DOS BICHOS DE TODAS AS FERAS E MANSAS –
Imagem Forró dos bichos, xilogravura de J.
Borges. – Faz tempo eu vi um forró, um trupé muito arretado, de não sair da
memória. A função era medonha, da Perereca de Paranapiacaba na sanfona,
Ararajuba no triângulo e o Bugio na zabumba. Eita! Era a Arara-azul ditando o
ritmo e a Jararaca-ilhoa só balançando, dava início toda na festa com a
Ariranha e Mico-leão-preto que falava da Baleia-franca-do-sul reclamando das cobras
dormideira-da-queimada-grande. Aí o Macaco-prego-de-peito-amarelo, não querendo
nem saber, chamou do Cervo-do-Pantanal pra namorar as Jararaca-de-alcatrazes.
Essas por sua vez, conversavam com o Gato-maracajá que se ria do Mico-leão-de-cara-preta
e do Lobo-guará. Foi aí que apareceu todo apressado o Rato-candango falando que
o Macaco-aranha havia saído com o Peixe-boi-marinho atrás da Jiboia-de-cropan
pra fazer um rastapé com Mico-leão-dourado dançava agarrado na Tartaruga-de-couro,
ao lado do Muriqui-do-norte que se enxeria com a Onça Pintada. Ela toda
pabulosa pras bandas do Tamanduá-bandeira, não sabia que a Saíra-militar era
prima do Sauim-de-coleira que era cunhado do Sapo-folha que se achava ao lado
da Jaguatirica que se dizia Gato-maracajá. A conversa estava solta quando o Soldadinho-do-araripe
reclamou do Macaco-aranha porque o Tamanduá-bandeira junto com Uacari-branco,
comiam de tudo na maior gulodice e não deixavam nada pra ninguém. A reclamação
aumentou quando a Onça Parda, mais pra lá de injuriada, reclamou que a Tartaruga-de-couro
havia se acoloiado ao Tucano de Bico Preto inventando passo diferente pras
bandas do Peixe Boi da Amazônia. Foi aí que a Onça Pintada, toda braba de
abusada quis fazer conciliação e chamou o Pirarucu e o Papagaio-verdadeiro, foi
dizendo para todos: - Vamos botar ordem no terreiro! Concordante a Tartaruga-oliva,
mais que atrevida disse: - Pra quê tanta festa separada, se a gente pode fazer
tudo junto? Foi aí que Harpia mais o Uacari-branco, convocou de todo mundo, se
juntar com a Arara de Barriga Amarela que se dizia Arara Canindé e conversava
toda folgada com o Udu-de-coroa-azul e com a Arara Vermelha. No fim deu tudo
certo, acabou a reclamação, a fofoca era grande, mas tudo na maior santa paz,
todos só queriam comemorar os festejos juninos. Mas isso faz tempo, hoje quase
nem vê, é que um tal do bicho-homem, todo metido a caçador, achou por bem de
virar no meio deles o maior dos desmancha prazeres. Com pouco tempo da presença
deles, findou de mais ninguém se vê, só eles mandavam tudo, fazendo a maior
guerra, chega matarem um Gorila, aprisionarem a Pomba da Paz e ainda por cima
traficarem outros tantos animais pra outras tantas safadezas. Logo que deram
pressas bandas, fizeram só desmatamento, atocharam nas queimadas, construíram coisas
e hidrelétricas, fizeram caça predatória e, sem deixar por menos, promoveram só
poluição. Aí não deu outra, cadê os outros? Oxe, só se escafederam de ninguém
saber se vivos ou mortos, ou se arribaram pra salvação. Assim não dá pra ser
feliz! Esses estão barrados de vez, mas mesmo assim, não tem maios Forró dos
Bichos. Tomara um dia possam ainda xotear, porque era festa boa, sem pantim nem
bafafá. Glória a tudo dessa fauna, e Paz na Terra aos bichos de boa vontade! ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
Imagem: a arte da artista visual Natalia Fabia.
Curtindo o álbum Cantiga (Café Maestro, 2014), do Duo
Backer,
formado pela dupla Rafaela Backer Gonzalez (voz) & Marcela
Backer Gonzalez (violão).
PESQUISA
O livro Cantadores:
poesia e linguagem do sertão cearense (Cátedra, 1978), do escritor,
professor, advogado, jornalista e historiador Leonardo Mota (1891-1948). Veja mais aqui.
LEITURA
PENSAMENTO DO DIA:
Imagem: Xilogravura de J. Borges.
Quando
pego no braço da viola
Sinto a
força quem vem da inspiração
E é por
isto que digo com razão
Que meu
verso alimenta e me consola
Pelo
menos, não peço por esmola
Porque
vivo a vender minha poesia
Sou
cigarra que, aos poucos, se atrofia
Na
cantiga que a vida lhe consome
Se eu
deixar de cantar, morro de fome
Que a
cantiga é meu pão de cada dia.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da ex-militante política
e ex-integrante da organização de extrema-esqueda alemã (Grupo Baader-Meinhof),
Brigitte Mohnhaupt.
Veja mais sobre Pechisbeque, País de
Cucanha, Renata Pallottini, George
Orwell, Martins Pena, Tales de Mileto, Antoni Gaudí, Sam Francis, Theo
Tobiasse, João Carlos Martins, Lucas Cranach, Sidney Lumet, Sophia Loren & Jean-Jacques Henner aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Statue of a naked Woman –
Barcelona, do arquiteto
espanhol Antoni Gaudí (1852-1926).
Recital
Musical Tataritaritatá.