
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violeiro, compositor, cantor e
instrumentista Almir Sater: Instrumental 1, Instrumental 2 & Caminhos me levem;
da poeta, cantora, fotógrafa, escritora, compositora e musicista estadunidense Patti Smith: Live at Montreaux, Line in Spain & Horses; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – Que
importa um computador de bordo no automóvel se o grosso da população sequer tem
condições de comprar uma carroça? Pensamento de José Adelino Medeiros e
Lucilia Atas Medeiros, autores da obra O
que é tecnologia (Brasiliense, 1993).
O TEMPO & O PAPALAGUI – [...] Só
uma vez é que deparei com um homem que tinha muito tempo, que nunca se queixava
de não tê-lo, mas era pobre, sujo, e desprezado. Os outros passavam longe dele,
ninguém lhe dava importância. Não compreendi essa atitude porque ele andava sem
pressa, com os olhos sorrindo, mansa, suavemente. Quando lhe falei, fez uma
careta e disse, tristemente: "Nunca soube aproveitar o tempo; por isto,
sou pobre, sou um bobalhão". Tinha tempo, mas não era feliz. O Papalagui
emprega todas as forças que tem e todos os seus pensamentos tentando alongar o
tempo o mais possível. Serve-se da água e do fogo, da tempestade, dos
relâmpagos que brilham no céu para fazer parar o tempo. Põe rodas de ferro nos
pés, dá asas às palavras que diz para ter mais tempo. Mas para que todo este esforço?
O que é que o Papalagui faz com o tempo? Nunca compreendi bem embora pelos seus
gestos e suas palavras, ele sempre tenha me dado a impressão de alguém a quem o
Grande Espirito convidou para um fono. Acho
que o tempo lhe escapa tal qual a cobra na mão molhada, justamente porque o
segura com força demais. O Papalagui não espera que o tempo venha até ele, mas
sai ao seu alcance, sempre, sempre, com as mãos estendidas e não lhe dá
descanso, não deixa que o tempo descanse ao sol. O tempo tem de estar sempre
perto dele, cantando, dizendo alguma coisa. Mas o tempo é quieto, pacato, gosta
de descansar, de deitar-se à vontade na esteira. O Papalagui não sabe perceber
onde está o tempo, não o entende e é por isto que o maltrata com os seus
costumes rudes. Ó amados irmãos!
Nunca nos queixamos do tempo; amamo-lo conforme vem, nunca corremos atrás dele,
nunca pensamos em ajuntá-lo nem em parti-lo. Nunca o tempo nos falta, nunca nos
enfastia. Adiante-se aquele dentre nós que não tem tempo! Cada um de nós tem
tempo em quantidade e nos contentamos com ele. Não precisamos de mais tempo do
que temos e, no entanto, temos tempo que chega. Sabemos que no devido tempo
havemos de chegar ao nosso fim e que o Grande Espírito nos chamará quando for
sua vontade, mesmo que não saibamos quantas luas nossas passaram. Devemos
livrar o pobre Papalagui, tão confuso, da sua loucura! Devemos devolver-lhe o
verdadeiro sentido do tempo que perdeu. Vamos despedaçar a sua pequena máquina
de contar o tempo e lhe ensinar que, do nascer ao pôr do sol, o homem tem muito
mais tempo do que é capaz de usar. Trechos extraídos da obra O papalagui (Marco Zero, 1985), reunião
dos discursos de um chefe aborígene samoano Tuiavii de Tiavea, escrito por Erich Scheurmann (1878-1957),
descrevendo a visão do chege sobre o europeu antes da Primeira Guerra Mundial,
sendo o termo samoano Papalagui alusivo ao homem branco, o europeu, aquele que
furou o céu.
O PÃO NOSSO - [...] O
Brasil tem uma indústria com duas caras – e a mesma moeda. Moderna na
tecnologia, atrasada nas relações de trabalho. Sua classe média espreme-se
entre a ideologia do senhor e as agruras dos pobres. Teme o destino de um e
respeita o poder do outro. A industrialização brasileira não encurtou o abismo
entre pobres e ricos. Os senhores viraram empresários, mas continuaram a viver
em novas versões da casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas
continuaram morando na senzala, em dormitórios feitos para isolar o pobre
depois do serviço. [...]. Trecho escrito pelo sociólogo e ativista dos
direitos humanos, Herbert de Souza – Betinho (1935-1997). Veja mais aqui
e aqui.
DE SAGA EM SAGA – [...] Sobreveio um tumulto na cabeça de Helga. Franzindo os sobrolhos, era
evidente que se esforçava para lembrar-se de alguma coisa. Como era mesmo? Mas
claro, lembrava-se muito daquele canivete, ela lho havia pedido emprestado para
cortar uns gravetos na véspera de sua partida. Quebrara-o ao servir-se dele,
mas não tivera oportunidade de comunicar-lhe o fato. Naquela ocasião ele a
evitara e não desejara entabular conversa com ela. Por certo devia ter guardado
o canivete no bolso sem notar que estava quebrado. Ergueu a cabeça e quis
contar-lhe tudo isso, mas como ele já chegara ao relato de sua visita a
Elvokra, no meio dos preparativos do casamento, preferiu deixá-lo acabar
acabar. Informada de que maneira se separara ele de Hildur, achou que aquilo
era uma desgraça tão terrível que se pôs a cobri-lo de censuras. Trechos
extraídos da obra De saga em saga (Delta, 1962), da escritora sueca Prêmio Nobel de 1909, Selma
Lagerlöf (1858-1940). Veja mais aqui.
LÁGRIMAS, INÚTEIS
LÁGRIMAS
- Lágrimas, inúteis lágrimas, não sei
quala origem / dessas lágrimas que vêm do âmago de algum desespero divino: /
brotando do coração, nos olhos vão se encontrar / para contemplar os alegres
campos outonais / e recordar os dias que não voltam mais. / Frescas como o
primeiro raio de sol que reflete sobre o batel / portador dos nossos amigos da
Terra; / tristes como aquele derradeiro raio solar que incendeia o barco / que
submerge com os nossos entes amados / tão tristes e tão frescos os dias que não
voltam mais. / Ah, triste e estrano, como nas densas alvoradas estivais, / é o
primeiro gorjeio dos pássaros meio despertos / aos ouvidos surdos, quando aos
olhos moribundos / a vidraça vai, aos poucos, se transformando num quadro que
entremostra / tão tristonhos, tão estranhos os dias que não voltam mais. /
Adorados, como os beijos relembrados depois da morte, / e doces como os que
fantasiou uma esperança vã / nos lábios de outrem; profundos como o amor, / penetrantes
como o primeiro amor, e cubiçosos embora, com a perda, / ó morte na Vida, os
dias que não voltam mais. Poema do poeta britânico Alfred Tennyson (1809-1892). Veja mais
aqui.
A HISTÓRIA, O TEATRO & IONESCO
[...] A história não é a verdade. É, sobretudo, um conjunto de erros. Toda
afirmação histórica é em parte verdade, em parte um grande abuso, um grande
exagero, um excesso. É para além do exagero que necessitamos encontrar a
verdade da afirmação. [...]
Trecho da entrevista Revelações sobre os rinocerontes, do
patafísico e dramaturgo romeno, Eugène Ionesco (1909-1994). Veja mais aqui, aqui e aqui.
Congresso Internacional do Livro, Leitura
e Literatura do Sertão (CLISERTÃO) & muito mais na Agenda aqui.
&
Estudante
sou, eterno aprendiz na vida, a literatura de José Saramago, a
música de Edgar Duvivier, a fotografia de Jean Louis Marie
Eugène Durieu, a arte de Maurits Cornelis Escher & Dorys Teles aqui.