Ao som da ópera Yanan
laylalar (1992), Dunya sevənlərindir (1998) e Requiem (2009), da compositora e artista popular do
Azerbaijão e do Daguestão, Elza Ibrahimova (1938-2012).
MANDALÍRICA – Apenas um menino da beira do rio, eu sou até hoje porque escapei toda
vida não só de pandemônios, como de falhas tectônicas e abalos sísmicos, sem
distinguir de boas ou más companhias. De lá pelos badalos da crueza do genuinamente
falso com as sirenes da degradação. O que cruzei no meio do caminho gente não
era; afora pedras e ermos, tantos moluscos acéfalos, como se fossem sobreviventes
pelas cataratas do VUE do The Falls de Greenaway: gritavam
bizarrices, sonhavam morrendo afogados para voarem com suas biografias
surreais, suas obsessões emergentes e suas aflições fantásticas, cobaias do
horror pelos bucetódromos reluzentes e caleidoscópicos do caos. Eu vivi o Efeito
Borboleta na maldita preação: perfuraram a Terra atrás de riqueza e era como penetrassem
nas pudendas das jovens púberes à flor da pele, num estupro ambivalente e dessacralizado
pelo triângulo amoroso com a alta voltagem autoindulgente: a catarse hedonista
de parvos vilões. Nenhuma surpresa nisso. Só me assustava quando pareciam cães
uivantes que escondiam seus excrementos por atrás das persianas ou embaixo do
tapete, a vida na lata do lixo. De tantas me desvencilhei e de raspão, só me
restava a Filosofia de Ascenso, viver entre Os ambulantes de Deus do Hermilo, sonhar com as mulheres de Darel, alcançar o renascer de Tunga, a remissão de La Greca
e, ao me deparar com a Fubana do Berto, ah, não, um close de maio: Era ela Sekhmet: Epa! Havia algo de engraçado ao dobrar cada esquina,
quantas possibilidades, Monterroso: quando acordou o dinossauro ainda
estava lá. Poderia ter sido diferente. Não foi. Ela de soslaio, nuto afirmativo,
hostil êmula, sabia: pronta para me estraçalhar. Disfarçou hospitalidade e brindou-me:
Achegue-se. Um pé na frente e outro atrás, atentava às viradas de seus goles na
tulipa enorme de cerveja. Enchia e virava duma vez, logo embriagou-se aos esconjuros.
Chamava-me Kómos, aproximou-se resoluta: uma mão sobre meus ombros, alisou meus
cabelos, sentou-se de frente em meu colo. Senti seu hálito e bufava
compenetrada, mãos postas sobre meu tórax logo escorregaram e apalpou meu pênis
pelo tecido da minha calça, a desatacá-la arreou o zíper, puxou meu membro fora
e conferiu: Este é o peixe-regaleco. Hem? Enquanto amolegava com ambas as mãos
entre o ventre e as coxas nuas, deitou a cabeça ao meu ombro e me contou que,
ainda menina, seu pai morrera baleado no jogo da esquina, a mãe fora envenenada
pela eutanásia duma vizinha fugitiva, órfã desde então como a tragédia infantil
de Stokhausen, talqualzinha. Parecia humana demais para uma deusa e, aos
goles apressados, chorou a me abraçar. Logo dormiu e não podia me mover nem
havia como, uma longa espera. Procurei rendê-la com afetuosa carícia. Logo despertou
exultante a dançar como se fosse Tlazoltéotl, a me puxar com seus passos e, de
repente, me encurralar contra a parede. Rente e determinada: fez sexo comigo. Fui poupado, sim, ileso, mas
levou meu sangue. Um aceno e eu exangue, a constatação: nela tudo era poesia. E
outra: ali estava eu à beira do inferno. Ainda ouvi uma voz: Pronde tu vais, ô
Nito? Pedi a bênção à mãe que já se foi e era o seu dia, fui e até mais
ver.
DITOS & DESDITOS
(Imagem: Acervo
ArtLAM).
Para que os
valores espirituais e a tradição criativa continuem intactos, precisamos de
artefatos concretos, do trabalho das mãos, de palavras escritas para ler, de
imagens para olhar, de um diálogo com mulheres corajosas e imaginativas que
vieram antes de nós. Nos falsos nomes de amor, maternidade, lei natural -
falsos porque não foram definidos por nós a quem são aplicados - as mulheres no
patriarcado foram impedidas de construir um mundo comum, exceto em enclaves ou
por meio de mensagens codificadas. Hannah Arendt não chama isso de
"trabalho de mulher". No entanto, é essa atividade de proteção do
mundo, preservação do mundo, reparação do mundo - o milhão de pontos minúsculos,
a fricção da escova, o pano de limpeza, o ferro na camisa, a fricção do pano
contra si mesmo para exorcizar a mancha , a renovação da panela queimada, a
lâmina da faca enferrujada, a tecelagem invisível de uma vida familiar
desgastada e esfarrapada, a limpeza do solo e dos resíduos deixados por homens
e crianças - que fomos incumbidas de fazer "por amor", não meramente
não pago, mas não reconhecido pelos filósofos políticos. As mulheres não são
descritas como “trabalhadoras” quando criamos as condições essenciais para o
trabalho dos homens; supõe-se que agimos por amor, instinto ou devoção a alguma
causa maior que o eu...
Trechos de Condições
de trabalho: o mundo comum das mulheres, extraído da obra On Lies, Secrets
and Silence: Selected Prose 1966-1978 (W. W. Norton & Company, 1995), da poeta, feminista e professora Adrienne Rich (1929-2012). Veja mais aqui, aqui e aqui.
PÓS-MODERNIDADE -
[...] O pós-modernismo é uma teoria
acadêmica, originada na academia com uma elite acadêmica, não no mundo das
mulheres e homens, onde a teoria feminista está enraizada. [...] Portanto, a ideia de que não há nada essencial, no sentido de que não há
universais humanos, é um dogma. Pergunte a quase todo
mundo quem vai levar um tiro ao amanhecer. [...] O que o pós-modernismo nos dá, em vez disso, é uma defesa multicultural
para a violência masculina - uma defesa para ela onde quer que esteja, o que na
verdade é uma defesa bastante universal. [...]. Trechos extraídos de Postmodernism and
Human Rights (2000) & Are Women Human?: and Other
International Dialogues (2006), da jurista e ativista estadunidense, Catherine
MacKinnon, que sobre pornografia assim se expressa: Na pornografia, a
violência é o sexo. A desigualdade é sexo. A pornografia não funciona,
sexualmente, sem hierarquia. Se não há desigualdade, sem estupro, sem domínio,
sem força, não há excitação sexual. Veja mais aqui.
SOB O OLHAR DO
MAR – Todos aqui sempre persistem em otimismo
fácil até que o pior realmente aconteça... Pensamento do escritor japonês Shūgorō
Yamamoto (pseudônimo de Satomu Shimizu – 1903-1967), autor da obra que inspirou
o filme Umi wa
miteita (2002), dirigido pelo cineasta Kei Kumai e roteirizado por
Akira Kurosawa, contando a história de uma jovem gueixa, O-Shin,
que vive em um prostíbu do século XIX, e esconde um samurai que procura refúgio
que se apaixona por ela e espera livrá-la dos pecados de sua profissão,
enfrentando o mar. Perdida em seus sonhos, ela apaixona-se por seus clientes revelando
a sensibilidade feminina, carregando a ideia de que os seus clientes invadem
seu corpo, sua alma permanece intacta e, como o oceano, é maior que seus
invasores. Veja mais aqui, aqui e aqui.
