CRÔNICA
DE AMOR POR ELA - Nada merece mais a nossa gratidão que o
ventre materno, seja ela simples dona de casa alagoana ou uma resignada do
mosteiro de Argenteuil. Decerto todos nós passamos pelo canal de parturição.
Nós, vivos ou mortos, já viajamos nove meses na aeronave do ventre, dependentes
da ternura materna até termos a consciência do oxigênio e da vida. Nada seria
interessante se não fosse o poder da concepção que elas carregam no ventre,
seja ela secretária executiva de Natal ou trabalhadora de Orange. Nada é mais
admirável que a fecundação quando tudo se faz de prazer atravessando a zona
pelúcida para gerar filhos da vida, adubados pelo carinho e a ternura da
maternidade, seja de uma simples balconista de Terezina ou aquela de
Guaratinguetá de Di Cavalcanti. Admirável é a sua anatomia, o seu design belo
de recipiente do amor e do prazer, seja ela gueixa de Kioto, Aprés le l bain de
Degas ou vendedoras de frutas da Martinica. Ou mesmo a de Unamuno no banho, ou
costureira do mercado de Abi Djan. Que seja amada como uma simples rendeira de
Aracati, ou mestiça do Gabão; ou tuaregue do Níger; ou ticoqueira da
cana-de-açúcar. Que seja amiga mesmo como camponesa nordestina ou do milharal
do Haiti. Ou mesmo uma cachorrona sexy, maluca pauleira, fatal miss ou sedutora
perversa. Que seja malandra, dócil ou abestada, ou quitandeiras do Recife,
prostitutas de Brasília ou a executante de alaúde de Caravaggio. Sempre serão
belas mesmo que seja uma simples jovem turca, ou esquimó da Groenlândia ou,
mesmo, a Garota de Ipanema. Sempre serão exuberantes mesmo na simplicidade
daquela das colinas de Chittagong em Bangladesh ou aquela lavadeira de
Portinari. Ou uma nativa birmanesa, ou aquela marabá de Rodolfo Amoedo. Ou
mesmo a colhedora de chá do Ceilão ou uma linda índia Kamayurá. Ou, ainda, Le
bain au serail de Theodore Chasseriau. Pode ser uma humilde tecelã de seda em
Bali ou operária de qualquer montadora de São Bernardo do Campo. Ou a nômade
Fars, ou humilde verdureira da feira de Caruaru. Pode ser uma dedicada
vendedora de cosméticos de Aracaju ou Nu à contre jour de Bonnard. Ou uma Diana
de Lee Falk, ou a Danae de Rembrand. Pode ser uma teimosa da vida ou Fleurs de
la prairie de Maillol ou humilde enfermeira de um hospital de João Pessoa. Pode
ser uma adolescente eterna sonhadora ou a estudante de Anita Malfati ou uma
nativa das ilhas Trobriand, ou a Vênus Anaduomene de Ingres ou As Artes de Van
Gogh. Que seja musa dos escritores, poetas e compositores ou mesmo uma perdida
nas veredas da vida, ou Vairumati de Gaugin, Vênus de Brozino ou a que carda lã
no Nepal. Seja a Bovary de Balzac ou a dedicada submersa entre marido e filhos.
Ou a Nu de Modigliani ou uma passageira de Olinda; seja a mãe de Almada
Negreiros, ou de Gorki, ou Valentina de Guiido Crepax. Seja ela Velta, ou Lôra
Burra, a Vênus de Urbino de Ticiano ou Léda Atomique de Salvador Dali; ou femme
de frisant de Toulouse-Lautrec; ou uma da cadeira de David Lingare. Mas também
que seja ela Safo, louca, aguerrida ou desgarrada. Que seja uma sumidade
intelectual ou muçulmana de Oman, mestiça de Cuenca, mulata do Rio de Janeiro
ou mesmo estabanada andrógina da noite na paulicéia desvairada. Seja mesmo o
que for: a “Mulher” de Geraldinho Azevedo & Neila Tavares, ou mesmo “Todas
elas juntas num só ser” de Lenine & Carlos Rennó, ou tantas outras grandes
e anônimas mulheres deste planeta, aqui só gratidão. Obrigado por existirem.
Esta a minha homenagem, MULHER.
© Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados.Veja mais aqui.
A
POESIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
A noite não adormece
Nos olhos das mulheres
A lua fêmea, semelhante nossa,
Em vigília atenta vigia
A nossa memória.
A noite não adormece
Nos olhos das mulheres
Há mais olhos que sono
Onde lágrimas suspensas
Virgulam o lapso
De nossas molhadas lembranças.
