SEGUNDA JORNADA DO DECAMERÃO DE BOCCACCIO: FILOMENA - TERCEIRA NOVELA – [...] Alexandre indagou, com doçura, quem eram os monges que seguiam à
frente, com comitiva tão grande; e perguntou, ainda, para onde seguiam. A isto,
um dos cavaleiros retrucou: - Esse que vai cavalgando à frente é um rapazinho,
parente nosso, que foi eleito recentemente abade de uma das mais abastadas
abadias da Inglaterra. Como, entretanto, ele tem menos idade do que se requer,
por lei, para tão elevada dignidade, vamos nós com ele a Roma, para impetrar,
junto ao santo padre, que, dada a sua pouca idade, revogue, em relação a ele, a
exigência desse requisito e, mais tarde, na ocasião conveniente, o confirme na
mesma dignidade. A respeito disto, entretanto, é necessário que não se dê com a
língua nos dente. Como o novo abade cavalgasse ora adiante ora atrás do lote de
seus criados - assim como, todos os dias, vemos os grão-senhores fazerem, ao
viajar -, aconteceu-lhe ver, pertinho de si, Alexandre. Alexandre era muito
jovem; bem feito de corpo, rosto muito formoso, finíssima educação; e de
maneiras tão agradáveis que, nisso, não havia quem o superasse. Logo à primeira
vista, Alexandre caiu na simpatia do jovem abade que, vendo-o, ficou tão
contente como se visse a pessoa mais esperada do mundo. Chamou-o mais para
perto de si; pôs-se a conversar com ele, como que encantado [...] Entretanto, o abade não dormia. Ao
contrario. Estava refletindo mesmo, até com determinação em seus novos desejos.
Escutou, portanto, o que o hospedeiro e Alexandre disseram. Do mesmo modo,
ficou sabendo onde Alexandre se acomodou, para o pernoite. Então, pôs-se a
meditar: “Deus deu tempo aos meus desejos; caso eu não o agarre, acho que uma
oportunidade como esta não voltará a surgir em minha vida”. Resolveu, de uma
vez por todas, agarrá-lo. Parecendo-lhe que tudo estava em silêncio, na
estalagem, chamou o nome de Alexandre em voz baixa; rogou-lhe que se deitasse
ao seu lado. Depois de recusar-se várias vezes, Alexandre lá se foi deitar, já
despido. O abade acariciou-lhe o peito, e pôs-se a bulir em seu corpo,
carinhosamente, de modo não diverso daquele que as moças apaixonadas fazem com
os seus amados. Alexandre ficou profundamente maravilhado com o fato. E duvidou
que fosse o abade, assaltado por amor impulsivo e desonesto, quem se arriscava
a acariciar-lhe o corpo daquela forma. Ou por presunção, ou por algum ato
cometido por Alexandre, o abade logo concebeu clara idéia desta dúvida. E
sorriu. Despiu, rapidamente uma camisola que estava vestindo; segurou a mão de
Alexandre, colocou-a sobre o próprio peito, e disse: - Alexandre, apague esse
tolo pensamento; procure por aqui.. assim... veja o que eu escondo aqui.
Colocando a mão sobre o peito do abade, Alexandre achou dois seios, pequenos e
redondos, duros e delicados, como feitos de marfim. De pronto, assim que os
encontrou e os apalpou, notou que a pessoa que ali estava era uma mulher. Não
aguardando novo convite, procurou logo abraçá-la, apertá-la ao peito e
beijá-la. Nesse momento ela disse: - Antes que você se aproxime mais
intimamente de mim, ouça o que quero dizer-lhe. Como pode constatar, sou
mulher, não homem. Sou donzela; saí virgem de minha casa. [...] a verdade é que vi você outro dia; desde que
o vi, fiquei inflamada de amor, de tal maneira que creio que nenhuma mulher
nunca amou tanto um homem. Por isso resolvi que você seria o meu marido, em
lugar de outra qualquer pessoa. Se não me quer por esposa, saia logo daqui, e
retorne ao seu lugar. SEXTA NOVELA – [...] Spina, enviuvou de um senhor Nicoló da Grignano e voltou à casa
paterna. Era muito jovem, bonita, atraente, e não contava mais do que dezesseis
anos; um dia, por acaso, pousou os olhos em Giannoto. Aconteceu o mesmo com ele
em relação a ela. E os dois ficaram fervorosamente apaixonados. Este amor não
durou muito tempo sem conseqüências; mas decorreram muitos meses, antes que
alguma pessoa o percebesse. Confiantes em excesso, os dois começaram a
comportar-se da maneira menos discreta que se aconselha em casos semelhantes.
Passeando um dia por um lindo bosque, muito denso de arvores, a jovem e
Giannoto afastaram-se dos demais companheiros, indo bem à frente. Quando lhes
pareceu, em certo trecho, que se tinham afastado o suficiente, rumaram ambos
para um local agradável coberto de ervas e flores, resguardados por altas
frondes. Puseram-se, ali, a entreter-se reciprocamente com os prazeres
amorosos. Por muito tempo assim ficaram juntos; foi um tempo realmente longo,
ainda que os prazeres da volúpia lhes sugerisse que fora breve. Em vista disso,
os dois acabaram sendo apanhados de surpresa... SÉTIMA NOVELA – [...] Dia a dia, Pericão exacerbava os seus
próprios desejos. E tanto mais crescia seu furor amoroso quando mais perto
estava e mais negada ele via a pessoa amada. Percebendo que as atenções
dispensadas não lhe rendiam nada, pôs em ação astucia e artimanhas, reservando para
o fim o uso da força. Uma vê ou outra percebeu que a mulher apreciava o vinho,
tanto quanto uma pessoa que não está acostumada a beber, devido à proibição de
sua religião. Com auxilio do vinho, portanto, que age na qualidade de
mensageiro de Vênus, Pericão julgou que poderia levá-la a ceder. Dando
demonstração de não se importar com aquilo de que ela se mostrava esquiva,
mandou que, uma noite, fossem feitas solenes festas, com uma riquíssima ceia, à
qual a mulher compareceu. Durante a ceia, em que foram servidas muitas coisas
deliciosas, Pericão ordenou ao servidor que deveria atendê-la que lhe desse a
beber diversos vinhos, para que, ao bebê-los, ela os misturasse. O criado
cumpriu, à risca, esta ordem. E a mulher, que não podia ter cuidado quanto a isto,
sentiu-se dominada pela agradabilidade do paladar de cada vinho; e ingeriu mais
vinho do que seria aconselhável para a manutenção de sua honestidade. A mulher
logo se pôs alegre; olvidou toda a adversidade que sofrera; e, vendo que
algumas mulheres estavam bailando à moda de Maiorca, achou que deveria dançar à
moda de Alexandria. Ao contemplar este espetáculo, Pericão teve a impressão de
que muito próximo estava aquilo que ele desejava; insistiu para que se
prolongasse a ceia, sempre rica de iguarias e de vinhos; desse modo, a ceia
entrou pela madrugada. Finalmente, quando já se tinham retirado os convivas,
Pericão entrou em sua própria alcova, apenas acompanhado pela tal mulher. Mais
alegre por causa do vinho, do que temperada pela honestidade, quase como se
Pericão não fosse um homem, mas somente uma de suas criadas, a mulher despiu-se
diante dele, sem nenhum constrangimento; e meteu-se na cama. Pericão não perdeu
tempo; seguiu-a de perto. Apagou o lume e penetrou com habilidade por baixo das
cobertas, do outro lado da cama. Cingiu-a com os braços, sem que ela opusesse
nenhuma resistência; e começou a gozar os prazeres do amor na companhia dela.
Após ter experimentados esses prazeres – nunca tendo sabido, antes, de que modo
os homens agridem -, arrependeu-se ela de não ter atendido aos rogos anteriores
de Pericão. Sem aguardar que ele a convidasse para outras noites, tão gostosas
como aquela, ela mesma muitas vezes se convidou, porém não com palavras, pois
não sabia falar idioma que o homem compreendesse, e sim com fatos. OITAVA
NOVELA – [...] É certo que, em razão da
distancia em que se acha o meu marido em relação a mim, não posso opor
resistência aos apelos da carne, nem á força do amor. De tão grande potencia se
animam esses estímulos e esta força, que inúmeras vezes já venceram, e
prosseguem vencer, todos os dias, homens muito fortes – e isto sem falarmos de
débeis mulheres. [...] Deixei-me
induzir aos prazeres do amor, e consenti em apaixonar-me. [...] porque foi praticado às escondidas, parece
que não se pode afirmar que seja coisa desonesta. Entretanto, foi-me o amor
generoso; não apenas não me desviou do acerto, na escolha do meu amante, porém
ainda muito me ajudou ao mostrar-me que o senhor seria digno de ser amado por
uma mulher como eu. Se não estou iludida pelo espírito, julgo que o senhor é o
mais belo, o mais agradável, o mais elegante e o mais esclarecido cavaleiro que
pode ser encontrado no reino da França. [...] Sendo assim, rogo-lhe por todo amor que sinto pelo senhor, que não me
negue o seu amor; compreenda a minha mocidade, esta mocidade que consome pelo
senhor, como o gelo se derrete junto ao fogo. NONA NOVELA – [...] – Por certo, se, de cada vez que a mulher se
entrega a uma aventura, lhe surgisse um corno na testa, para testemunhar o que ela
fizera, acredito que poucas seriam as mulheres que se entregariam às aventuras.
Entretanto, não apenas não surge o corno, como mesmo não se vê, nas mulheres
que são prudentes, nem indicio, nem pegada. A vergonha e a ruína da honra não
ficam concluídas senão nos atos ostensivos. Assim sendo, sempre que podem,
prevaricam ocultamente; ou deixar de prevaricar, por preguiça. E esteja certo
do que lhe afirmo: que apenas é virtuosa a mulher que jamais foi solicitada, ou
que, se pediu algo a alguém, por esse alguém não foi atendida. Ainda que eu
saiba que assim é, por razões naturais e justificadas, disso não falaria com
tanta clareza, como o faço agora, se eu não tivesse comprovado diversas vezes,
e com muitas mulheres. Declaro-lhe que, se eu estivesse junto a essa sua
castíssima esposa, creio que em pouco tempo a levaria àquilo a que já levei
muitas outras. [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.
BEM COMUM - Tratar acerca do bem comum requer
uma observação aprofundada, devido suas implicações conceituais, notadamente em
razão de ser um tema que se encontra inicialmente entre as discussões dos
sofistas, de Sócrates e de Platão. Introdutoriamente, conforme Marques (2002,
p. 17), a noção de bem comum é a de que: [...] remonta à filosofia grega. Ela
aparece no momento em que se colocou a questão da natureza da sociedade humana
agrupada em Estados que podem ou devem proporcionar um bem a seus membros, que
seja a todos igualmente acessível. Em Platão (1979), encontra-se que o bem
comum transcendia os bens particulares ao menos no sentido de que a felicidade
do Estado devia ser superior e até independente das dos indivíduos. Por isso,
esse autor colocava o problema da medida e do modo da participação dos membros
da sociedade civil no bem comum. Também Aristóteles (1979) defendia que a
sociedade organizada num estado era obrigada a proporcionar a cada membro a
felicidade e o bem-estar. No direito, a noção de bem comum é delineada entre os
romanos, embora sua forma escolástica seja a mais preponderante. Nessa
condução, Tomás de Aquino (1979), tendo por base as ideias de Aristóteles,
assinalava que a sociedade humana tem fins próprios que são fins naturais,
compatíveis com os fins espirituais e com o bem supremo. Essa foi uma noção foi
difundida pela Escolástica no sentido de subordinar a ordem natural e temporal,
como o direito e o Estado, à ordem espiritual divina. A tradição escolástica,
na ótica de Marques (2002, p. 17), costumava ver “[...] no bem comum o direito
fundamental da sociedade, de modo análogo aos direitos fundamentais da pessoa,
com os quais se relaciona como sua garantia e realização”. Nesse sentido, o bem
comum passava a exigir determinados requisitos condicionados à observância de
disposição de vida digna a todos os cidadãos. Passaram-se os tempos e os
autores modernos se encaminharam para uma orientação contrária à defendida pela
Escolástica, considerando o bem comum como do Estado e como o único bem
possível. Assinala Marques (2011, p. 18) que “[...] Modernamente, o bem comum
tem sido visto, corno uma estrutura social na qual sejam possíveis formas de
participação e de comunicação de todos os indivíduos e grupos”. Na visão neoliberal,
o bem comum não é o bem do Estado, mas da coletividade de pessoas livres,
solidárias, onde delas não se pode exigir individualmente mais do que se exige
da sociedade como um todo, bem de um individuo, nas mesmas condições, mais do
que de outros, incorporando-se, assim, ideais de justiça e de interesse
público, de acordo com a ideia de comunidade, como um todo. É o que entende
Ferraz Junior (1977, p. 399) ao assinalar que: O espírito neoliberal do nosso direito nos faz pensar que o bem comum não é o bem do Estado, mas da coletividade de
pessoas livres, solidárias, onde delas não se pode exigir, individualmente,
mais do que se exige da sociedade como um todo, nem de um indivíduo, nas mesmas
condições, mais do que de outro. Incorpora, assim, ideais de justiça e de
interesse público, de acordo com a idéia de comunidade como um todo. No mesmo
espírito, exige-se a independência política do Poder Judiciário, o único capaz, em última instância, de
conferir-lhe um sentido no caso concreto. Tendo por base a revisão
histórica bibliográfica realizada, encontrando-se que, formalmente, o conceito
de bem comum é aberto possibilitando definições variadas. Em razão disso,
entende Diniz (2001, p. 165): A noção
de "bem comum" é bastante complexa, metafísica e de difícil
compreensão, cujo conceito dependerá da filosofia política e jurídica adotada.
Esta noção se compõem de múltiplos elementos ou fatores, o que dará origem a
várias definições. Assim se reconhecem, geralmente, como elementos do bem comum,
a liberdade, a paz, a justiça, a segurança, a utilidade social, a solidariedade
ou cooperação. O bem comum não
resulta da justaposição mecânica desses elementos, mas de sua harmonização em
face da realidade sociológica. Em face dessa observação, entende Ferraz
Junior (1977) que a noção conceitual de bem comum traz dentro de sua
significação a dignidade ética que representa a presença inequívoca de um
fundamento moral para o direito. Por essa ótica, a significação de bem comum
traz a exigência de determinados requisitos condicionantes para a vida digna de
todos os cidadãos, não sendo apenas uma forma de repartição harmônica entre
vantagens e condições materiais, porém é aplicado o sentido de estabilidade
harmônica na sociedade, de ordem ética e na visão dos valores de qualquer ser
humano sobre qualquer interesse particular de quem quer que seja. Para Martins
Filho (2011, p. 1), o bem comum: [...] não é um princípio meramente formal ou
demasiadamente genérico e teórico, sem conteúdo determinado, mas um princípio
objetivo, que decorre da natureza das coisas e possui inúmeras consequências
práticas para o convívio social. Fica evidenciado, portanto, que o conceito de
bem comum pressupõe uma solução para o problema das relações entre o individuo
e a sociedade, sendo esta o todo social e a soma de todos os seus membros. A
noção conceitual de bem comum, para Martins Filho (2011, p. 1) se evidencia em
razão de ser “[...] o fim das pessoas singulares que existem na comunidade,
como o fim do todo é o fim de qualquer de suas partes", deixando claro
tratar de ser o bem da comunidade. Nesse sentido, acrescente Martins Filho
(2011, p. 1) que as: [...] noções básicas devem ser aprofundadas, como
instrumental indispensável para sua compreensão: são as noções de Finalidade, de
Bondade, de Participação, de Comunidade e de Ordem. Da conjugação desses
conceitos fundamentais é que se extrairá a noção de Bem Comum. Sob essa ótica,
entende-se que o principio ético do bem comum encontra correspondência com o
princípio jurídico do interesse público nas relações dos indivíduos com a
sociedade. Isso quer dizer que a promoção do bem comum é o atendimento por
parte do Estado do interesse público. A respeito do interesse público, assinala
Vizzotto e Lima (2011, p. 7) que: [...] o interesse público é a relação entre a
sociedade e o bem comum que ela almeja. Deste modo, em uma sociedade
politicamente organizada, cabe ao administrador público perseguir o bem comum,
externando, por meio de suas ações o interesse público, fim último do Estado. Por
essa correspondência surge o principio da supremacia do interesse público
prevendo os interesses coletivos possuem supremacia sobre os interesses
particulares. Na condução dessa observação, entende Martins (2011) que a
promoção do bem comum segue o principio da preferência por ter primazia sobre
qualquer bem particular, limitando-se pela observância do principio da
proporcionalidade. Assim, para o autor, o bem comum exige as noções básicas de
finalidade, participação, comunidade, bem e ordem. Além disso, segundo Boff
(2003), a sua promoção requer também interação das relações pessoais e sociais.
Nesse sentido, a observância da relação entre a individualidade e a sociedade,
traz a significação de preeminência do individual ou do social, alinhando-se a
uma série de concepções que aparecem conciliatória ou próximas de um ou de
outro extremo e, em conformidade com essas variações, as qualidades que são
imputadas com maior ou menor grau de importância ao bem comum, como a
liberdade, a solidariedade, a igualdade, a ordem, a justiça, a paz, a utilidade
social, a segurança, entre outras. Mais ainda: os termos individualidade,
sociedade e os demais relativos às relações sociais, constituem os próprios
conceitos em diversas concepções do bem comum, não podendo ser subtraídos da
situação nem proclamados constitutivos da noção de modo universal, salvo num
sentido altamente abstrato. Isso porque a noção de bem comum introduz no
direito um principio teleológico, uma vez que por seu intermédio, a lei, o
costume e a interpretação ganham uma dimensão finalista, colocando-se a seu
serviço. Conduzindo-se para concluir a conceituação acerca do principio do bem
comum, no dizer de Ferraz Júnior (1977), este tem um sentido normativo, uma vez
que é uma exigência imperativa: sendo, pois, que o bem comum deve ser
realizado. E os interesses do bem comum propõem exigências teleológicas. Assim
sendo, fica entendido que por seu caráter abstrato, o bem comum deve ser
mantido abstrato no interesse mesmo da integração do direito num sistema unitário,
o seu conceito é bastante apropriado para indicar os casos em que suas
exigências estão sendo obedecidas Ou seja, tanto para o interprete como para o
legislador, as exigência do bem comum são relativamente determináveis em função
do respeito à pessoa, à sua liberdade, à utilidade do comum, entre outras. Na
visão de Vizzotto e Lima (2011, p. 2), o conceito de bem comum é “[...] correspondente à coexistência de um todo e das partes que
o compõem1, assim como a unidade na multiplicidade”, definindo que o bem de
todos constitui o patrimônio público que é indisponível, inviolável e tutelado
por todos, sejam os cidadãos, o Estado ou a sociedade. Assim, o
bem comum, para Vizzotto e Lima (2011, p. 6), encontra-se consagrado na
Constituição Federal por meio da exaltação dos valores correspondentes ao
interesse público, assinalando que: [...] nenhum
indivíduo pode alcançar seu fim particular senão enquanto parte de um todo em
que está inserido, de modo que apenas colaborando na consecução do fim comum e
ajudando os demais membros da sociedade a alcançar seu bem particular é que se
atinge o próprio bem. [...] Bem comum não é o bem produzido pela comunidade na
edificação de um Estado político que seria tomado como entidade metafísica,
neste caso seria uma utopia, ou seja, um bem que, pretendendo ser de todos, na verdade
não é de ninguém. [...] Bem comum é o bem que é de todos, sendo de cada um e de
todos os membros de uma sociedade. Isso é possível porque o bem é comum por ser
idêntico para cada um e é neste sentido que o bem é de cada um e de todos. É de
todos porque mantém a integridade do corpo social e de cada um dos seus
membros, respeitados na sua pessoa. Vê-se, pois, conclusivamente que as
exigências do bem comum estão ligadas juridicamente ao respeito aos direitos
individuais constantes das previsões constitucionais. Veja mais aqui, aqui
& aqui.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Tomás. Suma teológica. São Paulo:
Abril Cultural, 1979.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo:
Abril Cultural, 1979.
BOFF, Leonardo. Ética e moral: a busca dos fundamentos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
DINIZ, Maria Helena. Lei de introdução ao código civil brasileiro interpretada. São
Paulo: Saraiva, 2001.
FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Bem comum. São
Paulo: Saraiva, 1977.
MARQUES, Jussara. Ordem pública, ordem privada
e bem comum: conceito e extensão nos direitos nacional e internacional. Revista Jurídica
Cesumar, v.2, n. 1, 2002.
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. O
princípio ético do bem comum e a concepção jurídica do interesse público. Jus
Navigandi, Teresina, ano 5, n. 48, 1 dez. 2000. Disponível em:
. Acesso em: 9 mar. 2011.
PLATÃO, Política. São Paulo: Abril Cultural,
1979.
REALE, Miguel. Filosofia do
Direito. São Paulo: Saraiva, 1998.
VIZZOTTO, Alberto; LIMA, Thiago. A busca pelo
princípio ético do bem comum, políticas públicas em um estado democrático de direito e a função social da propriedade. IV
Encontro Anual da Andeph, outubro de 2008.Disponível em
http://www.andhep.org.br/downloads/trabalhosIVencontro/AlbertoVizzotto.pdf.
Acesso em 9 mar 2011.
JOÃO
de ser-se homem joão amou.
como outro qualquer, nunca.
mas joãomente.
hermético. humílimo.telúrico.
como o braço da fibra
e a canção singela da alma.
joão não foi ninguém
(quase que por sina, rapunzel)
foi vivo.
OS MISTÉRIOS DE JOÃO ALBRECHT: A NOVA MÚSICA ALAGOANA – Quando escrevi o poema João, eu jamais imaginava encontrar um sujeito que cabia muito bem nos versos que cometi. Era anos 80, eu ainda em Pernambuco e prestes a lançar meu segundo livro de poesias. Certa noite da primeira década dos anos 2000, a gente estava reunido mais uma vez para delinear o caminho da Cooperativa da Música Alagoana (Comusa), quando vi aquele sujeito caladão, na dele, vendo e ouvindo tudo, óculos ajeitado no pau da venta, inquietação e tranqüilidade ao mesmo tempo. Sujeitão da aura boa aquele. Vez por outra ele se pronunciava comedido, econômico, risonho e sempre pra somar. Comigo, na hora, eu pensei: esse é dos meus. E não errei, estava certo de que ali estava um cabra boníssimo. Dias depois, a Susie Cysneiros e o Wilson Miranda – a dupla matraca das coisas boas dessa terra alagoana -, me convocaram para uma empreitada solidária: a Alegro Trupe. Como tudo dessa dupla, desde a BoiBumbarte e todas as iniciativas deles, merece a gente chegar junto corp&alma, topei na hora. E lá vou eu paramentado de Nitolino me apresentar para a criançada, primeiro na Pajuçara e, depois, ndas comunidades alagoanas vitimadas pelas enchentes de 2010. Foi nessa caravana que conheci de perto o João Albrecht. Quando cheguei na primeira comunidade, já pronto para a apresentação, fui ter com quem estava manipulando o som do evento. Era o João. Dois dedinhos de prosa e nos entendemos. Danei-me a dedilhar e telengotengo voz acima pra mexer com a garotada, eis que o João acompanhava meus trejeitos e sapecava um efeito diferenciado para melhor colorir a apresentação. Oxe, foi arretado. Nada melhor que ter um da área para melhorar nossa performance. Quando findei, fiz questão de agradecer ao João a forma como ele tratou na mesa de som todas as minhas tronchuras com a meninada. Dali saímos para outra comunidade e quando deu a hora do almoço, pude estreitar melhor um papo com ele. Risadagens, tiradas, molecagens e outras sacudidelas do tirocínio, pude encetar com João um papo mais aprumado. Tudo com muito bom humor e conversagens que mais davam prazer a tudo aquilo que fazíamos voluntariamente. Lá pras tantas, missão cumprida no primeiro dia, sentamos numa mesa de bar com toda trupe e arriamos a mangação pra cima e pra baixo. Pude conhecer a figura Albrecht mais de perto, o que me causou extrema experiência prazerosa. Afinal foram 2 dias de vuque-vuque, tudo numa van cheia de presentes, apresentações e vai-e-volta: um prazer inenarrável mesmo. Dois dias inesquecíveis que foram coroados com uma bebericagem solta em Maceió. Passou-se o tempo e porque eu gostei tanto do trato que João deu nas minhas performances na trupe, lá vou precisar dos préstimos profissionais dele para a condução sonora da temporada que fiz no mês de abril do meu espetáculo infantil Nitolino no Reino Encantado de Todas Coisas. Sempre pronto, lá estava João organizando o som para que eu pudesse me sair bem nas aprontações de final de semana no Espaço Cultural Linda Mascarenhas. Terminada a temporada, em cima da bucha veio a apresentação do meu show Tataritaritatá no projeto Palco Aberto. De novo João se fez presente e sempre com seu tom amigável e profissional de tratar as coisas, não me deixou passar vexame. Foi exatamente aí que, ao pegar o áudio do meu show, ouvi uma canção rolando no ambiente do teatro. Conheço essa música, eu disse. Perguntei: é do Paulinho Moska? Não, respondeu ele. É minha. Como é João? É. Já ouvi demais essa música na Educativa FM. Confesso que duvidei da autoria. Coisa de geminiano cheio da pregas que se surpreende todo dia só com o fato de continuar vivo. Foi aí que ele me presenteou as músicas dele. Ouvi tudo. Inacreditável. Minha nossa! Esse é o João? Não acredito. Ouvi e re-ouvi. Nossa, aquela música é Alagoas. Não, melhor, aquela música era a vida: a tranqüilidade, a mística de estar vivo, a paz num mundo que se quer feito de guerra, um amor entre o espaço das intrigas, abraços quando tudo se faia de arengas, amor quando tudo parecia discórdia. Por causa disso ouvi Mistérios, uma das suas composições, umas trocentas vezes. Aí fiquei grudado, ouvido apregado nas caixas de som com Encruzilhada, Tempestade, Minha Paz, Sobrevida, Esquece, Humanidade, entre outras. Eita, isso é João Albrecht? É. Putzgrila! Porra, meu, isso é bom demais! Quase viro o exagero de Wilson Miranda para soltar imbróglios inexplicáveis de tão bom que o som do João é. Foi nessa hora que a dupla BoiBumbarte – claro, só eles sabem o valor de ser Alagoas e alagoano -, me deixou bem inteirado: trata-se do cantor, compositor e instrumentista paulista radicado em Maceió há mais de 30 anos, João Carlos Teixeira de Carvalho Albrecht. O tal do João que tô falando. Foi quando fiquei sabendo que ele é um músico da porra, da noite e muito bom. Um autodidata que deu pontapé na cantoria desde os anos 80 quando o maestro Manduca aprumou a coisa na memorável Escola Técnica Federal de Alagoas. A partir daí se apresentou em várias casas noturnas e bares, a ponto de firmar parceria para realizar as “Violadas do Engenho”, reunindo a moçada. Foi quando deu a realização do show “Terra”, ao lado do Alan Bastos. A partir disso, participou do FEMUSESC e junto com Max Dennis tocou o projeto “Violadas do Engenho” em teatro local. Veio o Palco Aberto e já na primeira edição fez seu show, tendo sua canção “Mistérios” sido incluída no cd do projeto. De lá para cá, muito som e criação. Não só, falar do João é bom demais. Mas melhor que encher isso aqui com minhas admirações exacerbadas, melhor de mesmo é conferir o talento de João Albrecht acessando o Projeto Palco Aberto, o MySpace, o site do IZP, o Palco mp3 e o Som13. Tenho certeza que você ficará de queixo caído como eu fiquei. E uma coisa eu garanto: como João é um cara pra lá de bom, você terá a constatação de um talento que merece todo aplauso. E o meu de pé.

