SEGREDO DAS
VOZES INDIZÍVEIS – Imagem: Fantasy, da artista plástica e
ilustradora estadunidense Valentina
Plishchina.- Quem foi, tanto
fui, nunca encontrei o caminho de volta, ou sequer saí de onde estou, essa a
impressão que tenho. Nunca tive nada por tanto que quisera, ambicionei talvez, êxito
algum. Não me queiram mal, nem me vejam de soslaio. E mais tivesse, tudo perderia
na bifurcação da surpresa: o amor e situações aversivas, pêndulos sucessivos.
Vi de tudo: um templo luminoso inatingível entre estrelas cadentes na minha
solidão – coisa só minha -, a saudade de trilhas misturadas no labirinto da
lonjura, o Sol das manhãs incendiando a pradaria do meu riso, a mula no cio da
noite sem cabeça rondando minha solidão com seus terrores mais ignotos, o brejo
cheio inundando o quintal para expulsar os fantasmas brincando com planetas
feitos de chimbras, o lobisomem zonzo teimando artista circense pra morrer de
chorar no riso, a Lua enamorada e nua soltando beijos nas minhas quimeras
empacotadas de tesão, cavalo de pau a se arvorar enfrentando moinhos de folhas
e flores lendárias, mané-gostoso preso na acrobacia do elástico pelo brinquedo
da cambalhota e vira a virar, equilibrista no arame farpado e o rio contando
história na correnteza da tarde mormaçada, os repentistas nas feiras de lama e
pilhéria soltando fuxicos e a maior boataria - inverdades, salvo engano, todas
acontecidas no pino do meio dia, coincidências inevitáveis pelas semelhanças de
uns e outros. Apenas lembranças que saltam e se dissolvem na parede fria,
esvaem-se umas às outras na perda da aventura por subidas lesivas e descidas
sombrias. Prevalecem por remissão o sorriso sensual das mulheres com suas
apetecidas formas e gestos, vivenciadas no anoitecer de minhas fantasias
resvaladas pelo tobogã das horas, pela mão nua das linhas perdidas e apagadas
pelos dedos cegos, o braço esquálido e roto, o peito de zis cicatrizes purulentas,
olhos de noite a fio, lábios de sede agreste. A vontade é questão adiada e a
noite desinventada é menor que o instante do vexame violentado. Sei das coisas contrárias
quando menos se espera, motejo da vida pra quem nunca soube a maldição das
ruínas no perde e ganha e dá volta por cima, poeira, solado e bunda no chão.
Ah, se eu tivesse dobrado lá trás, seria diferente, apenas isso e eu não
saberia. Quem me chamou, não ouvi, não sei, soubesse seguia assim mesmo até o
reconhecimento. Outra seria, não assim ou assado. Longe o que se fez sábio
caído na ignorância. Sem assombro, todo tumulto às vitrines é só o ermo do
coração com tudo de novo e outra vez todo dia, tarde e noite intermináveis. E
todos apostam na desgraça, torcem pelo algoz, a carne desesperada do
recalcitrante desafiador, torcida pende prum lado contra a vantagem e vai pro
outro se parecer desfavorável. Essa gente não sabe o que quer, se sabe é só cara
ou coroa da vez e a insensatez, a favor do leão e o circo pega fogo, sem
importar quem pintou a zebra ou arrancou os olhos do assum preto. Afinal, ele
só canta bonito se cego. O artista só obra milagre completamente embriagado de
vida e de álcool. Ah, nada demais, sei que sabem melhor que eu de mim mesmo.
Amanhã estarei morto, muito provavelmente, e serei apenas um raio de memória
pro esquecimento. Tudo é efêmero até sonhar na eternidade. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a banda britânica de rock progressivo
Yes, formada por Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo),
Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Rick Wakeman (teclados), Tony Kaye
(teclados), Peter Banks (guitarra) e Bill Bruford (bateria), com apresentações
de concertos e shows ao vivo & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos
ao blog & nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para conferir é só ligar o
som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Quando estiver
com raiva, não se concentre napessoa que despertou sua ira. Deixe-a ficar na
periferia. Você apenas ficaria com mais raiva. Sinta a ira em seu todo,
deixando que aconteça interiormente. Não racionaliza, não diga: “Este homem me
irritou e me fez ficar com ódio”. Não condene o homem. Ele apenas se tornou a
situação. Sinta gratidão por ele ter feito com que algho que estava fechado se
abrisse às claras. Ele bateu em certo lugar onde uma ferida estava oculta.
Agora você sabe tudo. O ódio se dissolverá. [...]. Extraído da obra Tantra, sexo & espiritualidade
(Ágora, 1977), do filósofo místico Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990).
Veja mais aqui, aqui e aqui.
