DIÁRIO DA QUARENTENA – UMA: ESSE O MEU TEMPO, AGORA! – Manter a sanidade
está cada vez mais difícil. Aliás, viver está dificílimo. Tudo desmoronando,
inclusive as relações. Afetos se dissolvem ao vento, tudo como se não houvesse
mais a quem recorrer no meio de mentiras ultrajantes que não dão nem para
passar por verossímil ou sofismável. Completa insegurança e descaramento. Já dizia
Strindberg: A verdade é sempre desaforada. No fundo, é
isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida
e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar. Sim, é
preciso dizer sim para poder seguir em paz. DUAS: DOI PROFUNDAMENTE TANTOS MORTOS TODOS OS DIAS – A maior barulhada na
cabeça, o contágio e o pânico são reais. Muitos se foram, outros vão sem nem se
despedir. Afora isso, muita futilidade nas redes sociais, igualmente ao governante
alheio que só quer se sustentar no poder e proteger seus familiares das coisas
que eles próprios cometem. E daí? Para ele, os outros que se danem no meio da maior
desarmonia federativa e cada um de nós à própria sorte. Steiner já alertava o colapso do sistema e, ao prevenir, foi
marginalizado pela academia porque não seguiu a obsessiva objetividade. Na sua
epistemologia evolutiva, nunca poderia haver dicotomia entre razão e emoção
porque fazem parte de uma única fonte reconhecida na ecologia do conhecimento,
nem absolutista nem relativista, para desconstrução do descontruido. Agora o
caos e ninguém sabe qual direção tomar. Emma Goldman que o diga: Em uma
sociedade sustentada pela mentira, qualquer expressão de verdade é vista como
loucura. O capitalismo sabe corromper aqueles que deseja destruir. Apesar
disso vou em frente sem sair do lugar, apenas vou. TRÊS: COLAGENS DO DIA – Só me resta emoldurar
recorrências da memória e depois esquecer, relembrar e esquecer de novo,
quantos momentos, outros pensamentos. Só tenho a consciência de existir, sou o
que posso e sei no que diz Perls: O passado já não é; o futuro ainda não é; só
o agora existe. Você se decepcionou sozinho, ignorando o direito das pessoas
serem o que são. Então você é responsável pelo que está sentindo. Vou limpando a chaminé
para ver o que vai restar de tudo. Talvez, daqui por diante a vida no sentido real
ou não haverá mais nada. Até amanhã. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Acho que
o maior perigo não é o vírus em si. A humanidade tem todo o conhecimento e as
ferramentas tecnológicas para vencê-lo. O problema realmente grande são nossos
demônios interiores, nosso próprio ódio, ganância e ignorância. Temo que não se
esteja reagindo a esta crise com solidariedade global, mas com ódio, colocando
a culpa em outros países, em minorias étnicas e religiosas. Mas espero que
consigamos desenvolver nossa compaixão, e não nosso ódio, e reagir com
solidariedade global, desenvolvendo nossa generosidade de ajudar os
necessitados. E que desenvolvamos nossa capacidade de discernir a verdade, em
vez de acreditar em todas essas teorias da conspiração. Se fizermos isso, não
tenho dúvida que conseguiremos superar facilmente a crise. [...] Nos últimos anos, temos visto diversos
políticos populistas atacarem a ciência, dizerem que os cientistas são uma
elite remota, desconectada do povo; que coisas como a mudança climática não
passam de uma farsa, que não se deve acreditar nelas. Mas neste momento de
crise por todo o mundo, vemos que as pessoas confiam mais na ciência do que em
qualquer outra coisa. [...]. Trechos da entrevista (Deutsche Welle, abril/2020), do escritor israelense e professor ph.D em História, Yuval Noah
Harari. Veja mais aqui.
RÉFLEXIONS SUR LES HOMMES NÈGRES, OLYMPE DE GOUGES
[...] Convencida por um longo tempo dessa verdade
e dessa terrível situação dos escravos, inseri sua história na primeira peça
que surgiu da minha imaginação. Muitos homens se interessaram pelo destino dos
escravos e se esforçaram para aliviar seu fardo, porém nenhum pensou em
deixá-los subir ao palco com suas roupas típicas e sua cor como eu planejava
fazer, se a Comédie Française não
tivesse se oposto. [...] À que me
refiro? Que a escravidão se tornou um comércio nos quatro cantos do mundo. Comercializar
pessoas! Céus! E a Natureza ainda não estremeceu! Se eles são animais, não
somos também iguais a eles? Como os Brancos são diferentes dessa raça? Se a
diferença está na cor… [...] Não é a
humanidade a obra-prima mais bonita? [...] Minha alegria seria imensurável se eu visse a Representação da minha
Peça como sempre desejei. [...] Então,
Senhoras e Senhores, representem minha Peça, que ela já esperou tempo
suficiente. Como vocês pediram, ela foi publicada. Eu me uno a cada Nação para
pedirmos pela sua representação, e estou certa de que eles não me desapontarão.
Essa sensibilidade que poderia ser considerado como orgulho próprio, se visto
em outros, é resultado do impacto que o protesto público a favor dos Negros tem
sobre mim. [...]
OLYMPE DE GOUGES - Trechos de Réflexions sur les hommes
nègres (Her OEuvres de
Madame de Gouges, 1788), da feminista, revolucionária, historiadora,
jornalista, escritora e dramaturga Olympe
de Gouges (1748-1793), extraído da Tradução do texto: Reflexões sobre os negros - autora: Olympe de Gouges -
1788 (História &
Ensino, jan./jun. 2018), de Jasmim Sedie
Drigo e Nádia Carrasco Pagnossi. Veja mais aqui e aqui.
A FOTOGRAFIA DE CINDY SHERMAN
Não somos aquilo que pensamos ser. Fiz escolhas
muito ruins no passado, pena que não fui para a terapia antes. O mais
inquietante não é ver mais rugas no meu rosto, mas constatar que o leque de
possibilidades diminuiu. Posso me fazer passar por alguém com 100 anos, mas não
mais por alguém com menos de 50. Na verdade, você não vê muitos retratos de
mulheres mais velhas, assim como elas também não estão presentes na moda e no
cinema. O que faço é parte disso. Você olha para elas e vê que passaram por
muita coisa. Você enxerga a dor, mas elas continuam se movimentando e seguindo
adiante. Eu sinto
que estou anônima em meu trabalho. Quando olho para as imagens, eu nunca me
vejo, elas não são autorretratos. Às vezes eu desapareço.
CINDY SHERMAN - A arte conceitual da premiadíssima fotógrafa e
diretora de cinema estadunidense Cindy
Sherman, que por meio de diversos trabalhos levanta questões importantes e
desafiadoras sobre o papel e a representação das mulheres na sociedade, a mídia
e a natureza da criação de arte. Veja mais aqui e aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A arte do fotógrafo e pintor João Ferreira Vilella, cujos dados biográficos são desconhecidos
até o momento, sabendo-se apenas se tratar do primeiro fotógrafo pernambucano
que foi ativo retratista entre as décadas de 1850/1870, expondo suas fotografias
paisagísticas e dedicando-se exclusivamente à pintura.
&
Forroboxote & poesia do poeta Xico Bizerra aqui.
A arte
do artista plástico e cenógrafo Mauricio Arraes aqui.
Conversa de camarim: o teatro no Recife na década de 1960, do
dramaturgo, filósofo, jornalista, professor, poeta, diretor, encenador e
crítico de teatro, Benjamim Santos aqui.
O curta A
menina banda, dirigido, roteirizado e fotografado pelo cineasta Breno Cesar aqui.
Maracatu Real da Várzea aqui.
&
Solar das Abelhas – Caruaru aqui.