BIDU, LA PICCOLA BRASILIANA – Aquela carioca
era esbelta e pequena: uma festa para meus olhos. O cabelo ruivo repartido ao
meio, só queria protegê-la. Mais que encantada
me fez Procópio Ferreira no seu coração, mas com a coerção familiar,
presenteou-me o seu canto lírico na ribalta do meu coração. Ah, Balduína de Le Nozze di Figaro,
a sua presença delicadamente requintada, o seu tom etéreo prateado por árias e canções em que viveu Rosina d’O Barbeiro de
Sevilha. Foi na Itália que Toscanini a fez
brilhar no Scala de Milão e daí foi Mimì em La Bohème, foi Mélisande de
Debussy, foi Susanna n’As Bodas de Fígaro, foi Micaela em Carmen de Bizet, vaiada
escandalosamente por uma claque organizada. Indignada ela se foi para ser Manon
de Massenet. E de lá foi brilhar no Metropolitan Opera House de Nova York, a soprano que cantou para militares feridos durante a
Segunda Guerra Mundial, a mesma da ária e da
cantilena das Bachianas Brasileiras nº 5, pela qual foi selecionada ao Hall of
Fame. Era eu, a música, as joias e
os casacos de pele, os passeios estivais de barco no litoral da
cidade de Camden, o cuidado com os gatos, o jogo de cartas e o retorno aos palcos do Carnegie Hall, para me enlevar com a
Floresta do Amazonas do Villa-Lobos e se despedir até se tornar
samba enredo da Beija-Flor de Nilópollis na Marquês de Sapucaí. E lá foi toda
Carmen Miranda sacudindo a passarela. Flertou com a minha máquina fotográfica: Faça-me
parecer 69, querido, e eu te dou um beijo. A cantoratriz era a minha Beija-Flor e no mundo O Rouxinol
Brasileiro. Veja mais abaixo.
DITOS
& DESDITOS - O que não perdoo à morte, apesar da fé profunda que
me faz acreditar num reencontro, é o não diálogo, o silêncio definitivo... O
peronismo e depois a ditadura, a tortura e a guerra foram um tremor muito forte
para nós. Acreditávamos na nossa torre de marfim, diferente da América Latina.
Agora sabemos, para o bem ou para o mal, que somos a América Latina...
Pensamento da escritora e roteirista argentina Beatriz Guido (1924-1988).
ALGUÉM
FALOU: Cada um segue o seu próprio caminho - seu próprio
destino, se você preferir. E somente ele é responsável pela sua escolha. Você
tem a capacidade de encontrar todas as respostas - se você se permitir. Quando
você se livra do impossível, o que resta é a única resposta, não importa o quão
improvável. O mundo nem sempre é algo que nós possamos entender... Pensamento
da escritora estadunidense Heather Graham Pozzessere.
BIDU SAYÃO - Você
gosta dos meus olhos? Os olhos sempre foram bons... Nasci no Rio e fui batizada
de Balduina, em homenagem à minha avó. Por alguma razão, ela se chamava Bidu e
eu também. Eu era três quartos português e um quarto francês suíço. Meu pai
morreu quando eu tinha 4 anos, então mamãe e meu irmão mais velho me criaram
com muito rigor. Eu era uma criança difícil e tímida. Os homens da família eram
todos médicos e advogados. Um 'artista' não era profissão. Quando eu tinha 8 ou
9 anos, fazia monólogos para entreter a família e os amigos. Eu não era bonita
ou boa na escola. Comecei a cantar musiquinhas que meu tio me ensinava, mas eu
queria atuar, não cantar. A família ficou horrorizada... Na época, meu credo
foi estabelecido. A voz tem que ser como um colar de pérolas, igual de cima a
baixo, aparentemente sem esforço, natural, flexível, usando todas as cores com
expressividade e clareza de dicção. Bel canto não é só para Rossini; todos os
compositores precisam de bel canto. Pensamento da célebre cantora lírica
soprano brasileira Bidú Sayão (1902-1999), extraído de várias de suas
entrevistas e do livro Bidu: Paixão e
Determinação, do biógrafo Denis Allan Daniel: Ela, nos
Estados Unidos e na Europa, era muito associada ao Brasil. A cantora fazia uma
propaganda do país onde ia. Ela tinha muito orgulho de ser brasileira... Algumas
pérolas que ela nos premiou: Projetamos no palco o que somos na vida privada...
Eu era amiga de todos os meus rivais... Eu sempre dizia que a ópera para mim é
como mágica, ilusão, poesia, paixão, humanidade e fantasia. Se você tem tudo
isso, então você faz ópera e é delicioso. Caso contrário, pode ser muito chato...
No Brasil eu nasci e no Brasil morrerei... Veja mais aqui, aqui, aqui &
aqui.
UM ASSUNTO
PRIVADO – [...] Já não podia viver sem saber e, sobretudo, não podia morrer sem saber, numa
época em que miúdos como ele eram chamados mais a morrer do que a viver. Ele teria desistido de tudo por
aquela verdade, entre aquela verdade e a inteligência da criação ele teria
optado pela primeira. [...] Suficiente. Não fale mais comigo. Você me faz chorar. Suas lindas palavras só servem, só
podem me fazer chorar. Você é mau. Você fala assim comigo, procura
esses temas e os desenvolve só para me ver chorar. Não, você não é ruim. Você está triste. Pior do que triste, você é sombrio. Pelo menos você chorou também. Você é triste e feio. E eu não quero ficar triste, como
você. Eu sou bonita e alegre. Eu era [...]. Trechos extraídos da obra Una
questione privata (Letture Einaudi, 2011), do escritor italiano Giuseppe
Fenoglio (1922-1963).
AS ONDAS
FLUEM - Entre as margens acidentadas com força constante \ As
ondas fluem chorando. O céu de chumbo \ está ouvindo. Não há um sorriso lá no
alto, \ Nenhuma respiração se agita na noite. Ao longo de seu curso \ As ondas
fluem chorando. Sobre o peito \ Em tristeza grave eles carregam o vale \ O
corpo sem vida de uma linda, pálida, \ Infeliz menina que em suas profundezas
buscava descanso. \ As ondas correm chorando - neste lamento \ O eco ressoa de
um estranho mistério, \ O grito humano, os soluços de miséria \ De um amor
selvagem e desesperado - derrotado - gasto. Poema da poeta italiana Ada
Negri (1870—1945). Veja mais aqui e aqui.