TERRA DO QUE SOU, VIDA QUE ME CABE - (Imagem: The Earth Is My
Mother by Shelley Bain) - Sou
filho deste chão, semente do mundo que brota a cada renascer do Sol no céu de
todas as estrelas que alumiam todo caminho das estradas que sei que sou e voo
aos infinitos recônditos de mim. Sou das águas essa nascente, fogo do universo
feito, vento que sopra de todas as direções, a poeira das pedras, ventania dos
temporais. A corrente dos mares, morros de Sol poente, galhos e florais. As
nuvens de besouros, a seiva dos troncos, as raízes dos matagais. A música dos
pássaros, as abusões das florestas, o sopro dos vendavais. O movimento das
pedras, a corrente dos brejos, a atração dos metais. A neblina das matas, o
limite das colinas, o reino dos animais. As larvas vulcânicas, a fundura
oceânica, o ninho dos corais. A vertigem dos abismos, o clarão dos dias,
escuridão das noites, os cardumes fluviais. As flores primaveris, a trilha das
formigas, as chuvas invernais. A queda das cachoeiras, as areias do deserto e
das praias, o capim rasteiro, mangues ovados, charcos vitais. O sal do suor, o
doce da fruteira, lençóis, aquíferos, os contornos dos litorais. Os córregos, penhascos,
viveiros, falésias e grutas, os restos mortais. A rotação, translação, a
precessão lunissolar, as geleiras, ondas sísmicas, as folhas outonais. As rochas
basálticas, as câmaras magmáticas, as temperaturas estivais. Sou filho deste chão,
semente do mundo, a expressão da nave mãe: Terra mulher que nasce do que sou,
vida que me cabe. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: a arte da
proeminente figurinista, artista gráfica e pintora do cubo-futurismo russo Natalia
Goncharova (1881-1962). Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Tatá (Antro, 2004), do guitarrista Eduardo Ponti.
PESQUISA
Galalaus & batorés (EdUFPE, 1981), do escritor, advogado, pesquisador e
folclorista Mário Souto Maior (1920-2001), tratando a respeito da briga
entre grandes e pequenos, o Clube dos Baixinhos, os galalaus, os batorés e uma
série de verbetes recolhidos do anedotário popular. Veja mais aqui e aqui.
LEITURA
Elogio
da madrasta (Objetiva, 2009), do
escritor e jornalista peruano, Premio Nobel de Literatura de 2010, Mario
Vargas Llosa, contando a história vivida entre a sensual e elegante
Lucrécia e dom Rigoberto num idílio de fantasia e sexo, envolvendo a paixão do
filho dele pelos encantos da madrasta. Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
Antes
que venham ventos e te levem
do peito
o amor — este tão belo amor,
que deu
grandeza e graça à tua vida —,
faze
dele, agora, enquanto é tempo,
uma
cidade eterna — e nela habita.
Uma
cidade, sim. Edificada
nas
nuvens, não — no chão por onde vais,
e
alicerçada, fundo, nos teus dias,
de jeito
assim que dentro dela caiba
o mundo
inteiro: as árvores, as crianças,
o mar e
o sol, a noite e os passarinhos,
e
sobretudo caibas tu, inteiro:
o que te
suja, o que te transfigura,
teus
pecados mortais, tuas bravuras,
tudo
afinal o que te faz viver
e mais o
tudo que, vivendo, fazes.
Ventos
do mundo sopram; quando sopram,
ai, vão
varrendo, vão, vão carregando
e
desfazendo tudo o que de humano
existe
erguido e porventura grande,
mas
frágil, mas finito como as dores,
porque
ainda não ficando — qual bandeira
feita de
sangue, sonho, barro e cântico —
no
próprio coração da eternidade.
Pois de
cântico e barro, sonho e sangue,
faze de
teu amor uma cidade,
agora,
enquanto é tempo.
Uma
cidade
onde
possas cantar quando o teu peito
parecer,
a ti mesmo, ermo de cânticos;
onde
posssas brincar sempre que as praças
que
percorrias, dono de inocências,
já se
mostrarem murchas, de gangorras
recobertas
de musgo, ou quando as relvas
da vida,
outrora suaves a teus pés,
brandas
e verdes já não se vergarem
à brisa
das manhãs.
Uma cidade
onde
possas achar, rútila e doce,
a aurora
que na treva dissipaste;
onde
possas andar como uma criança
indiferente
a rumos: os caminhos,
gêmeos
todos ali, te levarão
a uma
aventura só — macia, mansa —
e hás de
ser sempre um homem caminhando
ao
encontro da amada, a já bem-vinda
mas,
porque amada, segue a cada instante
chegando
— como noiva para as bodas.
Dono do
amor, és servo. Pois é dele
que o
teu destino flui, doce de mando:
A menos
que este amor, conquanto grande,
seja
incompleto. Falte-lhe talvez
um
espaço, em teu chão, para cravar
os
fundos alicerces da cidade.
Ai de um
amor assim, vergado ao vínculo
de tão
amargo fado: o de albatroz
nascido
para inaugurar caminhos
no campo
azul do céu e que, entretanto,
no
momento de alçar-se para a viagem,
descobre,
com terror, que não tem asas.
Ai de um
pássaro assim, tão malfadado
a
dissipar no campo exíguo e escuro
onde
residem répteis: o que trouxe
no bico
e na alma — para dar ao céu.
É tempo.
Faze
tua
cidade eterna, e nela habita:
antes
que venham ventos, e te levem
do peito
o amor — este tão belo amor
que dá
grandeza e graça à tua vida.
Poema Sugestão
(In: Vento Geral - Civilização Brasileira, 1984), do premiadíssimo e
traduzido poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Videoinstalação: projeção Nu descendo uma escada (2008), de Rachel Mascarenhas e Ana
Paula Pessoa.
Veja mais sobre Rio São Francisco – O Velho Chico,
Lampião, Dias Gomes, Turíbio Santos,
Ítala Nandi, Hugo Carvana, Neila Tavares, Natalia Goncharova, Even Ruud,
Cláudio Manuel da Costa, Isabel Lustosa & Paulette Goddard
aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do fotógrafo e artista visual Yan Pierre.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Fragile Earth, By Dr Taha Hassaballa Malasi.
Recital
Musical Tataritaritatá