UM ESPIRRO, UMA
CAGADA - Imagem: Long day in Gigaro Beach, do
pintor e escultor inglês James Drinkwater. - Quem não conhece Zé Espirro? Esse não é seu nome de
batismo nem de registro civil, passou a ser depois do primeiro atchim
encarreado. Além de ser uma figurinha carimbada e popular que nem bolacha, ele
é bem servido de nariz: lembra bem um bico de tucano. Tanto que também o chamam
de Pinóquio: mente que o cu apita. Quando quer se esconder de cobrador ou
desafeto, todo mundo sabe o seu paradeiro só pela esternutação. E por onde
passa deixa rastros, outro incomodo: além da zoada com borrifo pra tudo quanto
é lado, a golfada fede e como fede, meu. A inhaca é uma mistura de coisa choca
com mundiça azeda, já viu, né? Por causa disso, diz ele, tudo dá errado na vida:
pensa às avessas, de cabeça pra baixo. Como? Todo atrapalhado. Sai pra comprar
pão, aí dá o repuxo, ao invés do que tinha por fazer, finda vendendo a casa do
vizinho. E pode? Quando sai de casa pro trabalho, em vez de tirar o carro da
garagem e dirigir até a repartição, solta o espirrado de vê-lo, lá vai, a nado,
correnteza afora. Está vendo só? Tudo culpa dessa desgraçada de moléstia espirratória
que eu tenho. Vou todo certinho e basta um fungado na venta, quando dou fé,
estou ao contrário. Já virei pelo avesso não sei quantas vezes, dá um trabalho
da porra pra desvirar. Basta uma coceirinha de nada nos fiapos do buraco do nariz,
lá vem o desmantelo. Quantas e muitas vezes deixou uma potoca de catarro na
sopa do delegado, no seio robusto da mulher do juiz, nas coxas de minissaia da
filha do coronel, até na goela do padre – essa foi demas: o padre na maior
empolgação no púlpito e um perfume forte duma distinta do lado deu-lhe uma
coceira nas narinas, aí já viu, o esguicho entrou pela boca adentro de engasgar
o pároco no meio da missa. Haja inconveniente. Desgraça de vida essa minha, já
ando comendo todo tipo de pólvora de bomba pra ver se dou fim nisso ou me lasco
de uma vez. Piorou. Já levei tanto furo de injeção nas veias e na bunda, de não
se ter onde mais furar. Já disse: acerte os ovos que estoura tudo pra ver se
resolve. É humilhação demais. Preso muitas vezes, não tem mais como se virar em
dinheiro para pagar a fiança. E sai reclamando: faço o espetáculo e ainda tenho
que pagar o couvert. Pode um negócio desse? Ainda ontem mesmo ele passou por
mim na maior das carreiras. Pronde vai, meu? Soltei um que caguei-me todinho,
porra! Ave! Vai findar feito a Tocha Humana, tá sabendo? © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de
especial com o
compositor, pianista e maestro russo Igor Stravinsky (1882-1971): Firebird, Rite
orf Spring & Symphonis of Winds (veja mais aqui) ; e da pianista portuguesa naturalizada
brasileira, Maria João Pires: Concerto para piano nº 17 de Mozart &
Sonata nº 32, op. 111, de Beethoven; & muito mais nos mais de 2 milhões de
acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – Fiz algo contra o medo. Fiquei sentado e
escrevi. Extraído da
obra Os cadernos de Malte Laurinds Brigge (L&PM, 2009), do escritor alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926). Veja
mais aqui e aqui.
HOLÍSTICA MÉDICA – [...] significa considerar todos os aspectos do organimos humano como
interligados e interdependentes. Num sentido mais amplo, significa reconhecer
ainda que o organismo está em constante interação com seu ambiente natural e
social. [...] O valor do conhecimento
subjetivo é certamente algo que poderíamos aprender com o Oriente. Nós nos
tornamos tão obcecados pelo conhecimento racional, a objetividade e a
quantificação que sentimos extrema insegurança com a experiência e os valores
humanos. [...]. No nível da
assistência primária à saúde, isti é, no dos cuidados do dia-a-dia, os próprios
pacientes, seus familiares e o governo deveriam assumir quase totalmente a
responsabilidade pela saúde e pela cura. No nível secundário, isto é, no da
assistência hospitalar, e dos casos de emergência, a maior parte da
responsabilidade caberia ao médico – mas até mesmo aqui ele respeitaria a capacidade
do próprio corpo para curar-se e não tentaria dominar o processo de cura.
[...] O movimento holístico na saúde com
certeza caminha nessa direção. Entretanto, uma medicina verdadeiramente
holística exigirá mudanças bastante fundamentais em nossas atitudes, em nossas
práticas de socialização, em nossa educação e em nossos valores básicos. Isso só
acontecerá muito gradualmente - talvez nunca. [...]. Pensamento da médica antropóloga
canadense, Margaret Lock, que tem
desenvolvido estudos e trabalhos nas áreas de antropologia do corpo,
epistemologia comparativa do conhecimento e prática médica, bem como o impacto
global das tecnologias biomédicas emergentes. Extraído da obra Sabedoria incomum: conversa com pessoas
notáveis (Cultrix, 1995) de Fritjof Capra. Veja mais aqui.
