quinta-feira, março 07, 2013

CECÍLIA MEIRELES, COLETTE, WOOLF, BILJANA SRBLJANOVIĆ, KIERAN SETIYA, CINDY SHERMAN, JOY ADAMSON & SAFFIOTI

 

REVENDO FATOS & COISAS – UMA – AINDA ONTEM: ME AME POR FAVOR! – Aos 25 anos de idade, a jornalista e ativista libertária russa Anastasia Baburova (1983-2009), foi abatida à bala ao lado do advogado dos direitos humanos Stanislav Markelov. Ela havia estudado russo e ucraniano nativos, falava inglês e francês fluentemente, estava aprendendo chinês ao ingressar no Instituto de Relações Internacionais de Moscou preparando-se para a vida diplomática, mas daí abdicou para seguir a carreira de jornalista, na Universidade Estadual de Moscou. Era poeta, premiada jogadora de xadrez e praticava artes marciais. Era integrante da organização Autônomous Action e atuava como free-lancer na Novaya Gazeta, na qual investigava as atividades de grupos neonazistas relacionados ao governo russo. A sua última carta aos pais estava intitulada: Me ame, por favor. Era a despedida e não sabiam. DUAS: DAS AGRESSÕES & RUDEZAS – Já presenciei e tomei conhecimento de muito desatino e descabimento. Quantos assassinatos e atentados violentos, coisa de causar muita indignação. Lembrei-me de uma frase da Cindy Sherman: Comportamento imprudente e rude me deixa louca. E acho que a grosseria imprudente da inépcia social certamente alimenta meu trabalho. (Veja mais dela aqui). Coisas de doer no coração. TRÊS: DAS RESISTÊNCIAS – Atitudes de resistência a essa degradação humana são exemplares e sou solidário. Ações como a da pintora e conservacionistas austro-queniana Joy Adamson (1910-1980) são meritórias de aplausos, assim como destacar suas palavras: A vida selvagem é algo que o homem não pode construir. Uma vez que se foi, se foi para sempre. O homem pode reconstruir uma pirâmide, mas não pode reconstruir a ecologia ou uma girafa... O que se perdeu jamais terá volta. Vamos aprumar a conversa, gente!

 


DITOS E DESDITOS - Aqueles jovens, sobretudo, me interessavam como pessoas, como seres humanos jovens e gentis; corajoso ou menos corajoso, pensativo ou louco; como caras ousados que vivem um pouco de suas próprias vidas e são assombrados por seu país, a realidade que os cerca; que não sabem o que fariam e como fariam, mas sabem que o que estão vivendo agora não pode ser tudo; que sentem alguma necessidade interior de um gesto grande e até estúpido; que têm coragem em pânico e cujas mãos tremem e lágrimas correm ao pensar em assassinato; e que ainda estão prontos para morrer. Interessei-me por aqueles jovens - e algumas prostitutas - nos quais me via... Pensamento da dramaturga e professora sérvia Biljana Srbljanović.

 

ALGUÉM FALOU: Se houver conhecimento ético objetivo, a natureza humana é sua fonte... Pensamento do filósofo e professor britânico Kieran Setiya, autor dos livros Knowing Right From Wrong (Oxford University Press, 2012) e Reasons without Rationalism (Princeton University Press, 2007).

 

