SALVE A VIDA! - Imagem: arte da artista visual e fotógrafa britânica Jo Howell. - Era cedo na vida e escurecia pra todo lado. Desde sempre
aprendi com a noite. Já de dia quantas portas eu bati no meu desespero, nenhuma
abriu. Um ou outro ombro amigo, vez ou outra, quando em vez. A dor era minha, paredões
intransponíveis e o mundo uma caixinha de surpresas, repetia o meu nome muitas
e mais de mil vezes, premido nas sombras. Era só o início e eu não sabia de
nada, segredos inconfessáveis, gestos insuspeitos de degredo, porque a um só
tempo ninguém sabia nada, ninguém entendia nada, ô gente mais desligada e a
vida e o que der, conversa fora, lorotas, intrigas, opiniões canhestras senão
equivocadas, falam de si e do que são, apenas, mais nada vale a pena, outras
escuridades que eu nem sabia. Cada um sonhava mais do que podia e ainda sonham
o que não podem, arrogando nobreza pra não dizer de patifarias, expunham santidades
e se dizem espada da justiça, na verdade só e tão somente enredamentos
malévolos pra rirem sem graça e para mostrarem o ideal do que não são, como se ricos
mais abastados na soberba ao invés de miseráveis, pobres de espírito, só sabem
de suas ladainhas de unhas encravadas na peleja do jogo pra gastar o tempo, a
novela da desgraça alheia, o noticiário sanguinário, a dor de cotovelo,
carestia na folga do domingo – aprendi a ver o pretume por trás dos agradáveis
sorrisos. Pra mim, uma esfinge dita o enigma, uma cena – o blecaute do humano
em nome da razão - e toda vida é só o estalar dos dedos ou basta apertar um
botão, pronto, como se num toque de mágica da caligem pro céu azul ensolarado. Isso
eu sabia e aprendi com a vida na cara e sei da efigie do embusteiro – pra quem
vende gato por lebre, golpes na leseira alheia - e, ao menor aperto, ah, já vi
muito e em todo momento cai uma e as tantas máscaras do rei ficar nu e o
estupor é pra valer. Nem adianta abanar os olhos paralisados da face
desmascarada, remorsos de prontidão, sequer podem levantar a vista, só ao rés do
chão. Recorre-se a tudo, nada a mitigar o aturdido, o próprio nem sabe o que
faz e fez. Como não tenho do que fugir já elegi a vigília dentro do meu
desterro e o que virá depois é previsível por tanto golpe como se nada modificasse
agora o de antes, nada deu certo, esforços inúteis, como se apenas nascesse pro
arrependimento, todos nós. No mundo mesmo se tudo mudou sem medidas, nada mais
que hálito de ontens, pretexto de nada. É nesse pé que as coisas estão, ao cabo
de não sei quantas horas ou dias, assim o desconforto. Olho pro amanhã e sei
quão grave tudo pode ser e será justo pra mim que perdi a minha mãe dentro de
mim mesmo, órfão na interminável tortura e não posso me esquivar por não querer
e nem ter do quê, apenas vivo e vou adiante pro que der e vier, direto ao
assunto. É possível supor ser melhor agir e calar por enquanto – nem adianta
falar, melhor não dizer nada pra não empiorar as coisas tão saturadas de
carradas de razões e um abismo no meio entre o que é de lá e o de cá e o dali e
o daqui, chegando ao ponto em que não posso mais me demorar em contornar desde
já o absurdo abissal de ser eu próprio e outro e muitos que de mim emergem ao
paradoxo diante de toda e qualquer rede ortodoxa, toda e qualquer insana
heterodoxia. Deus salve a vida! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de
especial com o instrumentista,
compositor e produtor musical francês Jean-Michel Jarre Live in Monaco & The Conection Concert; a violinista
britânica Chloë Hanslip interpretando Mozart, Cinema Paradiso de Ennio Morricone
& Fantasy de Franz Waxman &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - A autocritica
e a autocorreção, que são muito raras nos seres humanos e são manifestações de
uma maturidade e de uma força espiritual que representam uma garantia de
sucesso para o futuro. Pensamento do historiador britânico Arnold Toynbee
(1889-1875).
A CIDADE –
[...] devemos fortificar-nos para uma
tortura: para gozá-la, devemos ficar de olhos abertos, mas aprender a fechar o
nariz ao mau cheiro, os ouvidos aos berros de angústia e terror, a goela às
convulsões do nosso estômago. Acima de
tudo, devemos ficar com o coração de gelo e conter qualquer impulso de ternura
e piedade, com uma verdadeira rigidez romana. Todas as grandezas serão
aumentadas: não menos as grandezas da mesquinhez e do mal. Apenas um símbolo
pode fazer justiça ao conteúdo daquela vida: uma fossa aberta. E é pela fossa
que iremos começar. [...]. Trecho extraído da obra A cidade na História (Martins Fontes, 2008), do historiador,
professor, escritor e crítico literário estadunidense Lewis Mumford
(1895-1990), apresentado um retrato arrojado e imaginativo do desenvolvimento
humano como ser religioso, político, econômico, cultural e sexual.
DELIA ELENA SAN MARCO – Despedimo-nos
numa das esquinas do Onze. Da outra calçada toprnei a olhar; você se tinha
virado e dava-me adeus com a mão. Um rio de veículos e de gente corria entre
nós; eram as cinco de uma tarde qualquer; como iria eu saber que aquele rio era
o triste Aqueronte, o insuperável. Não nos vimos mais, e um ano depois você
tinha morrido. E eu, agora, busco essa recordação, e olho-a e penso que era
falsa, e que por trás da despedida trivial estava a infinita separação. Na
noite passada não saí depois de jantar e reli, para compreender estas coisas, o
último ensinamento que Platão põe na boca de seu mestre. Li que a alma pode
fugir quando morre a carne. E agora não sei se a verdade está na aziaga
interpretação ulterior ou na despedida inocente. Porque se as almas não morrem,
é perfeitamente justo que em suas despedidas não haja ênfase. Dizer-se adeus é
negar a separação, é dizer: Hoje bricarmos de nos separar, mas amanhã nos
veremos. Os homens inventaram o adeus porque se sabem de algum modo imortais,
ainda que se julguem contingente e efêmeros. Delia: um dia continuaremos –
junto de que rio? - este diálogo incerto
e nos perguntaremos se alguma vez, numa cidade que se perdia numa planície,
fomos Borges e Delia. Entraído da obra O
fazedor (Bertrand Brasil, 1987), do escritor, tradutor, crítico literário e
ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Veja mais aqui.
POEMA 122 – você pra lá com seus cachorros / sua insônia de madrugada
/ sua mania de roer as unhas / suas brigas pelo telefone / e seus acessos de
fúria e nostalgia / eu pra cá com minhas doses de uísque / meus porta-retratos,
meus diários / minha luz acesa até tarde / minha tosse e meus suspiros / meu
amor e loucura, minha alergia / você pra lá com seus sonhos de cowboy / com
suas entranhas, sua família / eu pra cá com minhas filhas / meus desmaios e
suor / você pra lá / eu pra cá / enfim, sós.
Poema extraído da Poesia reunida (L&PM, 2011), da poeta
gaúcha Martha Medeiros. Veja mais aqui e
aqui.
CULTURA CANAVIEIRA & MEIO AMBIENTE
[...] um resgate histórico sobre as formas de
introdução da cana-de-açúcar em território nacional a partir de seus interesses
mercadológicos, demarcados por uma colonização orientada pela exploração que,
organizada aos moldes do plantation – monocultura, exploração e exportação – e
com vistas à geração de lucro, rompeu o equilíbrio natural. A instauração da
monocultura comprometeu a qualidade ambiental e humana, as quais, há mais de
quinhentos anos, ainda repercutem de maneira consolidada em nossa atualidade,
indicando que o passar dos anos não deu início a uma nova história. Esta é a
realidade que se reflete na pele, nos corpos e nas mentes dos cortadores de cana.
Estes se submetem aos limites de suas forças físicas, agora em concorrência com
os caprichos da tecnologia via mecanização no campo, e acabam por recorrer, de
maneira inédita ou não, à Educação de Jovens e Adultos, como fonte de alimento
para novas perspectivas de vida menos degradantes do que as encontradas nos
canaviais. Nesse contexto, tendo em vista a relevância de se tomar a realidade
cotidiana como ponto de partida, para o desenvolvimento de percepções mais
amplas acerca da problemática socioambiental, pudemos entender que a Educação
Ambiental crítica e dialógica emerge como elemento primordial na construção de
valores éticos, norteados por olhares políticos capazes de promover uma formação
pautada no rompimento de relações exploratórias, tanto no convívio social,
referente ao ser humano com o seu semelhante, quanto na apropriação desigual
dos recursos ambientais. [...]
Trechos
extraídos da dissertação de mestrado Educação
ambiental e monocultura canavieira: desvendando
a compreensão sobre a interação do ser humano com o meio ambiente em alunos da
Educação de Jovens e Adultos, apresentada em 2015, pela pedagoga
pós-graduada em Ética Valores e Cidadania na Escola pela USP, Simone Franzi, apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação para a Ciência da Unesp. A autora é participante
do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental (Gepea). Veja mais aqui, aqui, aqui
& aqui.
Veja mais:
Ainda
assim é uma história de amor, a literatura de Henrich Böll, a música de Mário
Ficarelli & a arte de João Câmara aqui.
O culto
da rosa na Crônica de amor por ela, As mil e uma noites, Ezra Pound, Almeida Prado, Heráclito de Êfeso, Dermeval
Saviani, Vittorio Alfrieri, Washington Maguetas, Gilian Armstrong, Cate Blanchett, Alfred
Cheney Johnston & Myrna Araujo aqui.
Gilles Deleuze, Susan Sontag, Dian Fossey,
Sigourney Weaver, Washington Maguetas, João Pinheiro & Padre Bidião aqui.
Big Shit
Bôbras, Cícero & Crônicas
Palmarenses aqui.
Educação
Cidadã: Educação para vida e para o trabalho aqui.
O sonho
de Desidério aqui.
As mil
faces do disfarce aqui.
A mulher
fenícia & os fenícios aqui.
Sonho
real amanhecido aqui.
&
A ARTE DE JO
HOWELL
A arte da artista
visual e fotógrafa britânica Jo Howell.