É DUM DIA PRO
OUTRO QUE A GENTE VAI VIVENDO – Imagem: arte da
pintora abstrata estadunidense Ruth
Kligman (1930-2010). - UMA: DO MUITO QUE APRENDI PRO NADA QUE SEI - Muito aprendi na vida! O resultado? Qual Sócrates,
aprendi nada de nada, desaprendi para aprender. Sim, tive que desaprender de
tudo, nada do que tinham garantido por líquido e certo, apenas parecia, jamais seria
verdadeiro. O que me deram por definitivo, era só efêmero. O que me disseram por
eterno, era para lá de falso ou, no máximo, instantâneo, triz, já era, areia ou
nuvem levada ao vento. O que me ensinaram, quando fui ver, era o contrário,
quando muito apenas o que queriam que eu soubesse do que sabiam. Ou pior: que
acreditasse na mentira que inventaram. Tive por mim que brincar de certo e errado,
até saber que cara ou coroa é só jogo. Daí, tive que aprender a conviver com o
paradoxal e a contradição: o que é, não é; o que não é, é; ou não, talvez. Desdenhei
do ortodoxo, fui até onde deu a heterodoxia e nada me satisfez porque o
defendido era só ilusão ideológica, prisão do maniqueísmo na fúria sectária. Até
então o que havia decorado e aprendido, na prova dos nove, valia nada, zero na
estaca. Tive que me refazer dentro do desconforme, e me reinventar fora dos
moldes, ousar e renascer fora do convencionado. Por consequência, o que eu
tinha por direito, foi tomado; o que tinha por meu, não era, sabia que nem nada
nem ninguém poderiam ser de quem quer que fosse. Aí duvidei de tudo, graças a
Deus! E não queria apenas mais o que ouvia meus ouvidos, ou o que tocava às minhas
mãos, ou saboreava minha boca, ou cheirava meu olfato, sabia já a lição que os
olhos me negavam, pois para que eu veja não preciso de olhos abertos e para que
eu ouça não preciso ouvir o que dizem e para que eu diga não preciso falar e
para que eu saiba dos cheiros não preciso senti-lo pelo nariz, foi o que me
ensinou William Blake: Ver um mundo em um
grão de areia e um céu numa flor selvagem, é ter o infinito na palma da mão e a
eternidade em uma hora. Não preciso de nada, nem preciso ser nada, nem
saber nada, sou o que me basta e voo além. OUTRA:
ZÉ-CORNINHO & A COMADRE MORTE – Zé-Corninho parece que não tinha mais
um pingo de juízo pra remédio. Achando pouca a bruguelada, inventou de
emprenhar a mulher e aumentar a filharada. O problema era arrumar padrinho,
ninguém queria ser mais seu compadre. Os nascidos eram todos devidamente
batizados e apadrinhados, uns trinta e três, acho, coisa que ele não acertava
contar, depois dos quinze parecia que tinha mais e se perdia recontando.
Danou-se! Era uma tuia de menino, dizem que nenhum dele de mesmo, tudo
resultado da infedilidade das ditas esposas dele que fugiam no cangote de
outros amantes. E como ele já tinha pra mais de dez casamentos, nem ele sabe,
todas embuchavam e sacudiam os recém-nascidos nas costas dele pra criar. É tudo
filho meu legítimo!, bate até hoje ele o pé, ninguém acredita e deixam pra lá.
Acontece que o caçula estava para rebentar e sem padrinho arranjado pro batismo.