A noite não adormecerá
Jamais nos olhos das fêmeas
Pois do nosso sangue-mulher
De nosso liquido lembradiço
Em cada gota que jorra
Um fio invisível e tônico
Pacientemente cose a rede
De nossa milenar resistência.
Poema da escritora Conceição Evaristo.
Veja mais aqui.
SIMONE WEIL – “De
entre os seres humanos, apenas conhecemos completamente a existência daqueles a
quem amamos”. A escritora, mística e filósofa francesa Simone Weil (1909 – 1943), tornou-se operária de uma montadora
automobilística para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Ela lutou
na Guerra Civil Espanhola ao lado dos republicanos e na resistência francesa em
Londres, sendo, posteriormente impedida de retornar à França. É autora dos
livros A condição operária e outros escritos sobre a opressão (Paz e Terra,
1979), A gravidade e a graça (1986), Espera de Deus (ECE, 1987), Pensamentos
desordenados acerca do amor de Deus (ECE, 1991), Aulas de Filosofia (Papirus,
1991), O enraizamento (Edusc, 2001), Opressão e liberdade (Edusc, 2011), A
fonte grega (Cotovia, 2006), entre outras obras. Veja mais aqui.
SIMONE DE BEAUVOIR – “Como quer que
seja, uma volta ao passado não é mais possível nem desejável. O que se deve
esperar é que, por seu lado, os homens assumam sem reserva a situação que se
vem criando; somente então a mulher poderá viver sem tragédia”. A escritora, filósofa existencialista,
ativista política, feminista e teórica social francesa Simone de Beauvoir (1908-1896), exerceu influencia substancial no
existencialismo e na teoria feminista, autora de diversos romances, ensaios,
biografias, autobiografia e monografia sobre filosofia, política e questões
sociais. É autora do livro O segundo sexo (1949), um ensaio filosófico que
analisa detalhadamente acerca da opressão sofrida pelas mulheres, tornando-se
um tratado fundamental do feminismo contemporâneo. Veja mais aqui.
EMMA
GOLDMAN – “Aos que ousam o futuro pertence”. A
anarquista e ativista libertária lituana
Emma Goldman (1869-1940), é autora do livro da sua autobiografia Living
my life (1931), e da obra O individuo, a sociedade e o Estado e outros
ensaios (1940 - Hedra, 2007), que trata acerca da defesa da liberdade do
individuo criticando a submissão ao pode estatal e a militarização estratégia
dos Estados Unidos. Veja
mais aqui e aqui.
CLARA LEMLICH – "O
fabricante tem voto; os chefes têm votos; os capatazes têm votos, os
inspectores têm de votos A menina que trabalha não tem voto Quando ela pede
para ter um edifício em que ela deve trabalhar feita limpa e segura, os
funcionários não.. temos que escutar. Quando ela pede para não trabalhar longas
horas, eles não tem que ouvir... Até os homens no Legislativo em Albany
representá-la, bem como os patrões e os capatazes, ela não vai conseguir
justiça; ela não terá condições justas é por isso que a mulher trabalhando
agora diz que ela deve ter o voto”. A ativista comunista e líder da revolta
de 20 mil, uma greve em massa de trabalhadores da indústria de vestuário
estadunidense em 1909, Clara Lemlich (1886 - 1982),
dedicou sua vida à campanha pelo voto feminino, pelos direitos do consumidor,
na defesa dos desempregados e dos idosos. Veja mais aqui.
ALEXANDRA KOLLONTAI - A líder revolucionária e teórica do
marxismo russso Alexandra Kollontai
(1872-1952), foi militante ativa na Revolução Russa de 1917 e teve atuação
marcante entre as mulheres trabalhadoras em 1898, após abandonar o marido e a
vida privilegiada de riqueza. Ela é autora de obras como Base social da questão
feminina (1908), A nova mulher (1918) e A moral sexual (1921), entre outros
livros publicados. Veja mais aqui.
CLARA ZETKIN - A política comunista alemã Clara Zetkin (1857-1933), militava junto ao movimento operário
e se dedicava à conscientização feminina. Ela fundou e dirigiu a revista Igualdade, que durou 16 anos (1891-1907). Em 1910
participou do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em
Copenhague, quando propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher e
indicando o dia 8 de Março, para lembrar operárias mortas num incêndio em Nova
Iorque em 1857.. Em 1915 ela fez uma conferência sobre a mulher, refletindo
sobre a situação da mulher no seu tempo. Veja mais aqui.
Veja mais Frineia,
Euclides
da Cunha, Ana Terra, Federico Fellini, Amedée Ernest Chausson, Jean-Léon Gérôme &
Antonio
Parreiras aqui e aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Veja aqui e aqui.
Arte: Derinha Rocha
Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá