MÃE (imagem: Maria Alcina, da artista plástica da artista plástica Lena Gal) - Mãe, me deste a benção para Deus me seguir. E eu, louvado, a ti dedico
o amor infinito das estrelas. Hoje sigo errante com o sentimento esconjurado.
Longe do teu seio nada tem mais vigor. Por isso eu te dedico minha canção
perene, a minha desatinada canção de amor perdida nos desencontros do meu país.
Sou da tua carne o fruto, o teu sacrifício, a tua dor mulher. Foi no teu seio
que encontrei amparo. Foi no teu seio que fui feliz. Foi no teu seio que aprendi
a justiça. E nele vivi a sede eterna e o ter na repartição da coragem no chão.
Sou a vez do teu ventre na queda do rio incólume. Sou ainda aquela criança com
os olhos de amanhã roçando tua pele e descobrindo a vida na tua dedicação. Sou
ainda aquela criança espevitada correndo peralta pelas névoas da lembrança no
meio do mormaço da tarde. Sou ainda aquela criança que não sabe a distância
entre o sim o não nos cacos de sonho. Sou aquela criança que sonhava a paixão
pela professora dedicada e prestimosa fazendo um barulho que lateja no meu
sexo, peito e cabeça. Sou aqueles olhos vermelhos com todos os sustos da roda
gigante pelas labaredas do medo. Sou aquele menino arriado com as dores de
fígado dentro da noite com vômitos surpreendentes na sala de aula. Sou a
teimosia infantil no insulto da vó empunhando chicote que marcaram bolhas
estigmatizadas no termo das coisas. Nada mais sou que aquele do namoro inocente
com a tia, das aventuras amarradas no pano do pescoço, da barulhada imitando
todas as máquinas dos motores ensurdecedores. Foi preciso a vida de 30 anos
para sentir o desterro de Água Preta, a violenta decepção dos anos, o fumo logo
cedo e as aprontações no Ginásio Municipal. Foi preciso a vida de mais de 30
anos para rever as noites insones com vô em Badalejo, a solidão eterna dos
canaviais que expeliam a fumaça e eu tossia mais que tuberculoso. Foi preciso a
vida de mais de 30 anos para saber que Batman era o sonho dos desenhos na
televisão com a revolucionária Aninha mandando ver nas arengas e a passiva
Anginha olhando tudo e aplaudindo com seu jeito tatibitati e o mimo exagerado
por Geórgia abrindo a festa com tantas outras formas de não se saber dizer o
que fazer. Foi preciso mais que 30 anos para entender que o dia não era um só
nas coleções de gibi, no medo do coração de Jesus, na adoração fanática pelo
pai, na fuga pro mundo ainda precoce pé na bunda e tataritaritatá! Foi preciso
a vida de mais de 30 anos para que revisse a correria na bolinha jogada no
campo de barro pelo bairro adolescente, no esgoelar desafinado na cantoria
imaculada, no namoro escondido, no casório antecipado, na colhida de Carma
quando a fuga era a saída para o sorriso e nas safadezas de Pai Lula ensinando
que a vida não é só uma reza boba no cantinho do quarto. Foi preciso mais que
30 anos para saber da reprovação na escola, no ginásio e no colégio doendo nos
corredores da faculdade por causa da pressa louca de conhecer o amanhã logo
amanhã de manhã. Foi preciso mais que 30 anos para que tudo sinalizasse nos
desejos que chegaram muito cedo com as moças e mulheres que rodeavam meu dengo
e mimavam minhas vontades. Hoje sigo errante com todos os mitos daquela manhã
religiosa comigo, o cérebro azeitado e a cabeça nas nuvens, a ternura fria de
todos, a minha embriagues sempre exaltada, o exílio voluntário, a separação, a
lâmina cortando a carne, o adulto órfão, o tempo e mais nada. Hoje sigo errante
e ainda brotam desejos nas ilusões montadas pelas quimeras que desabam na
certeza incontida de vencer o mundo em alta velocidade e já. Hoje sigo errante
na penúria e luxo disfarçados. Entre o riso na cara lavada e o choro guardado
no peito. Porque quando me vires abatumado pelos recantos de toda geografia
deste país, é que estou vigilante eterno do meio onde vivo e da natureza de
nossa vida. Quando me vires gritando pelas esquinas é que sustento o choro no
peito de milhares de filhos deserdados e amaldiçoados de sempre. Quando me
vires marchando nas ruas é que estou cantando o meu canto no futuro. Quando me
vires varando de noite é porque não encontrei amparo no dia. Quando me vires
chorar é que ainda não fui feliz. Quando me vires rompendo divisas é porque
continuo a semear o melhor de ti, lutando incansavelmente pelos caminhos duros
do amanhã. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Mother
and Child
(detail from The Three Ages of Woman, 1905), do pintor simbolista austríaco Gustav Klimt (1862-1918). Veja mais aqui.
