A arte da cantora, bailarina e atriz
alemã Ute Lemper. Veja mais aqui.
NUNCA MAIS ELA
APARECEU – Homenagem à - Jana
Moroni Barroso (1948-1974) – Quem era aquela
linda moça, tão linda de nunca esquecer, ah, era Jana, uma cearense escoteira
que foi de lobinha à bandeirante, mudando-se pro Rio para cursar biologia e se
envolvendo com a juventude política no período da ditadura militar. Foi ali que
a vi, meu coração aos reboliços. Logo soube que foi embora com uma carta e as razões
políticas de A mãe de Gorki.
Estava com vinte e um anos de idade e agora era Cristina no Pará, a professora
de Metade, no Araguaia, e a flor da
subversão na boniteza. Afora caça e plantio, o que mais poderia fazer uma
belezura daquelas causando recorrentes emoções no meu coração. Pouco tempo
depois, soube que foi vista pela última vez, no começo de janeiro de 1974, no
Araguaia, ao lado da companheira Célia. A última carta enviada por ela para os
familiares era de fevereiro
de 1972. Detalhes me deixaram a par: voltando da
cabeceira do Caiano, foi presa na Grota da Sônia, na
região do Bico do Papagaio. Estava
desarmada, mesmo assim um soldado disparou contra ela, vindo a falecer. Ainda tiraram
uma fotografia e se foram, foi deixada lá, insepulta. Mas há quem diga que ela
foi capturada, jogada dentro de um saco de uma caixa para uma jaula e
levaram-na para Xambioá ou Bacaba, não se sabe ao certo, roupa rasgada, só de
maiozinho e blusinha. Depois teria sido amarrada nua e colocada dentro de um
saco que içado pelo helicóptero, foi jogada num cemitério clandestino, nas
proximidades de São Domingos do Araguaia. Soube mais no Relatório
Arroyo, que ela havia desaparecido no dia 2 de fevereiro de 1974, em uma
Fazenda em Araguaia. Justo no dia que enviou a carta, ao que parece. O que sabe
de mesmo é que ela morreu nas mãos dos
militares, foi o que apurou o registro na obra Operação Araguaia: os
arquivos secretos da guerrilha (Geração, 2005), dos jornalistas Taís Morais e Eumano Silva. Outras informações foram
recolhidas no livro A ditadura
escancarada (Cia. das Letras, 2002), do jornalista Elio Gaspari, mas
oficialmente é dada como desaparecida política. Seus restos mortais jamais
foram encontrados. Foi retratada no premiado filme Araguaya - a conspiração do silêncio (2004), escrito e dirigido por
Ronaldo Duque. Também outro filme Araguaia: Campo Sagrado (2011),
dirigido por Evandro Medeiros, conta sua história, bem como um outro
longa Araguaia, Presente (2018), dirigido por André
Queiroz e Arthur Moura, que conta com a participação do irmão dela, o ator
Breno Moroni: O cinema é a máquina do tempo,
que traz à tona os erros e acertos dos acontecimentos do passado. E o meu coração
sobrecarregado de saudades. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Minha
definição de emoção não é nada de especial. É o que todos chamam de ‘emoção’. O
que acontece é que me recuso a explorar essa coisa diretamente. O interesse do
poeta não é descrever suas emoções e criar emoções, é criar outro objeto – se é
poeta, um poema; e é pintor, um quadro – que provoque emoções no espectador.
Mas não explorar nem descrever a própria emoção. Quando leio um poeta que só é
capaz de provocar emoções correntes, como saudade, melancolia ou tristeza, essa
coisa não me interessa. Ora se tenho minhas emoções, para que vou buscar
emoções semelhantes numa outra coisa? Pensamento do poeta e diplomata João
Cabral de Melo Neto (1920-1999). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Que certeza tens
de que a vida é tão longa? O que garante que as coisas se darão como dispões?
Não te envergonhas de destinar para ti somente resquícios da vida e reservar
para a meditação apenas a idade que já não é mais produtiva? Pensamento do
tragediógrafo e filósofo estoico latino Lúcio Aneu Sêneca (4ac-65). Veja
mais aqui.
OUTRA DITADA: A educação virou
um processo de adestramento para a produção. Há uma produção cultural que está
em estado de deliquescência, exangue. Então, é preciso trazer esse púbico,
antes que ela se autodesqualifique completamente e vire mera reprodução da
televisão. Pensamento do dramaturgo, escritor e professor Alcione Araújo
(1945-2012).
O PROCESSO DO DR. HEIDENHOFF – [...] Mas uma coisa ela abriu seus olhos, e garantiu desde o primeiro
instante de sua nova consciência, a saber, que como ela o amava, ela não
poderia manter sua promessa de casar com ele. [...] Perdoar pecados, eu deveria saber, não é apagá-los. O sangue de Cristo
apenas os torna vermelhos em vez de pretos. Isso os deixa registrados. Isso os
deixa na memória. [...] Nenhuma
garota, por mais frio que seu sangue possa fluir, pode ser pressionada contra o
peito de um homem, latejando loucamente de amor por ela, e não sentir alguma
agitação como consequência. Qualquer que seja o estado de seus sentimentos, há
um magnetismo em tal contato que ela não pode livrar-se imediatamente. Aquele
beijo levou sua relação com Henry a uma crise. Isso precipitou a necessidade de
alguma decisão. Ela não podia mais segurá-lo e brincar com ele. Por aquele
ataque ousado, ele ganhou uma posição vantajosa, uma certa atitude de mestre
que ele nunca tinha antes. No entanto, afinal, não tenho certeza de que ela não
estava apenas um pouco com medo dele e, além disso, que ela não gostava dele
tanto mais por isso. [...] Ora,
quando o mundo entender sobre isso, espero que dois homens ou duas mulheres, ou
um homem e uma mulher, venham aqui e me digam: 'Nós brigamos e ofendemos um ao
outro, ferimos nosso amigo, nossa esposa, nosso marido; lamentamos,
perdoaríamos, mas não podemos, porque nos lembramos. Coloque entre nós a
expiação do esquecimento, para que possamos nos amar como no passado.
[...]. Trechos do Processo do Dr.
Heidenhoff, do escritor estadunidense Francis
Bellamy (1855-1931), autor do romance utópico Looking Backward (Dover, 1996), em que olha para trás, de 2000 a 1887, que
defendia os direitos dos trabalhadores e a distribuição igualitária dos
recursos econômicos. Por conta dessa obra, ele teve de fugir de Boston.
EM BUSCA DE... – Meu país é
Etrek, meu povo é Goklen, / estou em busca de amor, / Minha alma está cheia de
turbulências, / estou em busca do líder sufi para me abençoar com poder. / Estou longe dos meus pais, / Da minha pátria mãe, da íris dos
meus olhos, / Perder a vida é mais fácil que a separação, / Estou à procura de
um mercado para vender as minhas mercadorias. / Mammetsapa é meu irmão, / Mullah
Mati é meu colega de classe, / Se Abdullah voltar, meu querido irmão, / estarei
em busca da bênção do Profeta. / Há tanta dor no fundo do meu coração, / Sangue
encheu meus olhos, escorrendo, O / destino não é um amigo em quem confiar, / Estou
em busca da sepultura para escapar. / Sonu Dag, meu orgulho, / eu caminho no
topo do seu pico, / eu sou um caçador caçando cervos da montanha, / eu estou em
busca de uma cobra preta brilhante. / Magtymguly, este mundo, / trouxe tanta
tristeza e dor. / Oh, minha nação turcomena! Oh, toda a humanidade! / Estou em
busca de um riacho de fluxo livre e um vau para cruzar. Poema do poeta e
filósofo turcomeno Magtymguly Pyragy
(1724-1807).