A SOLIDÃO DE NIETZSCHE – Uma vez mais e esta será, definitivamente, a
minha última carta, Lou, esteja certa, asseguro. Sei que sou um poeta louco,
sobrecarregado de dores e não tenho um amigo sequer. Uma vez mais, reitero: nasci
velho e desprezo a mim mesmo. Tudo se passa na minha cabeça: desde a fatídica
queda do meu pai, a morte trágica recorrente, as dores insuportáveis da minha
grande cabeça, o sofrimento na fraqueza dos olhos estrábicos, a respiração difícil,
o corpo doentio, as vertigens, a minha irmã e a vida triunfante, a minha mãe e
os sonhos venturosos entre moribundos, a zombaria de todos. Só me resta viajar
com a música e os antepassados: a dor do mundo na face, a solidão e os livros por
meus ditirambos dionisíacos. Vivo entre a euforia e a depressão, o parcial e o
fragmentário, a apatia e a agonia: como poderia viver com a necessidade por
virtude, como poderia, ora, a fraude da moralidade – a raposa substituiu a
águia, a crueldade congênita para quem, desde criança, era chamado de pequeno
pastor. Ah, não! Não fui, nunca serei. Valho-me da bebida e das anedotas
escusas, a poesia obscena, a devassidão e os bordeis, perdi a vontade de viver
e grito de dor. Renunciei à vida, estou à margem do mundo, vivo a noite, não
mais suporto o dia e o crepúsculo dos ídolos. Por isso, uma vez mais, Lou, porque
a hora pode chegar a qualquer momento e encerrado numa água-furtada o céu é
vazio e infinito. Sinto-me cada vez mais só com meu poema aforístico como uma
tocha que a claridade da luz não treme, um intérprete do meu tempo que fala o
que foi emudecido à forma da mentira, estimulado a pensar e o pensamento
confirma a vida: a unidade da vida e da morte, a ascensão da montanha ao voo da
águia e os devires. Por isso a minha última carta estranha: sou um Dioniso
crucificado e se foi me dado uma oportunidade para a felicidade, este fora
diante do seu fogo vulcânico, seu jeito irrequieto de aquariana inteligente, companhia
divertida de exuberante e apaixonada pela vida: de longe, a pessoa mais
brilhante que conheci. Ah, os seus olhos azuis perturbadores e lábios carnudos
e sensuais me fazem ainda viver. Se me disseca, não me dilacera; ao contrário, me
faz meditar o amor, enquanto você premedita apenas uma tese. Os seus poemas me
perturbam com a oferenda de palavras enganosas, de efusões sem objeto, mas não
sem efeito. Eu pretendia, como sempre pretendi, desposá-la. Recusou-me, era seu
direito. Sofri, era meu destino: asfixiado de solidão, desiludido no amor. Estou
louco, um quase morto e o mal por você feito é pior que um assassinato, arrancou-me
o insubstituível. Bem dissera: fui e sou uma vítima da dependência de emoções
intensas e dos impulsos da alma. Eu sempre esperei: uma paixão à beira da
loucura. A compaixão é uma espécie de inferno. Uma vez mais e não precisará
responder esta missiva, como de resto fez a todas as demais cartas enviadas. A minha
doença se agravou por este amor não correspondido que carrego até o fim dos
meus dias. Tudo amargura e decepção. Mais tarde – se houver um mais tarde
depois de tudo -, não sei se poderei dizer mais do que sinto, uma vez mais humano,
demasiadamente humano com a vontade alegre e a gaia ciência. Sou apenas um
andarilho e sua sombra para além do bem e do mal. Sinto que já vou e só me
resta um adeus antecipado com sabor de nunca mais. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Se o leitor realiza os atos de apreensão
exigidos, produz uma situação para o texto e sua relação com ele não pode ser
mais realizada por meio da divisão discursiva entre Sujeito e Objeto. [...]
o efeito depende da participação do
leitor e sua leitura [...] o leitor
não mais pode ser instruído pela interpretação quanto ao sentido do texto, pois
ele não existe em uma forma sem contexto [...] só na leitura que os textos se tornam efetivos [...] o pólo artístico designa o texto criado pelo
autor e o estético à concretização produzida pelo leitor [...] a obra é o ser constituído do texto na
consciência do leitor [...] a
atualização da leitura se faz presente como um processo comunicativo que deverá
ser descrito [...] os elementos de
indeterminação permitem sem dúvida um certo espectro de realização, mas isso
não significa que a compreensão seja aleatória, pois representa a condição
central para a interação entre o texto e o leitor [...] A interpretação tende a mostrar‐se objetivista; em
consequência, seus atos de apreensão eliminam a multiplicidade de significações
da obra de arte. Se afirmarmos, como sucede muitas vezes, que uma obra
literária é boa ou má, então formamos um juízo de valor. Mas quando
necessitamos fundar esses juízos, utilizamos critérios que, na verdade, não são
de natureza valorativa, mas que descrevem características da obra em causa. Se
compararmos essas com as de outras obras, não conseguimos ampliar os nossos critérios,
pois as diferenças entre esses critérios já não representam o valor próprio. [...] um leitor
ideal deveria ter o mesmo código que o autor. Mas como o autor transcodifica
normalmente os códigos dominantes nos seus textos, o leitor ideal deveria ter
as mesmas intenções que se manifestam nesse processo. [...] Tal tipo de leitor precisa então não só das
competências citadas como também deve observar suas reações no processo de
atualização para que sejam elas controláveis. A necessidade dessa auto‐observação se
funda, em primeiro lugar, no fato de que Fish desenvolve sua concepção do
leitor informado em conexão à gramática transformacional, e, em segundo lugar,
em que algumas das consequências desse modelo gramatical não podem ser
integradas. [...] Nessas concepções do leitor se evidenciam interesses cognitivos
diferentes. O arquileitor apresenta um meio de verificação e serve para captar
o fato estilístico pela densidade de codificação do texto. O leitor informado é
uma concepção didática que se baseia na auto‐observação da
sequência de reações, estimulada pelo texto, e visa aumentar o caráter de
informação e assim a competência do leitor. Por fim, o leitor intencionado é um
tipo de reconstrução que permite revelar as disposições históricas do público, visadas
pelo autor. [...] Esses papéis mostram dois aspectos centrais que, apesar da separação
exigida pela análise, são muito ligados entre si: o papel de leitor se define
como estrutura do texto e como estrutura do ato. Quanto à estrutura do texto, é
de supor que cada texto literário representa uma perspectiva do mundo criada
por seu autor. O texto, enquanto tal, não apresenta uma mera cópia do mundo
dado, mas constitui um mundo do material que lhe é dado. [...]. Trechos
extraídos da obra O ato da leitura: uma
teoria do efeito estético – 2 volumes (34, 1996/99), do professor alemão Wolfgang Iser (1926-2007), que se
tornou a principal base da Estética da Recepção, nome pelo qual ficou
conhecida a Escola de Constança. O autor procura identificar as estruturas do
texto ficcional capazes de despertar certos efeitos no leitor, destacando seu
papel na constituição do sentido da obra literária. Veja mais sobre leitor,
leitura, biblioterapia & livroterapia aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
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A MÚSICA
DE ANA VIDOVIC
Quando eu tinha 16 ou 17 anos, não foi uma decisão fácil,
porque eu era criança e queria fazer outras coisas também. Eu sempre me
perguntei sobre escolher outra coisa, mas eu continuava voltando ao violão. Existe
uma conexão lá que não pode ser interrompida. Percebi então que teria que
trabalhar muito e sacrificar muito. É um processo longo. Eu não quero sair e
tocar uma peça nova que não esteja pronta. É difícil tocar uma nova peça pela
primeira vez. Demora muitos meses para se preparar. Às vezes, uma peça pode
parecer certa, mas pode não estar realmente pronta. Eu toco para que os amigos
recebam feedback e depois o apresento lentamente ao público. Quando uma peça é
nova, é emocionante tocá-la. Depois que você souber, você sempre terá. Você
pode guardá-lo e programá-lo para outra temporada. É assim que você constrói
seu repertório.
ANA VIDOVIC – A arte da violonista virtuosa croata, Ana
Vidović, que começou a estudar música aos 5 anos de idade e fez sua primeira
apresentação aos 7, tornando-se a mais jovem estudante na Academia Nacional de
Música de Zagreb. Ela já ganhou vários prémios e competições por todo o mundo. Veja
mais aqui.
&
MAIARA MORAES
Eu não nasci em família de músicos, mas meus pais sempre ouviram muita
música e meu pai tocava violão em um grupo de choro. Isso de certa forma me
aproximou da música brasileira. Quando pequena comecei a estudar um pouco de
piano, mas aos 12 decidi tocar flauta.
