BRINCANDO DE MORRER – Zé-Corninho
deu uma banguela na vida e logo engatou primeira numa paixonite nova pra cima duma
reboculosa que revirou o seu quengo de pernas pro ar. Oxe, o cabra amorcegou as
abundâncias colossais da distinta, de quase vê o tampo voar de tanto
alvoroçamento da gamação. Coisa mais parecida com a primeira vez, abestalhado
de ficar com os bicos dos beiços às beijocas pra ela. Coitado, logo ele já
casado e ajuntado de muitas mancebias tortas e desajeitadas, o que tinha de tapeado
na leseira de corno, tinha de bruguelo chamando pai prali e pracolá, douto de
safadeza, sobrecarregado de todo tipo de moléstia, fosse blenorragia,
gonorréia, cancro, abscessos nos testículos, afora furúnculos e perebas a fole
distribuídas a granel do pau da venta ao solado dos pés, coisa de fazê-lo já
inoculado para se remediar. Mas lá estava ele no cangote dela, quando, na
horagá, o cabra começou a deslizar o disco de embreagem, envernizou e não deu
prosseguimento, coisa de incapaz de cumprir seu dever. A mulher abusou-se,
chamou na grande e reclamou como é que é. O cara lá, em cima no maior impado,
dela perder a paciência e cuspir: ou fode, ou sai de cima! A coisa engrossou
dela sair virada na pata choca, ele todo macambúzio, desconfiado e sacando todo
mundo só de esguelha pra banda dele. Sai pra lá comboio de enxeridos, sou homem
muito machão. Hummmm. Ainda dou no couro, magote de fresco. Hummmm. Um mês,
dois, os familiares dela: e aí, quando vai aparecer o neto? Seis meses, um ano,
como é, esse neto sai ou não sai? Ih! Pra emprenhar, mô fio, tem que dá umas
três peiadas boa por dia. Ou você virou gala rala, hem? Sei não... a
desconfiança já andava na geral. Ah, está caiando, é? Vem cá, desgraçado, você
tocou na intimidade de mulher menstruada, foi? Se tocou, está impuro, aí nem
Jesus do céu que dará jeito nocê, meu amigo. Que nada! Tenho certeza que isso é
coisa da mulher, ela nunca me cheirou bem, toda avançadinha! Esse negócio de
trabalhar, não dá pra mim, todas são muito donas do nariz e isso é meio caminho
andado pra dor de cabeça e pro trupé dar errado. Vá ver, é isso mesmo. Como
dizia minha mãe: a boa mesmo, pra valer, tem que se sujeitar ao marido, senão
vira titia, uma vitalina de ninguém querer nem pra brincar. Já dizia Catão:
mulher é um animal teimoso e descontrolado, tem partes com o diabo, tem que ser
mantida na rédea curta, ali, no certinho e apurado, caqueou, pau no lombo ou
deixa pra lá que serve mais não. Além do mais, mulher que não embucha, não
presta! Mulher pra mim tem que ser virtuosa, casta e sensata. Mas me diga uma
coisa: era virgem? Sangrou? É aquela é? Aquilo é um súcubo! Cruz-credo! Pior
que Xantipa! Os pecados daquilo não tem penitência, chicoteado ou autoflagelo
que dê jeito! Ligue pr’ele não, isso gosta de enredar, vá me conte. Sim? Ah,
meu amigo, tome garrafada de melancia triturada com leite de mulher parida de
filho homem. Dê pra ela também, se ela vomitar, conceberá; se arrotar, aí, meu,
só com outro serviço que esse gorou. E onde achar leite de mulher parida numa
hora dessas, hem? Tô frito! O negócio é sério, olhe só: coloque sementes de
trigo e cevada em bolsos separados e depois mande a mulher passar nas partes
pudendas dela. O que? Isso mesmo, lá nela. Se dois dias depois germinar, ela
dará à luz. É tiro e queda. E se o trigo brotar, é menino; cevada, menina. Danou-se!
Nem reza forte, despacho, mesa branca, catimbó dos brabos, cueca na caçola pela
encruzilhada, não havia jeito. Quando alinhou as ideias, foi providenciar
solução definitiva: Ah, doutor Zé Gulu, o senhor que sabe de tudo, pelo amor de
Deus, me alumia que estou todo entronchado numa quizília que não tem mais fim.
O que já tomei de cachete, chá de todo tipo de coisa que presta e imprestável,
já tive troço e num só dia tive dois infartos, afora outros três que quase me
mata de morte morrida assim no desassossego. O que o senhor me diz, hem,
doutor? Zé-Corminho, se assunte, você tá brincando de morrer, desgraçado?
Parece né, doutor? Tome tento, seu menino, isso é lá coisa que se faça! Pois é,
doutor, eu não durmo mais, é um azucrinamento dos infernos no meu juízo, passou
a fome, num cago mais, mijar até esqueci, estou encruado, enturido e com todo
mundo dando pitaco na minha vida, sem falar na desgraçada da mulher assanhada
como a praga a praguejar porque o brinquedo aqui não quer dar sinal de vida pra
banda dela, como posso com tudo me azoando, me diga, como posso? Ou você manda
tudo pra puta que pariu ou vai morrer de tanto azuretamento! Juízo, moço.
Sorria, penteie as gaias e vá ser feliz, se puder. Segura a onda, Zé-Corninho,
senão o pencó pega e aí babau! © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Com o
Diretor da Pública Municipal Fenelon Barreto, João Paulo e alunos da Escola de
Referência em Ensino Médio (EREM) João Vicente de Queiroz – Água Preta – PE,
conversando sobre Hermilo Borba Filho.
