CONSELHO
DUM BEBÃO NA TEIBEI –
Ah, a vida da gente é muito atrapalhada! Um desembesto danado. Todo dia a gente
apruma o pau da venta pra tudo dar certo e quando vai ver, está tudo de pernas
pro ar. Aí a gente torna a fazer, emenda, remenda, faz gambiarra, leva na
marra, no muque, quando pensa que está tudo nos conformes, lá vem o enterro
voltando e babau. Parece castigo. A vida não é brincadeira. É só uma tuia de
leão brabo pra gente enfrentar na arena com todo mundo do contra, só pra botar
gosto ruim no pirão. Por isso ou a gente emborca as 207 calorias duma lapada
macha de raiz de pau, ou entoura tudo de ir pro saco de pés juntos pra nunca
mais. Eu mesmo sou mantido à base de garrafada. Só assim faço as pazes comigo
mesmo e levo os bregues nas coxas, as broncas por menos, tiro férias da
chatura, fico rico e paro tudo: só funciona o mundo se eu quiser. Sou porqueira,
mas quando me invoco, viro a praga do sétimo livro e meto as catanas do pau
cantar. Sou do bem, mas quando me engico, atiço a boiada da coisa virar o maior
tetéu. Por precaução, dou logo uma pro santo prele não deixar meu anjo da
guarda cochilar. Vai ver, Deus lá vá se entreter muito ocupado com o peditório
do povo do mundo todo e se esquecer de mim, estou frito. Fuço logo uns atalhos,
senão só mata-burro pra gente se enganchar. Se não correr atrás, pisando na
merda e levando nos peitos, só sobra insosso de osso chupado. Felicidade é só
que pra quem tem cardan na bufunfa da muita. Pra gente, sonha buchada e se
contenta com tira-gosto que der. Feijoada é pra domingo ou dia santo. E olhe
lá. Nessa vidinha chué tem de estar de antena ligada pra agarrar a pisorga,
porque só tem alicate afiado pra desmantelar o que se tem por destino. Todo
bebum já sabe: a anacuíta é a panaceia do pobre trabalhador. Não fosse ela, eu
mesmo já tinha emborcado nas capoeiras do mundo. Tem de entender do riscado: se
não aprender de primeira, arroche de novo. Apanhou de segunda, aprenda logo, se
avie. Pegue a abrideira e torça pra sorte. Se não for na terceira, arrume os
mijados e parta pra outra que nessa não vai nem com voga de reza forte. Do
contrário, é coisa de jumento. Aí basta uma bacamartada da apaga-tristeza, dá
um chega pra lá na caboetagem, bota força na munheca e no juízo, aprende
direito e vai pro ringue aguentar as chapuletadas e os catombos, com o chifre
em pé pra mode não vacilar, senão a coisa pega. Se for cipoada demais, não
adianta ficar de tocaia, tem que sair cuspindo bala pra ver a queda do Golias.
Ou então recolha os muafos e fique de boa em casa fazendo boquinha na meia
rédea e coçando o saco pra ver a banda passar. Sapo que não anda não engole
cobra. Tem é de fechar o corpo, ficar em dia com o peito forrado porque a vida
não é garapa. E pra enfrentar o terém que vier, tem que dar umas goladas bem
dadas na jurubeba-dupla, pra ter coragem pra tudo. Tira todas as inhacas, limpa
o olho, bata a poeira dos costados e fique ligado pra ir pra Pasárgada, que lá
todo mundo é amigo do rei! Segura a mamadeira, Iaiá-me-sacode até andar aos SS
cosendo bainha de tanto trocar as pernas, achar a rua pequena e as portas
estreitas, todo alatrevu com as ideias tudo alertadas. Ah, a vida chega passa
macia quando se está grogue. Se melhorar, estraga. E quando entopir de
entornar, ah, nada demais, ficou a meio pau, amarrou o bode, vá pro cafofo e
quando acordar é outro dia, encare a ressaca no departamento da vergonha. Se
levar tudo a sério, você que emborca. Melhor dá volta por cima, o de ontem já era, vou atrás de amanhã. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
COLUNA SOCIAL
(do compositor, cantor e instrumentista Edu Krieger)
O Cinismo casou com Dona Hipocrisia
Teve uma grande festança no apartamento
da Demagogia
Lá na cozinha estava o Cinismo comendo
escondido
Foram perguntar pra ele:
"Cadê o salgadinho?" que tinha
sumido.
Ele disse: "Não lembro, não sei, não
conheço, não vi nada não".
E foi todo sorridente dançar com Madame
de Simulação
O Cinismo casou com Dona Hipocrisia...
A Hipocrisia que sempre dizia que era uma
santa
Tomou sete caipirinhas, caiu na cozinha e
quase não levanta.
Foi embora mais cedo morrendo de medo da
Reputação
E saiu de braços dados com a Incoerência
e a Contradição
O Cinismo casou...
A dona Inveja amiga da Raiva e mulher do
Despeito
Ofendeu dona Elegância esposa pacata do
nobre Respeito
Foi ai que a purgância chamou o casal com
ciência e bom senso
Que saíram porta fora porque o ambiente
já estava bem tenso
O Cinismo casou...
