A FILHARADA DE ZÉ CORNINHO -
Imagem: Matriz pintada, do
marinheiro, escultor, pintor e cineasta alemão Hansen Bahia (1915-1978) - - Zé Corninho ficou com o coração na mão
quando viu aquela beldade doutora procurando-lhe pelo nome de registro civil.
Logo pensou consigo: - É bronca. E ela: - O senhor José Cornélio da Conceição
Pereira? -, e ele amolegando a peia afirmou: - Ao seu dispô, dona senhora
doutora! E a sua esposa? Escolha, qualqué uma dessa aí é minha esposa! A
assistente social arregalou os olhos, virou-se pro oficial de justiça e
policiais, determinando: - Levem-no! Pegaram-no pelo cós da calça e sacudiram
dentro do camburão. A bronca foi colocar as distintas esponsais dele num carro
só, antes um ônibus para caber tudinho pra levar pra promotoria. Entretanto, várias
viagens depois pra lá e pra cá, lá estavam numa sala apertada do Fórum local, a
promotora, a delegada, a assistente social, o distinto acusado, dois policiais
de escolta, as ditas cujas e a filharada no maior buá, fazendo do ambiente um
escarcéu danado. Maior bafafá. – O senhor gosta de trabalho à humanidade, hem?
-, reclamou um dos soldados presentes. – Afinal, o senhor casou com qual?
Ninhuma, eu só me amiguei cum tudim. – Mentira! – levantou-se uma com um
bruguelo mamando no seio -, eu casei cum ele de papel passado e tudo! – Eu tomém
casei cum ele no papel e nos pés do padre! -, arremedou outra. – Eu tomém! E
assim foi, uma a uma das ali presentes, manifestando haver contraído núpcias
com o Don Juan. No conferido do amiudado, na verdade não havia de fato certidão
de casamento, contudo, todas tinham tempo de serviço para garantir uma união
estável nas costelas do distinto. – O senhor não é só bígamo, é multibígamo é?
-, reclamou a delegada segurando o cabo do revólver. – Sô não, senhora dotôra
delegada! Fidapeste, esse deve de ter parentesco com coelho! E essa ninhada de
menino de quem é? É tudo meu, senhora doutora promotora, eu assumo tudo que
faço! – Tem que colocar esse cabra atrás das grades e mandar capá-lo, é a solução!
Ô dona senhora madama, mi diga qual macho de verdade num gosta dum furunfado? Dê-se
ao respeito senão prendo o senhor agorinha por desacato a autoridade, afora
outros crimes que o senhor será incurso, viu? Num é desfeita não, senhora
doutora madama, sô igualzinho a qualquer macho daqui e donde quiser, a
diferença é que eles só comem uma vez, desgraçam a mulher e deixam pra lá. Eu,
não, assumo os meus e até os que não são meu por conta dos irresponsáveis. Meu
avô mermo, teve pra mais de 30 e deu conta de tudinho; do meu pai, sou o nono
de 20, nenhum deles teve problema algum. Eu acho que já passei disso e, com
certeza, darei conta também. Verdade, uma infieira de bruguelo vindo com força
fazia o plantel da prole dele. - O senhor, por acaso, sabe o que é ser pai?
Senhora madama doutora, o que sei mesmo é enfiar o bregueço lá na loca da
mocreia, depois sair tangendo tudo pra ser gente na vida e seja lá o que Deus
quiser! E qual das senhoras sabe o que é ser mãe? Uma lá mais desaforada
sapecou: - Oxe, mulé, o cabra chega o dia todo se esfregando, quase de comer a
gente com caçola e tudo, aí a gente emprenha, fazer o quê? É rezar pra Deus pra
que nenhum dê pro que não presta! Pode perguntar a qualquer uma dessa tuia de fêmea
aí que é tudo mulher desse pilantra safado. O senhor é algum sheik ou sultão
para ter um harém desse é? O senhor sabe que tem de sustentar essas e outras
que estão reclamando paternidade, não sabe? Sei, sim senhora! E tem outro
bocado reclamando que o senhor não paga pensão! Sei sim, senhora! E que se não
pagar vai pra cadeia? Sei sim, senhora! Tudinho pode ir morar na minha casa que
dou conta. A promotora olhou pra delegada que olhou pra assistente social e ficaram
uma olhando pra outra sem saber o que fazer. Resultado, ao invés de reclamar ou
se defender das acusações ou requerimentos, ele assumiu tudo e ainda saiu
orgulhoso expondo que era o rei do harém. Uma coisa dessa não pode dar certo de
jeito nenhum. Mas vamos aprumar a conversa e tataritaritatá! © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
Imagem: a arte do marinheiro, escultor, pintor e cineasta
alemão Hansen Bahia (1915
-1978).
Curtindo o álbum de 4 cds Cello Anthology (Alga Marghen, 2006), da
violoncelista e artista performer da vanguatda estadunidense Charlotte Moorman (1933 - 1991), a Jeanne d'Arc da nova música.
PESQUISA
Travessia
Marítima com Dom Quixote e outros ensaios sobre homens e artistas
(Zahar, 2014), do escritor alemão e Prêmio Nobel de Literatura de 1929, Thomas
Mann (1875-1955), reunindo 10 ensaios escritos sobre a atividade literária,
a obra e outros escritos, ética, estética e temas de ordem sociopolítica,
inclusive no ensaio Carta ao conde Hermann Keyserlink, aborda a questão do orgulho infantil de se procriar muitos filhos para
confirmação da homência. Veja mais aqui e aqui.
LEITURA
O
casamento: variações sobre um tema
(Crescer, 1993), da escritora estadunidense Anne Morrow Lindbergh (1906-2001), contando sobre uma cerimônia de
casamento, desde o instante em que a noiva começa a se vestir até o momento em
que se despede, partindo para uma nova vida; e o que sente cada uma das pessoas
envolvidas nessa cerimônia, refletinco sobre o casamento, o amor, a separação e
a infidelidade, o envelhecimento - sobre a vida e a morte, enfim.
PENSAMENTO DO DIA:
[...] o
homem geralmente projeta o seu sêmen no interior da mulher e depois a acusa de
o ter seduzido. Como bem disse Adão: “Esta mulher que me deste tentou-me e eu
comi a maçã”. [...] Tal ato é, então,
mais e mais esperado para compensar pela deficiência da espontaneidade em todas
as demais direções, sendo, portanto, como o grande prazer, abstrato ou colcoado
à parte de todas as experiências. [...] contribui
para o desenvolvimento de todos os refinamentos da luxúria civilizada.
Trecho extraído do livro O
homem, a mulher a natureza (Record, 1958), do filósofo e escritor inglês Alan
Wilson Watts (1915-1973). Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Cartaz do premiado drama O casamento de Maria Braun
(Die Ehe Der Maria Braun, 1978), do cineasta alemão Rainer Werner
Fassbinder (1945-1982), estrelado pela atriz alemã Hanna Schygulla
que arrebatou juntamente com o Urso de Ouro do filme, o Urso de Prata de melhor
atriz no Festival de Cinema de Berlim, de 1979. Veja mais aqui.
Veja mais sobre Norbert Elias, Hermeto Pascoal &
Aline Moreira, Sándor Márai,
Zuca Sardan, Martin Esslin, Fred Schepisi, Meryl Streep, Derek Gores, Pierre-Nicolas Beauvallet & Gilson Luiz
dos Santos Braga aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Todo dia
é dia da belíssima atriz e modelo francesa Emmanuelle Seigner.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Imagem:
Etiquetas, do artista visual canadense Attila Richard Lukacs.
Recital
Musical Tataritaritatá.