O HUMANO & O ANIMAL - [...] Acontece que nós, humanos, somos fratura, ruptura, salto qualitativo da
natureza para a cultura. Somos exilados de nossa condição biológica e da Lei
Cósmica que a preside. Perdemos os instintos, no bom e honrado sentido animal
da palavra. Somos, sim, animais, mas animais políticos – zoon politikon -,
tendo que criar as leis da polis por termos rompido – e este é o pecado
original! – com a Lei que rege o sol, as estrelas, as plantas e os bichos. O animal,
através do instinto, obedece integralmente à relojoaria cósmica. Ele não se
extravia, não erra, não tem errância. O animal traz consigo, pronto, o mapa da
mina. Sua certeza vem avalizada por milhões e milhões de anos. O instinto é
memória imemorial, resposta eficaz, esplendor da espécie, indene à dúvida. Nós,
humanos, nascemos prematurados, desequipados, sem fortes instintos que nos
costurem ao mundo, fazendo dele, desde o começo, a nossa casa. Somos ruptura
com a ordem cósmica e, por isto mesmo, criadores de civilização. Somos, em
nossa origem, desgarramento, derrelição, extravio, liberdade. Somos, em nosso
centro ontológico, falta, fenda, spaltung. [...]. Trecho de Instituição, linguagem, liberdade, extraído do livro A
burrice do demônio (Rocco, 1989), do psicanalista e escritor Hélio
Pellegrino (1924-1988). Veja mais aqui e aqui.
LOUVAÇÃO A OUTUBRO – [...] Enfim,
Outubro, você chegou e de felizes se chamem todos os seus dias. Esta primeira
meia hora – e que Deus a espiche – está excelente. Continue assim. Faça-me
esquecer as agruras de agosto e setembro, essa duplinha ruim, que tanto judiou
de nós. Não queremos nada, além de água na torneira, luz na lâmpada, cabelo na
cabeça, dinheiro no bolso, comida na boca (qualquer outro, em vez de comida,
escreveria beijo), beleza aos olhos e amor no coração. Extraído de Pernoite: crônicas (Martins
Fontes/Funarte, 1989), do
poeta, radialista e compositor pernambucano Antônio Maria (1921-1964).
Veja mais aqui.
AQUERÔNTICO – É
de noite que os mortos voltam / em sua barca de papel / a roçar a porta do sono
/ em que inermes escurecemos / mais um dia – pulmão de chama / contraindo a luz
da manhã! / É de noite pela amurada / que vêm se debruçar conosco / e indulgem –
apenas sorriem / sem qualquer resguardo, sem ênfase - / em ir e vir, em ter
partido. / Impressões de viagem? Alheias / como a do perfil de um dracma. /
Remiram-nos maliciosos / pensos de ternura se quedam / em sua fosca primavera,
/ atrás de embaciados acenos, / pacientes, à nossa espera. Extraído do livro
Poesia Reunida (1956-2006 / Bem-te-vi, 2012), da premiada escritora,
antropóloga e crítica de arte Lélia Coelho Frota (1938-2010). Veja mais
aqui.
FILM SOCIALISME
O Film socialisme (2010), do cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard,
feito em três movimentos que contam os dilemas da modernidade: o primeiro, Des choses comme ça (Tais coisas) é definido em um cruzeiro, com conversas
multilíngues entre uma coleção heterogênea de passageiros, envolvendo
personagens como um criminoso de guerra envelhecido, um ex-funcionário da ONU e um detetive
russo,
contando com a participação da cantora e poeta estadunidense Patti Smith; o
segundo Notre
Europe
(Nossa Europa), está situado em um posto de gasolina e envolve um par de
filhos, uma menina e seu irmão mais novo, convocando seus pais para comparecer
perante o "tribunal da infância", exigindo respostas sérias sobre os
temas de liberdade, igualdade e fraternidade; o terceiro, Nos humanités (Our humanities),
visita seis locais lendários: Egito, Palestina, Odessa, Grécia, Nápoles
e Barcelona. Veja mais aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui & aqui.
Veja mais:
Apesar
de tudo que já foi feito, somos todos mínimos, a literatura de Aníbal Machado, a fotografia de Ryan
McGinley, a música de Loalwa
Braz & a arte de Gustavo
Rosa aqui.
Sulina,
a opulência da beldade, Graciliano
Ramos, A cultura midiática de Douglas Kellner, Horácio, a pintura de André Derain, a música de Ronaldo Bastos, A
poesia de Wanda Cristina da Cunha, A promiscuidade de Pedro Vicente & Lavinia Pannunzio, Gattaca de Andrew
Niccol & Uma Thurman, Cindy
Sherman & Thaís Motta aqui.
Iangaí,
ó linda, Olinda, Fecamepa & os primórdios da corrupção no
Brasil, Ari Barroso & Plácido Domingo, G. Graça Campos & a Esteatopigia
aqui.
Francis Bacon, Antonio Gramsci, August Strindberg, a pintura de Lidia
Wylangowska, a música de Luciana Mello, Marília Pêra
& o grafite Vagner Santana aqui.
Um troço
bulindo no quengo com a poesia de Abel Fraga & Fernando Fiorese & o
desenho de Fabiano Peixoto aqui.
Doutor
Zé Gulu: de heróis, mitos & o escambau aqui.
Doutor
Zé Gulu: sujeito, indivíduo, quem aqui.
Poetas
do Brasil: Afonso Paulo Lins, Carmen Silvia
Presotto, Adriano Nunes, Eliane Auer & Natanael Lima Júnior aqui.
A arte
do guerreiro no planejamento e atendimento, Pedagogia do Sucesso, A educação e
a crise do capitalismo, Formação do pesquisador em educação, Educação a
Distância, Cultura & Sociedade aqui.
Norbert
Elias & Princípios fundamentais de filosofia aqui.
Pierre
Bourdieu, Psicologia Escolar, Direito & Internet aqui.
&
ARTE DE ELENA
ESINA
A arte da
pintora russa Elena Esina.