sábado, maio 13, 2023

ADRIENNE RICH, LOCKHART, MACKINNON, OLGA SAVARY & GOROSTIZA

 

 (Imagem: Mandalírica, Acervo ArtLAM).

Ao som da ópera Yanan laylalar (1992), Dunya sevənlərindir (1998) e Requiem (2009), da compositora e artista popular do Azerbaijão e do Daguestão, Elza Ibrahimova (1938-2012).

 

MANDALÍRICA – Apenas um menino da beira do rio, eu sou até hoje porque escapei toda vida não só de pandemônios, como de falhas tectônicas e abalos sísmicos, sem distinguir de boas ou más companhias. De lá pelos badalos da crueza do genuinamente falso com as sirenes da degradação. O que cruzei no meio do caminho gente não era; afora pedras e ermos, tantos moluscos acéfalos, como se fossem sobreviventes pelas cataratas do VUE do The Falls de Greenaway: gritavam bizarrices, sonhavam morrendo afogados para voarem com suas biografias surreais, suas obsessões emergentes e suas aflições fantásticas, cobaias do horror pelos bucetódromos reluzentes e caleidoscópicos do caos. Eu vivi o Efeito Borboleta na maldita preação: perfuraram a Terra atrás de riqueza e era como penetrassem nas pudendas das jovens púberes à flor da pele, num estupro ambivalente e dessacralizado pelo triângulo amoroso com a alta voltagem autoindulgente: a catarse hedonista de parvos vilões. Nenhuma surpresa nisso. Só me assustava quando pareciam cães uivantes que escondiam seus excrementos por atrás das persianas ou embaixo do tapete, a vida na lata do lixo. De tantas me desvencilhei e de raspão, só me restava a Filosofia de Ascenso, viver entre Os ambulantes de Deus do Hermilo, sonhar com as mulheres de Darel, alcançar o renascer de Tunga, a remissão de La Greca e, ao me deparar com a Fubana do Berto, ah, não, um close de maio: Era ela Sekhmet: Epa! Havia algo de engraçado ao dobrar cada esquina, quantas possibilidades, Monterroso: quando acordou o dinossauro ainda estava lá. Poderia ter sido diferente. Não foi. Ela de soslaio, nuto afirmativo, hostil êmula, sabia: pronta para me estraçalhar. Disfarçou hospitalidade e brindou-me: Achegue-se. Um pé na frente e outro atrás, atentava às viradas de seus goles na tulipa enorme de cerveja. Enchia e virava duma vez, logo embriagou-se aos esconjuros. Chamava-me Kómos, aproximou-se resoluta: uma mão sobre meus ombros, alisou meus cabelos, sentou-se de frente em meu colo. Senti seu hálito e bufava compenetrada, mãos postas sobre meu tórax logo escorregaram e apalpou meu pênis pelo tecido da minha calça, a desatacá-la arreou o zíper, puxou meu membro fora e conferiu: Este é o peixe-regaleco. Hem? Enquanto amolegava com ambas as mãos entre o ventre e as coxas nuas, deitou a cabeça ao meu ombro e me contou que, ainda menina, seu pai morrera baleado no jogo da esquina, a mãe fora envenenada pela eutanásia duma vizinha fugitiva, órfã desde então como a tragédia infantil de Stokhausen, talqualzinha. Parecia humana demais para uma deusa e, aos goles apressados, chorou a me abraçar. Logo dormiu e não podia me mover nem havia como, uma longa espera. Procurei rendê-la com afetuosa carícia. Logo despertou exultante a dançar como se fosse Tlazoltéotl, a me puxar com seus passos e, de repente, me encurralar contra a parede. Rente e determinada: fez sexo comigo. Fui poupado, sim, ileso, mas levou meu sangue. Um aceno e eu exangue, a constatação: nela tudo era poesia. E outra: ali estava eu à beira do inferno. Ainda ouvi uma voz: Pronde tu vais, ô Nito? Pedi a bênção à mãe que já se foi e era o seu dia, fui e até mais ver.

 

DITOS & DESDITOS

(Imagem: Acervo ArtLAM).

Para que os valores espirituais e a tradição criativa continuem intactos, precisamos de artefatos concretos, do trabalho das mãos, de palavras escritas para ler, de imagens para olhar, de um diálogo com mulheres corajosas e imaginativas que vieram antes de nós. Nos falsos nomes de amor, maternidade, lei natural - falsos porque não foram definidos por nós a quem são aplicados - as mulheres no patriarcado foram impedidas de construir um mundo comum, exceto em enclaves ou por meio de mensagens codificadas. Hannah Arendt não chama isso de "trabalho de mulher". No entanto, é essa atividade de proteção do mundo, preservação do mundo, reparação do mundo - o milhão de pontos minúsculos, a fricção da escova, o pano de limpeza, o ferro na camisa, a fricção do pano contra si mesmo para exorcizar a mancha , a renovação da panela queimada, a lâmina da faca enferrujada, a tecelagem invisível de uma vida familiar desgastada e esfarrapada, a limpeza do solo e dos resíduos deixados por homens e crianças - que fomos incumbidas de fazer "por amor", não meramente não pago, mas não reconhecido pelos filósofos políticos. As mulheres não são descritas como “trabalhadoras” quando criamos as condições essenciais para o trabalho dos homens; supõe-se que agimos por amor, instinto ou devoção a alguma causa maior que o eu...

