VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? É SÁBADO PRA VIVER - É sábado. E porque hoje é sábado, como diz Vinicius de
Morais no Dia da Criação, amanhã é
domingo e a vida vem em ondas como o mar. E se é sábado, seja do hebraico
Shabat ou das satúrnias, eu vou com o raio do Sol pra viver. Durante o dia sou
todo vigília e a noite foi feita pra
sonhar! E como sou noitedia, vigília e sonhos são uma coisa só. Desculpei a
tudo e todos, perdoei até o que não devia – porque o perdão é com a consciência
de cada um, não comigo nem com a vítima da desfaçatez -, mesmo sabendo que tem
palavras que não se retiram e escritos que não apagam. De manhã vou como um
Neandertal solitário rabiscando nas paredes duma caverna insondável, com a contundente
teimosia da sinceridade enjaulada no escuro e com todos os símbolos acumulados
na memória. E articulo minha linguagem num solilóquio que só eu mesmo posso
entender, vez que minhas narrativas jamais servirão por herança porque são
palimpsestos que não resistem a qualquer simples sopro inexorável das horas, se
evaporando instantaneamente logo depois de pensadas e escritas. Já me perdi das
lendas e mitos que fundaram as civilizações, estou tal como um elo perdido sem
saber das assembleias retóricas e dialéticas. Não uso de artificio algum para
falar e escrever, e me perdi na amplitude heterogênea da imaginação e no
intransponível abismo entre o pensado e o percebido no barulho da realidade,
que não me deixa sequer pensar, vez que é nada mais que postiça sobre todo o
automatismo coletivo que não distingue o verdadeiro ou falso. Vou com meu
acervo de erros além da redoma do tempo e do espaço, devassando o véu do futuro
nessa manhã entre ensolarada e chuvosa, pra diante de situações terríveis, como
na queda de quem caiu em desgraça pelas risadarias desordenadas pelo ridículo, me
prostrar diante da perplexidade de proclamações e brados inúteis que não me
deixam o sono sossegado no meu isolamento abismal. É que o amor também erra – e
feio! O que me faz de um bufão cercado de burlas e farsas por todos os lados. É
tudo assustadoramente complexo se sobrepondo sobre aqueles que pensam pobres,
estreito ou deficitário sobre si e todas as coisas, com os seus medos de alarmes
imprecisos na combinação entre os olhares e gestões, palavras vagas ou
retumbantemente temperamentais de preocupações ou arrependimentos. Vou a
reboque das genuínas aleivosias e da vulgaridade maciça que não possui modos e
que é dolorosa e desnecessária, além de que se saiba ou se suspeite de nada
disso no esforço canhestra das suposições volatizadas na poeira de hoje pela tirania
de Saturno tão despótica quanto ignorada, ostensivamente estampada nas
notícias, nos acenos, nos afetos e nas relações. De manhã vou pra tarde para me
embevecer da noite de um novo amanhecer domingo. E quando as lembranças doem e
atormentam, é chegada a hora da virtude do esquecimento. Até lá vou no meu voo
sobre o sábado que anuncia que não há fim e sim um outro dia de domingo pra
viver. E aprume a conversa aqui.
PICADINHO
Imagem: Reclining Female, do artista plástico húngaro
Mikos Mihalovits (1888-1940)
Curtindo a Sinfonia em Sol Menor (1893), do compositor,
pianista, organista e regente Alberto Nepomuceno (1864-1920), gravada ao vivo no Teatro Municipal de São
Paulo pela Orquestra Sinfônica Brasileira com regência do maestro Edoardo de
Guarnieri. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – Homo
sum: humani nihil a me alienum puto, verso do poeta e dramaturgo cômico
romano Publius Terentius Afer – Terêncio
(185ª.C – 159ª.C), que expressa os sentimentos humanistas em voga no
Renascimento e que significa Sou homem:
nada de humano me é estranho. Veja mais aqui , aqui e aqui.
O
HOMEM PÓS-ORGÂNICO - No livro O homem pós-orgânico
(Relume-Dumará, 2002), da ensaísta e pesquisadora argentina Paula Sibilia, encontro que: O corpo humano, em sua antiga configuração
biológica, estaria se tornando obsoleto. Intimidados pelas pressões de um meio
ambiente amalgamado com o artificio, os corpos contemporâneos não conseguem
fugir das tiranias (e das delícias) do upgrade. Um novo imperativo é
internalizado, num jogo espiralado que mistura prazeres, saberes e poderes; o
desejo de atingir a compatibilidade total com o tecnocosmos digitalizado. Para
efetivar tal sonho é necessário recorrer à atualização tecnológica permanente:
impõem-se, assim, os rituais auto-upgrade cotidiano. Veja mais aqui.
O
CONTO DOS DOIS IRMÃOS – Na literatura do Egito antigo chegou até o
presente reunida em textos que contemplam inscrições religiosas, mortuárias,
profanas, cenas da vida corrente e diversas outras como em narrações de
batalhas, as sagrações, os jubileus dos faraós, os contos e máximas, as
histórias morais, as decisões judiciárias, os poemas de amor, entre outros.
Entre os poemas de amor, foi recolhido por Visconde de Rougé (Otto Pierre,
1978), numa tradução feita a partir do papiro de Orniney, o célebre O conto dos
dois irmãos: Multiplicaram-se os dias e
os dois irmãos estavam no campo. O primogênito enviou seu irmão caçula dizendo:
vai à cidade e traze-nos grãos. O jovem encontrou a mulher de seu irmão a
trançar os cabelos. Disse-lhe: - Levanta-te! Dá-me sementes para que eu possa
voltar aos campos, pois meu irmão me espera. Não demores. Ela lhe responde: -
Vai, abre o celeiro e toma o que desejas, meus cabelos cairiam no caminho. O
jovem foi ao estábulo e apanhou o vaso grande, pois queria levar muitos grãos;
encheu-o de cevada e de trigo, saindo depois, com sua carga. A mulher lhe diz:
- Tens umas cinco medidas de grãos nos ombros. O jovem concorda e ela continua:
- Como és forte! Notei tua coragem. E desejou conhece-lo como homem.
levantou-se, provocou-o e disse: - Vem! Depois do prazer dormiremos uma hora.
Quero-te: também pus minha roupa mais bonita. O jovem torna-se furioso como uma
pantera escutando esse discurso e ela começa a ter medo. Disse0lhe: - Sempre te
considerei como minha mãe, e teu marido, como meu pai, pois sendo o irmão mais
velho, me educou [...] Quando a noite
chegou, o mais velho voltou para casa e o caçula seguiu os bois. Carregado de
todas as boas produções dos campos, conduzia os animais diante de si para
dormirem no estábulo. Sua cunhada estava inquieta, com o que ele poderia ter
dito ao irmão. Tomou a aparência de uma mulher que foi violentada, querendo
dizer a seu marido: - Foi o teu irmão mais moço que me fez isto. À noite o
marido volta como costumava fazer todos os dias. Chegando, encontra a mulher
estendida, como se estivesse morta pela violência. Não veio, como de costume,
lavar-lhe as mãos e a casa ficou às escuras.... ela permanecia deitada e
despojada de suas vestes. E seu marido lhe diz: - Sou eu quem te fala. – Não me
fales mais – lhe diz ela. – Teu irmão, quando veio apanhar os grãos me
encontrou só e me disse: “Deitemo-nos uma hora juntos. Ele me falava, mas eu
não escutava. Não sou tua mãe, e teu irmão mais velo não é como teu pai? Eu lhe
falava assim. Então ele teve medo e me violentou para que não te dissesse nada.
Também, se o deixas viver eu me matarei. Pois escuta, quando ele voltar esta
noite e eu contar esta perversa história, fará com que ela pareça limpa. [...].
Veja mais aqui.
TRES
POEMAS DE CATULO – No livro ABC da Literatura (Cultrix, 1977), do poeta, músico e crítico literário
estadunidense Ezra Pound
(1885-1972), encontro três poemas do sofisticado e controverso poeta romano Caio
Valério Cátulo ou Catulo, os quais destaco: I – Vivamos, minha Lésbia, e amemos, / e as graves vozes velhas / - todas -
/ valham para nós menos que um vintém. / Os sóis podem morrer e renascer: /
quando se apaga nosso fogo breve / dormimos uma noite infinita. / Dá-me pois
mil beijos, e mais cem, / e mil, e cem, e mil, e mil e cem. / Quando somarmos
muitas vezes mil / misturaremos tudo até perder a conta: / que a inveja ponha o
olho de agouro / no assombro de uma tal soma de beijos. II – Tão caro a mim quanto à moça / de pernas
ágeis (dizem) / a maçã de ouro / graças à qual desatou a cintura / longamente
ligada. III – Salve, moça de nariz
não mínimo, / de pé não lindo, / de olhos não negros, / de dedos não longos, /
de boca não breve, / de linguagem não muito distinta, / amiga do debochado
Formiano. / A ti, beleza de província, / comparam minha Lésbia? / O século sem
graça e sem raça. Veja mais aqui e aqui.
TEATRO
RENASCENTISTA – Na obra Teatro Vivo (Civita, 1976), organizada
por Sábato Magaldi, encontro que: O Brasil
também conheceu esse drama teatral didático e religioso na época da
colonização, através dos autos do jesuíta e poeta espanhol José de Anchieta
(1534-1597). Instrumento de catequização o teatro jesuíta apoiava-se nas lendas
dos mártires e dos santos, incluindo histórias do Velho Testamento e da
mitologia clássica, mostrando em cenas horripilantes as consequências da heresia
e da maldade. Veja mais aqui e aqui.
HISTÓRIA
DO OLHAR – O drama Histórias do
olhar (2002), dirigido
pela cineasta Isa Albuquerque, tem como
pano de fundo a cidade do Rio de Janeiro, na qual se sucedem encontros entre
amigas em uma livraria. Os sentimentos de quatro mulheres, em fases diferentes
da vida, em quatro episódios divididos entre os temas da inveja, do rancor, do
medo e do amor. O destaque é duplo, pois vão para as atrizes Joana Medeiros e Fernanda
Maiorano. Imperdível. Veja mais aqui.
COISAS DO CHICO: A CENA - O cara entra no bar e vê de cara Chico Buarque e começa a esculhambar: -
Filho da puta, odeio suas música, você canta ruim e ainda por cima apoia a
porra da Dilma. Sabe de uma cara: odeio você! E o Chico, geminianamente
respondeu: - Você não gosta de mim, mas sua filha gosta! Ponto final. Veja mais
aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do pintor, desenhista, decorador e
professor Rodolfo Amoedo
(1857-1941). Veja mais aqui.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à artesã
alagoana Artemísia Barroso. Veja
aqui.
AS PREVISÕES DO DORO PARA 2016
Confira os signos e simpatias aqui.
LEITORA TATARITARITATÁ