O MUNDO NA
JANELA – Imagem: ArtObjeto em madeira, da
escultora Georgia Gioconda Aguilar. - Abro a janela, é manhã. Sinto que sou como um rio, uma
nascente. E a minha vida é como a doce água na correnteza para o mar em um dia
azul ensolarado de nenhuma nuvem, solto e livre, na companhia de pássaros aos
voos, bem-te-vis, sabiás, canários, a festa dos cardumes. Assim voo vida afora,
horizonte franqueado ao prazer da vastidão. É assim que me sinto nesta manhã, o
mundo da janela. Um sentimento diferente, como se estivesse de ressaca – sempre
estou feliz de ressaca, uma simples felicidade por me ver sem compromissos, ou
afazeres previstos, missão cumprida. Feliz e grato, em estado de graça. Não sei
das horas, pra quê saber? Telefone mudo, nada de noticiário, pra quê? A tevê
desligada, silêncio de máquinas, passantes que saúdo rua acima ou ladeira abaixo,
nada de moral baixo ou vagas amabilidades, passado esquecido, tristeza que nem
sei, mesmo sabendo que os caras de Brasília e tantas outras supostas
autoridades nas mais diversas regiões desse nosso imenso país, ou querem acabar
com o Brasil ou com a gente, o que dá no mesmo, nós somos o Brasil, eles são
apenas mandriões salteadores que assumiram o poder, logo passam, passarão, tudo
passa, quer queira ou não, e amanhã há de ser outro dia e quero manter a paz e
a felicidade de hoje. O mundo em paz pra mim, como se não sucumbisse a tantos
problemas, ah, nem quero saber de problemas, bastam os meus que só quero saber
amanhã ou depois de amanhã, hoje não, hoje é dia de me sentir bem, nem dá pra
pensar o que faz a vida valer a pena, tudo vale a pena, as coisas de infância
relembradas, os sonhos que não nos abandonam mesmo com a idade, a crença de um
mundo melhor para todos, e que o pior de tudo que possa ocorrer, no mínimo a
gente negocia, esquenta as orelhas e depois sorrir só por lembrar os apertos, revertérios,
tudo passa, sem dúvida, até o mais emperrado acaba passando. Alguém passa e
reconheço, não lembro o seu nome, cabeça essa minha, sempre ocupada e falhando
vez em quando, senão sempre, nada demais, é a idade. Ele pergunta: cadê a alma?
Um outro se aproxima e: e eu é que sei? Aceno e aponto pra eles o meu coração.
Não entenderam, levaram como se fosse mais uma mentira escrota dessas que a
gente vê em todo momento só para dispensar certas loas. Foram pra sua agenda,
moldados pelo mundo, tudo é seu negócio, fazer bonito e fugir do flagra pra não
queimar o filme, tudo na manada, padronizados, dependentes do êxito, não há
espaço para fracassados, por isso estou bem porque dos tropeços tirei lições
inenarráveis. Nunca quis só na boa, atalhos, ou deixar retardários ao
retrovisor. Sempre um dia atrás do outro, adiante, passo firme. O que importa é
não sentir cólicas, não enfrentar nenhum fila, remédio algum por paliativo,
apenas o coração crescido de satisfação a vagar pelos corredores e cômodos da
casa, ah, o prazer do banho, depois saborear bananas, laranjas, fatias de mangas,
um copo d’água que nunca sentira o frescor, e belisco o pastelão sempre
delicioso, verduras, legumes, exercícios de respiração e o espírito de
gratidão, isso sim, sempre, agradeço todos os dias pelo amanhecer, pela vida,
pelo Sol aquecendo minha pele, pela Terra minha morada aos meus pés, pelas
árvores e seu oxigênio e por embelezarem a natureza – isso enquanto
dendroclastas de plantão não desertificam tudo com suas ganâncias, pois não sou
estoico pra sofrer de antemão, retribuo em defesa dos verdes campos e assim
aspiro a vida em sua plenitude. Nisso sinto sou maior que a mim mesmo, mesmo
sabendo que sou apenas um homem na janela, nada mais. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de
especial com o músico e compositor Tavito Carvalho cantando seus grandes sucessos & com Zizi Possi a
música Começo, meio e fim; a cantora, compositora e instrumentista Danny Calixto interpretando seus trabalhos autorais: Oásis, Odum &
Do avesso; & muito mais nos mais de 2 milhões de
acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Criamos
a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina,
que produz abundância, tem-nos deixado na penúria. Nossos conhecimentos
fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em
demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido. Trecho do filme
O grande ditador (The Great Dictator, 1940), do ator e cineasta
inglês Charlie Chaplin (1889-1977), uma comédia dramática e uma sátira
crítica ao momento histórico que se desenvolvia no período em que foi criado. Veja
mais aqui.