MÃE
(Caetano Veloso)
Palavras, calas, nada fiz, estou tão
infeliz
Falasses, desses, visse não, imensa
solidão
Eu sou um Rei que não tem fim que brilhas
dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão, que dor no
coração
Cidades, mares, povo, rio, ninguém me
tens amor
Cigarra, camas, colos, ninhos, um pouco
de calor
Eu sou um homem tão sozinho, mas brilhas
no que sou
E o teu caminho e o meu caminho é um nem
vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe e só porque
não estais
És para mim que nada mais na boca das
manhãs
Sou triste, quase um bicho triste e
brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio e nunca chego
a ti.
PESQUISA
Inteligência Emocional e a arte de educar
nossos filhos
(Objetiva, 1997),
do psicólogo e professor John Gottman, que defende que os pais que lidam com as
emoções são mais bem-sucedidos na arte de educar e, em conformidade com as
ideias de Daniel Goleman, formadoras de pessoas emocionalmente inteligentes. Veja
mais aqui.
LEITURAS
A mãe (Civilização,
2015), do escritor e
dramaturgo russo Máximo Gorki (1868-1936). Veja mais aqui e aqui.
Retrato de Mãe (Expressão,
2012), do poeta e jornalista Jorge Tufic
(trecho da coletânea de de
15 poemas que se multiplicam em 210 versos de saudade, encanto e nostalgia).
Em tudo, minha
mãe, te vejo e sinto.
Neste verniz antigo,
neste cheiro
suavíssimo que
vinha do teu corpo,
do pólen de
tuas mãos, do hortelãzinho.
Em tudo, minha
mãe, teu vulto amado
se desenha mais
firme, e, lentamente,
vem dizer-me
aos ouvidos qualquer coisa
desses anos que
pesam sobre mim.
Em tudo, minha
mãe, vejo este lenço
que à passagem
da dor recolhe o traço
do sorriso que
foste a vida inteira.
E, mesmo quando
morta, entre açucenas,
ainda ressai de
ti, poder divino,
a canção que
adormece o teu menino.
Veja
mais aqui.
Travessura
de mãe (Globo, 2010), da atriz,
escritora e mãe Denise Fraga com os relatos
da sua maternidade. Veja mais aqui.
AS MÃOS
DE MINHA MÃE (para minha mãe Dª Ira, com amor, by Luciah Lopez)
...eram
mãos de fada! Mãos pequenas, delicadas e sempre prontas para um carinho. Minha
mãe não está mais comigo (fisicamente) há muitos anos, mas ainda sinto o seu
carinho e o seu amor. As lembranças sempre ponteiam os meus dias trazendo-a
sempre para perto, não apenas no dia das mães, mas muitas vezes ela está comigo
no dia a dia em detalhes pequenos que me fazem lembrar do cotidiano em minha
casa, quando todos ainda morávamos juntos e dividíamos o seu amor. Infinito era
o amor, eu diria. E dentre as minhas lembranças, estão as rosas de papel crepom
que minha mãe criava. Flores coloridas de cores suaves que ela delicadamente
modelava para depois de prontas, muitas vezes, adornar o altar da Virgem Maria
-, quando no mês de Maio, passava a noite em nossa sala. Essas pequenas rosas
nunca saíram das minhas lembranças porque junto com elas sempre as mãos
delicadas que me faziam carinho e me seguravam firme quando por qualquer
motivo, eu sentisse medo. A saudade é um misto de dor e tristeza, mas eu sei
que minha mãe deve estar lá céu , ainda fazendo rosas para enfeitar os caminhos
de todos que por lá chegarem.
Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA
PELO DA MÃE-JOANA & O DAS COITADAS DAS MÃES
DO GUARDA, DO JUIZ DE FUTEBOL E DOS POLÍTICOS!
Veja mais István Mészarós,
Keith Jarret, Aníbal Machado, Pigmaleão & Galatéia, Almeida Junior, André Helbo, J. J. Sobral, Roberto Rossellini, Anna Magnani & Jean-Léon Gérome aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte da artista plástica Lena Gal.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá