Ao som do Album Series Tour 2022 – Relayer (Atlantic Records, 1974), que sucedeu ao Yes 50 Anniversary 2018, concerto da banda inglesa de rock progressivo Yes. (Veja mais aqui e aqui).
TRÍPTICO
DQP: - O rito do ritmo, poeiras da vida... - Despertei cedo e nem havia amanhecido. Estava recluso à minha cabeça e
qual outro sentia a minha inquietude e o aleatório. Pensava demais e saí sem filtros,
dei vazão: aprendi a ouvir, aprendi a aprender. E a cuidar porque sabia que não
era o escolhido. Ria e nenhuma adversidade me tocava, nem me sentia ofuscado
por nada. Nunca tive vergonha do que não sabia e sempre rio da minha própria
ignorância. Aos detratores transbordei compaixão na jornada em busca do destino,
ensimesmado,
outrificado. E a graça foi me deparar com Maria Martins: ... Eu sou o meio-dia pleno da noite
tropical. Tece o
mesmo sonho. Corta a morna
espessura do silêncio macio... Assim me sentia e a
interação: lá fora interferia aqui dentro;
da mesma forma, ao atuar, interferirei lá fora. Não olvidei de Henrich Böll: Sobre os amantes e os soldados, sobre os
homens condenados à morte, sobre todos aqueles que o poder cósmico da vida
preenche, o poder do destino desce por vezes imprevisto numa súbita iluminação
que será a sua graça e o seu fardo... A poesia é a impressão de estar sempre em
contato com a morte... Por que não
pensei nisso antes se nunca fui digno nem de viver: em mim doía, não de
punição, talvez as dores de tudo. Eu vivi à minha própria força e o fogo
iniciático dava outra vida ao corpo castigado: enfrentei os meus medos. Aparentemente
não havia nenhuma rejeição, só o desconforto dos mesmos, melhor estranhos com
sua gentileza. Era a escolha de ser feliz estrangeiro e sobrevivi. Refiz todos
os passos uma vez e tantas - se eu não fizesse, ninguém o faria. Fiz o que
tinha que ser feito. Eu apenas me levantei e andei firme - os dois pés suaves
sobre o chão porque o que sou da Terra é o que mais importa e me divirto como
posso – a sensação do perigo ao derredor, ouroboros. Sou a melhor companhia, o que
farei a respeito porque só existe a jornada, porque se nada acontecer, nada
valerá. Estou aqui e agora... E voo...
Durante,
eu vivo... Imagem: Prelúdio
de uma Musa (2022), da artista
plástica Márcia
Gebara, integrante do Grupo Ateliê Virtual 2022. – Impossível ficar
indiferente: não nasci com roteiro prévio nem papel importante. Bastaria uma
moeda e todos me serviriam, o mundo na palma da mão. De resto: estragos, gente
tóxica, o suicídio coletivo, crenças negativas, inação, sabotagem, adicção, ingestão
de comida que nem é de verdade, afinal quem tem problema: o problema sou eu,
preciso ativar meus neurotransmissores, em minhas células a dor do universo - como
dizia Merleau-Ponty: O coração
intermitente e incompleto. Olhei em volta, em contra-plongée: de fato fracassamos todos, eu sei, qual o motivo, ninguém sabe ou aceita, vamos
todos entre o que faz sentido e o absurdo, outros porquês... A sensação é de
que nos tornamos um enfisema no pulmão do criador, uma ferida em suas vísceras
e condenados ao vazio. Impossível não ouvir Vladimir Safatle: Neste
país em decomposição, nenhuma instituição funciona de forma minimamente
normal... O Brasil é um país que sonha acalmar seus medos apelando à violência
de Estado... E só escuto
o grito inaudível, afetos e afetações. É preciso jamais esquecer... E me
arrisco insubordinado, quase devidamente aniquilado, impassivo com o impossível
pelas perdas e autodestruição. Meu coração não suporta outros Talibãs, nem um porco no palácio - o sangue e
bosta nas paredes, ou os mascarados da hipocrisia. Nunca baixei a cabeça, nem hesitei o passo: fui criado como um
iluminado. Não obstante, sabia que tudo poderia piorar e tão penosamente
sufoquei sentimentos, perdi o controle, delirei de febre, cuspi sangue e me
culpei, me desculpei depois e um tanto de vezes para novas culpas recorrentes. Nestes
termos, vivo cada segundo, pratico! E só resta a musa recôndita...
Recanto
Verde de Iracy... – Ali era
Iracy quando o escravo negro apanhava, agora não mais, só matam e eu de longe
com remanescentes do Timóteo. Quem ela senão a cabocla das plantações de café e
da cidade baixa, que chamava o povo pro folguedo encenado de Hermilo e de Heraldo: o preto Biu que foi preso em Palmares e que fugiu prali só pra ser castigado noitedia, a
mamulengar nas horas vagas imitando a desumanidade do patrão. Os caboetas logo deram
com a língua nos dentes e o senhor foi lá ver que presepada era aquela. Depois do
sucedido, de tanto sofrer virou santo e nome daquele povoado, todo ilustrado
pelos ofurôs e águas cristalinas das cachoeiras de Peri-peri, do Véu da Noiva, de
Laje, da Boa Vista, do Cajá e Aritana, do Poço do Índio e do Soldado, das
trilhas pelas terras do Roncador, o sítio Bom Destino e os morros acimabaixo. A
musa era ela... Foi Daciel quem me apontou a efígie de Karla, um amuleto em
carne viva que chamava a chuva e enfeitiçava tudo. Ela ressuscitou de Iracy e
me disse Maylis
Besserie: Um dia, corri por tanto
tempo que parti para sempre... E
levou com ela as dores de amor do pintor que se danou pra Espanha. E me levou ao morro mais alto para que soubesse
de toda vastidão da Bacuna esparramada
no horizonte e me ensinou a correr solto Valuna
ao mar. Com toda graça do crepúsculo ela me disse Natalie Clifford Barney: Nada é
mais difícil do que partilhar um amor. Somos limitados por tudo o que não
sentimos... Ama-se com amor aqueles que não se podem amar de outro modo... E quando anoiteceu ela partiu na primeira estrela como se fosse Charlote Corday diante da paixão
imorredoura do meu coração Adam Lux. Muitas disseram dela: que era uma das duas
Kourai
Khryseai – uma donzela dourada de Hefesto, ou como dizia o Geraldo
Cinquentinha que ela tinha uma Piranha vaginal, afora outras invencionices. Quando
amanheceu eu sabia era ela quem havia acendido o dia, para se envultar à
boquinha da noite com a saudade daquela que foi e nunca mais voltou. Até mais
ver.
Vem aí o PGM TTTTT. Veja
mais aqui.