PESQUISA
Gênero,
Patriarcado e Violência (Fundação Perseu Abramo, 2004), da
socióloga marxista, professora, estudiosa da violência de gênero e militante
feminista Heleieth Safiotti
(1934-2010). Veja mais aqui, aqui e aqui.
LEITURA
O romance A
História do Brasil são outros 500 (Record, 2000), do jornalista e contador
de história Cláudio Vieira, com
crônicas que formam um
retrato irreverente da sociedade brasileira, virando a história do Brasil de
pernas para o ar, com fatos cotidianos até grandes e sérias questões nacionais.
Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA: BRASIL CONTRA O GOLPE
Nunca houve manifestações tão amplas, com tanta
gente, tão diversas plurais, tão ativas, musicais, alegres, combativas,
confiantes, como as que o Brasil está vivendo nestas semanas decisivas da sua
história. Quem olhar para o que acontece na sociedade brasileira dirá, sem
nenhuma dúvida, que o Brasil está contra o golpe. De universidades a movimentos
hip-hop, de religiões a sindicatos, de intelectuais a artistas, de juristas a
movimentos de mulheres, de movimentos de negros a movimentos de jovens, de
jornalistas a mídias alternativas e muitos mais – basta olhar para o que
acontece no Brasil de hoje, para conhecer sua diversidade social, etária,
étnica, cultural, musical, artística, intelectual, de todo tipo. Um Brasil
vibrante, que despertou quando se deu conta de que a democracia está em perigo
e de que tudo o que de bom foi conquistado, foi pela democracia e em
democracia. Que mesmo o direito de protestar contra tudo o que está aí, só é
possível em democracia. E que um governo que nascesse de arranjo espúrio entre
os políticos mais corruptos do Brasil, sem acusações que justificassem, não
teria nenhuma legitimidade e não seria aceito pelo povo. Que não pode haver
nenhum governo no país que não seja eleito democraticamente pelo voto popular.
Que o Brasil não aceita que seja cassado uma presidente eleita pela maioria da
população, que não cometeu nenhum crime que justificasse o impeachment, para
ser substituída por um político réu de processos por corrupção, que assumiria
não pela vontade popular, mas contra ela. Nunca um movimento censurado pela
mídia, que trata de esconder que o povo está nas ruas contra o golpe, apoiado
pelas mais notáveis personalidades do Brasil – Chico Buarque, Antonio Cândido,
Luis Fernando Verissimo, Leonardo Boff, entre centenas de milhares de outras –,
tem tanta repercussão, tanto apoio popular. Até artistas da própria Globo se
manifestam contra o golpe e o papel da empresa de comunicação. Um movimento que
mais integra a jovens, a grupos musicais, a artistas do hip-hop e de outras
manifestações da musica popular das comunidades, de músicos da velha guarda e
das gerações mais jovens. Um movimento que mais integra a mulheres, que sabem
como as forcas conservadoras que querem dar o golpe são as mesmas que atentam
contra os seus direitos. Nunca os trabalhadores, através dos seus sindicatos e
das suas centrais, estiveram tão unidos e tão combativos, porque sabem que os
que querem dar o golpe são os mesmos que ameaçam os seus direitos. Nunca as
universidades brasileiras, os juristas brasileiros, se manifestaram de forma
tão ampla por um movimento como este contra o golpe e pela continuidade da
democracia. A solidariedade internacional que a luta do Brasil contra o golpe
só é comparável à solidariedade que recebemos na luta contra a ditadura.
Governos, entidades internacionais, presidentes e ex-presidentes, em uníssono,
se pronunciam alertando contra o golpe e as consequências que teria, tanto para
o Brasil, quanto para a situação do pais no contexto internacional. Em suma, o
país saiu às ruas, se manifesta todos os dias, em centenas de manifestações, em
milhões de pessoas, contra o golpe e os golpistas. Se o Congresso se mantiver
surdo a essas vozes, significa que é um Congresso que atende os interesses da
minoria rica e desinteressada no destino do Brasil e da democracia brasileira.
Será execrado eternamente e punido duramente pelos cidadãos. Mas mobilizações
tão espetaculares como estas, não podem ser derrotadas. É um verdadeiro Viva o
povo brasileiro. Que não vai parar, triunfe o golpe ou não. Ou para tornar
absolutamente inviável um governo nascido de um golpe, que expropria o direito
do povo de decidir seus governantes, seja para construir um novo governo, que
atenda realmente o interesse da maioria, que diz que quer democracia e quer um
Brasil democrático, para todos os brasileiros.
(Do sociólogo e cientista político Emir Sader)
Veja mais o Fabo & Fecamepa, Jiddu Krishnamurti, Pierre Weil, Paulo
Freire, Rubem Fonseca, Camilo José Cela, Salvador Dali, Heitor Villa-Lobos,
Bidú Sayão, Eduardo Coutinho, Jean-Baptiste Carpeaux & Paulo Coelho aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: A arte do
pintor do Surrealismo espanhol Salvador
Dalí (1904-1989).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá