
AMANHÃ
Amanhã pode ser que eu
detone
Hoje não!
Estou fraca demais pra
jogar a granada
Ela poderá explodir em mim.
Amanhã talvez eu chore
Hoje não!
Eu já implodi por hoje
Meu estoque lacrimal está
em crise
Secaram num prévio sarau.
Amanhã talvez eu vá à
praia
Hoje não!
Já não há em mim Sol à
vista
Nessa noite interna tão
fria.
Amanhã talvez eu te esqueça
Hoje não!
Porque a minha ira por ti
Não me deixa te esquecer.
Mas falta pouco tempo
Para o amanhã chegar:
Fração de minutos!
Isso é só um aviso para
você
Meu amor de hoje,
De ontem
E provavelmente de vidas
passadas
Mas possivelmente não mais
de...
...amanhã.
Porque o teu hoje me deixou
claro
Que teu amanhã não me
pertence
Já que não vives nele.
Até hoje apenas! Adeus!
Poema
extraído do blog Livreto Mágico,
editado pela poeta Sylvia Beltrão - A poetisa do pavão, que é graduada em Letras pela FAMASUL, especialista em
Literatura, acadêmica da Academia Palmarense de Letras (cadeira número 29, cujo
patrono é Ezequias Pessoa de Siqueira) e autora do livro Mistura heterogênea (Livro Rápido, 2014).
A FOME & O NORDESTE - [...]
É constatando hoje a profunda verdade
contida na frase de um estadista do império britânico – “o custo da ignorância
geográfica tem sido incomensurável” -, e não querendo ser tomado de surpresa
pelos fatos históricos em seu acelerado suceder que os dirigentes do mundo de
hoje estão interessados em atualizar a sua carta do mundo e em precisar nela os
traços mais significativos destas áreas de maior tensão social onde as forças
de transformação ameaçam romper os diques das forças de contenção, alterando os
desenhos da carta atual. O Nordeste brasileiro é, sem nenhuma dúvida, uma
destas áreas. Daí o interesse do mundo em obter um,a imagem mais exata de sua
realidade social, uma imagem isenta de preconceitos e de falsas noções. Em
obter, numa palavra, uma carta atualizada da região. [...] hoje tanto se fala do Nordeste, sem se dizer
quase nada do verdadeiro Nordeste e dos seus autênticos problemas humanos.
[...] É este o nosso principal objetivo:
fazer penetrar um pouco de luz nesta densidão, embora esteja o autor certo de
que esta luz só chegará aos olhos daqueles que realmente querem enxergá-la,
porque os outros, aqueles que se negam a ver a evidencia, diante de livros como
este ficarão ainda mais cegos – cegos de raivas ou cegos de medo. Trechos
extraídos da obra Fome: um tema proibido
(CEPE, 1996), do médico,
professor catedrático, pensador, ativista político e embaixador do Brasil na
ONU, Josué de Castro (1908-1973). Veja mais aqui, aqui & aqui.
O TERRITÓRIO E O ESPAÇO - Não é raro ver-se à beira de uma estradinha
de interior um individuo que passa horas cortando a canivete um pedaço de
madeira. Daí não resultará qualquer utensílio ou objeto de arte. Apenas
fragmentos e aparas. É bem mesmo provável que não seja uma atividade regida
inteiramente pela consciência do autor, mas tã0-somente um automatismo
suscitado por uma experiência particular do espaço ou de uma temporalidade mais
lenta. No entanto, por meio desse “jogo” com essa “coisa”, cria-se um lugar,
onde se exerce uma força, uma intensidade, capaz de solicitar a ação repetida
(como num ritual de um sujeito. Pouco importa a significação ou finalidade
desse ato de desbaste da madeira. Ele se insere provavelmente numa tradição e
realiza-se, fora de qualquer intenção de sentido, numa pura tensão entre o lugar-espaço
e a força de realização. [...] O
território como patrimônio simbólico não dá lugar à abstração fetichista da
mercadoria nem à imposição poderosa de um valor humano universal, porque aponta
o tempo inteiro para a abolição ecológica da separação (sofistica) entre
natureza e cultura, para a simplicidade das condutas e dos estilos de vida e
para a alegria concreta do tempo presente. A presença do júbilo tanto na
raridade do valor de uso como no vazio da onipotente acumulação do valor de uso
como no vazio da onipotente acumulação do capital coincide com a atitude em que
conhecer implica abraçar. Trechos extraídos da obra O terreiro e a cidade: a forma social negro-brasileira (Imago/FCEB,
2002), do jornalista,
sociólogo, professor e tradutor Muniz
Sodré, tratando sobre
relação espaço e modernidade, estratégias territoriais, cidade e colonização,
um território segregado, lógica do lugar próprio, força e território, jogo como
libertação, atitude ecológica, entre outros assuntos. Veja mais aqui &
aqui.
A GLOBALIZAÇÃO & AS CIÊNCIAS SOCIAIS - Nas últimas três décadas, as interações
transnacionais conheceram uma intensificação dramática, desde a globalização
dos sistemas de produção e das transferências financeiras, à disseminação, a
uma escala mundial, de informação e imagens através dos meios de comunicação
social ou às deslocações em massa de pessoas, quer como turistas, quer como
trabalhadores migrantes ou refugiados. A extraordinária amplitude e
profundidade destas interações transnacionais levaram a que alguns autores as
vissem como ruptura em relação às anteriores formas de interações
transfronteiriças, um fenômeno novo designado por “globalização”. [...] Expressam apenas a turbulência temporária e
o caos parcial que acompanham normalmente qualquer mudanças nos sistemas
rotinizados. [...] A turbulência
inevitável e controlável para uns é vista por outros como prenuncio de rupturas
radicais. E entre estes últimos, há os que vêem perigos incontroláveis onde
outros vêem oportunidades para emancipações insuspeitáveis [...]. Trecho do
ensaio Os processo da globalização, do jurista e professor Boaventura de
Sousa Santos, extraído da
obra organizada por ele A globalização e
as ciências sociais (Cortez, 2002), tratando sobre a economia e as
migrações, mal-estar e risco social, políticas sociais, solidariedade
internacional, direito dos trabalhadores, ciência e cidadania, educação,
transnacionalização e cosmopolitismo, práticas culturais e identitárias, entre
outros. Veja mais aqui e aqui.
MINHA VIDA DE LOU SALOMÉ - Todos, alguma vez na vida, empenham-se em
começar de novo, como num renascer: tem razão a tão citada frase que chama a
puberdade de um segundo nascimento. Depois de alguns anos, quando já se
conseguiu uma adaptação ao desenrolar da existência que nos cerca, a seus
regramentos e modos de julgar que dominam, sem preâmbulo, nosso pequeno
cérebro, sobrevém-nos, de repetente, com a maturidade corporal que se aproxima,
uma força primitiva contrária de tal veemência, que é como se apenas agora
começasse a tomar forma o mundo em que a criança foi posta – desinformada,
fanática na busca da satisfação de seus desejos. [...] A pessoa que possui o poder de nos fazer crer e amar continua sendo,
para nós, no mais íntimo, o ser humano-rei, ainda que depois se torne nosso
adversário. Por isso, mesmo na consumação do amor mais normalmente orientada,
temos que perdoar o abuso de nossos exageros mútuos [...] Amando, empreendemos juntos como que
exercicios de natação com salva-vidas, fazendo com que o outro, enquanto tal,
seja o próprio mar que nos carrega. Por isso ele nos parece tão único e
precioso como a terra natal e, ao mesmo tempo, tão desconcertante e confuso
como o infinito. Nós, universo tornado consciente e por isso fragmentado, temos
que nos deter e suportar-nos reciprocamente no vaivém desse estado – temos que
consumar nossa unidade fundamental simplesmente com uma demonstração: a física,
em carne e osso. Mas a realização positiva, material, não passa de afirmação
sonora, que contrasta com o iniludível isolamento de cada um em seus limites
pessoais. E é por isso que, precisamente quando estamos empenhados no amor
anímico-espiritual, podemos sucumbir à maravilhosa ilusão de pairar no ar,
“livres do corpo”, unidos quase por cima deste [...].Trechos extraídos da
obra Minha vida (Brasiliense, 1985),
da escritora russa Lou Andreas-Salomé (1861-1937). Veja mais aqui
& aqui.
Veja
mais sobre:
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A ARTE &
A ENTREVISTA DE PAULO PROFETA
Imagem: arte da série Nebulosas, do poeta & artista plástico Paulo Profeta. Veja a entrevista e a poesia aqui.
Imagem: arte da série Nebulosas, do poeta & artista plástico Paulo Profeta. Veja a entrevista e a poesia aqui.