quinta-feira, dezembro 03, 2015

O NATAL DE POPÓ COM DENEUVE, BJÖRK, JOSEPH CONRAD, NINO ROTA. VIVIANE, LARS, TEATRO, VIVIANE, MEIMEI & MUITO MAIS!



VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O NATAL DE POPÓ - Popó é o papagaio do Doro. Um psicitaciforme piouníneo, mais apropriadamente um Amazona aestiva, com colorido predominantemente verde, encontros das asas vermelhas e a fronte tingida de azul, numa plumagem atraente, brilhante e colorida. Popó? Eita, tagarela! Fala pelos cotovelos. Só vive mexendo com tudo e com todos. Mora ali já desde anos, tendo, segundo dizem, percorrido toda árvore genealógica dos Doros. É um bicho peralta, gosta de dar bicada na cabeça dos desavisados que se insinuam por seu território. Gente, com aquele bico, adunco, curto e bojudo ele proporciona uma dor indesejável em quem quer que seja. Quando não é isso, todo folgadão, num deixa de participar do converseiro familiar. Maior tititi. Para se ter uma ideia, Popó acorda o povo solfejando o hino nacional: pãrã pãrã pãrã pãrã pãrã pãrãaaaaã pãrã… É, na vera. Maior barulhada! E em tempo de copa do mundo, danou-se, aí é que ele se mostra brasileiro da gema, a ponto de se vestir a rigor, com camisa, tênis, calção, boné, todo paramentado de verde-amarelo, e de sair narrando o jogo o dia inteiro, feito locutor endiabrado, principalmente os lances de gol. E os pitacos na hora do jogo? Nossa, parece mais peru que fica dizendo faz assim, faz assado, vai porra, num deixa a peteca cair, desgraçado, vai, vai, vai!… até quando o gol sai e ele ginga solto dando bundacanasca no ar. Brasil!!!!!! - Eita, esse tomou da água de chocalho! -, reclamam costumeiramente. Ninguém vê nada, ninguém ouve nada, só dá ele na cabeça! Maior amostramento. E bote adiantado nisso. - Qualquer dia desses, eu faço esse papagaio ficar mudo! -, ameaça Doro. Outra: não pode ver chuva, ocasião que não dá o menor pio possível e quando alguém constata o seu silêncio, chega lá onde o mudo está e encontra o danado a postos, com máscara, pés-de-pato e respirador, pronto para manobras de sobrevivência. Pode? - Esse é o papagaio mais cheio de munganga, mais cheio de pantim que já vi na vida -, diz Doro mangando da ave. Ôxe, isso não é nada, ele gosta de soltar assobio para as mocinhas e mulheres que passam, dele ficar berrando: - Eita cacarejado bom! Sou bom nisso! Sou bom nisso! Isso sem contar uma paixão platônica por uma cracatua branca da vizinhança e das paqueras insolentes por uma arara doutro quarteirão, que, invariavelmente, levam-no a expressar sua dor-de-cotovelo por canções de roedeira braba. Tome lubrificação de gaia, larari, larará. - Esse Popó é corno, tenho certeza! Vai gostar de brega assim na casa de caixa-pregos, vai! -, mais uma reclamação vinda de alguém. Quando Doro mesmo chega em casa, ele logo diz: - Eita, macacada, chegou o corno-mor! Ôxe, Doro fita o folgado pelo canto do olho, prometendo providências para muito em breve. Ah, ele nem aí. E quando todos se sentam para o café da manhã, ou almoço ou jantar, ele começa o enredo, descobrindo podres de um ou de outro dos ocupantes da mesa. - Esse papagaio deve ser da turma da Candinha, vai gostar de fofoca assim na casa da puta da tua mãe, enredeiro! Nem, nem. Vôte! Mas de quem ele mais tem verdadeira ojeriza é do vizinho: o Jardenildo. Quando o cabra aparece, ele solta maior caboetagem das atitudes salafrárias do desafeto. Tudo isso, porque certo dia, Jardenildo entrou na casa e insinuou que o Popó era viado, porque tinha pra mais de 50 anos e jamais vira dizer que ele havia acasalado qualquer arara, cracatua, periquita ou tuin. - Esse papagaio deve acasalar uma brachola! -, insinuava Jardenildo. - Rapaz, mas num é qui é mermo, parece que esse papagaio quebra na munheca! -, assevera na zombaria o Doro. - Nunca que ouvi dizer que um papagaio pudesse ser tão fresco. Ai, veja o jeitão dele! É ou num é pirobo? - Rapaz, mas num é qui é mermo que ele tem todas as ferramentas!? O quêeeeeee? Popó virou na porra! Ôxe, ingicou-se de ficar imóvel por horas e horas. E o pior: lá prás tantas, o Jardenildo cheio dos quequéos, achou de, ninquém sabe por que razão, pegar o bicho desprevenido e tascar uma dedada no furico dele. Menino, foi aí que ele se indignou e prometeu revide na maior desforra. Hum, ficou invocado de formas a não querer jamais dirigir a palavra pro apaideguado. E lá se vai tempo, remoendo, remoendo. Dia desse finalmente chegara o natal, Popó lá, solto: “Jingle bell, jingle bel, acabou papel, não faz mal, não faz mal, limpe com meu pau!”. O bicho era desbocado mesmo. Parodiava as músicas natalinas com insinuações sacanas de fudelança e cornagem na redondeza. Não escapava ninguém. Depois dele soltar meio mundo de insulto, Doro arretou-se, já alterado pela carraspana, pegou Popó pelo gogó, deu-lhe uns bregues e fez com que ele bebesse aguardente. Destá, hã! Popó fez ar de maior repugnância, mas, no frigir dos ovos, gostou. Gostou tanto que até hoje cultiva o hábito de se aventurar numa cachaçada boa, enrolando a língua e soltando lorota à toa. Pois bem, foi nesse natal que ele sentiu que podia se vingar de quem guardava maior rancor. E foi, vez que lá pras tantas chega Jardenildo mostrando algo. - Doro, vê só o presente que papai Noel me deu! -, era Jardenildo não se contendo de felicidade. - Rapaz, isso foi papai Noel que deu, foi? - Foi, rapaz. - Tu tem certeza? - Tenho. Minha mulher agarantiu que papai Noel deixou isso lá em casa para mim. - Rapaz…. - Verdade. Eu confio na minha mulher. Ela é a mais honesta do mundo. - Rapaz…. - Tá duvidando da honra da minha mulher, é? Se ela disse que foi papai Noel, disse por que foi! Pronto! Aí Popó se vingou: - A-há! Esse papai Noel é um sujeito pintudo que dá uns amasso na madame mulher dele, toda vez que ele não tá em casa. O cara é só socavando nela. Pronto. Não tá mais aqui quem falou, câmbio, desligo! Bum!!!!! Era uma vez… E veja mais aqui.


Imagem: Female nude, do artista plástico inglês William Etty (1787-1849). Veja mais aqui.

 Curtindo os álbuns The Film Music of Nino Rota & The Essential Nino Rota Film Music Colletion, com as música para o cinema do compositor italiano Nino Rota (1911-1979).

ELAS NÃO SABEM O QUE DIZEM – Na obra Elas não sabem o que dizem: Virginia Woolf, as mulheres e a psicanálise (Zahar, 1999), da psicanalista francesa de origem neerlandesa, Maud Mannoni (1923-1998), destaco os trechos: [...] A família do século XIX acabou. A de hoje se funda no contrato social imaginado por Rousseau para a vida política; repousa sobre um “estar junto”, respeitando a vida profissional da mulher, associando pai e mãe na responsabilidade da educação dos filhos. [...] Não há como evitar: a mulher, como mãe, encontra-se na origem da guerra dos sexos que ocorre no inconsciente dos homens. Em nome da mãe excessivamente presente e do pai ausente, ela está também na origem da relação de ódio-amor que as mulheres têm entre si mesmas. Sua função de educadora é sempre marcada por ter mãe demais ou de menos. O pai, paradoxalmente, se beneficia em estar menos presente: é assim mais facilmente idealizado. O lugar simbólico que lhe é atribuído não depende da importância que a mãe lhe dá, em sua fala? O pai presente na fala da mãe – foi a isso que Lacan nos tornou atentos. Mas, se ele não está suficientemente presente como referente na fala da mãe, é mais uma vez esta que será acusada! Não fomos nós que fabricamos esse homem misógino, autoritário, talvez um pouco condescendente em relação às mulheres quando simplesmente não as despreza? Essa teia de aranha da qual ele quer escapar, para, quando adulto, prender nela a mulher, não se teceu sem que as próprias mães soubessem? A divisão sexual das tarefas, a proibição do incesto, a união reconhecida dos casais (casados ou concubinos) são o próprio fundamento da estrutura social. Daí resultam atores sociais (homens e mulheres) e uma relação que se traduz por uma desigualdade vivida, embora, no Ocidente, se tenda cada vez mais para uma “igualdade dos sexos”. [...] Veja mais aqui e aqui.

O CORAÇÃO DAS TREVAS – No livro O coração das trevas (Estampa 2000), do escritor polonês radicado na Inglaterra, Joseph Conrad (1857-1924), destaco o trecho: A Nellie, chalupa de recreio, rodou à volta da âncora sem panejar as velas, e ficou imóvel. A maré enchia quase sem vento, e com o seguíamos rio abaixo só nos restava fundear à espera da viragem. O estuário do Tamisa rasgava-se como a boca de um canal interminável. Céu e mar uniam-se ao largo, sem traço de separação, e as velas crestadas das barcaças, a subirem com a maré, pareciam imobilizar-se no espaço luminoso como fardos de lona muito tensa, vermelhos, onde luzia o verniz dos mastros. As margens baixas corriam para o mar e sobre elas carregava uma névoa diluída na planura. O ar estava sombrio acima de Gravesend, e mais longe parecia condensar-se numa treva desolada que pesava, imóvel, sobre a mais vastae grandiosa cidade do mundo. O diretor da Companhia era nosso capitão e anfitrião. De costas, com os olhos postos no mar, a nós quatro inspirava simpatia. Em todo o rio nada havia mais náutico do que ele. Tinha ar de piloto de barra, o que entre marinheiros quer dizer confiança personificada. Era difícil admitirmos que a sua profissão deixasse de chamá-lo ali, ao luminoso estuário, e o não levasse longe, para enigmáticas sombras. Eu já disse noutro lado que a todos nos ligava o laço do mar. Em largos períodos de afastamento mantinha unidos os nossos corações, mas, além disso, garantia a tolerância mútua que devemos às nossas histórias - ou mesmo certezas. O advogado - o melhor dos camaradas – era homem com tantos anos e virtudes que lhe dávamos direito à única almofada e a estender-se no único tapete do convés. O contabilista já tinha à frente a caixa do dominó e divertia-se a fazer construções com pedras de osso. Marlow, esse estava à popa com as pernas cruzadas e encostado ao mastro da catita. Era um homem de rosto cavado, tez lívida e tronco hirto. Com ar ascético de ídolo. [...]. Veja mais aqui.

A VOZ, A POESIA & VÍDEOS – Como sinal de gratidão e indispensável homenagem, fiz uma reunião parcial do trabalho da queridamada poeta e radialista Meimei Corrêa no Blogagenda. Lá estão os poemas dela recitados por ela mesma, os meus poemas na voz dela, as canções de parcerias dela e as que fiz pra ela e os meus poemas recitados por mim e dedicados pra ela, todos já incluídos no meu canal do YouTube, relacionados nessa seleção do excelente trabalho por ela desenvolvido. Ela além dessa atividades edita o maravilhoso blog Baú deIlusões, no qual ela reúne todo o seu trabalho literário e demais atividades. Entre os poemas que ela a mim dedicou, destaco Ser teu amor: Ser teu amor é mais que renascer Para a vida que antes não me sorria É sonhar, ser livre, ter paz, viver Sou tão feliz por ser tua alegria Ser teu amor faz da vida um encanto Que acolhe a poesia dos meus segredos Tu me afagas, secas meu pranto E arrancas do meu ser todos os medos Ser teu amor faz de mim tua musa Faz de mim paixão debaixo da blusa E toda a explosão no meu coração Ser teu amor é brilhar no sorriso Que me vem de ti e o que mais preciso Se seguimos juntos nessa emoção. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A PEÇA DE TEATRO – No livro Teatro (Fename, 1980), da escritora e dramaturga Maria Clara Machado (1921-2001), encontro o texto A peça de teatro, o qual destaco: As histórias passadas no teatro são chamadas de peças de teatro e o lugar onde se passam essas histórias chama-se palco. Para haver teatro é preciso uma história, alguns atores para representar e um palco. O palco pode ser daqueles que se veem comumente nos teatros com cortina e cenários e pode ser também qualquer lugar onde haja espaço para se representar. Uma sala grande ou um tablado armado no meio de um terreno, tudo isso pode servir para se representar uma peça. Como é que se começa a fazer uma peça de teatro? depois que ela foi escrita pelo dramaturgo (escritor de peças de teatro), o diretor da peça reúne os atores para distribuir os papeis. Então ele escolhe os atores e atrizes que vão representar a peça. Aí começa um trabalho muito difícil. É o estudo da história pelo diretor e pelos atores para se entender o que a história quer contar. Todos se sentam em volta de uma mesa, cada um com um texto na mão e começam a ler seus papeis enquanto o diretor vai descobrindo a significação de tudo. E ele sabe a significação de tudo? Bem, ele tem mais experiência que os atores e procura, ouvindo a história, descobrir por que um personagem (personagem são as pessoas da peça) faz isto ou aquilo. Por exemplo: se um personagem chamado João diz para sua irmã que se chama Maria “Vamos fugir de casa” o diretor e os atores têm que descobrir se João está brincando, se está falando sério, se quer mesmo fugir porque está infeliz, etc. Só depois de descobrir estas coisas é que os atores começam a se movimentar. Depois de estudar o texto, então eles vão para o palco. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.


DANCER IN THE DARK – O drama musical Dancer in the Dark (Dançando no escuro, 2000), dirigido e roteirizado pelo cineasta dinamarquês Lars von Trier, é o terceiro da trilogia composta pelos filmes Ondas do destino e Os idiotas. O filme se passa nos Estados Unidos, no ano de 1964, e a protagonista, uma imigrante tcheca que se mudou para aquele país com seu filho, aluga um trailer na propriedade do policial local e sua esposa, onde vive muito humildemente. Para sobreviver, trabalha em uma fábrica de indústria metalúrgica pesada com sua melhor amiga. O que ninguém sabe é que uma delas sofre de uma doença hereditária degenerativa que está lhe ocasionando uma rápida cegueira progressiva. Por este motivo, ela guarda cada centavo em uma lata em sua cozinha para custear uma operação que evite que seu filho sofra do mesmo destino. O destaque do filme é duplo: primeiro, para a sempre bela atriz francesa Catherine Deneuve e, em segundo para a protagonista, a cantora e compositora islandesa Björk, que compôs e gravou a trilha sonora em um dos seus álbuns, Selmasongs. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
A arte do escultor francês Étienne-Maurice Falconet (1716-1791).

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à poeta, filósofa, psicóloga e psicanalista capixaba, Viviane Mosé. Veja aqui e aqui.

MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...