Trechos de Condições de trabalho: o mundo comum das mulheres, extraído da obra On Lies, Secrets and Silence: Selected Prose 1966-1978 (W. W. Norton & Company, 1995), da poeta, feminista e professora Adrienne Rich (1929-2012). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

PÓS-MODERNIDADE - [...] O pós-modernismo é uma teoria acadêmica, originada na academia com uma elite acadêmica, não no mundo das mulheres e homens, onde a teoria feminista está enraizada. [...] Portanto, a ideia de que não há nada essencial, no sentido de que não há universais humanos, é um dogma. Pergunte a quase todo mundo quem vai levar um tiro ao amanhecer. [...] O que o pós-modernismo nos dá, em vez disso, é uma defesa multicultural para a violência masculina - uma defesa para ela onde quer que esteja, o que na verdade é uma defesa bastante universal. [...]. Trechos extraídos de Postmodernism and Human Rights (2000) & Are Women Human?: and Other International Dialogues (2006), da jurista e ativista estadunidense, Catherine MacKinnon, que sobre pornografia assim se expressa: Na pornografia, a violência é o sexo. A desigualdade é sexo. A pornografia não funciona, sexualmente, sem hierarquia. Se não há desigualdade, sem estupro, sem domínio, sem força, não há excitação sexual. Veja mais aqui.

 

SOB O OLHAR DO MARTodos aqui sempre persistem em otimismo fácil até que o pior realmente aconteça... Pensamento do escritor japonês Shūgorō Yamamoto (pseudônimo de Satomu Shimizu – 1903-1967), autor da obra que inspirou o filme Umi wa miteita (2002), dirigido pelo cineasta Kei Kumai e roteirizado por Akira Kurosawa, contando a história de uma jovem gueixa, O-Shin, que vive em um prostíbu do século XIX, e esconde um samurai que procura refúgio que se apaixona por ela e espera livrá-la dos pecados de sua profissão, enfrentando o mar. Perdida em seus sonhos, ela apaixona-se por seus clientes revelando a sensibilidade feminina, carregando a ideia de que os seus clientes invadem seu corpo, sua alma permanece intacta e, como o oceano, é maior que seus invasores. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

À MARGEM DO MAR

(Imagem: Acervo ArtLAM)

Não é água nem areia \ a margem do mar. \ A água sonora \ de espuma simples, \ a água não pode \ formar a margem. \ E porque descansa \ em delicado lugar, \ não é água nem areia \ a margem do mar. \ As coisas discretas, \ amáveis, simples; \ as coisas se juntam \ como as margens. \ De tal modo os lábios, \ se querem beijar. \ Não é água nem areia \ a margem do mar. \ Eu só me vejo \ por coisa de morto; \ sozinho, desolado, \ como em um deserto. \ A mim venha o choro, \ pois devo penar. \ Não é água nem areia \ a margem do mar.

Poema do escritor mexicano José Gorostiza (1901-1973). Veja mais aqui.

 

O REI DOS LENÇÓISOlhar, olhava-o há anos. [...] Quando ela, observava, quieta, sem falar nada. Olhava só – e já era muito. Mirava aquele andar com movimento de água, várzea já desalagada mas ainda toda úmida, promessa de vastas águas represadas sempre a vir, prestes a explodir de novo. A qualquer hora, pretexto ou sortilégio. [...] Fica ela à espreita, esperando, lutadora que nem peixe das piracemas, nadando contra a corrente, a favor da vida, barro e peixe ávido, beira e profundezas de rio, igarapé, igapó, vazante e cheia de riacho, enchente, torvelinho, chuva torrencial. Logo ela, que nunca levou nada a sério, sempre levando a vida na brincadeira, querendo só brincar de casinha, olhando a vida como mentirinha de teatro, ela – que nada sabe – franqueará o caminho ao senhor da vida, quando ele quiser fazê-la rainha dos lençóis brancos e dos lençóis negros. Trechos do conto O rei dos lençóis (Continente Multicultural, 2005), da escritora Olga Savary (1933-2020), autora do poema Mar: Para ti queria estar sempre vestida de branco \ como convém a deuses \ tendo na boca o esperma de tua brava espuma. \ Violenta ou lentamente o mar no seu vai-e-vem pulsante \ ordena vagas me lamberem coxas, \ seu arremesso me cravando uma adaga roxa.... Veja mais aqui.

 

NÓS MENTIROSOS[...] Tudo não parece nada quando você ama alguém. Especialmente quando você é jovem. [...] Aqui estou congelado, quando mereço queimar. [...] O universo era bom porque ele estava nele. [...] Ele olhou para você como se você fosse o planeta mais brilhante da galáxia. [...] As coisas estão confusas no mundo, só isso. [...] Eu preferiria um milhão de vezes viver e arriscar e ver tudo terminar mal do que ficar na caixa em que estive nos últimos dois anos. [...] Veja o mundo como ele é, não como você gostaria que fosse [...] Somos mentirosos. Somos lindos e privilegiados. Estamos rachados e quebrados. [...] Seja um pouco mais gentil do que o necessário. [...] Sempre faça o que você tem medo de fazer. [...] O silêncio é uma camada protetora sobre a dor. [...]. Trechos extraídos da obra We Were Liars (Delacorte, 2014), da escritora estadunidense E. Lockhart.

 

ARTEXPRESSÃO

A SEMED dos Palmares está ofertando por meio do Observatório de Linguagens – Centro de Formação Municipal Prof. Douglas Miranda Marques, Workshop ARTEXPRESSÃO -Trabalhando Arte para criatividade dos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, com ênfase para os Gêneros Textuais da OLP. O evento divide-se em cinco momentos distintos, com encontros mensais, destinados a Professores de Linguagem do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental e EJA/Fundamental. Conforme informações a seguir: Inscrições: 03 a 15 de maio de 2023. 1º encontro: Data: 17/05/2023. Horário: 8h Duração: 4h aulas Informações: 81998978277 Daniel Antonio - Prof. Técnico OLP. Veja mais aqui e aqui.

 


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...