A MÃO - Adormecera recostado no ombro da jovem esposa, que suportava orgulhosamente o peso daquela cabeça de homem, loura, sanguínea, de olhos cerrados. O longo braço deslizara sob o torso frágil sob os rins adolescentes, e a mão forte repousava espalmada sobre o lençol, ao lado do cotovelo direito da mulher. Ela sorriu vendo essa mão masculina que surgia ali, sozinha, afastada de seu dono. Depois, deixou errar os olhos pelo quarto semi-obscurecido. De uma lâmpada velada caía sobre o leito uma luz cor de pervinca. — “Minha felicidade não me deixa dormir” — pensou. Estava muito comovida, e de vez em quando se espantava de sua nova condição. Fazia quinze dias, apenas, que levava a escandalosa vida das recém-casadas, que desfrutam o prazer de habitar com um desconhecido por quem se apaixonaram. Encontrar um belo rapaz louro, jovem viúvo, dado ao tênis e ao remo, desposá-lo um mês depois: sua aventura conjugal tinha muito de um arrebatamento. Sentia-se ainda presa desse enlevo, quando velava ao pé do marido, como naquela noite, a fechar demoradamente os olhos e a reabri-los depois para apreciar, entre surpreendida e extática, a cor azul das tapeçarias inteiramente novas, em lugar do róseo adamascado que filtrava a luz do sol nascente em seu quarto de solteira. A seu lado, o corpo adormecido agitou-se, num leve estremecimento. Então ela, com a encantadora autoridade dos seres fracos, cingiu com o braço esquerdo o pescoço do marido, que não despertou. — “Como ele tem as pestanas compridas!” — disse consigo mesma. Elogiou também, de si para si, a boca, a um tempo grosseira e graciosa, a tez de um róseo atijolado, e até a fronte, nem nobre nem vasta, mas ainda nua de rugas. Entretanto a mão direita do esposo estremecia, e ela sentiu viver, sob a curva dos seus rins, o braço direito, sobre o qual pesava com todo o corpo. — “Eu peso muito... Gostaria de soerguer-me e apagar esta luz. Mas ele dorme tão bem...”. Outra vez o braço torceu-se, fracamente, e ela arqueou o dorso para fazer-se mais leve. — “É como se eu estivesse deitada em cima de um animal.” Virou a cabeça um pouco sobre o travesseiro, fitou a mão pousada junto a si. — “Como é grande! É certo que eu não vou além do seu ombro...” A luz, deslizando sob as extremidades de um lustre de cristal azulado, feria em cheio aquela mão, tornando sensíveis os menores relevos da pele; exagerava os vigorosos nós das falanges, e as veias, que a compressão do braço ingurgitava. Alguns pelos ruivos, na base dos dedos, curvavam-se todos na mesma direção, como espigas ao sopro do vento, e as unhas chatas, a que o brunidor não desfazia as arestas, brilhavam, impregnadas de esmalte róseo. — “Hei de pedir-lhe que não use esmalte nas unhas” — pensou a mulher. — “O esmalte, o carmim não ficam bem em semelhante mão... em mão tão..." Um estremecimento elétrico atravessou aquela mão, dispensando a mulher de procurar um qualificativo. O polegar estirou-se, horrivelmente longo, espatulado, e uniu-se estreitamente ao indicador. Assim, a mão adquiriu, de súbito, uma expressão simiesca e crapulosa. — “Oh!” — exclamou baixinho a jovem, como diante de uma inconveniência. O buzinar de um automóvel feriu o silêncio com um clamor que parecia luminoso, de tão agudo. O adormecido não despertou, mas a mão, ofendida, ergueu-se, crispou-se em forma de caranguejo, e esperou, pronta para o combate. O som dilacerante foi morrendo, e a mão, que pouco a pouco afrouxara, deixou cair as garras, tornou-se um animal mole, dobrada ao meio, agitada de vagos sobressaltos que recordavam uma agonia. A unha chata e cruel do polegar muito longo brilhava. Um desvio daquele dedo, em que a mulher nunca reparara, surgiu então, e a mão rebolcada mostrou, como um ventre avermelhado, a palma carnuda. — “E eu beijei semelhante mão... Que horror! É possível que eu nunca a tivesse olhado?” A mão, que um mau sonho agitou, pareceu responder a esse sobressalto, a esse nojo. Reuniu todas as forças, abriu-se em toda a extensão, ostentou os tendões, os nós e o pelame ruivo, como um troféu de guerra. Depois, dobrando-se outra vez, devagar, agarrou o lençol, cravou-lhe os dedos recurvados, apertou, apertou com um prazer metódico de estranguladora... — Ah! — gritou a jovem. A mão desapareceu; o longo braço, livre de sua carga, fez-se num instante cinta protetora, cálido amparo contra todos os terrores noturnos. Porém na manhã do dia seguinte, à hora da bandeja na cama, do chocolate musgoso e das torradas, ela tornou a ver a mão, ruiva e vermelha, e o polegar abominável, firmado no cabo de uma faca. — Quer esta fatia, querida? Preparei-a para você. Ela assustou-se; sentiu arrepiar-se-lhe a carne no alto dos braços e ao longo dos dedos. — Oh! não... não... Depois, sufocou o medo, dominou-se valentemente e, começando uma ida de duplicidade, de resignação, de diplomacia vil e delicada, inclinou-se, e beijou com humildade a mão monstruosa. Conto da escritora francesa Sidonie Gabrielle Colette (1873-1954). Veja mais aqui,

 

A MULHER NO ESPELHO – [...] Nada continuava o mesmo em dois segundos juntos... [...] ninguém deveria deixar espelho pendurados em casa [...] seu modo mais profundo de ser é que se queria captar e converter em palavras, o modo que para o espírito é o que é a respiração para o corpo, o que se chama felicidade ou infelicidade [...] Aqui estava mulher em si. […] E não havia nada. Isabella estava perfeitamente vazia. [...]. Trechos extraídos da obra A Dama no Espelho: Reflexo e Reflexão (CosacNaify, 2005), da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Veja mais aqui e aqui.

 

MULHER DO ESPELHO - Hoje que seja esta ou aquela, \ pouco me importa. \ Quero apenas parecer bela, \ pois, seja qual for, estou morta. \ Já fui loura, já fui morena, \ já fui Margarida e Beatriz. \ Já fui Maria e Madalena. \ Só não pude ser como quis. \ Que mal faz, esta cor fingida \ do meu cabelo, e do meu rosto, \ se tudo é tinta: o mundo, a vida, \ o contentamento, o desgosto? \ Por fora, serei como queira \ a moda, que me vai matando. \ Que me levem pele e caveira \ ao nada, não me importa quando. \ Mas quem viu, tão dilacerados, \ olhos, braços e sonhos seu \ se morreu pelos seus pecados, \ falará com Deus. \ Falará, coberta de luzes, \ do alto penteado ao rubro artelho. \ Porque uns expiram sobre cruzes, \outros, buscando-se no espelho. Poema da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui e aqui.

