quinta-feira, março 07, 2013

DOROTHEA MACKELLAR, NORBERT ELIAS, MURAKAMI, FANNY KEMBLE, BENSAÏD, BEV PERDUE, HOLLAND TAYLOR & SCHWEITZER

Art by Fulvio de Marinis

 

DEPOIS DUMA NOITE CHUVOSA – UMA: LER & EDUCAR – Todas as noites, chuvosas ou não, aliás, todos os dias eu mantenho a leitura em dia. Afinal, o livro é uma companhia sempre agradável, até dos livros chatos a gente pode tirar algum ensinamento para o aprendizado. E digo isso empolgado com o que disse a educadora estadunidense, Bev Perdue certa vez: A educação mudou fundamentalmente a minha vida. É talvez a missão da minha vida. Estou casada com ela de uma forma muito poderosa e pessoal. E escolhi o caminho que acredito que poderia me tornar o mais importante na mudança dos resultados que vemos agora... Sim, comigo também a leitura e o processo de me educar foram de suma importância para chegar até onde cheguei, fazendo apenas o que quero e gosto. E dela mais uma frase: Eu sempre fui eu. Eu sempre fui muito direta e disse a verdade e estou muito disposta a me levantar e falar. É isso aí (e veja mais sobre Educação aqui e aqui). DUAS: VIVER & FAZER O QUE GOSTA – Sobre essa de apenas fazer o que quer e gosta, sempre a tônica de minha toda existência. Consegui, foi difícil, mas cheguei ao ponto (e já faz tempo) de apenas aceitar a fazer o que quero e gosto. A esse respeito a atriz e dramaturga estadunidense Holland Taylor tem uma frase sintomática e que muito me diz respeito: Levei muito tempo para chegar ao ponto em minha carreira onde eu poderia escolher o que queria fazer. Eu sempre tive uma fome de me realizar através da minha carreira... Assim eu fiz e enfrento as adversidades da vida com mais tranquilidade e determinação. TRES: UM PÉ NA FRENTE & OUTRO ATRÁS – Claro que para seguir vivendo não é fácil, mar de rosas não existe. Principalmente depois que eu li algumas páginas do médico e filósofo franco-gabonês, Albert Schweitzer (1875-1965), recolhendo delas alguns ensinamentos preciosos como: Vivemos em uma época perigosa — o homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo... A tragédia da vida é o que morre dentro do homem enquanto ele vive... Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal entendidos, desconfianças e hostilidade... Por isso, mesmo confiante e determinado, nada mais salutar que a cada passada saber um pé na frente & outro atrás. Vamos aprumar a conversa!

 


DITOS & DESDITOS - A percepção não passa da soma dos nossos mal-entendidos... Quando se faz algo incomum, as cenas cotidianas se tornam um pouco diferentes do normal. Mas não se deixe enganar pelas aparências. A realidade é sempre única. Se a morte não significa o descanso eterno, qual seria a salvação para as nossas vidas tão imperfeitas, tão cheias de incertezas? Pensamento do escritor japonês Haruki Murakami. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: O reconhecimento, por meio da noção de gênero, da dimensão histórica e social dos antagonismos sexuais, nos estimula a pensar a consciência de classe e a consciência de gênero não como resistências paralelas e mutuamente exclusivas, mas sim como convergentes em uma aliança estratégica conflituosa. A mulher é o futuro do fantasma. E vice versa... Pensamento do filósofo francês Daniel Bensaïd (1946-2010). Veja mais aqui.