A REVOLUÇÃO DATAÍSTA - [...] A
revolução dataísta provavelmente vai durar algumas décadas, se não um século ou
dois. Mas a revolução humanista não aconteceu da noite para o dia. No inicio,
os homanos continuaram a acreditar em Deus e alegavam que eram sagrados porque
foram criados por Deus com algum propósito divino. Só muito mais tarde algumas
pessoas ousaram dizer que humanos são sagrados por direito próprio e que Deus
não existe. Similarmente, a maioria dos dataístas afirma hoje que a internet de
todas as coisas é sagrada porque humanos a criaram para servir a necessidades
humanas. Porém, eventualmente, ela pode se tornar sagrada por direito próprio.
A mudança de uma visão de mundo antropocêntrica para uma datacêntrica não será
meramente uma revolução filosófica. Será uma revolução prática. Todas as
revoluções realmente importantes são práticas. A ideia humanista de que
“humanos inventaram Deus” foi significativa porque teve implicações práticas de
longo alcance. Da mesma forma, a ideia dataísta de que “organismos são
algoritmos” é significativa devido a suas conseqüências prátricas no dia a dia.
Ideias só mudam o mundo quando mudam nosso comportamento. [...] Mas se realmente adotarmos uma visão
realmente ampla da vida, todos os outros problemas e desenvolvimentos serão
ofuscados por três processos interconectados: 1 A ciência está convergindo para
um dogma que abrange tudo e que diz que organismos são algoritmos, e a vida,
processamento de dados. 2 A inteligência está se desacoplando da consciência.
3. Algoritmos não conscientes mas altamente inteligentes poderão, em brevem nos
conhecer melhor do que nós mesmos. Esses três processos suscitam três
questões-chaves, que espero que fiquem gravadas em sua mente muito depois de
você ter terminado a leitura deste livro: 1. Será que os organismos são apenas
algoritmos, e a vida apenas processamento de dados? 2. O que é mais valioso – a
inteligência ou a consciência? 3. O que vai acontecer à sociedade, aos
políticos e à vida cotidiana quando algoritmos não conscientes mas altamente
inteligentes nos conhecerem melhor do que nós nos conhecemos? Trechos
extraídos da obra Homo Deus: uma breve
história do amanhã (Companhia das Letras, 2016), do escritor israelense e
professor ph.D em História, Yuval Noah Harari.
O ÚLTIMO SUSPIRO DE BUÑUEL – Passei horas deliciosas nos bares. O bar para mim é um local de
meditação e de recolhimento, sem o qual a vida é inconcebível. Hábito antigo
que se fortaleceu com o passar dos anos. [...] Grande parte da atividade surrealista se desenvolveu no café Cyrano, na
praça Balnche. [...] O bar é, ao
contrário, um exercício de solidão. [...] Os que não se interessem por isto – infelizmente eles existem – que
pulem algumas páginas. [...] Como
certamente compreenderam, não sou um alcoólatra. É verdade que, durante toda a
minha vida, em determinadas ocasiões, aconteceu que bebesse até cair. Mas a
maior parte do tempo trata-se de um ritual delicado, que não proporciona uma
verdadeira embriaguez, mas sim uma espécie de zonzeira, bem-estar tranqüilo que
talvez se assemelhe ao efeito de uma droga leve. Isso me ajuda a viver e a
trabalhar. [...] elaboramos a ideia
de abrir um bar que se chamaria Au coup de Canon e que seria escandalosamente
cato, o mais caro do mundo. Só haveria lá bebidas especiais, incrivelmente
refinadas, vindas dos quatro cantos do mundo. Seria um bar íntimo,muito
confortável, de perfeito bom gosto, é claro, com apenas umas dez mesas. Em
frente à porta, a justificar o nome do estabelecimento, haveria uma antiga
bombarda, com estopim e pólvora, que daria um tiro violento, a qualquer hora do
dia ou da noite, cada vez que um cliente tivesse gasto mil dólares. Esse
projeto sedutor, mas muito pouco democrático, nunca se realizou. Fica
consignada a ideia. É interessante imaginar um modesto empregado, num prédio
vizinho, acordado às quatro da manhã por um tiro de canhão, e dizendo à sua
mulher, deitada ao seu lado: “Mais um patife que acaba de pagar mil dólares!”.
[...]. Extraido da obra Meu último
suspiro (Nova Fronteira, 1982), do controvertido cineasta espanhol Luis
Buñuel (1900-1983). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
AS HORAS NUAS – [...] Cravo
o olhar no baixo-relevo da parede onde há um jovem seminu montado num touro,
agarrando-o pelos chifres. Mais próximo o ruído das suas sandálias no mármore
polido. Não me volto nem mesmo quando sua mão afasta o pano que me cobre o
ombro. Beija esse ombro, me toma pela cintura e colado ao meu corpo ele vai me
levando adiante feito um escudo. Tombo de joelhos no leito, os cotovelos
fincados no coxim. Agora ele me agarra pelos cabelos e puxa minha cabeça. Vou
cedendo, o pescoço distendido em arco. Ainda não posso vê-lo colado assim às
minhas costas nem me esquivar quando sua boca voraz mordeu minha nuca, devo ter
gemido porque em seguida a boca procurou suavemente a minha orelha, contornou a
orelha com a língua. Levantei-me de um salto mas ele me tomou com a mesma
ferocidade do jovem do baixo-relevo domindo pelos chifres o touro esgazeado.
Minhas pernas vão vergando submissas, escorregadias. Deixei cair a túnica e
agora estamos nus e calmos, o suor correndo e se misturando. É a primeira vez,
eu quis dizer para justificar minha inexperiência. Não consegui falar, inundado
de um gozo tão profundo que em meio do tumulto fui tomado por um sentimento de
paz. Nossas mãos se buscaram e se entrelaçaram ao longo dos corpos num aperto
forte. E de novo sua voz turbilhonada e os meus soluços explodindo sem motivo,
desencontradas as falas mas os corpos se encontrando e se ajustando. Eu te amo.
[...]. Trecho extraído da obra As horas nuas (Nova Fronteira, 1989), da escritora premiada e membro da Academia
Brasileira de Letras do Brasil e de Lisboa, Lygia Fagundes Telles. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
A ISCA
– Vem viver comigo, sê o meu amor / E alguns
novos prazeres provaremos / De areias douradas e regatos de cristal / Com
linhas de seda e anzóis de prata. / Aí o rio correrá murmurando, aquecido /
Mais por teus olhos do que pelo sol; / E aí os peixes enamorados ficarão /
Suplicando a si próprios poder trair. / Quando tu nadares nesse banho de vida /
Cada peixe, dos que todos os canais possuem, / Nadará amorosamente para ti, /
Mais feliz por te apanhar, que tu a ele. / Se, sendo vista assim, fores
censurada / Pelo Sol, ou Lua, a ambos eclipsarás; / E se me for dada licença
para olhar / Dispensarei as suas luzes, tendo-te a ti. / Deixa que outros gelem
com canas de pesca / E cortem as suas pernas em conchas e algas; / Ou
traiçoeiramente cerquem os pobres peixes / Com engodos sufocantes, ou redes de
calado. / Deixa que rudes e ousadas mãos, do ninho limoso / Arranquem os
cardumes acamados em baixios; / Ou que traidores curiosos, com moscas de seda /
Enfeiticem os olhos perdidos dos pobres peixes, / Porque tu não precisas de
tais enganos, / Pois que tu própria és a tua própria isca, / E o peixe que não
seja por ti apanhado, / Ah!, é muito mais sensato do que eu. Poema
do poeta, prosador e clérigo inglês John
Donne (1572-1631). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE PAULO BRUSCKY
A arte
do artista multimídia Paulo Bruscky.
Veja mais aqui.
Veja mais:
Os véus
dos céus & o prazer do amor, a
música de Djavan, a arte de Luciah Lopez, o cinema de Christine
Jeffs & Kirsty Gunn aqui.
Entrega
na Crônica de amor por ela, Cesare Pavese, Theodor Adorno, Antonio Vivaldi, Ítalo Calvino, Ledo
Ivo, Chiquinha Gonzaga, Luchino Visconti, Anne-Sophie Mutter,
Maria Adelaide Amaral, Julião Sarmento,
William Etty, Rosamaria
Murtinho, Annie Girardot, Marize Sarmento & Grupo Carochinha –
Maceió aqui.
Paul Feyerabend, Gilberto Mendes, Chaim Soutine, Sandra Scarr, Brian de Palma, Edwin
Torres & Penelope Ann Miller aqui.
Indagorinha:
Educação Brasileira, Reino dos Mamoeiros, Arranca-rabo & a batida Teibei aqui.
Quando
Tomé mostrou ao que veio aqui.
O poeta
chora aqui.
A menina
do sorriso ensolarado aqui.
O que
tiver de ser será aqui.
Todo dia
é dia da criança aqui.
O
equilíbrio mortevida do malabarista aqui.
Marilda Iamamoto & o Serviço Social, Marilena
Cahí, Nise da Silveira, Guiomar Namo de Mello & Arriete Vilela aqui.
A cidade
das torres & Antônio Cândido aqui.
Proclamação
da República aqui.
A Era
Vargas & a República aqui.
A
Monarquia Brasileira aqui.
&
ARTE DE
VALENTINA PLISHCHINA
A arte da artista plástica e ilustradora estadunidense Valentina
Plishchina.