terça-feira, janeiro 09, 2018

JOAN BAEZ, FAUSTO WOLFF, DOWBOR, JEANINE BAUDE, ANNA RAZUMOVSKAYA, LED ZEPPELIN, POCHMANN, MICHELLE L’AMOUR & SAPO ADERBAL.

SAPO ADERBAL - O sapo Aderbal é um acinte, ele se acha: falante, embecado, a soberba chegou ali e ficou. Pavoneado, muito esperto a jogar chistes: sapo de fora não chia. E arremata: quem vai na garupa, não mexe na rédea. Todo cheio de modas e modos, larga pilhéria: sapo não pula por gosto, mas por precisão. Quando não, fica recitando o poema de Bandeira: foi! Não foi! Foi! Ou ditando receitas culinárias, conselhos conjugais, advinhando cartas, prevendo o futuro, afora aulas de dança, canto e de fantasias sexuais. Isso mesmo, metido a namorador, o que passou de jias, rãs e pererecas não está no gibi, afora sodomizar sapos indecisos. Meteu-se em política, pintou o sete, maior fanfarrão de chegar a ser gerente do purgatório. Ah, não! Na hora do aperto era só solfejar: Sapientis mutare concilium! Pois é, escapuliu de lá pulando no meio da várzea pra virar o rei dos patins e patinetes, caçoando de todos e, vez em quando, aparecer amostrado cantor lírico. Ah, tudo tem limite, né? Os meninos, por vingança, queriam pegá-lo pra jogar aos espinhos e ele na maior: isso não me causa o menor dano. Queriam queimá-lo vivo: no fogo eu me sinto em casa. Iam sacudi-lo nas pedras, e ele: eu acho bom demais; furá-lo de faca, ah não me atravessa; resolveram, então, jogá-lo na lagoa, ah, não, ele pediu pelo amor de Deus, ajoelhou-se, lamúria das grandes: que me bote no fogo, furasse com espinho, cortasse com faca, qualquer coisa, menos na água que morria afogado. Oxente! Ah, assim fizeram. Ele de lá saiu aos pulos gritando: Eu sou bicho d’água! A-há, sabia lá de sapo com medo d’água, hem? Sabido. Doutra feita aparecia saudoso contando do seu primeiro casamento com a Princesa Jia. Foi uma vez ele andou muito pelo mundo afora, andou demais, cansado e faminto, deu de cara com um palácio esquisito e deteriorado. Bateu na porta e uma voz estranha lá de dentro mandou entrar. Entrou, descansou, jantou e foi surpreendido por uma Jia que não tinha mais fim, grandona, gorda, repelente. Aí ela lhe deu um saquinho muito sujo, encardido, amarrado por um cordão imundo: Tome, vá e leve como lembrança para sua mãe. Ele foi e em casa, a mãe enojada jogou o saquinho no chão: muitas moedas de ouro, brilhantes, pedras preciosas e tudo de muito. Todos admirados, maior festa, e logo arribou sem se demorar, pé na estrada. Retornando ao castelo, a Jia depois de servir almoço, janta e café da manhã, deu a ele um vidrinho com a boca quebrada, cheio de uma água que parecia lodo: Tome, vá e leve de presente pra sua mãe. Ele foi e lá, a mãe ao destampar e sacudir o vidrinho, qual não foi a surpresa: surgiram as maiores belezas do mundo, camisas, toalhas, lençóis, fronhas, todos os arranjos de casa, bordados delicados e de cores tão feiticeiras que mão de gente não podia ter feito. Todos felicitaram e ele, ancho de pabo, partiu feliz de volta pro seu aconchego. Um ano depois, a Jia falou pra ele apresentar sua noiva. Ah, mas eu não tenho noiva! Tem sim, sou eu. Vixe que ele quase teve um troço: essa coisa! Mas foi, no caminho a Jia cai mas num cai, aquela mangação toda, ele ajeitando ela pra não cair do cavalo, até que ouviu-se um estrondo e passou um clarão azul, tão forte, que cegava. Ele fechou os olhos e quando os abriu, estava diante da mais bonita princesa que reluzia como uma estrela, vestida de seda bordada de ouro e com muitos brilhantes. Ela então disse: Eu fui a Jia que não recusaste para noiva e nunca fizeste pouco dos presentes e da minha feiúra. Estou desencantada e serei sua esposa fiel e amante. Foram os dias mais felizes da vida, relembrava de quase virar os olhos. O que é bom dura pouco e findou sozinho, ninguém sabe como. Quem acreditava numa lorota dessa? Ninguém. Mas ele não se dava por vencido. Contou que foi pra Festa no Céu! Como? Todo mundo convidado, menos ele, sabiam todos. Não passou batido, disse pra todo mundo que fora convidadíssimo e lá estaria todo nos trinques. Todos morreram de rir com sua jactância: Você vai mesmo? Ah, se vou, e até lá, sem falta! Sem que percebessem, ele saiu, deu uma volta e ao se deparar com a viola do urubu, meteu-se dentro e encolheu-se todo. O urubu agarrou-la e pôs a tiracolo, batendo asas pro céu. Lá chegando, arriou a viola num canto e foi procurar o povo da festa. Logo apareceu Aderbal todo janota, participou de tudo e lá pras tantas já de madrugada, ele saiu de fininho e se escondeu de novo dentro da viola. No voo de volta, o urubu sentiu um mexido dentro do instumento, foi ver, lá estava Aderbal encolhido que só uma bola. Ah, tais aí, né bichinho! E daquela lonjura, emborcou a viola e ele caiu: Béu-béu! Se eu desta escapar nunca mais bodas no céu! Em queda livre gritou pras pedras da serra: Arreda pedras, senão te arrebento! E aí? Lascou-se, teibei. Caiu que nem um jenipapo, só os pedaços. Aí Nossa Senhora com pena dele, juntou tudo e enviveceu o enrolador que agora tem o couro todo cheio de remend0s. Tais vendo, tu? Aprendeste a lição Aderbal? Qual nada. Nem mesmo quando todo mundo morria de medo da Lagoa do Bicho, lugar asombrado, adusto, inclemente, diziam temerosas bocas aos ouvidos muitos, lugar onde reina um bicho misterioso, fantástico e aterrador. Quiseram tirar o terror a limpo e foram pra mais de mil, armados até os dentes, levando tudo nos peitos. Depois de noites e dias, quando venceram todos os temores e alcançaram toda dimensão do lugar, só encontraram Aderbal todo empalitozado entoando solfejos e lalarilarás de banca e gracejo. Ah, tá, isso é que é marmota, não é não? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com a música da cantora e compositora estadunidense Joan Baez live in New York & Al Star 75th Birthay Celebration, a banda brtânica Led Zeppelin live no aniversário do guitarrista Jimmy Page & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - [...] Precisamos assegurar que a sociedade tenha mais possibilidade de cobrar resultados. Uma população informada pode se tornar cidadã. A população desinformada ou mal informada, como a que hoje temos, tende a ficar apenas angustiadas [...]. Pensamento do economista e professor Ladislau Dowbor. Veja mais aqui.

