os atraía por um certo peso / - um modo de estar no mundo / sem calçados {voa}{dores}... / Foi nesse instante que / desejou ser um rio / com foz e nascente / uma linha sem fluxos / vista em um monitor / - uma linha reta / final - / um sol sem {amar}{elos}.
INSUSPICABILIS (da Série “Mulher revolt(S)ada") - De cá olhou ao longe / a outra margem / e sem um traço sequer / de ruas, avenidas, / alamedas, córregos e becos / ali estava um cinza rio / tão cinza que suas águas / tiveram roubadas / dos céus, dos mares / e até da terra / – segundo Gagarin – / aquele profundo e enigmático / azul. / Dele não vinha nada / nenhum peixe, nenhuma palavra, / peça alguma que / à guisa de gancho / (fosse de pescaria, poema / ou xadrez) / pudesse lhe tirar / das retinas líquidas / o sal com que / os lunares olhares / temperaram / pontos e linhas. / Mas, de repente, tudo girou / - o movimento é mesmo / a forma de conter a morte? / E de cá e de novo olhou a margem / com novas águas a dar ao azul  / os seus substantivos, ainda que / fosse apenas em um pássaro.
SEMPER AMARE Série “ Mulher revolt(S)ada” - O que virá de teu acutilante olhar / para além de enigmáticos laivos lunares? / Serão sístoles ou diástoles? / Espera amiosante - o amor / é um calafrio entranhamente solar.
VIRGÍNIA LEAL – Poemas da poeta e professora Virginia Leal, doutora em Semiótica e Linguística Geral pela USP e Université Paris X- Nanterre (1999). Ela é professora dos Programas de Pós-graduação em Letras (PPGL) e em Direitos Humanos (PPGDH), da Universidade Federal de Pernambuco, orientando diversas investigações, tanto de mestrado quanto de doutorado, além de supervisões de pós-doutoramento, no cruzamento de temas tais como mídia, discurso e direitos humanos. Foi coordenadora de diversos acordos de cooperação nacional e internacional, dentre os quais destacam-se o acordo com a Brazilian Endowment for the Arts (BEA- NY/USA)) e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra/Portugal. Foi diretora do Centro de Artes e Comunicação (CAC) no quadriênio 2008-2012 e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos (PPGDH) no biênio 2014-2016. Possui diversas publicações em periódicos especializados e em livros.  Veja mais aqui.

A ARTE DE SUSANNA MOTA
Hoje se você me perguntar o que eu faço eu vou frisar que sou uma pessoa que gosta de criar imagens, seja através da ilustração, da tatuagem, do design ou de qualquer outra coisa, sem me impor limites.
A arte da artista visual, ilustradora e tatuadora Susanna Mota. Veja mais aqui.

A OBRA DE D.H. LAWRENCE
Temos de viver, não importa quantos céus tenham caído.
A obra do escritor britânico D. H. Lawrence (1885-1930) aqui, aqui, aqui & aqui.
&
A OBRA GOYA
O sonho da razão produz monstros.
A obra do pintor e gravador espanhol Francisco de Goya (1746-1828) aqui & aqui.
PS: O grande amor do artista foi a nobre espanhola Duquesa de Alba (Maria del Pilar Teresa Cayetana de Silva e Álvarez de Toledo - 1762-1802) que foi representada na obra La Maja Desnuda, história essa levada ao cinema em 1958, dirigido por Henry Koster, estrelado por Ava Gardner, e do livro homônimo de Samuel Edwards (Cultrix, 1961).


quarta-feira, agosto 14, 2019

ANTÔNIO TORRES, FRANTZ FANON, CECÍLIA KERCHE, IEMANJÁ & CARTA DE AGOSTO


OUTRA CARTA DE AGOSTO - Há quem ame em silêncio para se eternizar, porque se é verdade ali se sustenta e persegue duradouro como passagem e sustentáculo sobre o abismo da existência e resiste e se enreda e se refaz para ir mais longe do que se espera. Há também aquelaqueles que por uma ou outras razões desistem ou sujeitam o amor à morte prematura, escravos de si próprios: colecionam aventuras só por passatempo ou na coisitude do aqui-agora. E findam carregando quatrocentos mil grilhões desse mundo e tudo que há nele, no vazio ou ruínas de desamor: despenca porque não era de verdade, só simulacro para volúveis e voláteis que ditam prazo e sofisma, com seus caprichos de infelizes carentes egoístas, usurários de paixões frívolas que ficam pelo caminho à espera de novos episódios pros seus ardilosos corações que parecem padecer com derramados prantos por nunca terem sido amados quando, na verdade, nunca tiveram a capacidade de amar ou sequer amaram. Mera encenação. Havia de ter um mínimo de consideração. Mas, não. Tudo agora é tão descontínuo, descartável. Ah, deixa para lá. Do muito tido e havido, algo mais que a vida e anseios recíprocos, eu mesmo cruzei até as terras do futuro desde quando acabei de nascer. Quantas vezes, passado para trás, segui adiante, como não havia de ser nada, não conto derrotas mesmo arrasado entre imposturas. Só há caminho para quem anda e segue, mesmo aos solavancos, por trajetos que nunca estancam no que há de mais improvável, íngremes e desfeitos, estéreis e refeitos, vez que o Sol cresce, a Lua mingua, o dia anoitece e volta a amanhecer, não precisa que acredite ser tudo possível ou não. Muitas vezes fechava os olhos na tentativa de dormir – tormentos que inflamavam latejando no corpo a buscar forças na dor inigualável e compartilhada por incontáveis dias, o mundo na cacunda e punhais enfiados no dorso. Afinal, não há escuros nem palpos de aranhas, qualquer momento é hora de libertação. É só seguir em paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] E era assim que ela ia: sonhando. Feliz, feliz. E quando o caminhão alcançou o topo da ladeira do cruzeiro, o motorista jogou para a direita, desviando-se da estrada. Parou. Desligou o motor e ficou olhando para ela. – Me abraça – ele disse. Ela o abraçou. – Me beija. – Ela o beijou. – Que tal a gente começa por aqui? – ele disse. Ela não o ouviu, ou fez de conta que não tinha ouvido, nem entendido. Continuava a beijá-lo. Então ele repetiu a pergunta e ela disse: - O quê? – E ele: - O amor. – Virinha respondeu, entre soluços: - Ah, o amor. O amor é bom. Que bom que você gosta. – Então vamos descer e começar por aqui. – Começar o quê? – O amor. – Mas nós já começamos. – Sim, começamos. Estamos no bom. Agora vamos ao melhor. – Melhor ainda? – ela disse. – Claro, ainda vai ser melhor – ele disse, desvencilhando-se de seus braços e abrindo a porta e descendo e dando a volta para abrir a outra porta para que ela descesse. Virinha desceu, sem dizer nada, sem perguntar nada. Ele pegou em sua mão e foi andando. Era como um sonho: tudo acontecia tão depressa. – Ali – ele disse, puxando-a para um regueirão que os encobria da estrada. [...].
Trechos extraídos da obra Adeus, velho (Ática, 1985), do premiadíssimo escritor, jornalista e ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Antônio Torres. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui .

IEMANJÁ
Art by Patricia Ariel
[...] Cercada de algas e estrelas-do-mar, peixes, corais, conchas de madrepérola, Iemanjá se estabeleceu na superfície das águas junto ao continente. Era a nova senhora do mar, a filha dileta de Olocum. Iemanjá casou-se com seu irmão Aganju, e dessa união nasceu Orugã. Um dia, aproveitando-se da ausência do pai, Orungã raptou e violentou a mãe. Aflita e entregue a total desespero, Iemanjá desprendeu-se dos braços do filho incestuoso e fugiu. Orungã a perseguiu. Quando ele estava prestes a alcançá-la, ela caiu desfalecida. Então seus seios cresceram desmedidamente, a barriga inchou até ficar do tamanho do mundo e se rompeu. Do ventre aberto nasceram todos os orixás que ainda não haviam nascido. [...].
Trecho extraído da obra Contos e lendas afro-brasileiros: a criação do mundo (Companhia das Letras, 2007), de Reginaldo Prandi. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A ARTE DE CECÍLIA KERCHE
Um espetáculo perfeito me faz sentir realizada. É como um cientista descobrir a cura para uma doença importante.
A arte da bailarina Cecília Kerche. Veja mais aqui e aqui.

A OBRA DE FRANTZ FANON
No mundo pelo qual viajo, estou me criando infinitamente. O que importa não é conhecer o mundo, mas modificá-lo.
A obra do psiquiatra, filósofo e ensaísta francês da Martinica, Frantz Fanon (1925-1961) aqui.


sexta-feira, maio 25, 2018

JAMES BALDWIN, ANTÔNIO TORRES, LÉVINAS, HABERMAS, ANGÉLICA FREITAS, CRISTINA RIPPER, EDUCAÇÃO, LUIZ TATIT & LUIZA POSSI


CARTA DE CONDOLÊNCIAS - Imagem: arte da escultora e artista visual Cristina Ripper. - A cada passo eu piso em falso pela paisagem embaraçada em pleno meio dia e para que a tarde seja tão imprevisível quanto a noite confusa no céu impossível. Para quem perdeu o sono, o amanhecer é escasso como aqueles que fazem o pequeno número no rol do apreço, de contar nos dedos e quase nem vê-los escapulindo por trás dos montes do desprezo. Assimilo à contraluz a insensatez – oh, humanidade canhestra -, o reverso da medalha e os golpes contínuos no abrigo dos vivos, confinado aos gestos e atitudes que passam lá longe e alheios aos acontecimentos, e absortos pela negra venda da ignorância cega à vasilha do destino e ao recipiente da morte, para nos mostrar as misérias da fortuna. Estou só, quem não está nessa hora, eu bem sei. Nunca esperei nada, nem do merecido, muito menos o prometido, e para quem não sabe o que fazer na vida, lançado ao fogo ou abandonado à própria sorte e à explosiva força centrífuga dos desenganos, o meu abraço fraternal. Estou peito aberto para quem foi pro fundo do poço e não saiu de lá, porque ainda há tempo, e Thiago canta versos do coração diante do inevitável desfecho suspeito de proibições formais e sujeito a toda sorte de calamidade, aqui estou eu. Sou mãos de peito aberto para quem restou apenas o telhado a céu perdido e os males voando por todos os lados, cansado já de agitar os braços infelizes por socorro, rendendo-se de cócoras e desafortunado, com menos de meia dúzia de opções baldadas, na sua ignorância-plutão de vê-se condenado desde o pecado original até ao mais recente decreto municipal, para cumprir mais esmerado a sua tarefa sobre a tampa de um tonel inflamável com a dádiva das coisas, aqui estou, estamos. Sou abraço de peito aberto para quem perdeu a esperança, como se Pandora trouxesse uma nuvem negra e o Sol deixasse de eclodir no Leste, mesmo que ela pareça que voou e foi embora com suas vestes esvoaçantes, nada mais de nada mais, sou coração solidário para que juntos possamos irromper foco de luz capaz de mostrar que somente a esperança permanece dentro, e aqui estou, estamos, vamos juntos. E mesmo que soem condolências, não olho pra trás, nem posso ou deva, sou mãos postas e braços peito aberto para que a saibamos desencontrados, lamentando a distância regulamentar pela correria no afã do ouro com seus laços dissolutos, aqui estou, estamos. Aqui estou a desculpar da pressa do relógio com sua lâmina afiada degolando sentimentos e a lamentar do corte na ternura para quem hasteou a soberba de bloco do eu sozinho na pisada de uns sobre outros, pela competitividade e conquistas de nada, aqui estou, estamos. Aqui estou a perdoar dos ardis com seus toques de arrodeio só para chegar antes que todos ao pódio, com todas as comemorações dissimuladas de sabedoria ádvena da lealdade, aqui estou, estamos. Aqui estou e só nos resta, nada mais, só as mãos postas, espalmadas, o peito aberto e o abraço, agora vamos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do músico, linguista e professor universitário Luiz Tatit: Rodopio, Depois melhora & A companheira; da cantora e compositora Luiza Possi: Sobre o amor e o tempo, A vida é mesmo agora & Seguir cantando; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A questão não é a de saber se conseguimos esgotar um potencial disponível ou a ser ainda desenvolvido, mas a de saber se escolhemos aquilo que podemos querer para os fins de uma pacificação e satisfação da existência. [...]. Trecho extraído da obra Técnica e ciência enquanto ideologia (Edições 70, 1968), do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas. Veja mais aqui.

LÉVINAS & A EDUCAÇÃO – [...] Pensar a educação como acontecimento ético implica fazer da experiência educativa um lugar de encontro com o Outro; significa, de modo contrário à relação que visa à objetivação do Outro na educação, estar disposto a lançar-se a novos horizontes desconhecidos, expondo-se, com isso, ao inesperado, ao imprevisível, ao irredutível do Outro, com todos o riscos que o encontro exige e toda insegurança e inquietação que ele provoca. Na educação, o sujeito que não se expõe ao desconhecido é incapaz de sentir a força transformadora do encontro com o Outro, a qual está na base da experiência educativa. Lá onde acontece a educação, produz-se um encontro do professor (não como um sujeito que sabe) com o aluno (não como aquele que não sabe). Uma relação que não pressupõe o exercício de transmissão de saberes, mas o encontro do que se sabe responsável pelo outro, obrigado a dar-lhe uma resposta na situação de radical alteridade. [...]. Trecho extraído do artigo Lévinas e a reconstrução da subjetividade ética aproximações com o campo da educação (Revista Brasileira de Educação, 2014), de José Valdinei Albuquerque de Miranda. Veja mais aqui e aqui.

GIOVANI - [...] Impaciente, fico imaginando o motivo pelo qual ela parece tão preocupada. Mas a mulher sorri assim que abro a porta, num sorriso que emana a coquete e a matrona. Ela já é bastante idosa e, na realidade, não é francesa. Veio para a França já muitos anos, “quando era muito novinha, senhor”, cruzando a fronteira e saindo da Itália. Como a maioria das mulheres dali, parece ter entrado em luto assim que o último filho deixou de ser criança. Hella achava que eram todas viúvas, mas verificamos que a maioria tinha maridos ainda vivos. Esses maridos pareciam seus filhos e às vezes jogavam belote num campo próximo à nossa casa e seus olhos, quando viam Hella, continham a vigilância orgulhosa de um pai e a especulação vigilante de um homem. [...] Tratavam-me como o filho há pouco iniciado na idade adulta, mas ao mesmo tempo com grande distância, pois eu realmente não pertencia a qualquer um deles, e eles também sentiam (ou eu achava que sim) alguma coisa em mim, coisa essa que não era de sua conta aprofundar. [...]. Trechos extraídos da obra Giovanni (Civilização Brasileira, 1968), do escritor norte-americano James Baldwin (1924-1987), contando a história de dois jovens em Paris para resolverem a relação de todos os problemas da existência, angustiada e cheia de variados sentimentos. Veja mais aqui.

TRÊS POEMAS - RILKE SHAKE: salta um rilke shake / com amor & Ovomaltine / quando passo a noite insone / e não há nada que ilumine / eu peço um rilke shake / e como um toasted Blake / sunny side pra cima / quando estou triste / & sozinha enquanto / o amor não cega / eu bebo um rilke shake / e roço um toasted Blake / na epiderme da manteiga / nada bate um rilke shake / no quesito anti-heartache / nada supera a batida / de um rilke com sorvete / por mais que você se deite / se deleite e se divirta / tem noites que a lua é fraca / as estrelas somem no piche / e aí quando não há cigarro / não há cerveja que preste / eu peço um rilke shake / engulo um toasted blake / e danço que nem dervixe. A MINA DE OURO DE MINHA MÃE & DE MINHA TIA: se chamava / ilha da feitoria / ou ilha do meio / onde as duas vendiam / cosméticos avon / chegavam de bote / motorizado / com fardos de produtos / batons rímeis perfumes / e sobretudo rouges / eram recebidas / pelas donas de casa / cabeludas / bigodudas / panos de prato no ombro / filhos ranhentos no colo / minha mãe & minha tia procediam / ao embelezamento das nativas / devolviam-lhes cores / às faces / todo o espectro de cores / de um céu de fim de tarde / na lagoa dos patos / azuis e roxos e laranjas e rosas / e depois lhes emprestavam / espelhos / as donas de casa da ilha do meio / compravam muita maquiagem / minha mãe & minha tia / enchiam sacos de dinheiro. MULHER DE ROLLERS: no condomínio querem saber / se ela pirou de vez / ou se vai competir / nalguma espécie de jogos olímpicos / porque deu para andar de rollers / na área comum do prédio / prejudicando a saída / e a entrada de veículos / ainda por cima anda mal / nem ganhou velocidade / pirueta é coisa então / para a próxima encarnação / consternação entre condôminos / com seu senso do ridículo / “essa daí vai acabar / como na música do chico ”/ “vai passar na avenida / um samba popular?” / “não, atrapalhando o tráfego”. Poemas da poeta e tradutora Angélica Freitas, autora dos livros Rilke Shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007) e um útero é do tamanho de um punho (São Paulo: Cosac Naify, 2013).

A ARTE DE ANTONIO TORRES
O premiadíssimo escritor, jornalista e ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Antônio Torres, é autor de diversas obras, entre as quais destacamos Essa Terra, relato emocionante de um homem que retorna à cidade natal depois de vinte anos de ausência, desiludindo-se com tudo que reencontra, enforcando-se, por conta disso no gancho de uma rede. A obra já foi destacada neste espaço, como também alguns dos seus títulos infanto-juvenis. Por conta disso, veja mais aqui, aqui e aqui.


Exposição Em-Cantos de Palmares, do artista plástico José Durán y Duran & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte da escultora e artista visual Cristina Ripper aqui.
&
Tudo dela pra mim, O livro vermelho de Carl Gustav Jung, a música de Livio Tragtenberg & a arte de Luciah Lopez aqui.
&
Das coisas & coisas, a literatura de Paul Auster, a coreografia de Luciana Achugar, a arte de Debbie Lee & a música de Marisa Ricco aqui.


quarta-feira, setembro 13, 2017

FEUERBACH, CARUANA, NATÁLIA CORREIA, ANTÔNIO TORRES, ANÍBAL BEÇA, ALEX GREY, JACQUELINE BISSET & ELISEU PEREIRA

EMOÇÕES QUE ME DOU FELIZ DE SONHAR - Imagem: arte do pintor, escultor e artista espiritual visionário Alex Grey.- Fora de casa, pé no mundo, passo a passo: andejo noitedia voo do que sou pro que quero ser, caminho que sei pra me encontrar. Se vago por todos os trajetos, sei aonde chegar. Se me perco, desencontros nas trevas, são minhas, para reencontros tardios que nunca foram demais, na horagá e tudo volta ao normal no meio das trepidações, a ser como era para ser novo outro dia. Basta a alvorada para que eu saiba pra onde eu tenho que ir, aprendo a fechar meus olhos pra escuridão da noite e me valho da firmeza, mesmo que tudo dê errado, mesmo que me seja estranho a passagem ou ignore o paradeiro inóspito, o caminho é um só: a mim mesmo. Se me desencontro é porque perco a noção da vida, coisas de ir ali e voltar já, contando até dez, retomando o fôlego, firmando a razão pra que a emoção seja mais que válida na hora de errar ou de vingar acertando na veia, e logo me reconduzo como sangue por vasos, corrente de rio pro mar, reaprumo a direção e sou novamente na estrada do Sol. Mais que distâncias incertas repletas de altos e baixos, sei das ondas, pulso com as vibrações, sou roda que gira no dom de voar, passo em qualquer lugar, seja mais que paradeiros perdidos, mais que ermos atravessados, sei-me sempre na verdadeira travessia: um palmo abaixo do nariz e tudo é luz, sou pro amor. É praí que converge todas as minhas errâncias e devaneios: nada mais que a estrada pra dentro do coração, emoções que me dou, feliz de sonhar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: especiais com Por que eu não pensei nisso antes, Bicho de sete cabeça, Beleléu Léu Eu & Sampa Midnight do compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical Itamar Assumpção (1949-2003); Paino Works da pianista e compositora alemã Clara Schumann (1819-1896); Pierrot Lunaire & Concerto Piano op. 42 do compositor austríaco Arnold Schoenberg (1874-1951); e Libera-me & amém  para uma ausência da compositora, pianista e percussionista portuguesa Constança Capdeville. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PALESTRA ELISEU: ÉTICA, CIDADANIA & MEIO AMBIENTE
Atendendo convite das professoras Janeide e Romina, realizei ontem no Colégio Estadual Eliseu Pereira de Melo, em Palmares – PE, a palestra Eliseu: Ética, Cidadania & Meio Ambiente, pros alunos da instituição escolar. Veja mais aqui & aqui.

MANIFESTO DA ARTE VISIONÁRIA - [...] Porque essa ênfase na acurácia? Falando pelo Realismo Fantástico, Fuchs relata que “Desde o início nós queremos re-animar a arte dos Antigos Mestres. Mas, mais do que isso, nós queremos representar a imagem fantástica de uma maneira como se ela tivesse sido pintada, não pela mão, mas pelo próprio sonho, não deixando traços de arte para trás. [...] a Arte do Visionário procura mostrar o que está além do limite de nossa visão. Através de sonhos, transe, e outros estados alterados, o artista procura ver o não-visto – atingindo um estado visionário que transcende nossos modos regulares de percepção. A tarefa que o espera, a partir daí, é comunicar sua visão numa forma reconhecível para o campo de visão cotidiana. [...]. Trechos extraídos da obra Primeiro Manifesto da Arte Visionária (Amorc, 2013), do artista e escritor maltês Laurence Caruana, expressando que por meio desta arte o artista busca expressar, em sua obra, suas visões, provenientes de Estados Alternativos de Consciência (EAC), como sendo experiências entendidas comumente como espirituais .Veja mais aqui.

PRELEÇÕES RELIGIOSAS - [...] deuses são seres que só existem para e através dos homens; por isso não velam o homem quando este dorme, mas quando os homens dormem, dormem também os deuses, isto é, com a consciência do homem se esvai também a existência dos deuses. [...] Um ser sem qualidade é um ser sem objetividade, e um ser sem objetividade é um ser nulo. [...] Deus não é o que o homem é, o homem não é o que deus é. Deus é o ser infinito, o homem, o finito; deus é perfeito, o homem imperfeito; deus é eterno, o homem transitório; deus é plenipotente, o homem impotente; deus é santo, o homem é pecador. Deus e o homem são extremos: deus é o unicamente positivo, o âmago de todas as realidades, o homem é o unicamente negativo, o cerne de todas as nulidades. [...] Trechos extraídos da obra Preleções sobre a essência da religião (Vozes, 2009), do filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872). Veja mais aqui.

POR UM PÉ DE FEIJÃO - Nunca mais haverá no mundo um ano tão bom. Pode até haver anos melhores, mas jamais será a mesma coisa. Parecia que a terra (a nossa terra, feinha, cheia de altos e baixos, esconsos, areia, pedregulho e massapê) estava explodindo em beleza. E nós todos acordávamos cantando, muito antes do sol raiar, passávamos o dia trabalhando e cantando e logo depois do pôr-do-sol desmaiávamos em qualquer canto e adormecíamos, contentes da vida. Até me esqueci da escola, a coisa que mais gostava. Todos se esqueceram de tudo. Agora dava gosto trabalhar... Os pés de milho cresciam desembestados, lançavam pendões e espigas imensas. Os pés de feijão explodiam as vagens do nosso sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a plantação parecia nos compreender, parecia compartilhar de um destino comum, uma festa comum, feito gente. O mundo era verde. Que mais podíamos desejar? E assim foi até a hora de arrancar o feijão e empilhá-lo numa seva tão grande que nós, os meninos, pensávamos que ia tocar nas nuvens. Nossos braços seriam bastantes para bater todo aquele feijão? Papai disse que só íamos ter trabalho daí a uma semana e aí é que ia ser o grande pagode. Era quando a gente ia bater o feijão e iria medi-lo, para saber o resultado exato de toda aquela bonança. Não faltou quem fizesse suas apostas: uns diziam que ia dar trinta sacos, outros achavam que era cinqüenta, outros falavam em oitenta. No dia seguinte voltei para a escola. Pelo caminho também fazia os meus cálculos. Para mim, todos estavam enganados. Ia ser cem sacos. Daí para mais. Era só o que eu pensava, enquanto explicava à professora por que havia faltado tanto tempo. Ela disse que assim eu ia perder o ano e eu lhe disse que foi assim que ganhei um ano. E quando deu meio dia e a professora disse que podíamos ir, saí correndo. Corri até ficar com as tripas saindo pela boca, a língua parecendo que ia se arrastar pelo chão. Para quem vem da rua, há uma ladeira muito comprida e só no fim começa a cerca que separa o nosso pasto da estrada. E foi logo ali, bem no comecinho da cerca, que eu vi a maior desgraça do mundo: o feijão havia desaparecido. Em seu lugar, o que havia era uma nuvem negra, subindo do chão para o céu, como um arroto de Satanás na cara de Deus. Dentro da fumaça, uma língua de fogo devorava todo o nosso feijão. Durante uma eternidade, só se falou nisso: que Deus põe e o diabo dispõe. E eu vi os olhos da minha mãe ficarem muito esquisitos, vi minha mãe arrancando os cabelos com a mesma força com que arrancava os pés de feijão: - Quem será que foi o desgraçado que fez uma coisa dessas? Que infeliz pode ter sido? E vi os meninos conversarem só com os pensamentos e vi o sofrimento se enrugar na cara chamuscada do meu pai, ele que não dizia nada e de vez em quando levantava o chapéu e coçava a cabeça. E vi a cara de boi capado dos trabalhadores e minha mãe falando, falando, falando e eu achando que era melhor se ela calasse a boca. À tardinha os meninos saíram para o terreiro e ficaram por ali mesmo, jogados, como uns pintos molhados. A voz da minha mãe continuava balançando as telhas do avarandado. Sentado em seu barco de sempre, meu pai era um mudo. Isso nos atormentava um bocado. Fui o primeiro a ter coragem de ir até lá. Como a gente podia ver lá de cima, da porta da casa, não havia sobrado nada. Um vento leve soprava as cinzas e era tudo. Quando voltei, papai estava falando. — Ainda temos um feijãozinho-de-corda no quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o milho para quebrar, despalhar, bater e encher o paiol, não temos? Como se diz, Deus tira os anéis, mas deixa os dedos. E disse mais. — Agora não se pensa mais nisso, não se fala mais nisso. Acabou. Então eu pensei: O velho está certo. Eu já sabia que quando as chuvas voltassem, lá estaria ele, plantando um novo pé de feijão. Texto extraído da obra Meninos, eu conto (Record, 1999), do escritor Antônio Torres. Veja mais aqui e aqui.

A DONZELA DE ZEUS - Caço um rugido de sol / Odisseu sedento e lasso / alço-me a um mar de ninfas / escarpado / nos ventos de cílios / céleres / Das ondas vejo-a nascida / do botão do olho mais dócil / onde um vitral fundeado / recolhe as velas da nave. / Tomo-lhe a mão / de cambraia / a vestidura de / incógnitas / Desço / suavemente ao dorso / com as mãos cheias de lavas / devolvidas ao vulcão / num jogo de fogo e espelho / Só na brasa dos mamilos / encontro a concha das mãos / suor sereno / arrepio / um mar salgado na boca / Ó Ítaca distante! / A língua se evola lânguida / estilingue em espiral / pedra elástica na praia / tomando de assalto o lago / Por um momento sei-me prancha / e ela um trampolim de pétalas / Na fúria de Poseidon / pousa Penélope. Poema do poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista Aníbal Beça (1946-2009). Veja mais aqui.

A ARTE DE JACQUELINE BISSET
A arte da premiada atriz britânica Jacqueline Bisset no filme Screts (Intimate Games, 1971), dirigido pelo diretor e ator britânico Philip Saville (1830-2016), no qual a atriz desempenha uma dona de casa que tem alguns problemas com o marido que concede uma entrevista de emprego, quando ela se depara com alguém que lhe ser ela parecidíssima com a esposa dele morta. A partir disso, relacionamentos se confundem entre uns e outros, levando a uma situação inesperada.

Veja mais:
A arte musical de Clara Schumann aqui e aqui.
A arte musical de Constança Capdeville aqui e aqui.
A arte musical de Arnold Schoenberg aqui e aqui.
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ODE À PAZ
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, 
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
Deixa passar a Vida!
Poema extraído da Antologia poética (Dom Quixote, 2013), da poeta e ativista social açoriana Natália Correia (1923-1993) (Imagem: arte do pintor, escultor e artista espiritual visionário Alex Grey.)Veja mais aqui.

A ARTE ALEX GREY
Imagem: arte do pintor, escultor e artista espiritual visionário Alex Grey.


domingo, setembro 13, 2015

MARTÍN-BARÓ, CLARA, DOMITILA, ANTONIO TORRES, TEMPLE GRANDIN, NATÁLIA CORREIA, PERISSÉ & BRINCARTE DO NITOLINO.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? BRINCAR PARA APRENDER – Quando publiquei o meu segundo livro infantil Falange, falanginha e falangeta (Nascente, 1995), tive a grata satisfação de tê-lo adotado em diversas escolas de Alagoas e de outros estados brasileiros, razão pela qual fui convidado para realizar recreações com meu violão, cantando e contando estórias. Foi a partir daí que empunhei as bandeiras da ética, cidadania, meio ambiente, pluralidade cultural e respeito às diferenças, utilizando a literatura de cordel como veículo para realização do meu trabalho com a garotada nos anos seguintes. À medida que eu publicava mais um livro, mais estreitava meus contatos com os alunos da Educação Infantil e primeiro ciclo do Ensino Fundamental das redes pública e privada, até o momento que realizei uma atividade a convite da coordenadora de uma escola pública, Ceiça Mota, proporcionando o surgimento do meu personagem Nitolino. Por conta disso, ao reunir num mesmo balaio Literatura, Música e Teatro, embasado em Lev Vygotsky, Paulo Freire, Johan Huizinga, Philippe Ariés, Donald Winnicott, Ricardo Japiassu, Olga Reverbel, Ingrid Koudela, entre outros autores, comecei a realizar palestras destacando a importância da arte no desenvolvimento infanto-juvenil. Como resultado dessas atividades, recebi o convite de Maria Luisa Russo e da Edufal, para ministrar a palestra, Brincar para Aprender, realizada durante as atividades da V Bienal Internacional do Livro de Alagoas, para professores e estudantes de Letras, Pedagogia e Psicologia, destacando o brincar, o brinquedo e o lúdico, os direitos da criança, a brincadeira na educação e o desenvolvimento da criança. Tais experiências culminaram com as atividades na área de Psicologia do Desenvolvimento, orientada pela professora Ms Fátima Pereira, resultando num projeto denominado A arte no desenvolvimento da linguagem infantil sob a perspectiva da teoria sócio-histórica, que resultou no artigo Vygotsky, o teatro e a criança, que foi apresentado no Congresso Nacional de Psicologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Psicologia, na Uninove, em São Paulo. Vieram, então, as atividades voltadas para a Psicologia Social, orientada pelo professor Ms Claudio Jorge de Morais Gomes, nas quais passei a destacar a importância da Psicologia e do profissional psicólogo no âmbito educacional, por meio de projetos de extensão e de iniciação científica, culminando com a realização do projeto Infância, imagem e literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré (AL), que resultou na criação da história transformada para o teatro infantil O jacaré de óculos e a princesa do Recanto da Ilha. À medida que esses projetos foram acontecendo, fui ao mesmo tempo trabalhando articulações entre a arte e a psicologia na educação, trabalhando as temáticas da Psicologia na Educação Ambiental, Neuroeducação e Psicodrama, e a Arte na Psicologia da Saúde, todos voltados para prevenção e promoção da saúde no universo infanto-juvenil. Tais realizações tem sido gratificantes pela acolhida que o público tem expressado e, especialmente, por poder estar em constante contato com o olhar e riso de ternura da criança a todo momento. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


Imagem da artista plástica brasileira Domitila Stabile de Oliveira


Curtindo o álbum Clara Schumann: lieder e piano solo (2011), com as obras eruditas da pianista e compositora alemã Clara Schumann (1819-1896), com a cantora, professora de canto, pesquisadora e integrante do coral da Osesp e da Audi Coelum, Clarissa Cabral, e a pianista, professora e pesquisadora Eliana Monteiro da Silva.

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas as idades, a partir das 10hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação de Isis Corrêa Naves. Na programação: Os Trapalhões, Charlie Brown Jr, Gabriel, Os Três Porquinhos, Família dos Anjos, Cristina Mel, dicas para uma boa saúde para as crianças e para todos nós, Aline Barros & Cia, Galinha Pintadinha, Leão Cordeirinho, As Esquiletes, Nita, Meimei Corrêa, Maisa & muito mais poemas, brincadeiras e dicas pra garotada. No blog, além da literatura infantil de Antonio Torres e dicas de Psicologia, Educação, Direito, Literatura, Música e Teatro, também consta a parceria MC Produções/Edições Nascente/Alan Miranda e Câmara de Vereadores de Três Corações, realizando o curso de oratória nos dias 19 e 26 de setembro, para a Câmara Mirim coordenada pelo advogado e diretor geral, Heloisio Angelo Domintini – conhecido por Buluca -, e também pela coordenadora cultural, Francesmara Valim Silva Pereira. Para conferir tudo isso e muito mais ao vivo e online clique aqui ou aqui.

PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO – No livro Psicologia Social para a América Latina: o resgate da Psicologia da Libertação (Alínea,2009), organizado por Raquel Guzzo e Fernando Lacerda Jr, encontro o artigo Para uma Psicologia da Libertação, do psicólogo social e filósofo espanhol Ignácio Martin-Baró (1942-1989), do qual destaco o trecho: Com base em uma perspectiva geral, deve-se reconhecer que a contribuição da Psicologia, como ciência e como práxis, à história dos povos latino-americanos é extremamente pobre. Certamente, não faltaram psicólogos preocupados com os grandes problemas do subdesenvolvimento, dependência e opressão que agoniam os nossos povos. Mas, na hora de se materializar, em muitos casos, essas preocupações tiveram de ser canalizadas por meio de um compromisso político pessoal, à margem da Psicologia, cujos esquemas eram inoperantes para responder às necessidades populares. [...] Os modelos dominantes na Psicologia fundam-se em uma serie de pressupostos que apenas raramente são discutidos e aos quais, cada vez menos, se propõem alternativas. Mencionarei cinco desses pressupostos que, em minha opinião, têm marcado as possibilidades da Psicologia latino-americana: o positivismo, o individualismo, o hedonismo, a visão homeostática e o a-historicismo. [...] se quisermos que a Psicologia realize alguma contribuição significativa à história de nossos povos, se, como psicólogos, queremos contribuir para o desenvolvimento social dos países latino-americanos, necessitamos redefinir nossa bagagem teórica e prática, mas redifini-la valendo-nos da vida de nossos próprios povos, de seus sofrimentos, de suas aspirações, de suas lutas. [...] Com inspiração na Teologia da Libertação podemos propor três elementos essenciais para a construção de uma Psicologia da Libertação dos povos latino-americanos: um novo horizonte, uma nova epistemologia e uma nova práxis [...]. Veja mais aqui e aqui.

ESSA TERRA – No romance Essa terra (Record, 1976), do premiadíssimo escritor, jornalista e ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Antônio Torres, destaco os trechos seguintes: O Junco: um pássaro vermelho chamado Sofrê, que aprendeu a cantar o Hino Nacional. Uma galinha pintada chamada Sofraco, que aprendeu a esconder os seus ninhos. Um boi de canga, o Sofrido. De canga: entra inverno, sai verão. A barra do dia mais bonita do mundo e o pôr-do-sol mais longo do mundo. O cheiro do alecrim e a palavra açucena. E eu, que nunca vi uma açucena. Sons de martelo amolando as enxadas, aboio nas estradas, homens cavando o leite da terra. O cuspe do fumo mascado da minha mãe, a queixa muda do meu pai, as rosas vermelhas e brancas da minha avó. As rosas do bem-querer:-Hei de te amar até morrer. Essa é a terra que me pariu.-Lampião passou por aqui.-Não, não passou. Mandou recado [...] Ora, ele lá ia ter tempo de passar neste fim de mundo? [...] Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Cresce logo, menino, pra você ir para São Paulo. Aqui vivi e morri um pouco todos os dias. No meio da fumaça, no meio do dinheiro. Não sei se fico ou se volto. Não sei se estou em São Paulo ou no Junco [...] — Qualquer pessoa deste lugar pode servir de testemunha. Qualquer pessoa com memória na cabeça e vergonha na cara. Eu vivia dizendo: um dia ele vem. Pois não foi que ele veio? — O senhor está com razão. — Ele mudou muito? Espero que ao menos não tenha esquecido o caminho lá de casa. Somos do mesmo sangue. — Não esqueceu, não, tio — respondi, convencido de que estava fazendo um esclarecimento  necessário não apenas a um homem, mas a uma população inteira, para quem a volta  do meu  irmão parecia ter mais significado do que quando dr. Dantas Júnior veio anunciar que  havíamos entrado no mapa do mundo, graças a seu empenho e à sua palavra de deputado  federal bem votado. [...] — E eu sei que esse dia está perto. Ora vejam bem: nossos avós tinham muitos pastos, nossos pais tinham poucos pastos e nós não temos nenhum [...] Isso também está nas Sagradas Escrituras. Muitos pastos e poucos rastos. Poucas cabeças, muitos chapéus. Um só rebanho para um só pastor. [...] — Qualquer dia o Anticristo aparece. Será o primeiro aviso. Depois o sol vai crescer, vai virar uma bola do tamanho de uma roda de carro de boi e aí —dizia papai, dizia mamãe, dizia todo mundo. Ninguém disse, porém, se a vinda da Ancar estava nas Sagradas Escrituras. Ancar: o banco que chegou de jipe, num domingo de missa, para emprestar dinheiro a quem tivesse umas poucas braças de terra. [...] A mala me fez pensar no correio e nos envelopes gordos de antigamente, que chegava de mês em mês. Dinheiro vivo, paulista, rico. Também me lembrei de mamãe: — Tomara eu tivesse mais um filho igual a ele. Bastava um. Nelo, Nelo, Nelo. Um acalanto, uma toada, uma canção. Nelo, Nelo, Nelo. Miragens sobre o poente, nosso sol atrás da montanha, sumindo no fim do mundo. Nelo, Nelo, Nelo. São Paulo está lá para trás da montanha, siga o exemplo do seu irmão. Nelo, Nelo, Nelo. Éramos doze, contando uma irmã que já morreu. Só ele contava. Nelo, Nelo, Nelo. — Bastava mais um [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

CIDADANIA, AUTO-RETRATO & A ARTE DE SER AMADA – Na Antologia Poética (Dom Quizote, 1999), da poeta e ativista social açoriana Natália Correia (1923-1993), destaco inicial o seu poema Cidadania: Buquê de ruídos úteis / o dia. O tom mais púrpura / do avião sobressai / locomovida rosa pública. / Entre os edifícios a acácia / de antigamente ainda ousa / trazer ao cimo a folhagem / sua dor de apertada coisa. / Um solo de saxofone excresce / mensagem que a morte adia / aflito pássaro que enrouquece / a garganta da telefonia. / Em cada bolso do cimento / uma lenta aranha de gás / manipula o dividendo / de um suicídio lilás. Também o seu Auto-retrato: Espáduas brancas palpitantes: / asas no exilio dum corpo. / Os braços calhas cintilantes / para o comboio da alma. / E os olhos emigrantes / no navio da pálpebra / encalhado em renúncia ou cobardia. / Por vezes fêmea. Por vezes monja. / Conforme a noite. Conforme o dia. / Molusco. Esponja / embebida num filtro de magia. / Aranha de ouro / presa na teia dos seus ardis. / E aos pés um coração de louça / quebrado em jogos infantis. Por fim, o seu belíssimo A arte de ser amada: Eu sou líquida mas recolhida / no íntimo estanho de uma jarra / e em tua boca um clavicórdio / quer recordar-me que sou ária / aérea vária porém sentada / perfil que os flamingos voaram. / Pelos canteiros eu conto os gerânios / de uns tantos anos que nos separam. / Teu amor de planta submarina / procura um húmido lugar. / Sabiamente preencho a piscina / que te dê o hábito de afogar. / Do que não viste a minha idade / te inquieta como a ciência / do mundo ser muito velho / três vezes por mim rodeado / sem saber da tua existência. / Pensas-me a ilha e me sitias / de violinos por todos os lados / e em tua pele o que eu respiro / é um ar de frutos sossegados. Veja mais aqui.

CÓCEGAS & MUITA CALMA NESSA HORA – O trabalho da belíssima atriz e humorista Heloisa Perissé teve início na televisão com o programa Escolinha do Professor Raimundo, quando nasceu a parceria dela com a sua amiga, a atriz Ingrid Guimarães para a encenação da peça Cócegas, seu primeiro trabalho teatral que ficou em cartaz durante anos. Seguindo-se, então, sua participação nas peças teatrais Cosquinha, Advocacia segundo os Irmãos Marx, o Mágico de Oz e, por fim, W foram quase felizes para sempre. Ao mesmo tempo que participou dos filmes Avassaladoras (2002), Lara (2002), Lisbela e o prisioneiro (2003), Xuxa abracadabra (2003), Sexo, amor e traição (2004), Madafascar (2005), Os porralokinhas (2007), Madagascar 2 (2008), Muita calma nessa hora (2010), Madagascar 3 – os procurados (2012), O diário de Tati (2012), Odeio o dia dos namorados (2013) e Muita calma nessa hora (2014). Além disso, ela tem marcado presença constante em novelas, séries e programas humorísticos da televisão, consolidando seu prestígio de talentosa atriz e projetando uma trajetória invejável e digna de aplausos de pé. Veja mais aqui.

LÁBIOS SEM BEIJOS – O drama e romance Lábios sem beijos (1930), dirigido pelo cineasta pioneiro do cinema brasileiro Humberto Mauro (1897-1983), com roteiro de Ademar Gonzaga e trilha sonora do grupo francês DoubleCadence, foi o primeiro filme produzido pela Cinédia na fase do cinema mudo, contando a história da afronta moral de uma moça de família que mente ao dizer que vai a um baile e, ao invés disso, vai passear e ficar com as juras de um amor eterno com o seu namorado, por meio de sequencias e planos movimentados pelo enredo que destaca a mulher não sujeita à submissão e ao recato, batendo de frente com o conservadorismo e positivismo da sociedade dos anos 1920. Terno e de uma delicadeza sem precedentes, o filme representa um marco para o cinema nacional, destacando-se, evidentemente, o talento do seu diretor que além de ser um pioneiro do cinema brasileira, é também um dos nomes de maior destaque para a cinematografia pátria. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia de homenagear a ativista autista e doutora estadunidense de ciência animal Temple Grandin, que sendo autista (Síndrome de Asperger) revolucionou as práticas para o tratamento racional de animais vivos.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Domingo Romântico, a partir do meio dia com a reprise de toda programação da semana, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...