 


GÊNERO, PATRIARCADO, VIOLÊNCIA – O livro “Gênero, patriarcado, violência”, de Heleieth I. B. Saffioti, aborda questões acerca do conceito de violência, o tabu do incesto, o gênero, raça/etnia, poder, a mulher brasileira nos espaços publico e privado, o conceito de gênero, a violência contra as mulheres, o conceito de patriarcado, a lesão corporal dolosa, o significado da biolência, os pontos de referencia, a violência domestica, delegacias de defesa da mulher, a maquina do patriarcado, as origens do conceito de gênero, gênero e poder, gênero e patriarcado, gênero e ideologia, interpretação patriarcal do patriarcado, gênero versus patriarcado. Veja mais aqui e aqui.

FONTE:
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.

O PODER DO MACHO – O livro “O poder do macho” de Heleieth I. B. Saffioti, aborda temas como os papeis sociais atribuídos às diferentes categorias de sexo, a quem serve a relação de dominação da mulher pelo homem, a supremacia masculina na sociedade capitalista, contradições da ideologia liberal, uma estratégia de luta e se vale a pena lutar, entre outros assuntos.

FONTE:
SAFFIOTI, Heleieth. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987. Confira mais a respeito aquiaqui, aqui, aqui e aqui.


 A POESIA DE ARI LINS PEDROSAPernambuco do tupi buraco no mar. / É de amar, a história / Deste povo, conquistada com glória. / Nassau, foi o urbanizador do Recife até no ar. / O frevo, freneticamente, apruma / O pernambucano da vida. / Bendito é o bloco Galo da Madrugada, / Unindo pessoas, num mar sem espumas. / Buchada de bode, caranguejada com cana... / Arrumadinho, bolo de rolo... servidos na porcelana. / São pratos citados de memória. / Escute: a Banda de Pífano, nascida / Em Caruaru e as histórias recolhidas / De Frei Damião (religioso da região). Poema Pernambuco – Capital Recife, extraído do livro Meus Estados, Meu País, do poeta paraibano radicado em Maceió, Ari Lins Pedrosa, autor de diversas obras e dita o alternativo Notas Literárias há quase duas décadas. Veja mais dele aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

A EXPRESSÃO DO SILÊNCIO DE ANA PAULA FUMIANQuantas frases não ditas no espaço desse tempo. Eu corro do escuro pra ver a luz dos seus olhos. Subo no muro que separa nossos corações. Entendo que nosso destino está na contra mão. Eu me esquivei do seu sorriso mas cai no seu olhar, do meu céu eu vi seu céu com todas suas estrelas contornando a imensidão. Seu reflexo no espelho me tira o sentido... Não quero mais a realidade como um abrigo na noite, nem quero a caridade das canções que falam de amor. Quero o estar dos dias, nas brisas dos pensamentos que você rouba de mim ao poucos. Quero as frases não ditas, gravadas no meu ser, como tudo que há de lindo em você, mas que de alguma forma passou a existir dentro de mim... Poema em prosa da escritora e letrista mineira Ana Paula Fumian. Confira mais dela aqui.

A POESIA HOJE DE FREDERICO SPENCER - Hoje sou tudo teu / Para que juntes pedaços / E me colhas desse frio. / Um leite quente me sirvas: / Hoje, teu menino / Em teu ventre estou / Preciso – cuidado / Que me adormeças / Em navios piratas, viaje / Com cigarras, cante / A baratinha da neve, salve. / Hoje não quero ser o lobo / Venho pra teus braços e / Minha cabeça no teu colo, deito / E espero tua mão / Em meus cabelos / Cantigas de ninar cantes. / Hoje morto de cansaço / Faço de ti o cais: / Nas barras de tuas saias. / Nesta noite criança, sou / É preciso, que não durmas / Hoje sou medo vazio / Indomável solidão escura. Poema Hoje, extraído do livro Abril Sitiado (Bagaço, 2011), do poeta, sociólogo e psicopedagogo pernambucano, Frederico Spencer. Veja mais dele aqui, aqui, aqui e aqui.

O LOUCO AMOR DE ZA’ZA – SUZANA JARDIMAh! Essa loucura. / Sem ela, / Nada seria. / Esse Amor! / Sem ele, / Nada seria. / Essa vida! / Sem ela, / Nada seria. / Com todo esse amor, / Tive de tudo. / Uma vida de amor / Uma louca vida. / Enfim, /Um louco amor pela vida! Poema Louco amor, da poeta, artista plástica & ativista ambiental Suzana Jardim – a Za´za Jardim -, que realiza uma obra de arte contemporânea. Veja mais dela aqui e aqui.

ENTREVISTA DE MARTA NASCIMENTO: TODO DIA É DIA DA MULHER – A radialista, poeta, apresentadora de TV, compositora e cantora paraibana radicada em São Paulo, Marta Nascimento, concedeu pra gente em 2011, uma interessante entrevista. Confira detalhes aqui.


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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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