DESENVOLVIMENTO SOCIAL INCLUSIVO - [...] As possibilidades técnicas e humanas contemporâneas sinalizam a necessidade de compreensão da realidade como uma totalidade em frequente transformação [...] Precisamos dar um verdadeiro salto à frente dos limites e condicionalidades do atraso, para ocorrer a reconexão entre o que realmente somos e o que verdadeiramente podemos ser. Trecho extraído de Por um projeto de desenvolvimento socialmente inclusivo (José Olympio, 2008), do economista Márcio Pochmann.

O JARDINEIRO - [...] Desde garotinho já dava mostras do mau caráter que seria. Todo bairro tem, ou pelo menos tinha, aquele garoto que, ou por ser efeminado, ou por ser mais fraco, acaba sendo sodomizado pelos outros. Na nossa rua não existia um menino assim, mas existia o Arrabão que, embora não tivesse qualquer remota tendência homossexual, se deixava usar por dinheiro. Gordinho, dentulo, quatro olhos, sempre teve pelo dinheiro um amor profundo e sincero. Adorava o dinheiro e se deixava... sem trauma, remorso ou culpa, pelos garotos. Seus pais, embora pobres como os pais dos outros moleques, eram os mais ricos da rua. Como Arrabão era o único a possuir uma bola de futebol, ele a alugava. Na escola, denunciava aos professores qualquer traquinagem que houvéssemos feito e, por alguns selos, estampas do sabonete Eucalol, bolinhas de gude ou um dinheiro extra, deixava que espiássemos a sua mãe tomar banho nua. [...] Desde menino, demonstrava possuir todas as qualidades necessárias ao grande político, homem de negócios, banqueiro, industrial, latifundiário, ladrão, enfim. Um vencedor que certamente iria longe. Depois de falsificar um cheque e retirar do banco todas as economias do velho pai, mudou-se para São Paulo onde, em pouco tempo, já era dono de um prostíbulo que oferecia menores para pedófilos. Ganhou muito dinheiro. De volta ao Rio, com o capital do lenocínio, inaugurou uma cadeia de supermercados, comprou um banco, investiniu numa rede de televisão da qual acabou por se apropriar através de métodos que seriam considerados escusos antes do Brasil transformar-se numa democracia neoliberal. Dizem que, além disso, hoje em dia, tem terra no Pará onde se poderia instalar umas três Bélgicas, e é testa-de-ferro de inúmeras multinacionais tão necessárias para a modernidade de um país como o nosso. Finalmente, para não ter mais que apelar para o poder, transformou-se no próprio poder ao comprar os votos necessários para se eleger senador. [...]. Num país onde não existem mais crotos, apenas ex-crotos, num país onde se noticia o futuro, num país onde se plantam doenças em vez de flores, tudo pode acontecer. “Como foi que deixamos a coisa chegar a esse ponto?”, me perguntei enquanto era preparado pelo barbeiro, manicure, alfaiate e tres seguranças, para o meu próprio enterro. Extraído de Melhores contos (Global, 2007), do jornalista e escritor Fausto Wolff (1940-2008). Veja mais aqui.

