LAMPIOA & ZÉ BUNITO – Tudo começou
quando ela encarou os matutos pais: Vou perder a virgindade! Teibei. E pra que
vocês não sofram a desonra, a partir de agora sou Lampeoa, sem eira nem beira.
Ocultarei minha identidade e seguirei errante. Juntou seus trapos num alforje
com tudo dentro, inclusive o Asdrubal, seu sapo cururu de estimação e esperança
dela de um dia se transformar num príncipe encantado. Tanto é que todo dia
beijava o batráquio, tratado com rapadura, cuscuz, rolete de cana e coisas dessas
da culinária sertaneja. Foi pro terreiro, amontou-se no toitiço do jumento
Aderaldo, que ao rinchar tanto anunciava as horas, como anunciava a hora do
ataque; e deu um assobio convocando o guenzo Cheira-peido, a sua principal arma
para desancar reputações, pois, vivia de encostar o focinho no furico de
qualquer algoz e aí tirava a prova dos nove; e saiu sem rumo com sua trupe. Lá
adiante, ainda voltou-se e acenou pros pais que pranteavam sua partida pra
nunca mais. No meio do caminho, achou de ajustar umas contas com o coronel
Caga-raio: Quais as suas intenções? O homem deitava olhares libidinosos pra
cima dela, estalou o dedo e juntou a capangada toda: Agora você vai ver, sua
danada! Deu ordem pros cheleleus aprisioná-la, sem esperar pelo ataque do
guenzo, das duas uma: ou acendia a fluorescente, ou ia ser desmoralizado pra
sempre. Deu a segunda. Do alforje dela, sob a batuta do Asdrubal, saiu uma nuvem
com um bando de muriçocas carniceiras, com todo tipo de lacrau, dengue e o
escambau. Embate vencido em dois tempos, todo mundo rendido. Chegava a hora do
teste: Ou virava rancolho, ou passava para eunuco, era a escolha. Qual que é,
hem? Mais da maioria já assumida bandeou pro seu lado, missão cumprida. Foi ter
com o coronel Treme-Terra, esse tinha uma conta das grandes por ser responsável
pelo descabaçamento de muita donzela: Vamos ver se ele é homem de mesmo! Não
era, cagou na vela. E assim foi ela fazendo justiça contra os maiorais abastados
de todo lugar. Sua fama chegou longe, em muitas paragens era sinônimo de
justiceira, a ponto de anunciar lá vem Lampioa, toda macharia saía com o pé na
bunda. E assim era, entrava de sopetão num bar lotado, não ficava ninguém, escapoliam,
envultavam-se. De tanto pegar os cabras de surpresa, certo dia, quando entrou
pra pegar pra capar, teve um que ficou: Pelo jeito, esse é macho! Como é a sua
graça? Engrolando a língua, meio lá, meio cá, disse: Sou Zé Bunito, o pueta do
sertão! Mostre cá seus versos! E quanto mais ele virava o copo, mais abusava
das estrofes, ela virando os olhos. Não era o que ela esperava, mas dava pro
gasto: assentou o bebo na sela do jumento e saiu pra lugar incerto e não sabido
pra dar conta da virgindade. Numa das curvas do destino, escondeu-se com o seu
amado e ficou esperando que o cara reagisse. Não deu, foi então que a cobra
Zefinha entrou em cena, deixou o cabra em ponto de bala, mas de tão bebaço não
acertava o lugar, foi preciso que o Cheira-peido desse uma mãozinha, toim, e a
muriçoca rainha desse uma ferroada no testículo esquerdo dele, toim, pronto, era
uma vez um cabaço e ela no maior vuque-vuque, a coisa pegou no tranco. Não sei
direito, nunca mais soube nada deles, mas dizem que foram felizes para sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o pianista, arranjador e produtor Eumir Deodato: Europa Xpress, Super Strut Live, Rapsody In Blue; a
cantora, compositora, atriz, instrumentista e produtora islandesa Björk: Live at Royal Opera House, Vulnicultura Live &
Voltaic Paris Live; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog
& nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Uma
igrejinha na ilha de Aran, na Irlanda... me lembrou um koan japonês: “Minha
casa pegou fogo, nada mais me oculta a Lua deslumbrante”. Minha vida está em
ruinas, não há mais obstáculo à visão daquilo que é. À pergunta: “Se sua casa
pegasse fogo, o que você salvaria?” – Jean Cocteau respondeu: “O fogo!”. Se o
mundo pegasse fogo, o que eu salvaria? Esta chama! Esta centelha de amor, a
única coisa que jamais nos será tirada. O amor é o único Deus que não é um
ídolo; só o possuímos quando o damos... se minha vida pegasse fogo, o que eu
salvaria? Para o céu, nada se leva... a não ser o que se deu. [...]. Pensamento
extraído da obra Se minha casa pegasse fogo, eu salvaria o fogo (EdUnesp/UEPA,
2002), do PhD em Psicologia Transpessoal, doutor em Teologia e professor de
Filosofia, Jean-Yves Leloup. Veja
mais aqui.
O HOMEM & SEU ESPAÇO – [...] Toda
dualidade desprovida de ligação entre as duas partes leva à destruição. A partir
do momento em que uma parte é rejeitada e que a outra se transforma em todo
absoluto, toda e qualquer “comunicação” se torna impossível: resta apenas a
destruição, para que o mundo do absoluto seja o único universo [...] Como e por que este homem, tão duramente
castigado no corpo e tão fortemente tomado por um pensamento filosófico abstrato,
não caiu no abismo do absoluto [...] Utilizar
a razão, ter a coragem de pensar sempre foi muito perigoso. [...] Quem quiser viver em paz deve se esforçar
por não pensar [...]. Trechos extraídos da obra O homem e seu espaço vivido (Papirus, 1988), da neuropsiquiatria e
psicanalista francesa Gisela Pankow
(1914-1998).
A METAMORFOSE – [...] Quando
certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua
cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas
duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado,
marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a
deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas inúmeras pernas, lastimavelmente
finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas
diante dos seus olhos. – O que aconteceu comigo?, pensou. Não era um sonho. Seu
quarto, um autentico quarto humano, só que um pouco pequeno demais, permanecia
calmo entre as quatro paredes bem conhecidas. Sobre a mesa, na qual se
esplhava, desempacotado, um mostruário de tecidos – Samsa era caixeiro viajante
-, pendia a imagem que ele havia recortado fazia pouco tempo de uma revista
ilustrada e colocado numa bela moldura dourada. Representava uma dama de chapéu
de pele que, sentada em posição ereta, erguia ao encontro do espectador um
pesado manguito de pele, no qual desaprecia todo o seu antebraço. [...].
Trecho extraído da obra A metamorfose (Brasiliense, 1985), do escritor tcheco Franz
Kafka (1883-1924). Veja mais aqui.
CERTA SENHORA QUE CONHEÇO – Ela
imagina que no céu da sua classe / vão dormir tarde e roncam enquanto os pobres
/ e pretos querubins acordam às sete / para arrumar a casa celestial. Poeta
do poeta estudunidense Countee Cullen
(1903-1946).
A ARTE DE HUANG YAN
A arte do artista taoísta multimídia Huang Yan.
&
Aos
quatro cantos e ventos minha vida, o pensamento de Jacob Boehme, a música de Esther
Scliar, a escultura de Jo Ansell, a pintura de Tamara de Lempicka, a fotografia
de Jonathan Charles & Dene Ramos aqui.
&
A arte da poeta e artista visual Cyane Pacheco aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. aqui, aqui e aqui.
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