quinta-feira, março 07, 2013

CORAÇÃO DE AREIA DE VCA, VERONICA FRANCO, BORGES, CONRAD, CLEONICE BERARDINELLI, VARGAS & A REPÚBLICA

 


CORAÇÃO DE AREIA, DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO – O livro Coração de areia é o quarto livro de poemas do poeta Vital Corrêa de Araújo, publicado pela Fundarpe\CEPE, em 1994. A leitura da obra me remeteu a duas outras, a primeira delas a clássica novela Heart of Darkness (O Coração das Trevas), do escritor nascido polonês onde hoje é a Ucrânia, Joseph Conrad, que foi exilado ainda criança pelas atividades insurgentes paternas na época dominada pelo Império Russo. Pouco tempo depois ficou órfão, razão pela qual passou a ser criado por um tio e, ainda jovem mudou-se para a França, com o intuito de iniciar uma carreira na Marinha Mercante. Quatro anos mais tarde estabeleceu-se na Inglaterra, onde adquiriu cidadania e dedicou-se à escrita. A novela narra a trajetória do que poderíamos considerar como seu alter ego, o marinheiro Marlow, que partindo pelo Tâmisa realizou as experiências percorridas pelo rio Congo numa barcaça, à procura de um comerciante de marfim, Kurtz, um polivalente renascentista europeu que havia se tornado habitante das densas florestas equatoriais africanas, sucumbindo aos instintos dos selvagens locais, passando a ser adorado pelos nativos como um deus. O contexto histórico dessa narrativa se dá a partir do propósito do rei belga que promoveu em meados da década de 1870, as supostas expedições humanitárias e científicas para civilização dos selvagens que habitavam pelo país africano, na verdade demonstrando a crueldade com a exploração do ouro, o abate de elefantes para captação do marfim e a devastação da floresta nativa, riqueza esta transferida para os cofres do reino. Esta foi a experiência vivida pelo autor que fez uma carreira marítima e testemunhou os horrores nas páginas de sua obra simbólica e metafórica: aí estão as denúncias do genocídio belga, por meio do impressionismo literário exposto com as aflições e a escuridão do colonialismo imperialista com seu projeto civilizatório violento durante o século XIX. Registre-se que esta foi a obra que inspirou o Apocalypse de Coppola, inclusive mantendo os nomes dos principais personagens de Conrad, trazendo para a guerra do Vietnã dos anos 1970, contando a história da jornada feita pelo capitão Willard em busca do coronel Walter Kurtz, além de expor outros personagens, como o fotojornalista que é uma versão do arlequim russo e o piloto negro do navio como uma reencarnação do timoneiro. Tanto em Apocalypse Now como em Coração das Trevas constata-se que a jornada central é tanto literal quanto metafórica. Desta obra VCA trouxe pro seu livro a luz e a escuridão, o preto e branco, a civilização e a barbárie, o desconhecido, o sombrio e o inumano, o horror e as trevas, por meio de versos que transitaram do coração para vida. O segundo livro que me fez rever foi O Livro de Areia de Jorge Luís Borges, um livro composto por contos do autor, nos quais é possível perceber um ar de fábulas, com transporte para lugares tão inusitados e profundos, com definições sobre tempo, espaço, narrador e personagens, tudo se misturando no labirinto borgeano. A partir do conto “O outro” até o último “Livro de Areia”, observa-se a busca pela arte, por descobrir o momento perfeito, o tempo mágico e a literatura em toda a sua plenitude. Exemplo disso é encontrar no conto O outro um trecho sintomático “Exceto nas severas páginas da história, os fatos memoráveis prescindem de frases memoráveis”, e mais adiante também isso: “Respondi que o sobrenatural, se acontece duas vezes, deixa de ser aterrador”. No conto Ulrica é possível flagrar: Sempre é uma palavra que não é permitida aos homens”. Já no conto A seita dos trinta está expresso que: “Já que o desejo não é menos culpável que o ato, os justos podem se entregar sem risco ao exercício da mais desbragada luxúria”. Além destes, no conto A noite dos bons revela-se que: “Todas as coisas são reveladas a todos os homens ou, pelo menos, tudo aquilo que um homem é dado conhecer, mas a mim, da noite à amanhã, me foram reveladas essas duas coisas essenciais”. Mas é no conto título Livro de Areia”, que se fecha o volume confirmando o reconhecimento internacional do autor argentino com a sua narrativa fantástica repleta de coisas inexplicáveis e inenarráveis pressupondo o infinito e o impossível. É exatamente tais conduções que levam VCA, profundo conhecedor dos dois autores mencionados, a se expressar em versos como no Coração, coração: “E uma ficção covarde \ o coração: \ frágil taça de emoção \ vaso de fecundo olvido \ terra inútil, músculo vazio. Este é o clima poético dos poemas seguintes, como Quatro poemas a Eliot, Ao coração dos crédulos, Tercetos em riste, Poemas de linho ou Dísticos biográficos ínfimos do supremo vate, entre outros, sobretudo nos poemas da parte designada Sombras somos (vide aqui). Tanto o é que a escritora, médica e professora universitária Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque assim se expressou: “É encantador o Coração de Areia de Vital Corrêa de Araújo, livro de poemas lançado pela Fundarpe. Concebido com apuro de quem enxugou léguas de palavras, estrutura-se, com consistência, em torno de um tema-título que se desdobra ao longo do livro, em cascatas de metáforas e símbolos. Harmoniosa sua poesia flui com naturalidade entre conceitos concretos – quase rudes – e imagens abstratas e sutis. Infinitamente sutis: “...órgão oco e muscular, habitante da cave do tórax e bebedor de sangue...” “Coração, casa velha... turvo leopardo, andarilho rubro arroio louco, oásis súbito...” Palavras e imagens essenciais ao exercício poético – que não podem ser consideradas gastas – são usadas, sem medo, enlaçadas a momentos poéticos de extraordinária originalidade. E a originalidade é um dos componentes fundamentais da poesia, em particular da poesia moderna ou pós-moderna: “Lançado no mármore da eternidade este teu coração fugitivo e inúmero porque a tantos repartido como pão devasso”. A camada sonora dos poemas, sua orquestração, os valores relacionais dos sons, convidam à repetição dos versos, ao desejo de decorá-los (“cor-cordis”), na tentativa de incorporar seu ritmo, um tanto blakeano. E por falar em Blake: “Que tigre nele rege a paixão que ruge?” Assim, o tema “coração”, mote do livro e marcapasso de sua estrutura é resgatado do lugar comum e reinvestido de outras dimensões simbólicas. O poeta é consciente disso. O resgate é intencional e pleno: “Frágil taça de emoção, vaso de fecundo olvido, terra inútil, músculo vazio”. Portanto, pouco resta ao leitor que pretenda louvar tais versos. A poesia é sempre mais eloquente que prosa rude – sobretudo quando amadurecida e apurada como a que Vital Corrêa de Araújo acabou de estampar em livro. Seu trabalho é um claro emaranhado de metáforas, em perfeito equilíbrio, a um passo da escandalosa beleza do barroco, hoje considerado o idioma internacional da cultura. Suas formas se engrandecem em torno de temas universais e atemporais. A “Fuga do rosto” é um poema apurado. Bom em qualquer espaço ou tempo. “Dois quartetos de corda” é um encanto ao som de Mozart. Com seu Coração de Areia, Vital Corrêa de Araújo, conhecido poeta do urbano, renasce como um poeta forte. Então, que cesse da antiga musa o canto, enquanto desisto de continuar expressando meus entusiasmos por uma poesia que enaltece a si mesma”. Devidamente esmiuçado o volume, uma constatação fica evidenciada: em seu coração de areia as trevas de Conrad\Coppola são tão presentes e flagradas no aqui\agora existencial, a ponto de provocar um refazer-se existencial de monumento poético diante da finitude vital com imaginação infinita criativa. Aplausos para VCA! Veja mais do autor aqui, aqui, aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - Não se espantem de ouvir que uma garota de nove anos sabia a importância da sua descoberta. Ela pertencia a um grupo bastante grande de meninas de classe média que, àquele tempo, aprendiam declamação... Pensamento da professora universitária e integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cleonice Berardinelli, que apresentou uma receita para leitoras poéticas: Vou dar uma receita que foi a que me deram como leitora de poesia. Desde criança, tive injetada em minha memória e em meu gosto, em minha alegria e em minha satisfação, a poesia. Eu tinha quatro anos e já sabia de cor sonetos que nem fáceis eram, complicados mesmo, em ordem bem arrevesada, mas eu fui adorando aquilo tudo.  Sempre que havia uma visita em nossa casa, meu pai perguntava – com grandes piscadelas de olho da minha mãe que achava que aquilo não se podia fazer, que era maçar o visitante: “Você gosta de poesia?” Se a pessoa respondia afirmativamente e com convicção, papai revelava: “Pois Cléo diz poesias muito direitinho, ela adora e tem uma memória formidável.” Então a visita, com certeza metade por gentileza e talvez metade por convicção própria, dizia que gostaria muito de ouvir e perguntava o que eu sabia. Eu respondia: “Eu sei uma porção de versos, sei sonetos.” As pessoas ficavam horrorizadas: “Sonetos? Você é capaz de dizer um?” “Sou. Papai, digo o quê, ‘A Santa?’” Papai consentia e então eu começava: “Essa que passa por aí, senhores, / de olhos castanhos e fidalgo porte, / é a princesa ideal dos meus amores, / a mais franzina pérola do Norte. / Contam que, numa noite de esplendores, / a essa que esmaga o coração mais forte / hinos cantaram e jogaram flores / as estrelas, em mágico transporte.” Isto são os dois quartetos, que eu ainda consigo saber de cor, o resto eu não lembro...

 

O LIVRO DE AREIAA linha consta de um número infinito de pontos, o plano, de um número infinito de linhas; o volume, de um número infinito de planos, o hipervolume, de um número infinito de volumes... Não, decididamente não é este, more geométrico, o melhor modo de iniciar meu relato. Afirmar que é verídico é, agora, uma convenção de todo relato fantástico; o meu, no entanto, é verídico. Vivo só, num quarto andar da rua Belgrano. Faz alguns meses, ao entardecer ouvi uma batida na porta. Abri e entrou um desconhecido. Era um homem alto, de traços malconformados. Talvez minha miopia os visse assim. Todo seu aspecto era de uma pobreza decente. Estava de cinza e trazia uma valise cinza na mão. Logo senti que era estrangeiro. A princípio achei-o velho; logo percebi que seu escasso cabelo ruivo, quase branco, à maneira escandinava, me havia enganado. No decorrer de nossa conversa, que não duraria uma hora, soube que procedia das Orcadas. Apontei-lhe uma cadeira. O homem demorou um pouco a falar. Exalava melancolia, como eu agora. - Vendo bíblias - disse. Não sem pedantismo respondi-lhe: - Nesta casa há algumas bíblias inglesas, inclusive a primeira, a de John Wiclif. Tenho também a de Cipriano de Valera, a de Lutero, que literariamente é a pior, e um exemplar latino da Vulgata. Como o senhor vê, não são precisamente bíblias o que me falta. Ao fim de um silêncio respondeu: - Não vendo apenas bíblias. Posso mostrar-lhe um livro sagrado que talvez lhe interesse. Eu o adquiri nos confins de Bikanir. Abriu a valise e o deixou sobre a mesa. Era um volume em oitavo, encadernado em pano. Sem dúvida, havia passado por muitas mãos. Examinei-o; seu peso inusitado me surpreendeu. Na lombada dizia Haly Writ e, abaixo, Bombay. - Será do século XIX - observei. - Não sei. Não soube nunca - foi a resposta. Abri-o ao acaso. Os caracteres me eram estranhos. As páginas, que me pareceram gastas e de pobre tipografia, estavam impressas em duas colunas, como uma bíblia. O texto era apertado e estava ordenado em versículos. No ângulo superior das páginas, havia cifras arábicas. Chamou-me a atenção que a página par levasse o número (digamos) 40.514 e a ímpar, a seguinte, 999. Virei-a; o dorso estava numerado com outra cifra. Trazia uma pequena ilustração, como é de uso nos dicionários: uma âncora desenhada à pena, como pela desajeitada mão de um menino. Foi então que o desconhecido disse: - Olhe-a bem. Já não a verá nunca mais. Havia uma ameaça na afirmação, mas não na voz. Fixei-me no lugar e fechei o volume. Imediatamente o abri. Em vão busquei a figura da âncora, folha por folha. Para ocultar meu desconcerto, disse: - Trata-se de uma versão da Escritura em alguma língua indostânica, não é verdade? - Não - replicou. Logo baixou a voz como que para me confiar um segredo: - Adquiri-o em uma povoação da planície, em troca de algumas rupias e da Bíblia. Seu possuidor não sabia ler. Suspeito que no Livro dos Livros viu um amuleto. Era da casta mais baixa; as pessoas não podiam pisar sua sombra sem contaminação. Disse que seu livro se chamava o Livro de Areia, porque nem o livro nem a areia tem princípio ou fim. Pediu-me que procurasse a primeira folha. Apoiei a mão esquerda sobre a portada e abri com o dedo polegar quase pegado ao indicador. Tudo foi inútil: sempre se interpunham várias folhas entre a portada e a mão. Era como se brotassem do livro. - Agora procure o final. Também fracassei; apenas consegui balbuciar com uma voz que não era a minha: - Isto não pode ser. Sempre em voz baixa o vendedor de bíblias me disse: - Não pode ser, mas é. O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última. Não sei por que estão numeradas desse modo arbitrário. Talvez para dar a entender que os termos de uma série infinita admitem qualquer número. Depois, como se pensasse em voz alta: - Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo. Suas considerações me irritaram. Perguntei: - O senhor é religioso, sem dúvida? - Sim, sou presbiteriano. Minha consciência está limpa. Estou seguro de não ter ludibriado o nativo quando lhe dei a Palavra do Senhor em troca de seu livro diabólico. Assegurei-lhe que nada tinha a se recriminar e perguntei-lhe se estava de passagem por estas terras. Respondeu que dentro de alguns dias pensava em regressar à sua pátria. Foi então que soube que era escocês, das ilhas Orcadas. Disse-lhe que a Escócia eu estimava pessoalmente por amor de Stevenson e de Hume. - E de Robbie Bums - corrigiu. Enquanto falávamos eu continuava explorando o livro infinito. Com falsa indiferença perguntei: - O senhor se propõe a oferecer este curioso espécime ao Museu Britânico? - Não. Ofereço-o ao senhor - replicou e fixou uma soma elevada. Respondi, com toda a verdade, que essa soma era inacessível para mim e fiquei pensando. Ao fim de poucos minutos, havia urdido meu plano. - Proponho-lhe uma troca - disse. O senhor obteve este volume por algumas rupias e pela Escritura Sagrada; eu lhe ofereço o montante de minha aposentadoria que acabo de cobrar, e a Bíblia de Wiclif em letras góticas. Herdei-a de meus pais. - A black letter Wiclif! - murmurou. Fui ao meu dormitório e trouxe-lhe o dinheiro e o livro. Virou as páginas e estudou a capa com fervor de bibliófilo. - Trato feito - disse. Assombrou-me que não regateasse. Só depois compreenderia que havia entrado em minha casa com a decisão de vender o livro. Não contou as notas e guardou-as. Falamos da Índia, das Orcadas e dos Jarls noruegueses que as governaram. Era noite quando o homem se foi. Não voltei a vê-lo nem sei o seu nome. Pensei em guardar o Livro de Areia no vão que havia deixado o Wiclif, mas optei finalmente por escondê-lo atrás de uns volumes desemparelhados de As Mil e Uma Noites. Deitei-me e não dormi. As 3 ou 4 da manhã, acendi a luz. Procurei o livro impossível e virei suas folhas. Em uma delas vi gravada uma máscara. O ângulo levava uma cifra, já não sei qual, elevada à nona potência. Não mostrei a ninguém meu tesouro. À ventura de possuí-lo se agregou o temor de que o roubassem e, depois, o receio de que não fosse verdadeiramente infinito. Estas duas preocupações agravaram minha já velha misantropia. Restavam-me alguns amigos; deixei de vê-los. Prisioneiro do Livro, quase não saía à rua. Examinei com uma lupa a lombada gasta e as capas e rechacei a possibilidade de algum artifício. Comprovei que as pequenas ilustrações distavam duas mil páginas uma da outra. Fui anotando-as em uma caderneta alfabética, que não demorei a encher. Nunca se repetiram. De noite, nos escassos intervalos que a insônia me concedia, sonhava com o livro. O verão declinava e compreendi que o livro era monstruoso. De nada me serviu considerar que não menos monstruoso era eu, que o percebia com olhos e o apalpava com dez dedos com unhas. Senti que era um objeto de pesadelo, uma coisa obscena que infamava e corrompia a realidade. Pensei no fogo, mas temi que a combustão de um livro infinito fosse igualmente infinita e sufocasse o planeta de fumaça. Lembrei haver lido que o melhor lugar para ocultar uma folha é um bosque. Antes de me aposentar trabalhava na Biblioteca Nacional, que guarda 900 mil livros; sei que à mão direita do vestíbulo, uma escada curva se some no sótão, onde estão os periódicos e os mapas. Aproveitei um descuido dos empregados para perder o Livro de Areia em uma das úmidas prateleiras. Tratei de não me fixar em que altura, nem a que distância da porta. Sinto um pouco de alívio, mas não quero nem passar pela rua México. Conto extraído da obra O livro de areia (Globo, 1995), do escritor, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

CORAÇÃO DAS TREVAS – [...] São essas pequenas coisas que fazem a grande diferença. Quando elas desaparecem, você tem de recorrer à sua força inata, à sua capacidade se ser fiel a si próprio. É claro que você pode ser tolo o bastante para cometer erros - estúpido demais até para perceber que está sendo assaltado pelos poderes das trevas. Suponho que nenhum tolo chegou a barganhar sua alma com o diabo; ou o tolo é tolo demais. Ou o diabo demasiadamente diabólico - não sei qual é o caso. Ou pode ser que você seja uma criatura tão fantasticamente superior ao ponto de ficar surda e cega a tudo que não diga respeito a visões e sons celestiais. A Terra passa, então, a ser apenas um lugar de espera - e, se você perde ou ganha assim, não sei dizer. No entanto, a maioria de nós não é uma coisa nem outra. [...] E talvez esteja aí toda a diferença; talvez toda a sabedoria, toda verdade e toda sinceridade estejam apenas contidas naquele inapreciável momento em que ultrapassamos o limiar do invisível. [...] Vivemos como sonhamos, sozinhos. [...] Deviam tê-lo ouvido falar ‘Meu marfim’. Eu ouvi. ‘Minha Prometida, meu marfim, meu posto, meu rio, meu…’, tudo lhe pertencia. Fez com que prendesse minha respiração na expectativa de ouvir a floresta rebentar numa prodigiosa explosão de riso, que deslocaria do lugar as estrelas do céu. Tudo lhe pertencia, mas isso não importava. A questão era saber a quem ele pertencia, quantos poderes das trevas reclamavam-lhe a posse. Essa era a reflexão que provocava arrepios de horror. Era impossível — de nada adiantava, também — tentar imaginar. Ele havia galgado uma alta posição entre os demônios da Terra — literalmente, quero dizer. Vocês não podem compreender. Como poderiam? Tendo o chão firme sob os pés, cercados do apoio ou da crítica de vizinhos gentis, andando delicadamente entre o açougueiro e o policial, no santo terror de escândalos, prisões e hospícios, como poderiam vocês imaginar a que particular região de primitivas eras os pés desimpedidos de um homem seriam capazes de conduzi-lo, por força da solidão — uma solidão absoluta, sem nenhum policial — ao caminho do silêncio — um silêncio absoluto, onde nenhuma voz de advertência de um vizinho amável pode ser ouvida sussurrando à opinião pública? São essas pequenas coisas que fazem a grande diferença. Quando elas desaparecem, você tem de recorrer à sua força inata, à sua capacidade de ser fiel a si próprio. É claro que você pode ser tolo o bastante para cometer erros — estúpido demais até para perceber que está sendo assaltado pelos poderes das trevas. Suponho que nenhum tolo chegou a barganhar sua alma com o diabo; ou o tolo é tolo demais, ou o diabo demasiadamente diabólico — não sei qual é o caso. Ou pode ser que você seja uma criatura tão fantasticamente superior a ponto de ficar surda e cega a tudo que não diga respeito a visões e sons celestiais. A Terra passa, então, a ser apenas um lugar de espera — e, se você perde ou ganha assim, não sei dizer. No entanto, a maioria de nós não é uma coisa nem outra. A Terra para nós é um lugar para viver, onde temos de lidar com visões, sons… e odores, também, por Deus! — respirar carne podre de hipopótamo, por assim dizer, e não ser contaminado. E aí, não percebem? Nossa força aparece, a fé em nossa capacidade de cavar buracos discretos para enterrar a coisa — nosso poder de devoção, não a si próprio, mas a um obscuro e extenuante trabalho. E isso é bastante difícil. Vejam, não estou tentando desculpar-me ou mesmo explicar… Estou tentando compreender mais claramente quem era… o Sr. Kurtz… o espectro do Sr. Kurtz. Aquele iniciado fantasma proveniente do fundo de lugar nenhum honrou-me com sua surpreendente confidência antes de desaparecer completamente. Foi porque podia falar inglês comigo. O Kurtz original fora em parte educado na Inglaterra, e — como ele próprio teve a bondade de dizer-me — suas simpatias inclinavam-se para o lugar certo. A mãe era meio inglesa, o pai meio francês. A Europa inteira contribuíra para a fabricação de Kurtz; e, pouco a pouco, aprendi que, muito apropriadamente, a Sociedade Internacional para a Supressão dos Costumes Bárbaros o incumbira da elaboração de um relatório, que lhe serviria de guia no futuro. E ele de fato o escreveu. Eu o vi. Eu o li. Era eloqüente, vibrava de eloqüência, mas passional demais, eu acho. Dezessete páginas de escrita miúda, que ele encontrara tempo para realizar! Porém, isso deve ter sido antes de — vamos dizer — ficar mal dos nervos, fazendo com que presidisse certas danças à meia-noite que terminavam com indescritíveis ritos, os quais — tanto quanto relutantemente concluí do que ouvira diversas vezes — eram oferecidos a ele — compreendem? — ao próprio Sr. Kurtz. Mas era um belo texto. O parágrafo de abertura, no entanto, à luz de informação posterior, parece-me agora sinistro. Começa com o argumento de que nós, brancos, em razão do nível de desenvolvimento a que chegamos, ‘devemos necessariamente aparecer a eles (selvagens) como seres de natureza sobrenatural — aproximando-nos deles com a força de uma divindade’, e assim por diante. ‘Pelo simples exercício de nossa vontade, podemos exercer para sempre um poder praticamente ilimitado’ etc. etc. A partir desse ponto, elevava-se a grande altura, levando-me junto. O discurso era magnífico, embora difícil de lembrar, compreendem. Passava a idéia de uma exótica Imensidão governada por uma augusta Benevolência. Fazia-me vibrar de entusiasmo. Era o ilimitado poder da eloqüência… da palavra… de palavras nobres, inflamadas. Não havia alusões práticas para interromper o encadeamento mágico das frases, a não ser uma espécie de nota ao pé da última página, evidentemente rabiscada muito depois, numa caligrafia irregular, podendo ser considerada como uma exposição do método. Era muito simples, e, no final daquele apelo comovente a todo sentimento altruísta, brilhava, luminoso e aterrorizante, como o clarão de um raio em céu sereno: ‘Exterminem todos os bárbaros!’ [...] Trechos extraídos da obra Heart of Darkness (Dover Publications, 1990), do escritor britânico Joseph Conrad (1857-1924). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

A COURTESAN'S LOVE LYRIC - Resolvi fazer do meu desejo uma virtude. \ Minhas recompensas serão proporcionais aos seus presentes \ se você me der aquele que \ me faz rir... \ E embora não lhe custe nada, \ ainda assim é de imenso valor para mim. \ Sua recompensa não será \ apenas voar, \ mas voar tão alto \ que suas alegrias excedam amplamente seus desejos. \ E a minha beleza, a que aspira o teu coração \ e que não te cansas de louvar, \ Vou empregar para elevar o \ seu ânimo. Então, deitado docemente ao seu lado, \ vou regá-lo com todas as delícias de uma noiva, \ que aprendi com mais habilidade. \ Então você, que ardeu \ com tanto fervor, finalmente descansará, totalmente contente, \ apaixonado ainda mais profundamente, gasto \ em meu seio confortável. \ Quando estou na cama com um homem, eu desabrocho, \ ficando completamente livre \ com o homem que me ama e gosta de mim... II – Por favor, tente ver com olhos sensatos \ como isso é grotesco para você \ insultar e abusar das mulheres! \ Nosso infeliz sexo está sempre sujeito \ a tão injusto tratamento, porque somos \ dominados, negados a verdadeira liberdade! \ E certamente não temos culpa \ porque, embora não sejamos tão robustos quanto os homens, \ temos corações, mentes e intelectos iguais. \ A virtude também não se origina no poder, \ mas no vigor do coração, mente e alma: \ as fontes do entendimento; \ e estou certo de que neste aspecto \ nada falta às mulheres, \ mas, pelo contrário, têm demonstrado \ superioridade sobre os homens. \ Se nos consideras "inferiores" a ti mesmo, \ talvez seja porque, sendo sábios, \ te superamos em modéstia. \ E se você quer saber a verdade, \ a pessoa mais sábia é a mais paciente; \ ela se enquadra na razão e na virtude; \ enquanto o louco troveja insolência. \ A pedra que o sábio retira do poço \ foi atirada por um tolo... III – Eu gostaria que não fosse considerado pecado \ gostar de foder. \ As mulheres ainda não perceberam \ a covardia que preside. \ E se eles decidissem \ lutar contra o raso, \ Ceu seria o primeiro, dando um exemplo para eles seguirem. Poemas extraídos da obra The Honest Courtesan: Veronica Franco, Citizen and Writer in Sixteenth-Century Venice (Poems in Terze Rime, 1575 - Chicago Press, 1993), da poeta e cortesã veneziana Veronica Franco (1546-1591), que foi banida de Veneza porque morava em uma área da cidade onde muitas prostitutas recebiam seu apoio e supostamente seus pecados haviam provocado uma praga, só retornando em 1577 para enfrenta a Inquisição e acusações de bruxaria. Por fim, conquistou sua liberdade, porém perdeu todos os seus bens materiais. Sua vida inspirou o drama romântico-biográfico Dangerous Beauty (Em Luta pelo Amor, 1998), dirigido por Marshal Herskovitz, baseado no livro The Honest Courtesan, de Margaret Rosenthal, publicado em 1992, e estrelado por Catherine McCormack. Veja mais aqui.

 



A ERA VARGAS E A REPÚBLICA – Essa resenha observa que as estruturas clássicas do sistema representativo qual se praticara na forma do modelo liberal republicano de 1891 foram abaladas, quando em 1930, o presidente Washington Luiz é deposto e Getúlio Vargas assume o poder.
A Revolução de 1930 se constituiu num marco da historiografia brasileira, pois com ela encerra-se a República Velha, onde o Brasil de antes, o Brasil pré-Revolução de 30 era um país agrícola, com um governo fraco, um Estado arcaico e um povo sem direitos individuais e sociais. A República banira a monarquia 40 anos antes mas envelhecera precocemente, esgotada pelos apetites das oligarquias regionais. O presidente saía de um pacto entre os grandes Estados, para servir aos barões do latifúndio. O eleitor - as mulheres não votavam - não tinha outro direito senão o de assinar embaixo na chapa dos coronéis donos de currais políticos.
A principal personagem deste evento é Getúlio Dornelles Vargas, que nasceu em São Borja (RS) a 19 de abril de 1883. Foi chefe do governo provisório depois da Revolução de 30, presidente eleito pela constituinte em 17 de julho de 1934, até a implantação da ditadura do Estado Novo em 10 de novembro de 1937. Foi deposto em 29 de outubro de 1945, mas voltou à presidência em 31 de janeiro de 1951. Com isso, uma nova era tem início no Brasil com a posse de Vargas. Getúlio inspirou-se no positivismo de Comte, que já orientava a política trabalhista dos gaúchos, do Uruguai e da Argentina. O Governo Revolucionário criou o Ministério da Educação e Saúde, fundou a Universidade do Brasil e regulamentou o ensino médio, em bases que duraram décadas. Criou, simultaneamente, o Ministério do Trabalho, promulga, nos anos seguintes, a legislação trabalhista de base, unificada depois na CLT, até hoje vigente. O direito de sindicalizar-se e de fazer greve, o sindicato único e o imposto sindical que o manteria. As férias pagas. O salário mínimo. A indenização por tempo de serviço e a estabilidade no emprego. O sábado livre. A jornada de 8 horas. Igualdade de salários para ambos os sexos, dentre outras medidas.
Em termos políticos, assinala-se o início da decadência das oligarquias e a subida de novos grupos. Os primeiros anos da Era Vargas são confusos com os vários grupos pressionando o governo, em busca de definição. Tal situação leva à revolta constitucionalista de São Paulo, quando a oligarquia cafeeira tenta voltar ao poder; leva, também, à radicalização da classe média, seja à esquerda, como a ANL, dirigida por Luiz Carlos Prestes, socialista, seja à direita, péla AIB, fundada por Plínio Salgado, fascista. No entanto, a protelação de uma Constituição para o país e a insatisfação com o interventor do Estado de São Paulo geraram a Revolução Constitucionalista de 1932, que compeliu Vargas à convocação de uma Constituinte.
As eleições da Constituinte se realizaram, possuindo um grande contingente de representantes as antigas oligarquias, apesar de em número menor estarem representantes classistas eleitos por sindicatos. Havia ainda uma perigosa corrente que, não obstante reconhecessem as falhas do antigo regime, preconizavam um Estado forte, regulador das tensões sociais, dirigido por uma elite política transformadora (mais fascista). A nova Constituição foi portanto uma soma destas três tendências.
Em 1937, acontece o golpe de Estado. Vargas decreta o recesso do congresso, interrompe a curta existência da Constituição de 1934, outorgando uma nova-carta, que lhe concede poderes ditatoriais. É o Estado Novo. Os partidos políticos são dissolvidos, inclusive a Ação Integralista. Com o fracasso dos integralistas, a oposição silencia. Violenta censura à imprensa, introdução da pena de morte, completam o quadro da ditadura de Vargas. A II Guerra Mundial(1939/45) da qual o Brasil participa, ao lado das democracias, contra os governos ditadoriais de Hitler e Mussolini, traz, entretanto uma série de mudanças internas, do ponto de vista político.
O Estado Novo é apoiado pelas classes médias e por amplos setores das burguesias agrária e industrial. Rapidamente Vargas amplia suas bases populares recorrendo à repressão e cooptação dos trabalhadores urbanos: intervém nos sindicatos, sistematiza e amplia a legislação trabalhista. Sua principal sustentação, porém, são as Forças Armadas. Durante o Estado Novo elas são reaparelhadas com modernos armamentos comprados no Exterior e começam a intervir em setores considerados fundamentais para a segurança nacional, como a siderurgia e o petróleo. A burocracia estatal é outro ponto de apoio: cresce rapidamente a abre empregos para a classe média. Em 1938, Vargas cria o Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), encarregado de unificar e racionalizar o aparelho burocrático e organizar concursos para recrutar novos funcionários.
O Estado Novo pode ser caracterizado pelo regime político em que há a primazia do Executivo, onde o Estado é uma espécie de ser supremo. Neste regime, os partidos políticos não intervém na política nacional e o Legislativo não tem nenhuma participação. Apesar de o Congresso estar fechado, havia uma Carta Constitucional que regia o País: a chamada constituição polaca. Esta Constituição era centralizadora, hierárquica e nacionalista, dado que esta Carta era baseada nas leis fascistas.
Durante o primeiro ano do Estado Novo (1937-1938), o governo brasileiro acabou se desentendendo com o governo alemão, o que provocou, por um período de mais ou menos um mês, o rompimento das relações comerciais e democráticas. Esse rompimento se deu, entre outros motivos, pelo governo achar que a Embaixada alemã teria alguma influência na tentativa de golpe a Getúlio em maio de 1938. Outro motivo foram as seguidas desavenças com o embaixador alemão no Brasil, Karl Ritter, que acabou sendo considerado persona non grata pelo governo brasileiro. Ritter também foi impedido de reassumir o cargo na embaixada após voltar de uma reunião nazista em Nuremberg, o que causou a sua expulsão imediata. E em 1943 edita a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que garantia a estabilidade do emprego depois de dez anos de serviço, descanso semanal, regulamentação do trabalho de menores, da mulher e do trabalho noturno; a criação da Previdência Social e a instituição da carteira profissional em março de 1932 para maiores de 16 anos que exercessem um emprego; a jornada de trabalho foi fixada em 8 horas de serviço.
O nacionalismo do Estado Novo pode ser definido, em linhas gerais, como uma concepção de desenvolvimento econômico baseado na exploração dos recursos nacionais em proveito do povo brasileiro. Vargas sabia que os grupos sociais interessados no nacionalismo eram muito fortes para serem desprezados. Ademais, a Revolução de 30, que o levou ao poder, fora obra destes mesmos grupos -- os tenentes, as Forças Armadas, a burguesia industrial, a classe média e a classe operária. Se quisesse ficar no poder, tinha, portanto, de seguir uma política que interessasse a estes setores.
Em 28 de fevereiro de 1945 a Constituição de 1937 recebeu um ato adicionou que possibilitava fixar as eleições presidenciais e logo destacaram-se duas candidaturas a do Brigadeiro Eduardo Gomes que se opunha a Vargas e a do General Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra, apoiado pelo governo.
Nas eleições de 1950, Getúlio se candidatou à Presidência da República, enfrentando Eduardo Gomes, mas encontrou um estado destroçado e falido por Dutra, que, eleito por ele, governara com a direita udenista. Getúlio, logo depois de empossado, formulou nosso primeiro projeto de desenvolvimento nacional autônomo, através do capitalismo de estado, e um programa de ampliação dos direitos dos trabalhadores. Começou a lançar os olhos para a massa rural. A característica distintiva do seu governo foi, porém, o enfrentamento do capital estrangeiro, que ele acusava de espoliar o Brasil, fazendo com que recursos, aqui levantados em cruzeiros, produzissem dólares para o exterior, em remessas escandalosas de lucros. Toda a direita, associada a essas empresas estrangeiras e por ela financiada, entrou na conspiração, subsidiando a imprensa para criar um ambiente de animosidade contra Getúlio, cujo governo era apresentado como um "mar de lama". Neste ambiente, o assassinato de um major da Aeronáutica, que era guarda-costa de Carlos Lacerda, por um membro da guarda pessoal de Getúlio no Palácio do Catete, provocou uma onda de revolta, assumida passionalmente pela Aeronáutica na forma de uma comissão de inquérito, cujo objetivo era depor Getúlio.
Em suma, a chamada "Era Vargas" começa com a Revolução de 30 e termina com a deposição de Getúlio Vargas em 1945. É marcada pelo aumento gradual da intervenção do Estado na economia e na organização da sociedade e também pelo crescente autoritarismo e centralização do poder. Divide-se em três fases distintas: governo provisório, governo constitucional e Estado Novo. Isto quer dizer que Getúlio governou o Brasil durante quinze anos sob a legitimação revolucionária, foi deposto, retornou, pelo voto popular, para cinco anos mais de governo. Enfrentou os poderosos testas-de-ferro das empresas estrangeiras, que se opunham à criação da Petrobrás e da Eletrobrás, e os venceu pelo suicídio, deixando uma carta-testamento que é um dos mais importantes documentos políticos da história do Brasil.  O efeito do suicídio de Getúlio foi uma revirada completa.
Vê-se, pois, que o Estado Novo foi, fruto de sua época. Uma época de questionamento e ataques sistemáticos ao liberalismo, e de clamor por estados fortes. Uma época em que a Revolução Russa, e a subseqüente formação da URSS, surgiram como elementos novos e desestabilizadores no cenário internacional capitalista. Uma época na qual o temor em relação ao avanço do comunismo levou ao surgimento da sua contrapartida não menos radical, ou seja, o nazi-fascismo. Uma época que conviveu com a maior depressão da economia mundial (1929-33) já registrada pela história. Uma época, enfim, de crise econômica e política que, varrendo o planeta, prenunciava guerras e mais crises. Acrescente-se a isso o fato de que, no Brasil, desde o final do século XIX, foi inegável a influência das correntes protofascistas para a formação de um ideário político autoritário entre os intelectuais. Bolívar Lamounier, assevera que o conjunto de idéias que compõe a "mescla de organicismo-historicista e positivismo comtiano da sociologia protofascista européia" exerceu "inequívoca influência na formação do fascismo como doutrina e como movimento político". Apoiando-se nos setores sociais emergentes e, também, nas velhas oligarquias, Getúlio Vargas abriu a possibilidade de realizar um projeto de modernização capitalista conservadora, de cima para baixo, com ‘tranqüilidade’ política e social, através da implantação de um regime policialesco e interventor, nos moldes fascistas. Porém, sem os inconvenientes dos fascismos italiano e alemão -- movidos pela necessidade e pelo ânimo imperialista --, que, diferentemente do Brasil de então, encontravam-se numa fase, já mais avançada, de evolução do seu capitalismo. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
BEOZZO, José O. A Igreja entre a Revolução de 30, o Estado Novo e a redemocratização. In: História geral da civilização brasileira. V. 11, Difel, São Paulo, 1986.
DINIZ, Eli. O Estado Novo : estrutura e poder. Relações de classe. In História geral da civilização brasileira, V. 10, Difel, São Paulo, 1986.
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GOMES, A. de C. História e historiadores: a política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
JAMBEIRO, O. et al. Tempos de Vargas: o rádio e o controle da informação. Salvador:
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LEVINE, Robert M. Pai dos Pobres? O Brasil e a Era Vargas. Rio de Janeiro, Companhia das Letras, 2001.
SOLA, Lourdes. O golpe de 37 e o Estado Novo. In :Brasil em Perspectiva, Difel, Rio de Janeiro, 1978.


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