VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
QUANDO TOLINHO DEU UMA DE BUNDÃO E QUASE BATE AS BOTAS (Imagem: ilustração do Ginaldo Dionisio)-
Tolinho inda nem conhecia Bestinha quando quase esticou as canelas indo
pro-que-vai-num-torna. Era tempo ainda de rapazote, molecote das horas
arrepiadas no meio das freiras, no convento das irmãs Carmelitas, pintando e
bordando no meio das pinguins de Jesuisis. Elas davam maior folga pro tinhoso,
largadão de dar bundacanasca no meio do oratório. Era mesmo! Perdoavam até a
coleção de páginas arrancadas com fotos de mulher com as chebas arreganhadas
dos livros e revistas que apareciam às escondidas assanhando os meninos do
internato e apregadas aos montes nas paredes do seu quarto, além de fazerem
vista grossa com os seus profundos conhecimentos sobre a natureza da cloaca alheia.
Não, de orifício o bicho entendia: sabia de cor e salteado o número de pregas
no anel dos outros, mangando quando checava no teste da goma, a ausência de uma
delas. E num era pra menos, os que gostavam de agasalhar uma brachola sempre
zanzavam afoitas e se achegavam nele com uma coceira no papeiro, a fim de que
ele diagnosticasse o que se passava no seu frande e, consequentemente, sanasse
a comichão no seu escaninho. Num perdia tempo e, no prurido do alesado, ele
enfiava a macaca de chega dormir de braguilha aberta a noite toda. E ainda saía
dizendo que o colo ileopélvico onde passa a tripa gaiteira estava com uma
infecção só sanável com supositório de chapéu-de-vaqueiro de tantas polegadas
de diâmetro, injetável três vezes ao dia, antes da descarga dos borborigmos
eventuais. Isso acrescido de umas boas garrafadas ingeridas em jejum que ele
fabricava no porão da capela e causava flatulências abundantes de ouvir-se na
redondeza o maior peidorreiro da paróquia. Era póim! poim! poim! Tudo
azucrinando a paciência dos cristões dali. E estufava o peito quando falava de
fita cólica distal, de proctos, de retos, de sigmóide, de ramos epiplóicos, do
anel anoretal e catimbofá e furicos e retilínios e analógicos, patati patatá,
comprovando a sua profunda sapiência no assunto, vez que desviara um montão de
marmanjo para assumição pesada da pederastia. Nego que num tivesse firmeza na
homência, ele encaminhava para a pirobagem. Era só chegar um sorrateiro
desmunhecando, ele pei buft! Mais uma gazela saltitante na floresta. E para
azoar os homofóbicos, dizia, usando da sapiência do Trajano de Araripina que
era amigo do seu primo Lombreta-boca-de-frô: - Todo calango fudedor tem a
rodela do cu vermelho! Arrepia, Mané! A vida ali no convento das freiras era
muito boa e só passava aperto quando o dia já arreava pra noite que num via uma
caçola de qualquer delas. Ôxe, era um aperreio do nego sair dando dentada,
arrancando um taco do que tivesse pela frente. Ah! E quando chegava a ver
qualquer que fosse a cor das intimidades delas, vôte, dava um carreirão pro
matagal e só lhe encontrava tarde da noite com os olhos revirando na bronha.
Eram dez encarreadas. De mesmo. Bicho raçudo, esse. Tirante este aperto, era
para cima e para baixo na Rural, carregando as esposas de Jesuisis e aguentando
a pecha dos desafetos: - Eita, lá vai o macho das freiras! Já vai né? Tô vendo!
Virgem, que ele ficava injuriado. Comprava briga de instante em instante por
causa disso, e a negada caindo na maior gozação. Piorou, aí é que a mundiça
quando notou que ele esquentava o juízo com isso, caboetou para todos que agora
só tratavam-no como "macho-de-freira". Acabou-se, pronto, bicudo,
invocado, mordido com a gota, espezinhando de num adiantar em nada.
