AS
FUNDURAS PROFUNDAS DO CORAÇÃO DE UMA MULHER - (Imagem: Aquarell auf
Papier, da pintora, cineasta e autora alemã Cornelia Schleime). - Ah, bem-me-quer. Há
de ficar comigo porque não tarda em mim a água fresca dos seus lábios tépidos,
a me incendiar o fogo intenso da loucura mais insana. E a face dela nua
enluarada, pousando a boca Freya anoitecida, na ânsia louca de abraçá-la a
madrugada. Estrelas aladas são seus olhos que me flagram, a tomá-la fulana que
não é atéia ao que o amor ensina, a fazer seu corpo lépido, o território da
minha aventura. Na hora inteira a sua voz se faz ouvida e reconheço à sua fonte
mágica a lição fecunda do amor. E ela desatina com riso ardente ao seio amante
em polvorosa, pra que eu saiba o alto preço de sua inquietude, que tudo isso é
maior que um sonho, maior que a própria vida. Estrela azul do meu destino, seu
vulto estima o meu ligeiro espanto e ao ver-me guerreiro em riste, não explica
o que seu olhar avista. Há de aproximar-se com todo seu lampejo e a
confundir-se na auréola da beleza, com tudo quanto oferta a recompensa, cada
vez mais perto e em toda parte. Hei de envolvê-la na surpresa do seu
deslumbramento, a mergulhar no oceano dos seus encantos com o prazer que
irrompe sem medida, com o desejo que nasce da vontade inata. Ah, não é um filme
de Resnais. Ao derredor da espera a sua altiva fronte Iaravi, no meio do nada traz
a luz do Sol a dourá-la radiosa. Bendita seja a boca que apetece entre as
nuvens da alvorada que nasceu da meninice pra viva mocidade no esplendor das
coisas desejadas. Sei por que digo insistente e a jogar pétalas de rosas em seu
caminho, que ela é o mal de amor que não se cura e que me persegue impiedosa
num céu sem antes que eternizou o prazer depois, a me fazer morrer por ela, e a
viver abrasado na sua mais que densa dança ansiosa. Ah, o que é o que é? Há de
ser rainha, santa deusa devotada, com todos os seus haveres pra ser-me viva na
minha herança pagã que arde na chama intensa do desejo a incendiar o meu sangue
latino pra que eu seja mais que inteiro na sua ubiquidade. Há de ser puta,
fêmea linda mais que amada, pra me dá todos os seus prazeres e me ocultar no
segredo do seu ventre, pra que eu derrame o meu desesperador sacrilégio por
todo seu reino imaculado. E à beira do seu caminho darei a vida inteira a
profusão do amor que se merece pra que seja minha dona e a quem pertenço,
porque o amor é sempre amor e é ela que me faz cativo e vivo nesse amor imenso.
Ah, navegar as funduras profundas do coração de uma mulher. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Clair
de lune
(1924), do artista plástico italiano Fabius
Lorenzi
(1880 – 1969).
Curtindo: Clair
de lune (1974-2012 – Denon), do compositor francês Claude Debussy (1862-1918), na interpretação do tecladista e
compositor japonês Isao Tomita. Veja
mais aqui, aqui, aqui e aqui.
CLAIR DE LUNE (1869)
Poema do poeta
francês Paul Verlaine (1844-1896)
A tua alma é uma paisagem escolhida
Onde enganam máscaras e bergamascas
Tocam lira e dançam quase
Tristes sob os seus fantásticos
disfarces.
Cantando em modo menor
O amor triunfante e a vida auspiciosa,
Não parecem acreditar na sua felicidade
E a sua canção se mistura com o luar,
Com o calmo luar triste e belo,
Que faz sonhar as aves nas árvores
E soluçar de êxtase os jatos de água,
Os grandes jatos de água esbelta entre os
mármores.
Veja mais aqui.
PESQUISA
A arte
de amar: o amor como força vital (Pergaminho, 2008), do filósofo, sociólogo e psicanalista
alemão Erich Fromm (1900-1980). Veja maios aqui.
LEITURA
Cem
poemas de amor (Escrituras, 2005), do escritor e ensaísta Ledo
Ivo (1924-2012). Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA
Se não
for amor, eu cegue (love),
de Lula Queiroga
Pode ser um lapso do tempo e a partir
desse momento acabou-se solidão
Pinga gota a gota o sentimento, que
escorrega pela veia e vai bater no coração
Quando vê já foi pro pensamento, já mexeu
na sua vida, já varreu sua razão
Acelera a asa do sorriso, muda o
colorido, vira o ponto de visão.
Cai o medo tolo, cai o rumo, quando a
terra sai do prumo eu estou perto de ti
Abre-se a comporta da represa, desviando
a natureza pra um lugar que eu nunca vi
Uma vida é pouco para tanto, mas no meio
desse encanto tempo deixa de existir
E é como tocar a eternidade, é como se
hoje fosse o dia em que eu nasci
Livre, quando vem e leva, lava a alma,
leva e vai tranquila
E a pupila acessa do seu olho disse love,
bem, se não for amor eu cegue
Bem, se não for amor eu fico, eu sigo,
sigo, sigo, eu fico cego por ti.
Bem, se não for amor eu cegue, bem, se
não for amor eu fico
Eu sigo, sigo, sigo, eu fico cego por ti,
eu fico cego por ti.
Veja mais Johannes Brahms, Gerd Bornheim, Konstantínos
Kaváfis, Charles Bukowski, David Hume, Imanol Uribe, Monica Fernandez, Viktoria
MullovaGonzalo Torrente Ballester, Emir Ribeiro & Velta & Juarez Carlos da Silva aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte da pintora,
cineasta e autora alemã Cornelia Schleime.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá