A LINGUAGEM NA FILOSOFIA DE MARILENA CHAUÍ - A partir de uma leitura no capítulo 5, da obra “Convite à Filosofia”, da filosófa brasileira Marilena Chauí, sobre “A linguagem”, importantes reflexões são levadas numa abordagem esclarecedora. Inicialmente a autora inicia aborda a máxima aristotélica de que o homem é um animal político, no sentido de social e cívico, em virtude do poder da linguagem. Em sua referência, através do pensamento do filósofo grego Aristóteles, se distingue a manifestação do homem com outros animais, quando ao homem é dado o poder da palavra, no sentido grego “logos” e aos demais animais, apenas, a voz, no sentido “phoné”. A partir de Aristóteles, a eminente professora discorre acerca do aprofundamento temático, com releitura do filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau, que comunga da mesma idéia aristotélica. Daí, ela recorre seguindo o pensamento do lingüista dinamarquês Louis Trolle Hjelmslev, trazendo a importância da linguagem no processo de comunicação e de relação social e política do ser humano.
Numa outra vertente, Marilena traz o sentido de linguagem adotado pelo filósofo grego, Platão, que obtinha o sentido de “phámakon”, ou seja, segundo ela, esta palavra adotava um tríplice sentido na idéia platônica, quais sejam, o de remédio, veneno e cosmético. Neste sentido, Chauí (2004, p. 148) assinala: “(...) Platão considerava que a linguagem pode ser um medicamento ou um remédio para o conhecimento, pois, pelo diálogo e pela comunicação, conseguimos descobrir nossa ignorância e aprender com os outros. Pode, porém, ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar, fascinados com o que vimos ou temos, sem que indaguemos se tais palavras são verdadeiras ou falsas. Enfim, a linguagem pode ser cosmético, maquiagem ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as palavras. A linguagem pode ser conhecimento-comunicação mas também pode ser encantamento-sedução”. Nesse sentido, enfatiza a autora que esta idéia platônica é encontrada na passagem bíblica da Torre de Babel, quando o homem fora castigado pela audácia de alcançar a divindade, provocando, pois, a confusão resultante de tal façanha: várias línguas para que se desentendessem.
A partir dessas duas linhas de pensamento, a platônica e a aristotélica, bem como dos mitos e religiões, a autora parte para a apresentação da força da linguagem considerando o mito bíblico da gênese, o exemplo clássico que se mantém até os dias atuais nas liturgias religiosas cristãs, assim como os rituais indígenas, africanos e de feitiçaria, onde a invocação através de sentenças, frases, passes e sons vocálicos, anunciam a transformação do ambiente com introdução divina solidificando suas crenças e, ao mesmo tempo, criando tabus que se tornam sacralizados e não devem ser profanados.
Na dimensão grega dada à linguagem no sentido “logos”, Marilena Chauí ressalta que este sentido possui uma tríplice significação com a idéia de fala/palavra, pensamento/idéia e realidade/ser. Neste sentido, Chauí (2004, p. 149), afirma: “(...) Logos é a palavra racional em que se exprime o pensamento que conhece o real. É discurso (ou seja, argumento e prova), pensamento (ou seja, raciocínio e demonstração( e realidade ( ou seja, as coisas e os nexos e as ligações universais e necessárias entre os seres. Logos é a palavra-pensamento compartilhada: diálogo; é a palavra-pensamento verdadeira: lógica; é a palavra-conhecimento de alguma coisa: o ´logia` que colocamos no final de palavras como cosmologia, mitologia, teologia, ontologia, biologia, psicologia, sociologia, antropologia, tecnologia, filologia, farmacologia, etc”. Fica, portanto, distinguido a dualidade existente no poder da linguagem, sendo uma dimensão apoiada nos mitos que são consagrados nas religiões e sociedades, enquanto que a outra, na racionalidade, ou seja, como bem menciona a autora, “as palavras são conceitos ou idéias, estando referidas ao pensamento, à razão e à verdade”, (p. 150).
Nesse ínterim, a autora se direciona para a abordagem acerca da origem da linguagem, fazendo distinção entre esta e a língua, em conformidade com o que se patenteou da divergência grega, consolidando-se a linguagem como natural e, a língua, convencional. Ou seja, como ela mesmo se reporta: “A linguagem como capacidade de expressão dos seres humanos é natural, isto é, os humanos nascem com uma aparelhagem física, anatômica e fisiológica que lhes permite expressarem-se pela palavra; mas as línguas são convencionais, isto é, surgem de condições históricas, geográficas, econômicas e políticas determinadas, ou, em outros termos, são fatos culturais. Uma vez constituída uma língua, ela se torna uma estrutura ou um sistema dotado de necessidade interna, passando a funcionar como se fosse algo natural, isto é, como algo que possui suas leis e princípios próprios, independentes dos sujeitos falantes que a empregam” (p. 150). Responde, pois, que a linguagem se originou da imitação, ou seja, a onomatopéia ou imitação dos sons animais e naturais; da imitação dos gestos; da necessidade humana para enfrentar as intempéries; e das emoções, ou seja, das sensações intrínsecas do ser humano.
Partindo, pois, para o que significa, enfim, a linguagem, a autora afirma que:”A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação entre pessoas e para a expressão de idéias, valores e sentimentos” (p. 151). Ou seja, a partir de tal definição uma complexa rede de significados se inserem como sendo a linguagem um sistema, que indica coisas, que estabelece a comunicação e que exprime pensamentos, sentimentos e valores. Ou como a própria autora diz: “A definição nos diz, portanto, que a linguagem é um sistema de sinais com função indicativa, comunicativa, expressiva e conotativa”(p. 151). Nessa condução, a autora se direciona para as questões que levam a uma outra duplicidade de idéias, através da divergência conceitual adotada pelos empiristas, de um lado, e pelos empiristas, de outro.Os empiristas consideram a linguagem um fenômeno físico que não se tem consciência de sua causa, mas sim de seus efeitos. Já os intelectualistas consideram a linguagem como um instrumento do pensamento para exprimir conceitos e símbolos, para transmitir e comunicar idéias abstratas e valores.
Na observação da autora, ambas as teorias que se mostram antagônicas, se complementam em pontos comuns como o fato da linguagem ser considerada como um instrumento indicativo ou denotativo e de representação das coisas e das idéias.
Mais adiante a autora aborda o movimento de purificação da linguagem através do positivismo lógico que distinguiam a linguagem natural da lógica, quando a primeira seria a que se fala no dia-a-dia e caracterizada pela imprecisão, enquanto que a segunda, seria formalizada e inspirada na matemática e na física. Com isso, a autora chega nos estudos realizados através da lingüística na definição da origem da linguagem e, com tais estudos lingüísticos chegou-se a conclusão que a linguagem é constituída pela língua e a fala ou palavra, que a língua é uma totalidade ou uma estrutura; que numa língua distinguem-se o significante e o significado; que a relação dos signos e significante com as coisas é convencional; que a língua é um código e se realiza por meio de mensagens; que o sujeito falante possui as capacidades de competência e desempenho; e que a língua é praticada de maneira não consciente.
Por fim, a autora passa descrever a experiência da linguagem no fato de como ela se relaciona e relaciona os seres humanos, considerando a tradicionalidade da relação binária da linguagem a partir do signo verbal como coisa indicada ou como idéia, conceito, valor, ou seja, expressando a realidade ou o pensamento, quando, no entanto, estudos realizados pela filosofia da linguagem encontraram uma forma ternária, considerando que a linguagem refere-se ao mundo por meio das significações possibilitando a relação ser humano com a realidade; que ela se relaciona com sentidos já existentes e cria sentidos novos, proporcionando a relação humana com o pensamento; que exprime e descobre significados, viabilizando a comunicação na relação entre os seres humanos; e tem o poder de suscitar significações, recordando, imaginando coisas novas reais ou fictícias. Ou seja, como a autora explicita: “A linguagem não traduz imagens verbais de origem motora e sensorial nem representa idéias feitas por um pensamento silencioso, mas encarna as significações. As palavras têm sentido e criam sentido” (p. 156).
FONTE BIBLIOGRÁFICA:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004, p. 147/156.
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