OS OLHOS DE GORKI – Imagem: Portrait of Maxim Gorky, art by
Boris Dmitrievich Grigoriev (1886-1939)
– O mundo e a vida, ele via e era Aleksiéi
de Nijni-Nóvgorod, aquele que viveu entre criaturas que uma vez já foram
homens. A miséria infantil e toda pobreza cresciam nele para que tudo que fosse
escassez fizesse algum sentido, sabe-se lá. Deprimido, não via saída: a tentativa
de suicídio com um bilhete, a identidade e a perfuração do pulmão, atribuindo a
culpa disso ao poeta Heine que inventou um coração que tem dor de dente. Queria
morrer para que uma autopsia descobrisse a razão pela qual estava tão possesso nesse
tempo. Valeu-se das leituras teimosas para manter-se são nas andanças entre
vagabundos e desocupados e testemunhar um incidente de Makar. Dá-se com isso o
engajamento político que o faz atravessar o país a pé, aprendendo a escrever
para ser suspeito subversivo no relatório policial da Geórgia, sem saber para
onde ir. Não tardou a prisão jovem em sua cidade natal. Liberto, seguiu pelas
estepes no êxodo para o sul, porque ele era Dante que voltava ao inferno com
seus companheiros de tormento e os camaradas de salvação. Estava celibatário
até conhecer a linda Olga, a musa dos poemas patéticos e passeios ao lago entre
crises existenciais e sins e nãos, enquanto o amor alegre e esperançoso era
ditado pelo ritmo do espanto e horrores da rejeição. Nada se encaixa e para que
haja uma separação brusca e sofrer longe. O reencontro e ela abandonou o marido
levando a filha para com ele seguir a chama do amor por anos de miséria e
paixão. Em uma carta a Anton, dizia viver entre pessoas sem ideais, sem teto,
prostitutas, escutando vozes com falas que anunciavam que tudo seria terrível
com seus motivos claros. E presenciou claramente uma cena de costume na qual a
procissão pela estrada assistia as mãos às rédeas e o chicote às lapadas do
mujique espancando a mulher nua menina ruiva em sangue e o jumento ignorava as
torpezas humanas e a sua solidariedade veemente do Primeiro Amor: Quando não se sabe, inventa-se, e o que o
homem inventou de mais sensato, foi amar a mulher e adorar a sua beleza; é
deste amor que nasce tudo quanto é mais belo no mundo. Agora já era Máximo amargo e as simpatias de Antón e Liev
valeram-lhe nova soltura de prisões inevitáveis para a liberdade estrangeira e
olhos na ralé, nos inimigos e nos filhos do Sol, uma multidão cinza e entediada.
Anunciava, então, a morte dos que viviam em sua própria tranquilidade e
estagnação, aqueles que teciam vagos sonhos sobre a beleza e ele indagava sobre
a beleza de apenas sonhar. Era o exílio dos últimos para encontrar a mãe Sofia:
aquela a quem só restava pedir perdão aos filhos por tê-los colocado no mundo.
Refugiado em Staten Island com a sua Maria Budberg, pensava nos herdeiros da
Terra com a escola recusada aos seus em Capri e a saúde abalada em Sorrento. Outras
mulheres quanto amou e muito, algumas nem tanto e viu a mulher dos olhos azuis encantadores
e furtivos, fresca e correta, com sua voz profunda, face trigueira, mãos
morenas e busto desenvolvido, viúva sem venalidade e rendimentos, e o destino,
o sofrimento e a vergonha. E mais viu a insaciável gorda nua do covil de
mendigos amarrada à mesa ao sexo com parceiro num ritual satânico, o teatro, a
literatura, a vida e voltava à pátria para combater o fascismo e a guerra, até
sucumbir ao tratamento intencionalmente errado dos seus inimigos, completamente
envenenado por quatro médicos que sabiam demais. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] – Por que julgaram o meu filho e todos que
estão com ele? Vocês sabem? Eu lhes direi e vocês acreditarão no coração
materno, em meus cabelos brancos.ontem, aquelas pessoas foram julgadas, porque
levam a verdade a todos vocês. Ontem eu descobri que com essa verdade ninguém
pode discutir, ninguém! A multidão ficou silenciosa e crescia, tornando-se cada
vez mais densa, cercando a mulher com um anel de corpos vivos. – A miséria, a
fome e a doença, eis o que o trabalho deles traz aos homens. Tudo está contra nós:
esgotam toda a nossa vida num trabalho diário, sempre na sujeira, na mentira. O
nosso trablho enriquece aos outros que nos mantêm, como cães na corrente, na
ignorância – nós não sabemos de nada – e no medo – temos pavor de tudo! Nossa
vida é uma noite, uma noite escura! [...] – A razão não será sufocada pelo sangue! Empurravam-na no pescoço, nas
costas, golpeavam-na nos ombros, na cabeça, tudo rodopiou, rodou no negro
turbilhão de gritos, urros, assobios, algo denso, ensurdecedor penetrava nos
ouvidos, enchia a garganta, sufocava, o chão sumia sob seus pés, vacilava, as
pernas dobravam-se, o corpo estremecia sob a queimadura da dor, tornou-se
pesado e pendia sem forças. Mas seus olhos ainda viam uma quantidade de outros
olhos nos quais percebeu a chama audaciosa e cortante, que conhecia tão bem,
que lhe era tão preciosa. Empurravam-na para a porta. Arrancou o braço e
agarrou-se aos umbrais da porta. – A verdade não será sufocada por oceanos de
sangue... Recebeu uma pancada no braço. – Só poderão acumular ódio, insensatos!
E esse ódio já de cair sobre vocês! Os guardas agarraram seu pescoço e
começaram a estrangulá-la. Ela arfava. [...].
Trechos extraídos da obra A mãe (Ráduga, 1987), do escritor e dramaturgo russo Máximo
Gorki (1868-1936). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE BORIS DMITRIEVICH
GRIGORIEV
A arte do pintor russo Boris
Dmitrievich Grigoriev (1886-1939).
AGENDA
&
O Sol e a Lua, Nietzsche, E. E. Cummings, Ítalo Calvino, Hannah Arendt, Cecília
Kerche, Laura Makabresku & Wolf Vostell, Renato Janine Ribeiro, Gilberto Mendes, Elis Regina, Fela Kuti & Irah
Caldeira aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio
Tataritaritatá a
música da pianista clássica alemã Alice
Sara Ott:
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