Ele saiu angariando a um e a outro, todos se recusaram. Será possível? Ele não
desistiu e saiu de porta em porta até estrada afora quando bateu de frente com
a Morte. Olá, comadre, como é que vai? Vou bem, e você? A senhora, por um
acaso, não aceitaria ser minha comadre batizando meu filhinho caçula? Claro que
aceito, vamos fazer uma grande festa e garantir o melhor futuro pra ele! Oba! E
assim foi, no dia certo, a parteira anunciou mais um pra coleção do Zé. A festa
corria solta quando a Morte chamou o compadre do lado e cochichou: Agora vamos
garantir o futuro da criança, você ficará rico, vai curar gente, só você me
verá e, então, diante de um doente, se eu estiver na cabeceira é que vai ser
curado; se eu estiver no pé da cama, é caso perdido. Certo e ajustado, lá foi
Zé-Corninho curando o povo e ficando rico. Um dia lá um ricaço estava pagando
uma fortuna para salvar o filhinho dele e quando Zé chegou lá, a comadre estava
no pé da cama. Eita! Zé resolveu passar a perna na comadre, mandando virar a
cama de ponta cabeça e a comadre ficou na cabeceira, obrigada a salvar. A Morte
ficou possessa de raiva e jurou se vingar. Um dia lá a comadre resolveu pegá-lo
na virada e foi convidá-lo para ir na casa dela: Eu vou, mas só se você
garantir que eu volto. Garanto. E foram. Lá chegando Zé se deparou com um
bocado de vela pelo chão, uma atrás da outra, encarreada. O que é isso,
comadre? É a vida das pessoas na terra. Eita! Essa é do seu amigo fulano,
aquela da sua amiga sicrana, essa outra do seu vizinho beltrano, e no meio da
coisa Zé ficou curioso pra saber da sua: Qual? Aquela. Vixe! Um toquinho já se
apagando. Ah, comadre, mas a senhora prometeu que eu voltaria. E vai voltar. Lá
estava Zé em casa, morre mas num morre, até que fez um último pedido: Permita,
comadre, que eu reze um Pai-nosso antes de morrer. Concedido. E ele começou a
rezar e parou. Vamos, conclua a reza! Agora não, a senhora prometeu que eu só
morreria quando terminasse a reza, só vou findar daqui uns cem anos. A Morte
saiu injuriada, Zé estava sabido que só e passou-lhe a perna pela terceira vez.
Aí um dia lá, anos e mais anos, Zé teve um desgosto danado e disse: Ah, só
queria morrer agora pra não ver uma desgraça dessa! Mal terminou de dizer e a
comadre já estava toda feliz do lado dele: Agora você me paga, compadre! Calma,
comadre, eu não disse quando, só falei que queria e não quero, ora, ora. Rasgou
a boca de novo. (Historieta apresentada nas minhas atividades de contação de
história, releitura das lendas do folclore, baseada em material recolhido por
folcloristas brasileiros). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do compositor, arranjador,
produtor musical e guitarrista Toninho
Horta: Foot on the road,
Durandi Kid 1 & 2; da violinista japonesa Ikuko Kawai: Jupiter form de Symphony The Planett, Exodus & Sun
Flower; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Tu não podes ver o que não podes explicar.
Trata de esquecer de tuas explicações e começarás a ver. [...]. Trecho extraído da obra A erva
do diabo: as experiências indigenas com plantas alucinógenas reveladas por Dom
Juan (Record, 1968), do escritor e antropólogo estadunidense Carlos Castañeda (1925-1998). Veja mais
aqui e aqui.
OUTRA PRO DIA – Devemos ser gratos aos portugueses. Se não
fossem eles, estaríamos hoje falando tupi-guarani, língua que não entendemos.
Uma das muitas do escritor, dramaturgo, tradutor, desenhista,
humorista e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012). Veja mais
aqui.
SACADA: O QUE NÃO DIZ NADA, DORME! - Um behuana (nativo da atual Botsuana, na
África meridional) perguntou um dia que eram aqueles objetos sobre a mesa.
Quando lhe foi dito que eram livros, e que esses livros contavam novidades,
levou um deles ao ouvido e, como não ouviu nenhum som, disse: “Este livro não
está me dizendo nada”. Pondo-o de novo sobre a mesa, comentou: “Será que está
dormindo?”. Extraído da obra Invention of writing (Unwin Hyman,
1988), de Michael Harbsmaier.