MAIARA MORAES – A arte da flautista Maiara Moraes que se formou em flauta popular pelo Conservatório de
Tatui e EMESP (SP), além de estudar na Escola Municipal de São Paulo.
Graduou-se em licenciatura pela UDESC e no mestrado em música pela UNICAMP,
onde, sob orientação do Prof. Dr. Rafael dos Santos, realizou pesquisa sobre o
flautista Copinha. Ele sempre se dedicou ao estudo da música popular
latino-americana, especialmente a brasileira, com foco na interpretação e
improvisação dentro dos gêneros. Veja mais aqui.
A ARTE DE MIGUEL COVARRUBIAS
A arte
do pintor, ilustrador, etnólogo, historiador e caricaturista mexicano Miguel Covarrubias (1904-1957). Veja
mais aqui.
A OBRA DE NIETZSCHE
O verdadeiro homem quer duas coisas: perigo e jogo. Por isso quer a
mulher: o jogo mais perigoso.
NIETZSCHE – A obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) aqui,
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&
LOU SALOMÉ
HINO À VIDA (1881) – Tão
certo quanto o amigo ama o amigo, / Também te amo, vida-enigma / Mesmo que em
ti tenha exultado ou chorado, / mesmo que me tenhas dado prazer ou dor. / Eu te
amo junto com teus pesares,/ E mesmo que me devas destruir, / Desprender-me-ei
de teus braços / Como o amigo se desprende do peito amigo. / Com toda força te
abraço! / Deixa tuas chamas me inflamarem, / Deixa-me ainda no ardor da luta / Sondar
mais fundo teu enigma. / Ser! Pensar milênios! / Fecha-me em teus braços: / Se
já não tens felicidade a me dar / Muito bem: dai-me teu tormento.
LOU SALOMÉ – A poeta e psicanalista russa Lou Andreas-Salomé (1861-1937), foi a
estudante eslava que conheceu o seu professor em 1882 - Nietzsche tinha então
trinta e oito anos e ela tinha apenas vinte e já era um modelo de mulher livre
e libertária. A paixão dele por ela perseguiu toda sua vida. Ela insubmissa,
enfrentou a rigidez religiosa na Rússia czarista e mudou-se para Zurique, na
Suíça, onde funcionava uma universidade que aceitava mulheres. Seu objetivo
inicial era o estudo, a meditação, a escrita. Casamento não cabia em seus
planos. Nem filhos. Envolveu-se em paixões viveu com o filósofo Paul Rée e o
poeta Rainer Maria Rilke, entre outras tantas, e foi admirada por Freud, a
única mulher aceita pela sociedade psicanalítica. Após o suicídio de Paul Rée,
em 1902, ela entrou em uma profunda depressão, a qual o médico austríaco Friedrich
Pineles a ajudou a se recuperar e, da amizade, nasceu um caso amoroso que
resultou em um aborto voluntário de Lou. Ela lançou o seu primeiro livro
chamado Na luta por Deus. Em 1893 ela
publicou um livro intitulado Ensaio sobre
a caracterização de Nietzsche. Escreveu o ensaio Anal und Sexual
(1916), entre outras obras. Sua vida é retratada no drama histórico Lou (2016), da diretora alemã Cordula
Kablitz e seu envolvimento com Nietzsche no filme Além do bem e do mal (1977), da diretora Liliana Cavani. Também nas
publicações Lou Salomé: a mulher a quem
Nietzsche amou (2016), de Lou
Andreas-Salomé: paixão e política Capa Comum (Milfontes, 2019), de Sônia Mattos Missagia;
e a Lou Andreas-Salome: la aliada de la vida, Stéphane
Michaud.
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Perto do
coração selvagem de Clarice Lispector, Brunilda & Gunther, a música de
Björk, O pensamento de Vicente do Rego Monteiro, Absurdo: Zenão de Eleia,
Kierkegaard, Unamuno, Camus & Sartre; Vontade de amar da poeta Yedda Gaspar
Borges, El, o alucinado de Luis Buñuel,
a arte da atriz Téa Leoni, Doro parafraseando Sartre & poemiuderótico
Paladar aqui.
&
A arte da pintora, desenhista, gravadora e professora
brasileira Anita Malfatti
(1889-1964) aqui, aqui, aqui & aqui.
&
&
A música
do compositor, arranjador, produtor musical e guitarrista Toninho Horta aqui,
aqui, aqui, aqui & aqui.