O
PAVOR DOS ACRÓFOBOS À BEIRA DO ABISMO
– Dois incidentes e um castelo de areia. Um: dia 8 de dezembro em festa - louvores
pra Nossa Senhora da Conceição dos Montes. Menino de colo, ainda por completar
primeiro outono. Olhos vidrados: a igreja da matriz engalanada, luzes de todos
os matizes. Gente, muita gente expondo a domingueira. Fogos de artifícios,
algodão doce, rolete de cana, jangada sobre-desce no ferro aos gritos de
alegria. Gente, muita gente em algazarra. A roda gigante gira o mundo e vira e
gira até o incêndio: os gritos da moça estouram meus olhos vermelhos. Dez anos
de antibióticos, colírios e o fígado em petição de miséria. Dois: as irmãs no
quintal e a goiaba no ponto. Aquela, me dá aquela. Do menino pra adolescência,
peito estufado no bigode brotando. Os degraus da escada, a faca entre os
dentes. Aquela, me dá aquela. A maior risadagem na provocação da homência. Em cima
da casa, o espirro e a tontura: e o mundo girou pra não mais parar. E vira e
girou no balão de oxigênio nas 18 horas de morte: luzes, coral grave, escuridão.
Na adolescência, a primeira morte. A vida, um castelo de areia: a vertigem e o
abismo. Nenhuma maçaneta, nem arrimos, apoio ou paredes. A viga é fumaça, o desequilíbrio
perene. Pontes rastejadas, o rio da sudorese excessiva. Tremedeira à beira do precipício:
o elevador panorâmico e o temor que despenca de tudo. O frio na barriga: a passarela do Grand Canyon, ou Aiguille
du Midi da Mont Blanc. Desnudo no sonho, palpitações cardíacas
incontroláveis. O rei que está nu sou eu nos aclives íngremes: não olha pra
baixo, elevação na pressão arterial. A varanda e a murada protetora na varanda
da cobertura dum prédio: eu caio, se arrebenta. Não olhar pela janela do avião,
não escalar torres: a vida esquiando na ponta do iceberg abissal. A vocação de
alpinista adiada nas cataratas. A prevenção da queda no instinto de sobrevivência:
o pânico larófobo às tonturas das grandes colinas, arranha-céus. Inevitável
tropeço, a desorientação aterrorizada nas ruas: bungee jump nos segundos, minutos horas. Queria voar, Ícaro, a noite salta
de paraquedas, os dias e o trampolim nas escadas de torres altíssimas. Viver no
meio-fio, a corda bamba às alturas. Apaga o passado e cai de cabeça pra viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
Imagem:
a arte do pintor e
gravurista belga Pierre Alechinsky.
Veja mais aqui.
Curtindo o álbum (2 CDs) da ópera em
três atos Káta Kabanová (1921), do
compositor tcheco Leoš Janáček (1854-1928), dedicada à sua paixão
amorosa proibida Kamila Stösslová, regência de Charles Mackerras & Vienna Philharmonic Orchestra. A obra
é baseada na peça teatral A tempestade, de Alexander Ostrovsky. Veja mais aqui
e aqui.
PESQUISA
Questões
de toponímia municipal pernambucana (Coleção Tempo Municipal – Centro de Estudos
de História Municipal/FIAM, 1984), do pesquisador José de Almeida Maciel (1884-1957). Veja mais aqui.
LEITURA
Oito
séculos de poesia alemã
(Antologia comentada – Fundação Calouste Gulbekian, 1983), organizada por Olívio Caeiro, com poemas, biografias e
crítica de Goethe, Nietzsche, Brecht, Novalis, Rilke, Schiller, Celan, Heine,
Trakl, Hölderon, Logau,
PENSAMENTO DO DIA:
Queremos que
os seres humanos, individual e coletivamente, jovens ou velhos, ricos ou
pobres, nobres ou plebeus, homens ou mulheres, possam ser plenamente educados e
se tornar seres humanos realizados. Queremos que sejam perfeitamente instruídos
e informados, não apenas sobre um ou outro ponto, mas também sobre tudo o que
permite ao ser humano realizar integralmente sua essência, aprender a conhecer
a verdade, não ser enganado por falsos pretextos, amar o bem e a não ser seduzido
pelo mal, fazer o que deve ser feito e evitar o que precisa ser evitado, falar
com sabedoria de tudo e com todos, e nunca se desviar de seu objetivo maior,
que é a felicidade.
Pensamento do educador,
cientista e escritor tcheco Iohannes Amos Komenský – Comenius (1592-1670). Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
WIT - JORNADA DE UM POEMA – Capa do livro da premiada peça teatral Jornada de um poema (Wit
– Prêmio Pulitzer de Drama, 1999), da dramaturga e professora estadunidense Margaret Edson. Veja mais aqui.
Veja mais outros assuntos sobre Olga Savary, Ana Botafogo, Gordon Allport, George Kelly, Alexander Pope, Artur Azevedo, Natalie Portman, Henri Rousseau, Mike
Nicholson, Naná Vasconcelos & Uakti
aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Love (1998), do artista plástico,
desenhista e arte-educador Philip
Hallawell, autor do método Visagismo associado às áreas de Psicologia,
Neurobiologia, Antropologia e linguagem visual.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá