E CAETANA ALÇOU VOO – Imagem:
El passeante invisible, da pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992). - Dia e noite, noitedia,
a vida passa, a cidade dilacerada como os corações carentes almejando o abraço
para ser feliz, súplicas e angustias que faziam Caetana levantar voo e os cães
em roldão atrapalhassem o salto inicial e caísse do palco pela primeira vez,
sem humilhação, às risadagens, zombando da derrocada. Não havia de ser nada. Era
a lição de novo aprendizado e a esperança se desdobrava no gesto, ela alçava novo
voo e, novamente, os cães que ansiavam voar com ela, atrapalharam mais uma vez
e Caetana caiu pela segunda vez do palco, como se fosse o inevitável e o irreversível,
o encontro avassalador entre o corpo e a alma. Mais uma vez sorriu para se
defender das ameaças escondidas na escuridão, enfrentando-as, ignorando-as, até
insuportáveis para a fuga na imigração da noite, como não se quisesse a presença
da morte e da solidão, não era a hora delas, mesmo entre tremores de terra,
relâmpagos, trovões, terremotos. Era um rebuliço sem precedentes, do qual se
falava de sonhos, viagens, confissões e tudo era nada vezes tudo, noves fora
nada e isso pouco importava nas estrelas do céu da boca, o hálito da interação
– as bocas se confundiam na distância, tanto fosse meia noite ou meio dia,
porque tudo rodopiava noitedia até o mundo esquecer que existiam em algum lugar
perdido do mundo tão próximo do paraíso que fosse instaurado. Caetana sorria e
era tão bela quanto nunca fora. E a noite fosse a festa de um carnaval
exclusivo, fantasia foliã pra quem perdera todos os limites por transgressões
explosivas de frevos inauditos, de maracatus em polvorosa, e não soubesse a lua
entregando o amanhecer ao Sol e a manhã preparasse a tarde do sono evadido para
passar a noite em claro e perder a completa noção do tempo. Caetana reticenciava,
ouvia desatenta, falava pelos cotovelos até perder a voz porque quase havia
dito da perda da identidade que dançava embrigada vulcões explosivos e, apesar
dos passos capengas, as dores dos ossos, a carne destroçada, como se gêmeos
fundidos em um, Caetana alçou seu voo para ser cada vez mais linda do que
sempre fora. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o cantor, compositor e violeiro Xangai: Estampas de eucalol, Qué que tu tem canário & ABC do
preguiçoso; a pianista, maestro e compositora britânica Joanna MacGregor: Antiphonies for piano & orchestra, Messian
Turanganlila Sumphony & Bacchanale de John Cage; & muito mais nos mais
de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] A
investigação científica não termina com seus dados; ela se inicia com eles. O
produto final da ciência é uma teoria ou hipótese de trabalho e não os chamados
fatos. [...] Pensamento extraído de The
Philosophy of the act (Charles Morris, 1938), do filósofo estadunidense George Herbert Mead (1863-1931),
integrante da corrente do pragmatismo e do interacionismo simbólico, e
militante da Escola de Chicago e que desenvolveu estudos para a sociologia e
psicologia cosial.
A CIÊNCIA & A VIDA - [...] É
tolo tentar responder uma questão que você não entende. É triste ter de
trabalhar para um fim que você não deseja. Coisas tristes e tolas como estas
frequentemente acontecem, dentro e fora da escola, mas o professor deve evitar
que ocorram em classe. O estudante deve entender o problema. Mas não basta que
ele o entenda. É necessário que ele deseje sua solução. [...] O professor, para ajudar o estudante de
forma efetriva e sem atrapalhar sua iniciativa individual, deve levantar as
mesmas perguntas e indicar os mesmos passos, uma vez atrás da outra. Assim, em
problemas inumeráveis temos de levantar a questão: o que é o desconhecido?
Podemos varias as palavras e perguntar a mesma coisa de formar diferentes: o
que é necessário e exigido? O que é que você quer encontrar? O que é que você
deve procurar? O objetivo dessas perguntas é fazer com que o estudante focalize
sua atenção no desconhecido. [...]. Trecho extraído da obra How to solve
it: a new aspect of mathematical method (Doubleday,
1957), do professor e matemático húngaro George Pólya (1887-1985). Veja mais
aqui.
O CERCO À CIDADE DE CREMMA - [...] De
uma pequena casa, em cujo térreo um entalhador tinha sua oficina, saiu, quando
o bando acabara de desfilar, uma jovem alta e bela que levava uma ânfora ao
ombro. Hefaisto que cavalgava por último, botou o olhar surpreendido da formosa
donzela, que logo lhe agradou e muito, e dirigiu-lhe uma vênia cortês,
acompanhada de um sorriso tranquilizador, a que juntou os versos finais de um
antigo madrigal jônico. [...] Hefaisto,
porém, alojara-se em casa daquele entalhador, logrando a simpatia dessa humilde
família com algumas moedas de prata. Fechado o trato, dirigiu-se animadamente e
sem pressas ao encontro de seu chefe, tendo ambos passado a tarde sozinhos a
discutir planos e estudar deliberações. À noite, oferecia vinho aos anfitriões,
tocava lira e lhe entoava canções alegres, falava de outros países por onde
andara e tinha sentada a seus pés a moça esbelta de olhos castanhos, cuja
cabeça repousava no colo do astuto grego, enquanto ele corria os dedos pela sua
longe e sedosa cabeleira. Seu nome era Febe. Tarde da noite, Febe recusou-se a
acompanha-lo à alcova mas prometeu que o faria no dia seguinte, com o que
Hefaisto se conformou. [...]. Trechos extraídos da obra O livro das fábulas (Civilização
Brasileira, 1975), do escritor alemão Hermann Hesse (1877 – 1962). Veja
mais aqui.
DUAS ELEGIAS –1 - Minha
primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos./ Tive medo de a enxugar: para não
saberes que havia caído. / No dia seguinte, estavas imóvel, na tua forma
definitiva, / modelada pela noite, pelas estrelas, pelas, minhas mãos. /
Exalava-se de ti o mesmo frio do orvalho; a mesma / claridade da lua. / Vi
aquele dia levantar-se inutilmente para as tuas / pálpebras, e a voz dos
pássaros e das águas correr / -sem que a recolhessem teus ouvidos inertes./
Onde ficou teu outro corpo? Na parede? Nos imóveis? / no teto? / Inclinei-me
sobre o teu rosto, absoluta, como um espelho, / E tristemente te procurava. /
Mas também isso foi inútil, como tudo mais.- 2 - Neste mês, as cigarras cantam
/ e os trovões caminham por cima da terra, / agarrados ao sol. / Neste mês, ao
cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas, / e depois a noite é mais clara,
/ e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão. / Mas tudo é
inútil, / porque os teus ouvidos estão como conchas vazias, / e a tua narina
imóvel / não recebe mais notícia / do mundo que circula no vento. / Neste mês,
sobre as frutas maduras cai o beijo áspero / das vespas… / -e o arrulho dos
pássaros encrespa a sombra, / como água que borbulha. / Neste mês, abrem-se
cravos de perfume profundo e obscuro; / a areia queima, branca e seca. / junto
ao mar lampejante; / de cada fronte desce uma lágrima de calor. / Mas tudo é
inútil, / porque estás encostada à terra fresca, / e os teus olhos não buscam
mais lugares / nesta paisagem luminosa, / e as tuas mãos não se arredondam já /
para a colheita nem para a carícia. / Neste mês, começa o ano, de novo, / e eu
queria abraçar-te. / Mas tudo é inútil: / eu e tu sabemos que é inútil que o
ano comece. Poemas da obra Mar
absoluto (Globo, 1942), da escritora,
pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais
aqui.
A ARTE DE MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
A arte da
pintora portuguesa Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992).
&
Solilóquio
na viagem noturna do sol, Educação no
Brasil, o pensamento de Sêneca, a música de Maria Esther Pallares,
a arte de Paula Águas, a pintura de Terry Miura & Amenaide Lima
aqui.