O FECAMEPA & O ILUSÓRIO PARAÍSO BRASIL – [...]
Em nenhuma outra região se mostrou o céu
mais sereno, nem madruga mais bela a autora; o sol em nenhum outro hemisfério
tem os raios tão dourados, nem os reflexos noturnos tão brilhantes; as estrelas
são as mais benignas, e se mostram sempre alegres; os horizontes, ou nasça o
sol ou se sepulte, estão sempre claros; as águas, ou se tomem nas fontes pelos
campos, ou dentro das povoações nos aquedutos, são as mais puras; é enfim o
Brasil terrenal Paraiso descoberto, onde têm nascimento e curso os maiores
rios, domina salutífero clima, influem benignos astros e respiram auras novissimas,
que o fazem fértil e povoado de inumeros habitantes. Trechos extraídos da
obra História da América portuguesa (W.M.
Jackson Incorporated, 1952), do historiador, poeta e advogado português Sebastião da Rocha Pita (1660-1738), uma
pesquisa realizada em arquivos de ordens religiosas da Bahia, Rio de Janeiro e
São Vicente, constituída de dez "livros", que tratam desde a chegada
dos portugueses até as minas de ouro de Minas Gerais. Veja mais aqui.
MAIS DO PARAÍSO BRASIL – [...] Estava,
agora diante de uma bandeja de queijos variados. - Ah, o Brasil, essa imensa
ilha... – dizia o conde Bassuccello, entretido em cortar um pedaço de sbrinz
dos Alpes. – De fato – aparteou Nepomuceno – estamos muito isolados na América.
A língua mas também... – Oh, não. Não me refiro a isso, que não deixa de ser
verdadeiro – retrucou o conde, acabando de mastigar. – Falo de uma dessas ilhas
utópcas cuja lenda se perde na noite dos tempos. Os senhores talvez não saibam,
mas o nome Brasil em geografia já existe desde o período medieval. – Mas o
Brasil só foi descoberto bem depois... Não é mesmo, Herr Nepo? – admirou-se
Júlia, entretida com um delicioso queijo stracchino lombardo. – Sim, mas antes
do atual Brasil já existia na Idade Média uma ilha chamada Brasil – asseverou
Basuccello. – Bem existiam muitas ilhas míticas imaginadas pelos povos de
então. Todas representavam o paraíso terrestre, onde não haveria discórdias nem
velhice nem doenças ou morte. Eram tão perfeitas que seus habitantes não
precisavam sequer trabalhar para comer. Numa dessas ilhas, imaginem, as frutas
caiam dope pontualmente às nove horas, para poupar os homens do trabalho de
colhê-las. [...]. Trecho extraído da obra Ana em Veneza (Best Seller, 1994), do escritor, jornalista,
dramaturgo, cineasta, tradutor e ativista brasileiro João Silvério Trevisan. Veja mais aqui.
O CURURU – Tudo
quieto, o primeiro cururu surgiu na margem, molhado, reluzente na
semi-escuridão. Engoliu um mosquito; baixou a cabeçorra; tragou um cascudinho;
mergulhou de novo, e bum-bum! Soou uma nota soturna do concerto interrompido.
Em poucos instantes, o barreiro ficou sonoro, como um convento de frades. Vozes
roucas, foi-nã0-foi, tãs-tãs, bum-buns, choros, esgoelamentos finos de rãs,
acompanhamentos profundos de sapos, respondiam-se. Os bichos apareciam,
mergulhavam, arrastavam-se nas margens, abriam grandes círculos na flor d’água.
[...]. Daí a pouco, da bruta escuridão,
surgiram dois olhos luminosos, fosforescentes, como dois vagalumes. Um sapo
cururu grelou-os e ficou deslumbrado, com os olhos esbugalhados, presos naquela
boniteza luminosa. Os dois olhos fosforescentes se aproximavam mais e mais,
como dois pequenos holofotes na cabeça triangular da serpente. O sapo não se
movia, fascinado. Sem dúvida queria fugir; previa o perigo, porque emudecera;
mas já não podia andar, imobilizado; os olhos feiíssimos, agarrados aos olhos
luminosos e bonitos como um pecado. Num bote a cabeça triangular abocanhou a
boca imunda do batráquio. Ele não podia fugir àquele beijo. A boca fica do
réptil arreganhou-se desmesuradamente; envolveu o sapo até os olhos. Ele se
baixava dócil entregando-se à morte tentadora, apenas agitando docemente as
patas sem provocar nenhuma reação ao sacrifício. A barriga disforme e negra
desapareceu na goela dilatada da cobra. E, num minuto, as perninhas do cururu
lá se foram, ainda vivas, para as entranhas famélicas. O coro imenso continuava
sem dar fé do que acontecia a um dos seus cantores. Trecho extraído de O anjo (Agir, 1959), do médico,
escritor, tradutor e pintor Jorge de Lima (1893-1953). Veja mais aqui.
OS LÍRIOS - Certa
madrugada fria / irei de cabelos soltos / ver como crescem os lírios. / Quero
saber como crescem / simples e belos — perfeitos! — / ao abandono dos campos. /
Antes que o sol apareça, / neblina rompe neblina / com vestes brancas, irei. / Irei
no maior sigilo / para que ninguém perceba / contendo a respiração. / Sobre a
terra muito fria / dobrando meus frios joelhos / farei perguntas à terra. / Depois
de ouvir-lhe o segredo / deitada por entre lírios / adormecerei tranquila.
Extraído da obra Lírica (José
Olympio, 1958), da poeta mineira Henriqueta Lisboa (1901-1985). Veja
mais aqui.
BRASIL - UMA PEQUENA MOSTRA DO ESTADO DE DEGRADAÇÃO DO LITORAL BRASILEIRO
sem meias palavras ando descalço
pra pisar a lavra da palavra chão
Brasil - Uma
pequena mostra do estado de degradação do Litoral Brasileiro. Mostra Cinema Ambiental: 27 de janeiro, Estação 353 - Estrada
do Estreito, 353 - Macuco - São Francisco do Itabapoana- RJ. Artur Gomes & Fulinaíma
MultiProjetos & Studio Fulinaíma Produção Audiovisual.
Veja mais:
Dos
destroços pra solidão criativa, a literatura de Fabian Dobles, a música de Rosa
Passos, a fotografia de André De Dienes, a pintura de Joan Fullerton & a
poesia de Clevane Pessoa de Araújo Lopes aqui.
A mulher
na Roma antiga, William
Faulkner, Victor Hugo, Jacqueline Du Pre, Helena
Saffioti, Brian De Palma, Jean-Baptiste Pigalle, Carmen Tyrrel, Elizabeth Short, Mia Kirshner, Lenita
Estrela de Sá & Lia Helena Giannechini aqui.
A
violência aqui.
O
pensamento de Demócrito aqui.
O
pensamento de Anaxágoras aqui.
O
pensamento de Empédocles aqui.
O
pensamento de Zenão de Eleia aqui.
O
pensamento de Parmênides aqui.
O
pensamento de Xenófanes aqui.
O
pensamento de Heráclito aqui.
A
fenomenologia de Husserl aqui.
O
pensamento de Pitágoras aqui.
O
pensamento de Anaxímenes aqui.
O
pensamento de Anaximandro aqui.
Autoestima
aqui.
&
A ARTE DE PAULA REGO