UM DILÚVIO EM SUSPENSOI – O apagar de si mesmo, de uma parte de si, a mais profunda. A medida do ser. O combate sem armas. A luta corpo a corpo. A neblina que enregela por antecipação. Somente a neve pode nutrir o olhar. Apaziguar o futuro. Ela ilumina os cabelos. II – Membro pro membro, desmembrar-se sobre uma linha invisível do horizonte. Se cantar Manhatan vai despedaçar os gatos, as pessoas, op mínimo passante, o vagabundo, a rua, o céu. O ocoeano se descama na medida em que as vagas roçam os buildings de aço, os tanques, os vigamentos, a fumaça negra dos pássaros, lá em cima. III – Não há saída. Acomodar-se no céu. Restringir-se a sua parte corpórea. O menor grão de areia revoluteia difuso. IV – A nece continuamente, todos os dias, sobre as caçadas, o asfalto, o alcatrão, os bueiros do esgoto. A neve aos montes, no canto das ruas. Ninguém retira. Ela se enrijece, gelada. Agarra-se aos passantos que estremece. Para a história. V – A mudança de estação, inoportuna, esfrangalha. Reter-se do lado de cá. Acreditar-se protegido. Entre o mar e nós, a mesa sobre seus quatro pés. Um naco de pão, as palavras. VI – As vadas se desdobram sobre os degraus, afrontam o barulho, se desmesuram. A confrontação com elas ignora o tempo, explora o espaço. Todos os imigrantes assinam com seu sangue essa passagem, esse afluxo. Se os sonhos se corroem como os ferros se enferrujam, o cordame dos navios apodrece lentamente. Os corpos defecam longe de casa. VII – No ocoeano, o reflexo das janelas. As vidraças quebradas escrevem a epopéia em negro sobre o verde. O canto se mede por algumas notas fortes. Da múisca trecho que sai da cervejaria em frente ao mar. Lá, as crianças, pés nus em suas sandálias luminosas: elas gritam como latem os cães, erguem seus peitos jovens, chegam às pernas de seus pais. Noras suspensas e lavdas em lágrimas. VIII – A melopéia, a ferida profunda crava-se na espuma, as migaljas de pão jogadas aos pássaros. Na água, adivinham-se vestígios de passos. Entre o fluxo e o refluxo, um cheiro fétido de fritura, a fumaça de um churrasco. Eles escreveram “Battery Historic Park” sobre os toldos azuis das carrocinhas. Os carrinhos de mão sobrem à noite para Broadway. Eles fecham a loha. 1626: Peter Minuit, escuto Duke, Ella, Billie. Na janela que não se abre a chuva, décimo andar. IX – Essa espécie de entorpecimento que retem você. Esse assobio lento nas orelhas. Calçar meias-luvas para permitir que as unhas se arroxeiem. X – Dirigir-se para o norte. Preferir negar o oceano, seus rumores. Ainda pencas de pessoas que se espantam de estarem vivas, empurram-se, cospem no vento que vem do mar. XI – A dor não é apenas uma palavra, mas a cor das pedras. Embrigadas pelo suor dos homens, as pernas esguias das meninas púberes não podem correr. Lenox Avenue, mataram Malcom X na Audubon Ballroom. Numa praça de Brooklyn os balanços rangem sobre os girassóis, as orquedeas, as mãos, a solidão. XII – Um dilúvio em suspenso. Uma esquadrilha. As portas revolveres. Entra-se e sai-se. Sentar-se à noite, em um gigantesco vestíbulo. De novo as cores para matar o tempo. Há mesmo uma margem. De cada lado, um rio. Seria como aprender a morrer. O movimento da água, essa canção de ninar. Poema da escritora e crítica literária francesa Jeanine Baude.

ARTE DE MICHELLE L’AMOUR
A arte da artista neo-burlesca estadunidense Michelle L’amour.

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Fonte na Crônica de amor por ela, Gabriel García Márquez, Paul Éluard, José Paulo Paes, Alan Watts, Carmina Burana de Carl Orff, Michel de Montaigne, Fernando Bonassi, Ingmar Bergman, Birgitta Valberg, Maurice Béjart, Birgitta Pettersson & Rachel Lucena aqui.
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A ARTE DE ANNA RAZUMOVSKAYA
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