 

EMMA OUTRA, A HAMILTONEu era jovem. Eu me curei rapidamente. Aprendi francês e italiano, música e dança. E um dia, eu tive mais do que jamais sonhei. Tornei-me sua esposa... Emma, Lady Hamilton... De origem pobre, Emma nasceu como Amy Lyon, há mais de 200 anos, filha de um ferreiro que nem chegou a conhecer. Sua mãe e sua avó a criaram, mas sem condições de dar educação básica ou luxo. Aos 17 anos, com uma beleza inegável, Amy adotou o nome de Emma Hart e se mudou para Londres, para tentar a sorte. Havia poucas possibilidades fora do casamento para mulheres: ser doméstica, atriz ou prostituta eram as opções e todas foram tentadas por Emma. Aos 12 anos começou como empregada, mas não conseguiu se manter na casa por muito tempo. Aos 17 anos, se tornou amante de Charles Francis Greville. A essa altura já tinha uma filha que foi criada por sua avó. Com ele, ganhou um banho de loja e educação, afora conhecer artistas como George Romney, que se encantou com seus traços e a elegeu como sua musa. Em pouco tempo, Emma estava famosa em Londres, com vários quadros e gravuras. Infelizmente, Greville não tinha boas intenções. Além de ganhar em cima dos quadros da amante, ele a convenceu que se casaria com ela, e por isso Emma viajou para Nápoles, onde se uniriam oficialmente. Porém, sem seu conhecimento, Greville a vendeu para seu tio, Sir William Hamilton, um viúvo rico e bem mais velho, que colecionava quadros e estátuas de mulheres bonitas. A ideia era que Sir William ficasse com Emma como amante por um período, antes que Greville retomasse o caso. No entanto, Sir William gostou da aquisição e se casa oficialmente com Emma, a tornando Lady Hamilton. Em Nápoles, Emma fica amiga dos reis e se torna uma das mulheres mais influentes locais. Para Emma, Sir William não negava nada e ela viveu feliz nesse arranjo até conhecer o herói naval Sir Horatio Nelson, que veio à Nápoles pedir auxílio a Sir William. Os dois se entendem imediatamente, com Emma sendo crucial para ajudá-lo em sua missão. Os dois ficaram 5 anos sem se ver e, quando se reencontraram, Nelson já estava sem um braço, envelhecido e com problemas de visão. Nada que impedisse a Emma a continuar apaixonada, aparentemente. Os dois embarcaram abertamente em um romance, aceito pelo marido dela, nem tanto pela esposa dele, Fanny. Quando Nelson foi chamado de volta para Londres, Emma o acompanhou. A essa altura, todos sabiam do romance e não ajudou o fato de que Emma tenha engravidado. A infelicidade de Fanny chegou ao ponto em que o fez escolher entre as duas, claro, perdendo no processo. Sir William faleceu sem dinheiro, e Emma não herdou nada de significativo como sua viúva. Estava tudo bem, pois a ideia de Nelson era se casar com o amor de sua vida. Porém, ele morreu em uma batalha, antes de mudar seu testamento. Sem os dois homens que a sustentavam, Emma logo decaiu financeiramente. Na verdade, nunca se recuperou emocionalmente da morte de Nelson. Alcoólatra, endividada e envelhecida, Emma fugiu para França onde morreu, aos 49 anos, praticamente mendiga. Uma história trágica, triste e extremamente, romântica. A sua beleza ficou imortalizada no cinema, na literatura e nas Artes. Sua incrível história de amor com o herói britânico, Lord Horatio Nelson, foi imortalizado no filme Lady Hamilton, a Divina Dama e estrelado por Vivien Leigh e Laurence Olivier. Também foi tema do filme Les Amours de Lady Hamilton (Le calde notti di Lady Hamilton, 1968) baseado no romance homônimo de Alexandre Dumas, que é publicado sob o tútulo de La Sanfelice (Adelphi, 1999), que retrata a prisão e execução em Nápoles de Luisa Sanfelice, acusada de conspirar com os franceses e seus partidários contra Fernando I das Duas Sicílias durante a Guerra Revolucionária Francesa.

 

REGISTROS DE UMA ATRIZ - [...] A simplicidade é um grande elemento da boa educação. [...] Muitas causas tendem a tornar os bons patrões e patroas tão raros quanto os bons criados. As grandes e rápidas fortunas pelas quais as pessoas vulgares e ignorantes se tornam proprietárias de casas esplêndidas, esplendidamente mobiliadas, não lhes dão, é claro, os sentimentos e as maneiras das pessoas nobres, nem de forma alguma as elevam acima dos criados que empregam, que estão bem cientes desse fato, e que a posse de riqueza é literalmente a única superioridade que seus empregadores têm sobre eles. [...]. Trechos extraídos da obra Further Records, 1848-1883 - A Series of Letters (Palala Press, 2013), da escritora e atriz britânica Fanny Kemble (1809-1893), autora da frase: Às vezes, sou assombrado pela ideia de que era um dever imperativo, sabendo o que sei e tendo visto o que vi, fazer tudo o que está ao meu alcance para mostrar os perigos e os males dessa terrível instituição. Dela também um pequeno poema: Um fardo sagrado é esta vida que você carrega, \ Olhe para ela, levante-a, carregue-a solenemente, \ Levante-se e caminhe sob ela com firmeza; \ Não falhe pela tristeza, não vacile pelo pecado, \ Mas avante, para cima, até que o objetivo seja alcançado. Veja mais aqui e aqui.

 

DOIS POEMASFOGO - Esta vida que chamamos de nossa \ não é forte nem livre; \ Uma chama no vento da morte, \ Ela treme incessantemente. \ E tudo o que podemos fazer \ Para usar nossa pequena luz \ Antes que, no vento cortante, \ Ela pisque na noite: \ Ceder o calor da chama, \ Para não ressentir, mas dar \ O que tivermos de força, \ Para que mais uma chama viva. AS CORES DA LUZ - Isso não é fácil de entender \ Para você que vem de uma terra distante \ Onde todas as cores são baixas - \ Púrpuras profundos, esmeraldas profundas e ricas, \ Onde o outono é flamejante e o verão é verde - \ Aqui está uma beleza que você nunca viu. \ Tudo é afinado em um tom mais alto, \ Lilás, topázio e marfim, \ Verde-jade pálido e azul claro claro \ Como águas-marinhas pelas quais o sol brilha, \ Ouros e pratas, temos à vontade - \ Prata e ouro em cada planície e colina, \ Prata -verde das folhas de myall, \ Ouro fulvo dos feixes colhidos, \ Rios prateados que deslizam silenciosamente, \ Areias douradas à beira d'água, \ Acácia dourada e vassoura dourada,\ Estrelas prateadas do jacarandá florescem; \ Sol âmbar e tom azul-esfumaçado: \ cores opalas que brilham e desbotam; \ No ouro da relva do planalto \ Nuvens-sombras azuis que passam rapidamente; \ Fumaça de madeira soprada em uma névoa azul; \ Colinas de tênue ametista... \ Freqüentemente as cores são tão altas que \ a nota mais profunda é o céu de cobalto; \ Temos que esperar até o pôr do sol chegar \ Para sombras que parecem batidas de tambores - \ Ou como notas de órgão em sua ascensão e queda - \ Roxo e laranja e cardeal, \ Ou o verde pavão que se torna suave e lento \ Para o azul pavão como o grandes estrelas mostram... \ Bolos de goma de açúcar corados para rosa-pêssego; \ Gengivas azuis, altas à beira da clareira; \ Pilares de marfim, sua inclinação fina e lisa \ Manchado com heliotrópio delicado; \ Cinza das raízes mulga retorcidas; \ Bronze-dourado dos rebentos em botão; \ Matizes dos líquenes que se agarram e se espalham, \ verde-nilo, prímula e vermelho pálido... \ Brilho da asa de bronze; azul do guindaste; \ Fulvo e pérola da cauda do pássaro-lira; \ Creme de tarambola; cinza da pomba - \ Estes são os tons da terra que amo. Poemas da escritora australiana Dorothea Mackellar (1885-1968). Veja mais aqui e aqui.

 



PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE FILOSOFIA – A obra “Principios fundamentais de filosofia” de Guy Besse e Maurice Caveing trata do que é flilosofia, o estudo do método dialético marxista, as características da dialética, o estudo do materialismo filosófico marxista e as suas características, a vida espiritual da sociedade, o papel e a importância das idéias na vida social, a formação, a importância e o papel do socialismo científico, o materialismo histórico, as forças produtivas e relações de produção, a lei de correspondência necessária entre as relações de produção e o caráter das forças produtivas, a luta de classes antes do Capitalismo, as contradições da sociedade capitalista, a superestrutura, o socialismo, do socialismo ao comunismo, a teoria materialista do Estado e da Nação.

FONTE:
BESSE, Guy; CAVEING, Maurice. Princípios fundamentais de filosofia. São Paulo: Hemus, 1970.



A TEIA DA INTERDEPENDÊNCIA & A SOCIOLOGIA FIGURATIVA DE NORBERT ELIAS – As ideias do sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1990), foram responsáveis pelo desenvolvimento de uma teoria social inovadora que alargou o campo dos estudos sociológicos e estão voltadas à elucidação de processos sociais, da interação humana no âmbito da sociedade, para a relação entre poder, comportamento, emoção e conhecimento na História. A sua concepção de grandes redes sociais tem tido aplicação nas sociedades ocidentais pós-modernas, por enfatizar a presença da ação individual e a estrutura em vigor sobre o indivíduo. A SOCIOLOGIA FIGURATIVA – É a teoria sociológica que adota uma abordagem de caráter crítico, cujos conceitos fundamentais foram construídos a partir da identificação das deficiências e limitações de perspectivas teóricas consideradas clássicas pelas ciências sociais, associadas, sobretudo, ao funcionalismo parsoniano e a certas versões do estruturalismo. Preocupa-se com a relação entre o indivíduo e a sociedade, analisando os processos sociais baseados nas necessidades do indivíduos na construção de teias de interdependência que, por sua vez, originam configurações como aldeia, família, cidade, estado, nações: "[...] a complexidade de se investigar algumas configurações decorre do fato de que as cadeias de interdependência são maiores e mais diferenciadas". Essas configurações são denominadas de estruturas. A teoria da figuração articula o social e o individual, as estruturas sociais e a subjetividade, o eu e o nós, a identidade individual e a identidade coletiva. Parte do princípio de que a realidade social não se contrapõe aos indivíduos, mas surge da interdependência de suas ações. O autor concebe as ações individuais ou interpessoais no marco das estruturas sociais que as possibilitam e ao mesmo tempo que limitam os cursos de ações e interação possíveis. Assim, a ideia de figuração é semelhante à ideia de totalidade dos psicólogos gestaltistas. A explicação do comportamento só pode ser efetuada em relação às figurações que eles formam entre si e às interdependências que os vinculam. Com isso, ele substitui o conceito de sistema da teoria parsoniana pelo conceito dinâmico de figuração, em uma teoria social da ação entendida como interdependência, semelhante ao conceito de ação recíproca de George Simmel. Os problemas histórico-sociais, para Elias, não podem ser explicados a partir das ações individuais nem das interações entre um ego e um alter, entre um eu e um outro, mas como parte da complexa trama de interdependências em que se desenvolvem as ações das pessoas. Por consequência, o autor torna inteligível a ordem social que se vai constituindo em um período histórico como produto das interações, vinculando as transformações sociais às mudanças na estrutura da personalidade. Sua preocupação está voltada para o comportamento entendido em relação a cada configuração de pessoas e em cada momento histórico. Assim, as figurações são sempre formas de relação historicamente construídas. Veja mais aqui, aquiaqui, aqui e aqui.

REFERÊNCIAS
ÁLVARO, José Luis; GARRIDO, Alicia. Psicologia social: perspectivas psicológicas e sociológicas. São Paulo: McGraw-Hill, 2006.
BRANDÃO, Carlos da Fonseca. Norbert Elias: formação, educação e emoções no processo de civilização. Petrópolis: Vozes, 2003.
LEÃO, Andréa Borges. Norbert Elias & e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.


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