JIDDU SALDANHA – O mímico e artista plástico curitibano, Jiddu Saldanha é um artista que merece aplausos de pé o tempo inteiro. Ele foi uma das figuras que a internet me premiou de conhecer o seu trabalho já há algum tempo e venho acompanhando sua performance, talento e arte desde do inicio da rede. Digo e reitero: um artista invejável. Diz ele que já fez de tudo, que começou vendendo picolé e foi engraxate quando criança. Na adolescência passou a ser desportista dedicado a vários esportes e ajustador e torneiro mecânico. Virou bancário e findou artista multimídia. Pronto, depois de tudo encontrou sua verdadeira praia quando passou a desenvolver atividades ligadas ao teatro, sendo autor de 8 peças tetrais, 4 delas encenadas. Para melhor desempenhar sua arte, ingressou no curso de Teatro da PUC, na Fundação Teatro Guaira, em Curtiba, foi ai que descobriu a mímica, quando passou a fazer artes gestuais pelas praças, clubes, feiras, bares, travessas, escolas, teatros, convenções e vielas do Brasil inteiro. Aí ele participou de diversos eventos, entre eles, as grandes rodas de público na Boca Maldita e Largo da Ordem, em Curitiba, o espetáculo mimoteatral “Por Detrás do Silêncio” a partir de 1989, de vários Encontros Latino-Americano de Escritores e Casas de Poetas em Nova Prata, no Rio Grande do Sul, anos depois, destacando também sua atuação no Encontro Nacional de Cultura em Olinda, Pernambuco, em 1991; na Exposição Gesto de Vida sobre mímica e o Encontro dos gerentes da White Martins, em Curitiba, no Macapá Verão, no Amapá; da Bienal Internacional do Rio, da Eco-92 Fórum Global, no RJ, em 1992; e do lançamento dos automóveis Peugeaut, no Rio de Janeiro, em 1993. Depois veio o espetáculo “SOS tem um mímico na praça” que inclui interferências vocálicas com poesia, música e pandeiro. Por sua arte, chamou a atenção do cartunista Ziraldo, que disse: "Jiddu é um brasileiro que sabe fazer bem aquilo que faz". Aí vieram os aplausos de Affonso Romano de Sant’anna, Carlos Nejar, Esdras do Nascimento, Tatiana France, Carlos Careqa, Mano Melo, Artur Gomes, Ademir Antonio Bacca, Luiza Monteiro, entre muitos tantos outros. E isso só comprova apenas se tratar de um grande artista. Ele possui um sítio, o Jiddu Saldanha, onde reúne seu acervo e atividades nas áreas de mímica, espetáculos, contação de história, direção teatral, oficinas, cinema, literatura, palestras, fotos e o escambau. Também edita os blogs Haigatos com Entrevistas e Cinemosquito, participando também do Alma de Poeta. Para entra em contato com a maravilhosa arte de Jiddu Saldanha, é só acessar o sitio e depois enviar um mail jidduks@hotmail.com ou entrar em contato pelo cel.: 21 92485170 fixo: 22 26483763 parabenizando e contratando seu espetáculo.

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As
sombras de Gilvanícila, Rainer Werner Fassbinder, Ângelo
Cantú, The Dresden Dolls, Heloisa
& Abelardo, Barão de Itararé, Claudia Pastore, Rosel Zech, Demócrito
Borges & Isabela Morais aqui.
A poesia
de José Marti aqui.
Fecamepa
& a arenga pela corrupção, Radamés Gnatalli, a literatura de Anton
Tchekhov & Germaine Greer, a neurocientista Linda Buck, Emmanuelle Seigner
& Clóvis Graciano aqui.
A
anarquia de cores de Iara Vichiatto aqui.
Ná na
garganta, Jan Cláudio & Eduardo Proffa aqui.
Aprender
a aprender aqui.
Entrevista
direto do Japão com a nutricionista Simone Hayashi aqui.
Musa
Tataritaritatá: ih, deu chabú aqui.
A
primavera de Ginsberg, libelo & anátema aqui.
Big Shit
Bôbras: liderança, a segunda emboança
aqui.
A
primavera de Ginsberg, Frederick Chopin, a pintura de Karl Briullov, a pianista
Valentina Igoshina, o teatro de
Paula Vogel, o cinema de Jane Campion, a arte de Andréa Beltrão & Meg Ryan, Direitos Humanos, Cordel do
Professor & Mademoiselle Dubois aqui.
O
pensamento de Noam Chomsky aqui.
Palmares
aqui.
Caetés
& a História do Brasil aqui.
O teatro
de Brecht, Stanislavski, Bornhein, estudos & história aqui.
A teoria
interpessoal de Harry Arack Sullivan, Irina Costa, Danny Calixto,
Bernadethe Ribeiro, Daniella Alcarpe, Débora Ildêncio & Rose Garcia aqui.
Litisconsórcio,
Tavito, Bruno Vinci & Teco Seade aqui.
Psicologia
na Educação & Bandas Alagoanas: Eek, Gato Zarolho & Palhaço Paranoide aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
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