Macho-de-freira foi e ficou. Até hoje. Um dia lá, deu uma escapulida do
internato e encheu a cara na carraspana. Umas e outras até tarde da noite,
quando se recolhendo, escondido, de volta pro internato, no meio do caminho, às
escuras, se encontrou com uma manceba que caminhava a esmo entre as árvores do
parque ecológico vizinho e deitou maior chavecada nas ouças da moça, a ponto
de, depois de muita lengalenga, deixar o rapaz fuçar suas intimidades,
enterrando nela semente de fazer gente. Foi uma agonia porque besouros,
muriçocas, maruins, pernilongos vários, insetos de todo o tipo queriam
participar da orgia ritualística que ocorria a céu aberto. Era um impado vexado
a cada estocada que ocorria sincronicamente a cada picada dos indesejáveis
invertebrados nas partes mais variadas do corpo dos sedentos, a ponto de sair
todo pinicado de vermelho, mais parecendo acometido de sarampo ou rubéola. Um
deus nos acuda no dia seguinte, retirado do convívio dos outros para não
contagiar ninguém. Mas foi muita manha que elas deram pro safado. Botaram o
menino a perder, mesmo. Uns dias na cama, uns meses sem botar a venta na rua
mode castigo delas, quase dois meses depois, Tolinho inventa de dar outra
escapulida, durante a qual teve uma inusitada surpresa. - Sumiu, né, minino? -
Que é? - Táis isquecido d’eu, né? - Qui foi? - É assim mermo, depois que
arrevira e remexe, fica todo metido a desentendido! - E eu sei lá quem é você,
mulé! - É, dois meses atrás, tarde da noite, você me conhecia desde o dia que
nasci, até plantou semente nova em mim e hoje espero um filho seu! Tolinho teve
um baque do coração querer sair pela boca. Olhou direito para as feições da
moça: zarôlha, banguela, zambeta, ocrídia e grávida. Tudo isso junto, dava um
carnaval da porra! A mulher não era feia não, era horrível! Um ET era mais
simpático que aquela estrovenga de mulher ali, toda troncha, beiço arrebitado
de dar dobra embaixo do nariz, cabelo espichado à pulso mais parecendo vassoura
de piaçava enfiada na testa, os olhos aboticados parecendo mais que vão saltar
fora, meio mundo de peito estufado numa blusa apertada e encardida, os quartos
avantajados mais parecendo para-lama de fusca amocegado, um traste! O bicho deu
um carreirão de se esconder embaixo da cama. Notícia ruim, como se sabe,
espalha rápido. Os pais dele, seu Beliato e Dona Conça-tranca-rua, souberam e
foram catá-lo nos quintos dos infernos. - Vai casá, maloqueiro! - Mas, mãe... -
Mas, mas, nada! Mexeu com a moça, vai casar! - Mãe, aquilo num é moça, é um
bicho, mãe, tenha pena d’eu.... - Nada disso, cabeça num pensou, cu pagou! -
Aquilo é um monstro, vai me comer vivo, mãe, tenha pena d’eu, mãe... Num teve
jeito, a mãe irredutível. O seu Beliato ali, a tudo olhando, piscando os olhos,
mudo, assentindo com tudo que a mulher resolvesse. Num dava um pio; nem fedia,
nem cheirava. Dona Conça-tranca-rua que resolvesse as broncas dos filhos
maleducados deles. E não adiantou nada Tolinho espernear, suplicar pela
intervenção do pai, pedir por clemência à mãe, jurar inocência pelos santos do
céu e do inferno, se ajoelhar choroso, plantar bananeira, contorcer-se, estropiar-se,
desmilinguir-se, prantear-se, nada. Num tinha quem demovesse a decisão
inexorável da mãe. Tolinho estava entregue, a sina queimava o seu filme. Sem
saída, todo macambúzio, precisou tomar qualquer decisão, menos casar com aquela
assombração. Até que foi chorando pro quarto dos pais, remexeu umas gavetas,
pegou o revólver do pai e pei! - E aí, doutor, como é que está o desgraçado? -,
perguntou a mãe entre aflita e revoltada. - Nada não, dona Conça, está bem... -
Ele perdeu ou num perdeu o pingulim? - Não, não, o pingulim tá salvo, ele só
ficou rancôlho. E veja mais aqui, aqui e aqui.
ANITA MALFATTI (Imagem: Nu reclinado, 1920) – A
pintora, desenhista, gravadora e professora do Modernismo brasileiro, Anita Malfatti (1889-1964), iniciou sua
trajetória artística, em 1914, com uma exposição das suas obras, embarcando
para os Estados Unidos no ano seguinte para estudar na Art Student’s League e,
depois, na Independet School of Art. Em 1917, retorna ao Brasil para uma
segunda exposição individual. Com a crítica de Monteiro Lobato, todas as telas
vendidas foram devolvidas ou destruídas. Mesmo assim, ela depois ilustra livros
dele. A partir de então ela participou do grupo da Semana de Arte Moderna, de
1922, expondo vinte e dois dos seus trabalhos, seguindo no ano seguinte para a
França e só retornando ao Brasil em 1928, para realizar novas exposições até
1932, quando passou para o ensino escolar, até o seu falecimento em 1964. Veja
mais aqui e aqui.
TONINHO HORTA – Curtindo o álbum Terra dos Pássaros (Independente, 1980 – Dubas/WEA, 1995), do
compositor, arranjador, guitarrista e produtor musical Toninho Horta com a Orquestra Fantasma. Toninho Horta aparece no
cenário musical no II Festival Internacional da Canção, de 1967, com a música
Maria Madrugada, em parceria com Júnia Horta; e em 1969 no IV Festival
Internacional da Canção, com a música Nem é carnaval, em parceria com Márcio
Borges. A partir de então, passa a tocar com Nivaldo Ornelas e Milton
Nascimento, passando a integrar, em 1970, do grupo A Tribo, com Joyce, Nelson
Ângelo, Novelli e Naná Vasconcelos. Depois disso, passou a tocar com os maiores
nomes da música brasileira, até mudar-se em 1989, com Diamond Land, para os
Estados Unidos, passando a tocar com grandes artistas e consolidando o seu nome
entre os maiores da música universal. Veja mais aqui e aqui.
AS HOMEOMERIAS – O filósofo grego do período
pré-socrático Anaxágoras de Clazómenas
(Cerca de 500-428aC), fundou a primeira escola filosófica de Atenas,
contribuindo para expansão do pensamento filosófico e científico. Após ser
acusado de impiedade, mudou-se para uma colônia de Mileto, Lâmpsaco, na qual
fundou uma nova escola. Foi a partir de então que ele escreveu um tratado com o
título Sobre a Natureza, procurando conciliar a existência do múltiplo frente à
critica de Parmênides, propondo, como os pluralistas, um principio que
atendesse tanto às exigências teóricas do ser imutável, princípio de tudo,
quanto à contestação da existência das múltiplas manifestações da realidade. A
esse princípio ele denominou de Homeomerias, ou seja, as sementes que contém
uma porção de cada coisa e dão origem à realidade em sua pluralidade de
manifestações, afirmando que o universo de constitui pela ação do Nous –
entendido como inteligência, e que é autônomo, ilimitado e não misturado com
nada -, e que atua sobre uma mistura inicial formada pelas homeomerias,
ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Dos fragmentos de sua obra,
destaco o trecho: [...] Junto todas as
coisas eram, infinitas em quantidade e em pequenez; pois o pequeno era
infinito. E, sendo todas junto, nenhuma era visível por pequenez. Ar e éter
ocupavam todas, sendo ambos infinitos, pois estes são os maiores no conjunto de
todas, em quantidade e grandeza. [...] As
outras coisas têm parte de tudo, mas espírito é ilimitado, autônomo e não está
misturado com nenhuma coisa, mas só ele mesmo por si mesmo é. Pois, se ele não
fosse por si, mas estivesse misturado com outra coisa, participaria de todas se
estivesse misturado com uma; pois em tudo é contida uma parte de tudo, assim
como está dito por mim em passagens anteriores. E o teriam impedido as coisas
com ele misturadas, de modo a nehuma coisa poder dominar tal como se fosse por
si mesmo. É a mais sutil de todas as coisas e a mais pura e todo conhecimento
de tudo ele tem e força máxima; e sobre quantas coisas têm alma, das maiores às
menores ele tem poder. E sobre toda a revolução ele teve poder, de modo que
revolveu do princípio. E primeiro a partir de um pequeno começou a resolver e resolve
ainda e resolverá ainda mais. E as coisas que se misturavam e se apartavam e
distinguiam, todas espirito conheceu. E como haviam de ser e como eram quantas
agora não são, e quantas agora são e quantas serão, todas espirito ordenou e
também esta revolução em que agora revolvem os astros, o sol, a lua, o ar, o
éter, os quais se apartavam. A própria revolução os fez apartar-se. E se aparta
do ralo o denso, do frio o quente, do sombrio o luminoso, do úmido o seco. Mas
as partes são muitas de muitas coisas. E absolutamente nehuma coisa se aparta
nem se distingue uma da outra, exceto espírito. Espirito é todo ele homogêneo
tanto o maior quanto o menor. Mas nenhuma outra coisa é homogênea com qualquer
outras mas cada uma é e era manifestamente o que mais contem. [...] Veja
mais aqui, aqui e aqui.
A MÃE DA LUA – No livro Lendas maranhenses (Revista da Cultura Política, 1943), encontro
transcrita por Inácio Raposo, a história da Mãe-da-Lua: Mãe-da-lua, a que muitos chamam de urutau, é uma ave sinistra que, ao nascer
da lua, solta gritos irritantes. Antes de ser ave, era uma moça feia, alta,
magra, esquelética, com os olhos vermelhos e o nariz comprido demais. Pelava-se
por casar. Em certa noite bem negra, bem pesada, saiu a passear numa estrada
deserta e aí se encontrou com um príncipe que se perdera no caminho.
Mãe-da-lua, que era muito gentil, ofereceu-se para guia-lo. O príncipe aceitou
o oferecimento e lá se foram os dois pela estrada, namoricando no escuro.
Aconteceu, porém, que o moço lhe falasse em casamento. Mãe-da-lua não se fez de
rogada e, assim, ficaram noivos de repente; mas eis que, radiosa surge a lua no
espaço. O príncipe, aterrado com a fealdade da sua noiva, tratou de pôr-se ao
fresco, dizendo apressadamente: - Espere-me, senhora minha, que vou ali e já
volto. Mal pronunciara esta última palavra, desapareceu de súbito, deixando a
pobre moça a ver navios. Mãe-da-lua esperou por muito tempo, e desesperou por
fim. Nisso passa uma feiticeira, conhecida sua. – Olá, minha comadre, você não
viu por aí um príncipe bonito e louro que vai casar-se comigo? – Casar
contigo?... não me parece negócio. És muito boazinha, mas a cara não te ajuda.
– Ora, não me diga isso, comadre. Tivesse eu uma asa, que voaria atrás do meu
noivo! – Ah... queres umas asas? – Como não? Se as pilhasse, sentir-lhe-ia
feliz! Mas muito feliz! – Pois faço-te a vontade. E estendeu a mão sobre a
cabeça da Mãe-da-lua, que imediatamente se transformou numa ave e disparou a
voar pelo firmamento. Desapareceu a bruxa, e a Mãe-da-lua, coitada, vagou a
noite inteira sem resultado algum. Vindo a aurora, recolheu-se, entre suspiros,
a um oco de pau que encontrou vazio, e lá ficou morando definitivamente. E
dessa hora em diante, sempre que surge a lua no céu, a noiva desprezada bota a
cabeça fora do buraco e, a recordar-se do noivo, solta gritos irritantes, com
voz histérica que, numa escala descendente, repete: - Foi!... Foi!... Foi!...
Foi!... Veja mais aqui.
MEMÓRIAS DO BOI SERAPIÃO – No Livro
Geral (São José, 1959), de Carlos Pena Filho, encontro o cordel com as
Memórias do Boi Serapião: Este campo, / vasto
e cinzento, / não tem começo nem fim,/ nem de leve desconfia / das coisas que
vão em mim / Deve conhecer, apenas / (porque são pecados nossos) / o pó que
cega meus olhos / e a sede que róí meus ossos. / No verão, quando não há / capim
na terra / e milho no paiol, / solenemente mastigo / areia, pedras e sol / Às
vezes, nas longas tardes / do quieto mês de dezembro, / vou a uma serra que eu
sei / e as coisas da infância lembro: / instante azul em meus olhos / vazios de
luz e de fé / contemplando a festa rude / que a infância dos bichos é... / No
lugar onde eu nasci / havia um rio ligeiro / e um campo verde e mais verde / de
um janeiro a outro janeiro; / havia um homem deitado / na rede azul do terraço
/ e as filhas dentro do rio / diminuindo o mormaço. / não tinha as coisas
daqui: / homens secos e compridos / e estas mulheres que guardam / o sol na cor
dos vestidos, / nem estas crianças feitas / de farinha e jerimum / e a grande
sede que mora / no abismo de cada um. / Havia este céu de sempre / e, além
disto, pouco mais / que as ondas na superfície / dos verdes canaviais. / Mas,
os homens que moravam / na língua do litoral / falavam se desmanchando / das
terras gordas e grossas / daquele canavial; / e raras vezes guardavam / suas
lembranças mofinas: / as fumaças que sujavam / os claros céus que cobriam / as
chaminés das usinas. / Às vezes, entre iguarias, / um comentário isolado: / a
crônica triste e curta / de um engenho assassinado / Mas logo à mesa voltavam /
que a fome bem pouco espera / e os seus olhos descansavam / em porcelanas da
China / e cristais da Baviera / Naquelas terras da mata / bem poucos amigos
fiz, / ou porque não me quiseram / ou então porque eu não quis / Lembro apenas
um boi triste, / num lençol de margaridas / que era um encanto do menino / que
alegre o tangia para / as colinas coloridas / Um dia, naquelas terras / foi
encontrado um boi morto / e os outros logo disseram / que o seu dono era o
homem torto / que em vez de contar as coisas / daqueles canaviais / vivia de
mexericos / "entre estas Índias de leste / e as Índias Ocidentais" / A
verde flora da mata / (que é azul por ser da infância) / habita os meus olhos
com / serenidade e constância. / Este campo, / vasto e cinzento, / é onde às
vezes me escondo / e envolto nestas lembranças / durmo o meu sono redondo, / que
o que há de bom por aqui / na terra do não chover / é que não se espera a morte
/ pois se está sempre a morrer / em cada poço que seca / em cada árvore morta /
em cada sol que penetra / na frincha de cada porta, / em cada passo avançado / no
leito de cada rio, / por todo o tempo em que fica / despido, seco, vazio / Quando
o sol doer nas coisas / da terra e no céu azul / e os homens forem em busca / dos
verdes mares do sul, / só eu ficarei aqui / para morrer por completo, / para
dar a carne à terra / e ao sol meu branco esqueleto, / nem ao menos tentarei / voltar
ao canavial, / pra depois me dividir / entre a fábrica de couro / e o terrível
matadouro / municipal. / E pensar que já houve tempo / em que estes homens
compridos / falavam de nós assim: / o meu boi morreu / que será de mim? / Este
campo, / vasto e cinzento, / não tem entrar nem sair / e nem de longe imagina /
as coisas que estão por vir, / e enquanto o tempo não vem / nem chega o milho
ao paiol, / solenemente mastigo / areia, pedras e sol. Veja mais aqui,
aqui, aqui e aqui.
