VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A
GRATIDÃO, OS PROPÓSITOS E A DETERMINAÇÃO – Ontem foi dia de festa; hoje, mais ainda! Viver é uma
festa contínua, só depende da forma como a vemos. Por isso a vida prossegue, a
luta se faz festa sempre e continua todo dia e o dia todo. Festa porque lições
são aprendidas, afinal tudo na vida é aprendizado. Até aquilo que admitimos
como perdas, na verdade, são ganhos de aprendizagens. E agradeço por ter a
oportunidade de viver todos os momentos, sejam quais tenham sido, porque me deram
a oportunidade de aprender algo a mais. E o melhor de tudo é a descoberta, o
verdadeiro aprendizado. O prazer da descoberta é inenarrável. Por isso sou
grato à vida todos os dias. Como sou grato a todos por tudo que vivemos em
todos os momentos da nossa vida. Agradeço a todos pelas manifestações de apoio.
Agradeço a cada um de vocês o prestígio avalizado, tornando uma festa que é
minha em nossa. Por isso, a festa não é minha, é nossa, nos fazemos e somos a
festa: tudo é nosso fazendo tanto a nossa festa como aqui o lugar de pouso na
sua passagem. O agradecimento é para cada um de vocês por permitir que mais uma
etapa seja cumprida e torne possível aquilo a que nos propomos e determinamos
ser o nosso caminho. Agradecimento a cada um de vocês pelo incentivo com o seu aceno
que afaga nosso coração e que com a estimulação que a cada passagem de vocês
promove em nossa caminhada, permitindo que todos os dias recomecemos e
seguidamente retornemos para recompor o plano de voo e a trilha traçada - e
percorrê-la com vocês, asseguro, é bom demais! O agradecimento a cada um de
vocês por estarem presentes aqui proporcionando a comunhão de viver. Reiterados
agradecimentos por chegar aonde chegamos. E essa marca só foi possível por
causa de vocês. Obrigado, obrigado, obrigado. Além do mais, mais uma coisa
precisa ser dita por gratidão: nada disso seria possível sem a vigilante e
determinada contribuição inestimável da querida Meimei Corrêa, ela sim, a grande vitoriosa que em todas as horas e
a todo momento torna tudo que planejamos em uma realidade festiva. E isso
merece destaque: toda luta vira festa. E isso, reitero, é bom demais! É ela quem
desde as primeiras horas do seu dia, começa suas atividades quando da
atualização deste espaço diariamente, até a virada da noite pela madrugada
adentro com a programação do nosso Projeto
MCLAM e, novamente, retoma determinada, teimosa e apaixonadamente dedicada
para que sejamos presentes no cumprimento de nossas metas traçadas e levando
paratodos aquilo que havíamos planejado, transformando a ideia em real. É ela
insone que nos traz o prazer de dividir emoções. Então, essa marca, essa
conquista, essa festa, é dela. E agradecer é muito pouco! Pra ela é, então,
dedicado todo o resultado das conquistas e o reconhecimento de que se há um
vitorioso, não seria ninguém, a não ser ela. A vitória é dela, pra ela e nela.
Obrigado, obrigado, obrigado. Pra ela, gratidão eterna. Obrigado, obrigado,
obrigado. Beijabrações paratodos – e todos os mais especiais beijabrações
afetuosíssimos no coração apaixonante dela – e vamos aprumar a conversa e mais tataritaritatá
aqui.
Imagem: Venus and Cupid, do pintor italiano Sebastiano Ricci (1659–1734)
Curtindo Symphony nº 4 in F minor Op. 36; & Francesca
da Rimini, Fantasia after Dante Op. 32 (Decca Eloquence, 2005),
do compositor russo Pyotr Tchaikovsky (1840-1893), com London Symphony
Orchestra; George Szell; New Philharmonia Orchestra; Lorin Maazel. Veja mais aqui.
AS
REGRAS DA ARTE – O livro As regras da arte:
gênese e estrutura do campo literário (Presença, 1996), do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), aborda
temas como a obra de Flaubert e A educação sentimental, três estados do campo,
a conquista da autonomia, a ruptura do burguês, Baudelaire, um mundo econômico
às avessas, o realismo, a invenção da estética pura, a arte e o dinheiro, a
dialética da distinção, as trocas entre pintores e escritores, dois modos de
envelhecimento, fundamentos de uma ciência das obras, compreender o
compreender, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] A ordem anárquica que reina em um campo
intelectual que chegou a um alto grau de autonomia e sempre frágil e ameaçada, na
medida em que constitui um desafio as leis do mundo economico ordinario, e as
regras do senso comum. E não pode basear-se sem riscos apenas no heroísmo de
alguns. Nao e a virtude que pode fundar uma ordem intelectual livre; e uma
ordem intelectual livre que pode fundar a virtude intelectual. A natureza
paradoxal, aparentemente contradit6ria, dos intelectuais faz com que toda ação
politica visando reforçar a eficácia politica de seus empreendimentos esteja
destinada a se dar palavras de ordem de aparência contraditória: de um lado,
reforcar a autonomia, especialmente reforçando a fenda com os intelectuais
heteronomos, e combatendo para assegurar aos produtores culturals as condicoes
economicas e sociais da autonomia com relação a todos os poderes, sem excluir
os das burocracias de Estado (e antes de tudo em materia de publicação e de avaIiação dos
produtos da atividade intelectual); de outro lado, afastar os produtores
culturais da tentação da torre de marfim, encorajando-os a lutar pelo menos para garantir para
si 0 poder sobre os instrumentos de produção e de consagração e a entrar no
seculo para afirmar os valores associados a sua autonomia. Essa luta deve ser coletiva porque a eficacia dos
poderes que se exercem sobre eles resulta em grande parte do fato de que os
intelectuais os enfrentam em ordem dispersa, e na concorrencia. E tambem porque
as tentativas de mobilização serao sempre suspeitas, e condenadas ao fracasso,
enquanto puderem ser suspeitas de estar postas a serviço das lutas pela leadership de um intelectual ou de um
grupo de intelectuais. Os produtores culturais não reencontrarão no mundo
social 0 lugar que Ihes cabe a menos que, sacrificando de uma vez por todas 0
mite de "intelectual orgânico",
sem cair na mitologia complementar, a do mandarim retirado de tudo,
aceitem trabaIhar coletivamente na defesa de seus interesses pr6prios: 0 que
deveria leva-los a afirmar-se como urn poder internacional de critica e de
vigilância, ou mesmo de proposição, em face dos tecnocratas, ou, por uma ambição a uma vez mais alta e mais realista, portanto
limitada a sua esfera própria, a engajar-se em uma acao racional de defesa das condições econômicas
e sociais da autonomia desses universos socials privilegiados onde se produzem
e se reproduzem os instrumentos materiai e intelectuais do que chamamos de Razão.
Essa Realpolitik da razão estara
sem duvida exposta a suspeita de corporativismo. Mas lhe cabera mostrar, pelos
fins a serviç dos quais colocara os meios, duramente conquistados, de sua
autonomia, que se trata de um corporativismo do universal. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A NARRATIVA DAS MULHERES – O livro A mulher heroica: relatos clássicos de mulheres que ousaram desafiar
seus papéis (Summus, 2001), do médico psiquiatra e professor Allan B. Chinen, aborda temas como
poder, sabedoria, natureza, opressão e autolibertação, a retomada do poder,
conto de Pueblo Tiwa, os limites do poder, o poder da intuição, astúcia e
coragem, cura e vida selvagem, ressurreição e natureza, irmandade, irmãs e
libertação, o resgate do verdadeiro self, retornando das irmãs e o príncipe,
entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Como as histórias das mulheres focalizam protagonistas femininas, é
natural imaginar que esses contos tenham se originado em contadoras de
histórias, mas, até recentemente, antropólogos e estudiosos do folclore não
coletavam as histórias com mulheres. Felizmente, essa situação mudou.
Estudiosas do folclore, como Linda Degh, Susa Kalcik, Margaret Yocom, Karen
Baldwin, Donna Eder, Penelope Eckert e Kristin Langellier, estão descobrindo
agora que as mulheres tendem a contar as historias de uma maneira cooperativa
característica. Por exemplo, uma mulher pode começar descrevendo um problema
que teve com o seu patrão, que lhe fez insinuações sexuais. Outra se solidariza
com a situação da contadora da história, observando de imediato que passou por
uma situação semelhante. Uma terceira pode comentar a coragem da primeira, ao
recusar a investida do chefe. Uma quarta mulher pode então relatar um episódio
de sua vida em que sofreu assedio sexual, antes de pedir à narradora que
prossiga. Na verdade, a contadora de histórias é todo o grupo de mulheres. O
resultado é uma narrativa repleta de temas diferenciados, de múltiplas
perspectivas e de muitos personagens – o que é típico dos contos de fadas. Veja mais aqui e aqui.
A
TRÉGUA – O romance A trégua (Companhia das Letras, 2010), do químico e
escritor italiano Primo Levi
(1919-1987), conta a longa jornada depois da liberdação dos campos de Auschwitz-Birkenau,
no qual o autor foi prisioneiro, dedicando-se a escrever a sua condição de
sobrevivente do Holocausto, numa viagem pela Europa semidestruída e ao lado de
companheiros numa viagem sem destino pelo Leste até União Soviética. Da obra
destaco o trecho inicial: Nos primeiros
dias de janeiro de 1945, sob a pressão do exército vermelho, já nas
proximidades, os alemães desocuparam às pressas a bacia mineira silesiana.
Todavia, em outros lugares, e em análogas condições, não hesitaram em destruir
com fogo ou com as armas o Lager, campo de concentração ou de extermínio,
juntamente com os seus ocupantes; no distrito de Auschwitz agiram de maneira diversa:
ordens superiores (ao que parece ditadas pessoalmente por Hitler) impunham a
“recuperação”, a qualquer preço, de todos os homens aptos para o trabalho. Por
isso, todos os prisioneiros sadios foram retirados, em condições assombrosas,
para Buchenwald e Mauthausen, enquanto os doentes foram abandonados à própria
sorte. A partir de vários indícios, é lícito deduzir a intenção primeira alemã
de não deixar nos campos de concentração nenhum homem vivo; mas um violento
ataque aéreo noturno e a rapidez da investida russa induziram os alemães a
mudar de ideia, e a bater em retirada, deixando inacabados o próprio dever e a
própria guerra. Na enfermaria do Lager de Buna-monowitz chegávamos a
oitocentos. Destes, cerca de quinhentos morreram das próprias doenças, do frio
e da fome, antes que chegassem os russos, e outros duzentos, apesar dos
socorros, nos dias imediatamente sucessivos. A primeira patrulha russa pôde ser
vista do campo por volta de meio-dia de 27 de janeiro de 1945. Charles e eu
fomos os primeiros a avistá-la: estávamos transportando para a vala comum o
corpo de Sómogyi, o primeiro morto dentre os nossos companheiros de quarto. Reviramos
a padiola na neve infecta, pois a vala já estava cheia, e outra sepultura não
era possível: Charles tirou o boné, para saudar os vivos e os mortos. Eram
quatro jovens soldados a cavalo, que agiam cautelosos, com as metralhadoras
embraçadas, ao longo da estrada que demarcava os limites do campo. Quando
chegaram ao arame farpado, detiveram-se, trocando palavras breves e tímidas,
lançando olhares trespassados por um estranho embaraço, para observar os
cadáveres decompostos, os barracões arruinados, e os poucos vivos [...]
Veja mais aqui.
A BATALHA DE OLIVEIROS COM
FERRABRAZ – Hoje como é
o dia do poeta de Literatura de Cordel, nada melhor que trazer aqui o seu nome
maior que é o poeta Leandro Gomes de
Barros (1865-1918): Eram doze
cavalheiros / homens muito valorosos / destemidos e animosos / entre todos os
guerreiros / como bem, fosse Oliveiros / um dos pares de fiança / que sua
perseverança / venceu todos os infiéis / eram uns leões cruéis / os doze pares
de França. / Todos eram conhecidos / pelos leões da igreja / pois nunca foram a
peleja / que nela fossem vencidos / eram por turcos temidos / pela igreja
estimados / porque quando estavam armados / suas espadas luziam / os inimigos
diziam: / esses são endiabrados. / Tinha o duque de Nemé / qu’era uma espada
medonha / o grande Gui de Borgonha / Geraldo de Monde Fé / Carlos Magno tinha
fé / em todos os cavalheiros / pois entre todos guerreiros / de quem nos trata
a história / ve-se sempre a vitória / de Roldão e Oliveiros. / O almirante
Balão / tinha um filho Ferrabraz / que entre os turcos o mais / que tinha
disposição / mesmo em nobreza e ação / era o maior que havia / então em toda
Turquia / onde se ouvia falar / tudo havia respeitar / Ferrabraz de Alexandria.
/ Foi Ferrabraz procurar / saiu com uma grande tropa / ver se achava na Europa
/ um rei para pelejar / pegou logo a exclamar / com mais precipitação / fazendo
uma exclamação / insultando os cavalheiros / falando contra Oliveiros / fazendo
acinte a Roldão. / Ferrabraz estava deitado / sentiu chegar Oliveiros, / foi
ver se eram os cavalheiros / a quem já tinha insultado / depois de ter bem
olhado / cresceu-lhe mais o furor / com desprezo aterrador / e raiva dos
cavalheiros / perguntou a Oliveiros? = Que fizeste ao teu senhor? / Levanta-te
cavalheiro, / prepare a arma, se apronte / pegue o cavalo e se monte / trate de
ser bom guerreiro / ponha seu corpo ligeiro / veja, não dê uma falha / a morte
entre nós se espalha / a hora de um é chegada / lance mão de sua espada / vamos
entrar na batalha. / Depois de se levantar / Ferrabraz se preparou / e a
Oliveiros rogou / que o ajudasse a armar / Oliveiros quis faltar / por achar
que era perigo / disse Ferrabraz: - Te digo / confie em minha nobreza / eu não
uso de vileza / para com meu inimigo. /
Oliveiros se apeou / ajudou a Ferrabraz / com cortesias iguais / ele também o
tratou / quando Ferrabraz se armou / vestiu a saia de malha / na qual não tinha
uma falha / feita por outro guerreiros / montaram-se os cavalheiros / deram começo
à batalha. / Posto em ordem prosseguiram / não escutaram razões / pareciam
dois leões / numa jaula enfurecidos / dois golpes iguais medidos / todos dois
descarregaram / com as forças que botaram / os braços ficaram bambos / e os
cavalos de ambos / em terra se ajoelharam. / Oliveiros recebeu / um golpe tão
desmarcado / que ficou atordoado / e muito sangue desceu / o turco aí conheceu
/ dele as força abatidas / com as vozes compadecidas / disse: - Oliveiros,
teimoso / bebe o balsamo milagroso / que te cura essas feridas. / - Ferrabrás,
eu não aceito / assim não deves cansar-te confesso de minha parte / que toda
oferta rejeito / porque eu não me aproveito / duma ação acovardada / por uma
proteção dada / pois que prefiro morrer / que do teu balsamo beber / sem o
tomar pela espada. / Pariu ao seu contendor / com tanta disposição / que só se
tivesse são / teria tanto valor / deu-lhe um golpe matador / porém pegou mal
pegado / feriu o turco dum lado / Ferrabraz se desviou / tirando o bálsamo
tomou / ficou de tudo curado. / Disse o turco: - Cavalheiro / tu já estás muito
ferido / queira aceitar meu partido / renda-se prisioneiro / assim lhe farei
herdeiro / do reino de Alexandria / e tem mais a garantia / de hoje para amanhã
/ casar com a minha irmã / a flor de toda Turquia. / Disse Oliveiros: - Senhor
/ eu não preciso riqueza / quero morrer na pobreza / mas bem com meu Salvador /
porque foi meu criador / e por minha alma trabalha / um instante não empalha /
pra salvar os fieis / turco, / cuida em teus papeis / vamos dar fim à batalha.
/ Cobriu-se com seu escudo / beijou a cruz da espada / e deu uma cutilada / que
desceu arnez e tudo / e dando outro a miúdo / a Ferrabraz ofendeu / o céu o
favoreceu / um revés escapuliu / o bálsamo dele caiu / e Oliveiros bebeu. / E tornou
a investir / que só um leão voraz / e disse: - Senhor Ferrabraz / é tempo de
decidir; / só se ouvia era tinir / as espadas pelo ar / Roldão que estava a
olhar / de vez em quando dizia: / - Oliveiros, eu só queria / estar agora em
teu lugar. / Já tinham se espedaçado / arnez, capacete e tudo / não tinha mais
um escudo / que não estivesse quebrado / as lanças tinham voado / só as
viseiras existiam / eles já mal se cobriam / nas horríveis cutiladas / somente
as duas espadas / sem dano algum resistiam. / Ferrabraz a resistir / estava com
tanta paixão / Oliveiros só um leão / quando alguém quer o ferir / disse: -
Vamos decidir / esta batalha comprida / a coisa está conhecida / um denós hoje
aqui erra / e neste campo de guerra / um há de deixar a vida. / Oliveiros se
ergueu / marcou-lhe a cabeça ao meio / que o golpe foi mais feio / que um
cavalheiro deu / Ferrabraz estremeceu / e quase perde o sentido / ficando muito
abatido / disse consigo Oliveiros: / - Vós seres um dos primeiros / a seres
hoje vencido. / Assim que Ferrabraz viu / se ultimando sua vida / pos a mão
sobre a ferida / a Oliveiros pediu / julga-se que o turco sentiu / uma emoção
tanto ou quanto / que disparou nesse pranto / ressentido e magoado / como se
fosse tocado / do Divino Espírito Santo. / - Nobre e grande cavalheiro / (disse
o turco arrependido) / agora estou convencido / que teu Deus é verdadeiro;
grande, bom e justiceiro / ente de grande mister / faz tudo quanto ele quer / e
nele não há quem pise... / te peço que me batize / depois faça o que quiser. /
Estando Oliveiros sentido / por ver assim Ferrabraz / lhe disse: - Hoje serás /
pelos pares recebido / não por eu ter-te vencido / mas, sim, por seres cristão
/ porque a religião / abraça todo rebelde / desde a hora que pede / de suas culpas
perdão. Veja mais aqui, aqui e aqui.
ESCOLA DE MULHERES – A peça teatral Escola de Mulheres (L'école des femmes, 1662), do dramaturgo, ator e
encenador francês Molière
(Jean-Baptiste Poquelin – 1622-1673), conta a história de um solteirão que é
contra os maridos traídos, denunciando-lhe as desventuras e que, quando quis
casar-se, temendo ser traído, escolheu uma menina que criara desde os quatro
anos de idade, precavendo-se para que o ensino dela a deixasse burra. Porém,
ela se apaixona por um rapaz. Da obra destaco o trecho final: [...] AGNES (lê) - AS MÁXIMAS DO CASAMENTO Ou Os
deveres e Obrigações da Mulher Casada Com o seu Exercício Cotidiano Primeira
máxima Aquela que de outrem o leito Integra por honesto nó, Em que pese o banzé
que hoje em dia é aceito, Deve sempre ter a peito Que o homem a toma para si
só. ARNOLFO - Explicar-te-ei mais tarde o que isto quer dizer; Por enquanto,
porém, só se trata de ler. AGNES (prossegue) Segunda Máxima Só se deve enfeitar
Na medida em que o acatar O marido que a possui; Basta que o seu ar lhe
convenha, E na questão em nada influi Que por feia outra gente a tenha.
Terceira Máxima Nada de rendas engomadas, Nem de loções, batons, pomadas, Que o
resto põem liso e florido: Para a honra são drogas mortais: E tratos de beleza
tais Nunca são para o marido. Quarta Máxima Sob a touca, ao sair de casa, Que
abafe todo o olhar fogoso; Para que praza a seu esposo, Mister é que a ninguém
mais praza. Quinta Máxima A não ser que o marido a chame, Toda visita é erro
flagrante: Se alguém, com índole galante, Como hoje em dia manda a moda, Visa
acomodar à Madame, Ao patrão não acomoda. Sexta máxima Berloques e balangandãs,
Provenientes dos galãs, E toda espécie de presentes, Rejeitará determinada;
Pois que, nos dias presentes, Não se dá por nada. Sétima Máxima De seus móveis,
que despache, Sem que proteste, por inteiro, Papel, penas e tinteiro: Onde
reina a boa praxe, No lar só o marido deve Escrever o que lá escreve. Oitava
Máxima As mulheres de cenáculos, Assembléias, espetáculos, Saem com conceitos
corrompidos E é mister serem proibidos, Com o mais que a eles se refira: Pois é
lá que conspira, Contra os pobres dos maridos. Nona Máxima Deve uma mulher, que
não queira Ficar com a honra desbaratada, Fugir do jogo, mal funesto! Que o jogo,
diversão traiçoeira, Faz com que a mulher parada Tope com todo o seu resto.
Décima Máxima As excursões silvestres E refeições campestres Evite com mortal
praga. Dizem cérebros prudentes Que essa espécie de presentes O marido sempre
paga. Décima Primeira Máxima... ARNOLFO - Terminarás sozinha, e essas coisas,
em breve, Explicar-te-ei uma a uma, assim como se deve. Neste instante
ocorreu-me assunto à mente; Entra, e guarda esse livro, encarecidamente. Vou
tratar da questão e volto sem que tarde; Se o notório chegar, que uns momentos
me aguarde. Veja mais aqui e aqui.
LOLA – O filme Lola (1961), do diretor e roteirista francês Jacques Demy (1931-1990), é um tributo ao diretor Max Ophüls como
um musical sem música e inspirado no filme Der Blaue Engel (1930), de Josef von
Sterneberg no qual Marlene Dietrich desenvolveu uma performance burlesca
denominada Lola Lola. A história se desenrola na cidade costeira de Nantes, na
França, no qual um jovem abandona sua situação na vida e se encontra com uma
paixão da sua vida que é Lola, uma dançarina de cabaré, que está dividida entre
ele e um marinheiro estadunidense. Eis que o jovem se envolve numa trama de
contrabando de diamantes, pelo qual prosperou e tornou-se muito rico,
retornando para Nantes com o objetivo de se casar com Lola. Para seu
desencanto, ela se vai com o marinheiro, razão pela qual ele fica desanimado e
amargo pelos caprichos do amor e da fortuna. O destaque do filme é para a atriz
francesa Anouk Aimée. Veja mais
aqui.
IMAGEM DO DIA
Charge do caricaturista, cartunista e
jornalista francês Charb – Stéphane Charbonnier (1967-2015), assassinado
no massacre do jornal satírico francês Charlie Hebdo, no qual era diretor,
extraída do livro Marx, manual de instruções (Boitempo, 2013) do
filósofo, professor e dirigente da Quarta Internacional, Daniel Bensaid
(1946-2010). Veja mais aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume aqui.