À MARGEM DO MAR
(Imagem: Acervo
ArtLAM)
Não é água nem
areia \ a margem do mar. \ A água sonora \ de espuma simples, \ a água não pode
\ formar a margem. \ E porque descansa \ em delicado lugar, \ não é água nem
areia \ a margem do mar. \ As coisas discretas, \ amáveis, simples; \ as coisas
se juntam \ como as margens. \ De tal modo os lábios, \ se querem beijar. \ Não
é água nem areia \ a margem do mar. \ Eu só me vejo \ por coisa de morto; \ sozinho,
desolado, \ como em um deserto. \ A mim venha o choro, \ pois devo penar. \ Não
é água nem areia \ a margem do mar.
Poema do escritor
mexicano José Gorostiza (1901-1973). Veja mais aqui.
O REI DOS LENÇÓIS – Olhar, olhava-o há anos. [...] Quando ela, observava,
quieta, sem falar nada. Olhava só – e já era muito. Mirava aquele andar com
movimento de água, várzea já desalagada mas ainda toda úmida, promessa de
vastas águas represadas sempre a vir, prestes a explodir de novo. A qualquer
hora, pretexto ou sortilégio. [...] Fica ela à espreita, esperando,
lutadora que nem peixe das piracemas, nadando contra a corrente, a favor da
vida, barro e peixe ávido, beira e profundezas de rio, igarapé, igapó, vazante
e cheia de riacho, enchente, torvelinho, chuva torrencial. Logo ela, que nunca
levou nada a sério, sempre levando a vida na brincadeira, querendo só brincar
de casinha, olhando a vida como mentirinha de teatro, ela – que nada sabe –
franqueará o caminho ao senhor da vida, quando ele quiser fazê-la rainha dos
lençóis brancos e dos lençóis negros. Trechos do conto O rei dos lençóis
(Continente Multicultural, 2005), da escritora Olga Savary (1933-2020),
autora do poema Mar: Para ti queria estar sempre vestida de branco \ como
convém a deuses \ tendo na boca o esperma de tua brava espuma. \ Violenta ou
lentamente o mar no seu vai-e-vem pulsante \ ordena vagas me lamberem coxas, \ seu
arremesso me cravando uma adaga roxa.... Veja mais aqui.
NÓS MENTIROSOS – [...] Tudo não parece nada quando você ama alguém. Especialmente quando
você é jovem. [...] Aqui estou congelado,
quando mereço queimar. [...] O universo era bom porque ele estava
nele. [...] Ele olhou para você como se você fosse o planeta mais
brilhante da galáxia. [...] As coisas estão confusas no mundo, só isso.
[...] Eu preferiria um milhão de vezes viver e arriscar e ver tudo terminar
mal do que ficar na caixa em que estive nos últimos dois anos. [...] Veja
o mundo como ele é, não como você gostaria que fosse [...] Somos mentirosos. Somos lindos e privilegiados. Estamos rachados e
quebrados. [...] Seja um pouco mais gentil do que o necessário. [...] Sempre
faça o que você tem medo de fazer. [...] O silêncio é uma camada protetora
sobre a dor. [...]. Trechos extraídos da obra We Were
Liars (Delacorte, 2014),
da escritora estadunidense E. Lockhart.
ARTEXPRESSÃO
A SEMED
dos Palmares está ofertando por meio do Observatório de Linguagens –
Centro de Formação Municipal Prof. Douglas Miranda Marques, Workshop ARTEXPRESSÃO
-Trabalhando Arte para criatividade dos alunos dos anos finais do Ensino
Fundamental, com ênfase para os Gêneros Textuais da OLP. O evento divide-se
em cinco momentos distintos, com encontros mensais, destinados a Professores de
Linguagem do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental e EJA/Fundamental. Conforme
informações a seguir: Inscrições: 03 a 15 de maio de 2023. 1º encontro: Data:
17/05/2023. Horário: 8h Duração: 4h aulas Informações: 81998978277 Daniel
Antonio - Prof. Técnico OLP. Veja mais aqui e aqui.