Ao som dos álbuns
Alive (Sunnyside Records, 2016), Giant Steps (Okeh/Sony Music, 2018)
e The Tiger (Okeh/Sony Music, 2020), da compositora e cantora francesa Camille
Bertault.
CONTÍNIMO: MÃO AMIGA – O que sou apenas o voo baixinho e a vida adiante insólita e desenfreada. Persigo por caminhos com suas pegadas de australopitecos, enquanto meu coração em hasta pública de ninguém sai pela boca pelos menires da cidade nenhuma de Debord. Se não atino da hora logo me safo do escorregão, quanto escrúpulo pelos lugares triviais dos Dada. Se tudo é muito caricatural, levo minha bricolagem nas cassemblas: como se fossem assemblagens das psicogeografias que eu pelejo no meio das coisas emborcadas, pulando côncavas e centrífugas situações. Eu me demoro pras coisas porque presto muita atenção. Às vezes finjo que entendo, quando não. Já tive pressa, hoje não mais. Sei que um sobrenome é maldição e ainda dizem que o filme nacional é ruim e eu digo: porque somos nós. E prossigo escapando do que posso, do meu exclusivo Evento Tunguska, da erupção inusitada do meu vulcão Cracatoa e dos terremotos de Itacarambi, Taruacá e Porangatu da minha terra natal. Pra minha salvação de longe avisto e lá vai ela tal Nana de Viver a vida de Godard, a me fazer tão Leonardo em Vinci quanto dela poeta Ginevra de’ Benci, a posar amante Mona Vanna buliçosa na minha libido, só para que eu tome um par de ventos no meio das suas coxas e delas os eflúvios reencarnatórios. É pra já! Entre uma fungada e outra no cangote zelota, sou bordalengo que refaz a Jornada do herói de Campbell: A aventura do herói é a aventura de se estar vivo. E eu só quero viver e pronto. Não vou muito longe, ela cúmplice me chama atenção pro que está ocorrendo e eu não sei de nada. Quanto mais espreito o momento, mais tudo me foge entre os dedos. Ela se foi com todas as alvíssaras e eu só queria apenas uma mão amiga, nada mais.
DITOS & DESDITOS
Imagem: Acervo ArtLAM.
[...] A leitura muda nossas
vidas, e nossas vidas mudam nossa leitura. [...] aprendemos tanto a semelhança quanto a singularidade de nossos próprios
pensamentos - que somos indivíduos, mas não estamos sozinhos. [...] Existem
poucos espelhos mais poderosos da incrível capacidade do cérebro humano de se
reorganizar para aprender uma nova função intelectual do que o ato de ler. Subjacente à capacidade
do cérebro de aprender a ler está sua capacidade multiforme de fazer novas
conexões entre estruturas e circuitos originalmente dedicados a outros
processos cerebrais mais básicos que tiveram uma existência mais longa na
evolução humana, como a visão e a linguagem falada. [...] a gente vem ao
mundo programado com a capacidade de mudar o que nos é dado pela natureza, para
poder ir além dela. Desde o início, parece que estamos
geneticamente preparados para avanços. [...] Aprender a ler começa na
primeira vez que uma criança é segurada e lida uma história. A frequência com que isso
acontece, ou deixa de acontecer, nos primeiros cinco anos da infância acaba
sendo um dos melhores preditores de leitura posterior [...] Nunca nascemos
para ler. O ser humano inventou a leitura há apenas alguns milhares de anos. E com essa invenção,
reorganizamos a própria organização do nosso cérebro, que por sua vez ampliou
as formas de pensar, o que alterou a evolução intelectual da nossa espécie.
Trechos extraídos da obra Proust and the Squid: The Story
and Science of the Reading Brain (Harper Perennial, 2008), da professora
estadunidense Maryanne Wolf. Veja mais aqui e aqui.
O LIVRO & A
LEITURA – [...] Todo livro conta um segredo, mas
não é qualquer gente que consegue decifrá-lo, não senhor. Os livros são tímidos
e precisam confiar muito no leitor para revelar o segredo que guardam. O leitor
tem que ser amigo dos livros, visitá-lo sempre, conversar com eles, até chegar
o dia em que o livro, assim baixinho de repente, sussurre ligeiro o segredo de
uma história que ele vai contar para sempre [...]. Trecho extraído da obra O
livro (Casa da Palavra, 2001), de Alexandre Arbex Valadares.
LIVROTERAPIA OU
BIBLIOTERAPIA – […] A biblioterapia, quando consegue atingir seu objetivo e causar a
catarse, age como um procedimento terapêutico, no auxilio à eliminação de
problemas patogênicos, através das lembranças de acontecimentos traumáticos. [...] O uso da literatura ficcional na
biblioterapia obtém resultados significativos, pois os personagens ficcionais
despertam a catarse no ouvinte/leitor que passa por uma situação parecida com a
do personagem. Quando o leitor/ouvinte se identifica com as situações
vivenciadas pelo personagem ficcional, as emoções que são despertadas neste
provocam a catarse, isto é, a liberação das emoções através da identificação
[...]. Trecho extraído do estudo A aplicação da biblioterapia através da
hora do conto com crianças e adolescentes institucionalizados: pesquisa e ação
no Lar da Criança Raio de Luz (FURG, 2011), de Francine Baumbach Mattos.
Também é possível encontrar que: [...] A
biblioterapia torna-se um importante instrumento de transformação social na
medida em que alcança o indivíduo fragilizado, proporcionando a ele uma
interação com a sociedade e aliviando suas dores, angústias e sofrimentos.
[...]. Trecho do estudo Biblioterapia, a cura da alma pela leitura: um
estudo acerca de sua aplicação, benefícios e atuação do bibliotecário (UFRJ,
2013), de Amanda Barbosa Nogueira da Silva. Com isso pode-se inferir que
Biblioterapia é uma forma de terapia que faz o uso de textos, livros e
atividades de leitura com uma função terapêutica, desenvolvida a partir de
estudos do professor alemão Wolfgang Iser (1926-2007), do filósofo francês Marc-Alain Ouaknin e da
professora da UFSC, Clarice Fortkamp Caldin, valendo ressaltar tratar-se
de uma prática que tem sido muito usada para tratar várias situações clínicas,
como traumas, situações de decorrência da vida como o luto ou divorcio; hospitalizações,
ansiedade, bullying, desemprego, falta de perspectiva de vida, dependência
química, entre outras. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
I - Todo o colo \
me faz lembrar \ as tuas pernas \ O côncavo macio \ das tuas coxas \ Onde ainda
hoje \ eu poderia \ procurar o sono e o susto.
Educação
sentimental - Põe devagar os dedos \ devagar... \ e sobe devagar \ até ao cimo
\ o suco lento que sentes \ escorregar \ é o suor das grutas \ o seu vinho \ Contorna
o poço \ aí tens de parar \ descer, talvez \ tomar outro caminho... \ Mas põe
os dedos \ e sobe devagar... \ Não tenhas medo \ daquilo que te ensino.
Poemas da escritora
e jornalista portuguesa Teresa Horta. Veja mais aqui.
AMOR – [...] Expulsa de seus
próprios dias, parecia-lhe que as pessoas na rua eram periclitantes, que se
mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a
falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir.
Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da
frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser
revertidas com a mesma calma com que não o eram. O que chamava de crise viera
afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas,
sofrendo espantada. [...] A vida é horrível [...] Não havia como fugir. Os dias que
ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da
ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era
mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de
viver. [...] Trechos do conto Amor, extraído da obra Laços de Família (Rocco, 1998), da escritora e jornalista Clarice Lispector (1920-1977). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
DESLOCAMENTO - Eu não me
importo com a verdade; Eu me preocupo com arte e estilo e escrevendo e ocupando
a parede. Para mim, meu estilo de escrita está muito ligado ao fato de que é
uma obra de arte na parede. Eu tive que encontrar uma maneira de escrever
frases concisas e eficazes que as pessoas em pé ou entrando em uma sala podia
ler. A arte é uma maneira de remover a distância.
Os aspectos patológicos ou terapêuticos existem, mas apenas como catalisadores. Objetos sempre atendem à sua obsessão. Uma vez que você tenha uma
obsessão, você pisa nele em todos os cantos. Eu viajei por sete anos, E
quando voltei para casa, fiquei completamente perdido. Eu não sabia o que fazer
com a minha vida, então decidi deixar as pessoas decidirem por mim. No mês,
segui estranhos na rua. Para o prazer de seguir, não porque a festa me
interessa. Eu os fotografei sem o conhecimento deles, tomei nota de seus
movimentos e finalmente perdei a visão deles. No final de janeiro de 1980,
escolhi um homem e segui-lo a Veneza. Foi assim que comecei. Isso é tudo. Eu
tento toda vez que um projeto ter um final natural. Tanto quanto eu posso,
tento seguir a história e dar-lhe o seu próprio fim. Pensamento da
escritora, fotógrafa e artista conceitual Sophie Calle. Veja mais aqui.
VITRAL ALQUIMIA
A palavra quer
viver \ sempre livre (em puro mênstruo de ser fruto divino) \ fora dos
dicionários, presa dos sentidos claros \ dentro do poema, solta, alvo da
metáfora \ do dessentido, da proliferação dos fins \ foge do vulgar, do óbvio e
pleno, do comum substantivo...
Trecho do poema
Destino da palavra poética, extraído da obra Vitral Alquimia (CriaArt,
2023), do poeta Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.