COISAS DO SER HUMANO - [...] Nenhuma
divindade, ninguem mesmo, a não ser um invejoso, se compraz com a minha
impotência e com o meu desgosto, e toma por virtude as lágrimas, os soluços, o
temor e outras coisas do mesmo gênero que são o sinal de uma alma impotente;
mas, pelo contrário, quanto maior é a alegria que nos afeta, maior é a
perfeição a que passamos, isto é, tanto mais participamos , necessariamente, da
natureza divina. Por conseguinte, usar as coisas e delas extrair o maior prazer
possível (não, é claro, até a saciedade, pois isso já não daria prazer) -, eis
o que é próprio do homem sábio...Os supersticiosos, que gostam mais de censurar
os vícios do que ensinar as virtudes, e que não se aplicam a conduzir os homens
pela Razão mas a contê-los pelo temor, de tal modo que evitem mais o mal do que
amem as virtudes, não pretendem outra coisa senão tornar os outros tão
infelizes como eles próprios são; deste modo, não é de admirar que eles sejam,
o mais das vezes, insuportáveis e odiosos aos outros homens. Trecho extraído
da obra Espinoza e os signos (Rés,
1989) do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995). Veja mais aqui.
DEPOIMENTO INCLUSÃO – A inclusão é possível, sim, mas desde que
todos se adaptem, pessoas com deficiência e sem deficiência. Não há dicotomia:
nem só a sociedade se adapta ou só os portadores de deficiência. [...] É, principalmente, uma questão de educação,
de formação. [...] Porque é difícil:
o ser gumano não sabe lidar e não sabe tratar com o que não conehce; sua
tendência é agredir. É também necessário estar sempre trabalhando poara o
preparo emocional de todos, pois há uma tendência ao boicote, da pessoa
portadora consigo mesma e dos outros em relação a ela. [...] Porque é conversando, abordando, falando que
essas questões serão desmistificadas, e a sociedade poderá se tornar inclusiva.
Trecho de Um depoismento sobre Inclusão,
de Gabriela de Chevalier, portadora
de hemiparisia, formada em História e Design & Estilo, extraído da obra Transversalidade e inclusão: desafios para o
educador (Senac, 2009), organizado por Rosane Carneiro, Nely Wyse Abaurre,
Monica Armon Serrão et al. Veja mais aqui e aqui.
A EVOLUÇÃO CRIADORA - [...]
Todos os seres vivos estão ligados, e
todos cedem ao mesmo formidável impulso. O animal tem a planta como ponto de
apoio, o homem cavalga na animalidade, e a humanidade inteira, no espaço e no
tempo, é um imenso exercito que galopa ao lado de cada um de nós, à frente e
atrás de nós, numa arremetida capaz de vencer todas as resistências e de
atravessar todos os obstáculos, talvez até a morte. [...]. Trecho extraído
da obra A evolução criadora (Delta,
1964), do filosofo francês Henri Bergson
(1859-1941), Prêmio Nobel de 1927. Veja mais aqui.
DEVEMOS SEGUI-LO - [...]
Cina ainda era demasiado moço para que a
vida para ele perdesse toda atração. E a filha de Timão, Antéia, acabou por
deixá-lo totalmente escravizado. Anteia não era menos formosa que seu pai, em
toda Alexandria. [...] Timão não
permitia que ela vivesse encerrada em um gineceu, como as demais mulheres.
Dera-lhe uma instrução tão alta quanto podia. [...] Era companheira de Timão em todas as elucubrações. [...] O velho sábio amava-a enternecidademente.
[...] Quando Cina a viu, pela primeira
vez, teve impetos de erigir para ela um altar no atrio de sua casa e sacrificar
pombos em sua honra. Havia conhecido inúmeras mulheres em toda sua vida. Desde
as jovens do norte, cujos cílios tinham a cor do trigo maduro, até as da
Numídia, negras como as lavas. Mas, até ali, jamais havia encontrado tal beleza
nem tão pura alma. Quanto mais a via, mais a admirava. Quanto mais a ouvia
falar, mais supreendido ficava. De tal forma se sentia enfeitiçado pelo seu
encanto que, às vezes, embora nãoa acreditasse em deuses, surpreendia-sae
pensandop que talvez Anteia não fosse filha de Timão e sim de algum deus.
[...] Anteia era diferente de outras
mulheres. Desejou que fosse sua, para poder adorá-la. Para obter tal favor
estava pronto a dar a própria vida. Para ele, valia mais ser pobre, junto dela,
do que ser poderoso como César, sem ela. O amor apossou-se dele com a mesma
força com que um remoinho se apoderava de quem se aproxima de seu circulo. De
tal forma o dominava, que absorvera seus pensamentos, sua alma, seus dias e
suas noites. Nada mais existia para Cina senão o amor por Anteia. Por fim, Anteia
também se sentiu atingida pelo mesmo sentimento. [...]. Trecho do conto Devemos segui-lo, extraído da obra O faroleiro & outros contos (Delta,
1962), do escritor polaco & Prêmio Nobel de Literatura de 1905, Henryk Sienkiewicz (1846-1916).
DOIS POEMAS – ESTRELA: Estrela / companheira / se és compassiva / conosco irás junto
/ este ano e vamos vê-la / na glacial distância inteira / brilhante viva / a
teus pés muitos. O FOGO: Nestes dias de inverno / a lareira acendemos: / sçao
dois seres somente / a fazer sacrifício. / O nosso combustível: / os jornais
deste dia ; frio devem servir / colaunas de palabras / e homens no local /
escuro onde arde o fogo. / E colhemos então / e gentilmente pomos / as estilhas
de pau / que nos restam, até / havermos erigido / uma espécie de pira / e tumba
para a coisa / pesada a levantamos / nos braços, oferenda / ou criança, e a
pomos / sobre as barras de ferro / junto agora acendemos ; e a besta salta viva
/ e ficamos de pé / sangrando com a luz. Poemas do poeta modernista
estadunidense William Burford.
CIRANDA FEMININA NA MATA SUL
Acontecerá
nesta quarta, às 10hs, na Biblioteca Fenelon Barreto, o lançamento do livro Ciranda feminista na Mata Sul: uma luta em
movimento, publicação desenvolvida sob a coordenação do SOS Corpo e
promovida pela Articulação de Mulheres da Mata Sul, sob a condução de Eliane
Nascimento, Alexsandra Bezerra e Maria Solange do Rego. Veja mais aqui.
Veja mais:
Crônica de amor para ela, Senhora Magdala de José Condé, Magdalena de Pablo Milanés & Joaquín Sabina, Fonte, a arte de
Ruth Kligman & Todo
dia é dia da mulher aqui.
O Trabalho da Mulher aqui.
Saúde da Mulher aqui.
Kid Malvadeza aqui.
Tzvetan Todorov, Oduvaldo Vianna Filho, Os epigramas de Marcial, Jacques
Rivette, Frédéric Chopin & Artur Moreira Lima, Sandro Botticelli, Carmen
Silvia Presotto & Egumbigos no país dos invisíveis aqui.
Antonio Gramsci aqui.
Fecamepa, Psicologia Escolar,
Sonhoterapia, Direito & Família Mutante aqui.
O Monge & o executivo,
Neuropsicologia, Ressocialização Penal &Educação aqui.
Sexualidade na terceira idade aqui.
Homossexualidade e Educação Sexual aqui.
Globalização, Educação & Formação,
Direito Ambiental & Psicologia Escolar aqui.
Federico Garcia Lorca aqui.
Aids & Educação aqui.
Sincretismo Religioso aqui.
Racismo aqui.
Levando os direitos a sério de Ronald
Dworkin aqui.
Ética & moral aqui.
A luta pelo direito de Rudolf Von Ihering
aqui.
Abuso sexual, Sonhos lúcidos,
Antropologia & Psicologia Escolar aqui.
Cândido ou o otimismo de Voltaire aqui.
A liberdade de Espinosa aqui.
Cantarau Tataritaritatá: vamos aprumar a
conversa aqui.
A ARTE DE RUTH KLIGMAN