ESTRATÉGIA DOS PERSONAGENS
DRAMÁTICOS - No livro Semiologia
da representação: teatro, televisão, história em quadrinhos (Cultrix,
1975), organizada por André Helbo, encontrei o texto Estratégia dos
personagens dramáticos, de Solomon Marcus, do qual destaco o trecho: Os estudos romenos sobre a estratégia dos
personagens dramáticos começaram em 1966 [...] A ideia básica de tais estudos é a seguinte: aplica-se a qualquer peça
de teatro um quadro tendo m linhas e n colunas (m para o número de personagens
e n para o de cenas). Na intersecção da linha da classe i com a coluna da
classe j coloca-se l quando o personagem da classe i está presente na cena de
classe e j e O em caso contrário. A investigação ulterior repousa sobre o
tratamento da informação fornecida por esse quadro. Mas, para obter o quadro, é
necessário precisar o estatuto do personagem da cena dramática (situação
dramática). A situação dramática é considerada como sendo o intervalo máximo de
tempo em que não ocorrem mudanças no que concerne ao cenário ou à configuração
de personagens. ESTATUTO DO PERSONAGEM: o inventário dos personagens é
determinado segundo os seguintes critérios: a – presença ou ausência de
replica; b – caráter humano ou não-humano; c – caráter animado ou inanimado; d
– presença ou ausência de um ator; e – participação ou não participação na
ação; f – adoção do ponto de vista do espectador ou do ponto de vista de um personagem;
g – permanência ou variabilidade do estatuto do personagem; h – a importância
dramática; i – modo de percepção; j – modo de encarar o palco; l – caráter
obrigatoriamente individual ou, também, admissão de personagens coletivos. O
critério a permite decidir se os criados que percorrem em silencio a cena no
inicio do primeiro ato de Macbeth, ou a sombra de Banquo dessa mesma peça, são
personagens. No que tange ao urso que persegue Antigona em Conto de Inverno,
pode-se aplicar o critério b. o critério c se reporta a situações como a da
estátua de Hermione, dessa mesma peça. O ultimo exemplo cabe também no critério
d, que, por sua vez, pode ser aplicado ao caso de um menino como Miguel do
Círculo de Giz Caucasiano, de Brecht (em que idade um menino tem consciência de
caráter convencional do teatro e pode, por conseguinte, ser um ator que mantem
distância no que diz respeito a uma pessoa que vive de maneira autentica?). [...]
Veja mais aqui e aqui.
APOCALYPSE NOW – O filme de guerra Apocalypse Now (1979), dirigido pelo cineasta estadunidense Francis Ford Coppola, conta sobre a
guerra do Vietnam, mais precisamente sobre um oficial de operações especiais do
exército estadunidense, com uma missão para matar um renegado e presumido
coronel das Forças Especiais que, aparentemente enlouqueceu e passou a comandar
seu próprio exercito como um semideus. Anos depois, ocorreu a versão acrescida denominada Apocalypse Now - Reduz, com 45 minutos a mais que a versão inicial e provocando o mesmo impacto quando do seu lançamento. Essa nova montagem, possui importantes cenas s inclusões são apenas brincadeiras e conversas, reiterando o niilismo e a ideia de absurdo da existência humana, constatando que as novas guerras repetem os velhos horrores da condição humana. Trata-se de um dos mais importantes
filmes sobre guerras, que revela os diversos ângulos das iniciativas bélicas e
dos propósitos beligerantes dos governantes. Imperdível. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
O blog Estudante de Filosofia é um local para estudantes de Filosofia e de
outras áreas do saber humano, divulgando matérias sobre Psicologia, Sociologia,
História, Existencialismo, Fenomenologia, Holismo, entre outras áreas
acadêmicas. Trata-se um local de reflexão dos vários saberes, tendo por
objetivo divulgar o conhecimento.
DEDICATÓRIA