POR UMA
PALMARES SEM TRABALHO INFANTIL - Quanto
mais oportunidade o aluno tiver de ouvir, ver, sentir e escrever, maior será o
seu repertório e a sua sensibilidade para compreender o mundo em que vive.
Essas produções, sejam elas um poema, um conto de fadas com príncipes,
princesas e castelos, uma noticia de jornal, uma reportagem, uma prosa, etc.,
são experiências fundamentais par a formação do leitor, base para o exercício
da cidadania e também para a construção de valores indispensáveis para a vida
em sociedade. Ao relembrar Paulo Freire, que nos chamou atenção para a “leitura
do mundo”, que antecede a leitura da palavra, podemos afirmar que é por meio da
linguagem que o indivíduo reconhece os significados da cultura em que vive,
estabelece relações entre as informações e constrói sentido para si e para o
mundo [...]. Trecho da apresentação escrita pelo Professor Flavio Miranda
de Oliveira para o livro Por uma Palmares sem trabalho infantil: coletânia de
poesias de crianças e adolescentes (Instituto Brasileiro Pró-Cidadania/Tenda da
Cidadania, 2015).
A TEIA
DA VIDA - [...] Defrontamo-nos
com toda uma série de problemas globais que estão danificando a biosfera e a
vida humana de uma maneira alarmante, e que pode logo se tornar irreversível.
Temos ampla documentação a respeito da extensão e da importância desses
problemas. Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais
somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São
problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são
interdependentes. Por exemplo, somente será possível estabilizar a população
quando a pobreza for reduzida em âmbito mundial. A extinção de espécies animais
e vegetais numa escala massiva continuará enquanto o Hemisfério Meridional
estiver sob o fardo de enormes dívidas. A escassez dos recursos e a degradação
do meio ambiente combinam-se com populações em rápida expansão, o que leva ao
colapso das comunidades locais e à violência sistêmica e tribal que se tornou a
característica mais importante da era pós-guerra fria. Em última análise, esses
problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única
crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção. Ela deriva do fato de
que a maioria de nós, e em especial nossas grandes instituições sociais,
concordam com os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção da
realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo superpovoado e globalmente
interligado. Há soluções para os principais problemas de nosso tempo, algumas
delas até mesmo simples. Mas requerem uma mudança radical em nossas percepções,
no nosso pensamento e nos nossos valores. E, de fato, estamos agora no
princípio dessa mudança fundamental de visão do mundo na ciência e na
sociedade, uma mudança de paradigma tão radical como o foi a revolução
copernicana. Porém, essa compreensão ainda não despontou entre a maioria dos
nossos líderes políticos. O reconhecimento de que é necessária uma profunda
mudança de percepção e de pensamento para garantir a nossa sobrevivência ainda
não atingiu a maioria dos líderes das nossas corporações, nem os
administradores e os professores das nossas grandes universidades. [...] Nos ecossistemas, a complexidade da rede é
uma consequência da sua biodiversidade e, desse modo, uma comunidade ecológica
diversificada é uma comunidade elástica. Nas comunidades humanas, a diversidade
étnica e cultural pode desempenhar o mesmo papel. Diversidade significa muitas
relações diferentes, muitas abordagens diferentes do mesmo problema. Uma
comunidade diversificada é uma comunidade elástica, capaz de se adaptar a
situações mutáveis. No entanto, a diversidade só será uma vantagem estratégica
se houver uma comunidade realmente vibrante, sustentada por uma teia de
relações. Se a comunidade estiver fragmentada em grupos e em indivíduos
isolados, a diversidade poderá, facilmente, tornar-se uma fonte de preconceitos
e de atrito. Porém, se a comunidade estiver ciente da interdependência de todos
os seus membros, a diversidade enriquecerá todas as relações e, desse modo,
enriquecerá a comunidade como um todo, bem como cada um dos seus membros. Nessa
comunidade, as informações e as idéias fluem livremente por toda a rede, e a
diversidade de interpretações e de estilos de aprendizagem - até mesmo a
diversidade de erros - enriquecerá toda a comunidade. São estes, então, alguns
dos princípios básicos da ecologia - interdependência, reciclagem, parceria,
flexibilidade, diversidade e, como consequência de todos estes, sustentabilidade.
À medida que o nosso século se aproxima do seu término, e que nos aproximamos
de um novo milênio, a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa
alfabetização ecológica, da nossa capacidade para entender esses princípios da
ecologia e viver em conformidade com eles. Trechos extraídos do livro A teia da vida: uma nova compreensão científico dos sistemas vivos
(Cultrix, 1996), do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui e aqui.
INCLUSÃO
E TRANSVERSALIDADE - [...] Ao falarmos de
inclusão social, portanto, não estaremos nunca nos referindo apenas a um dos
lados desta moeda de inestimável valor. A inclusão é dirigida a todos –
abolidos aí os “normais” e os “diferentes”. A inclusão é direcionada aos seres
humanos. Até porque, os denominados “normais” e “diferentes” possuem os mesmos
direitos perante a sociedade, catalogados por leis e declarações universais.
Mas a inclusão, como todas as transformações sociais em torno dos direitos
humanos que ganharam corpo principalmente a partir da segunda metade do século
XX, não pode ser assimilada e assegurada apenas por fatores externos. Ela deve
nascer da conscientização, da mobilização e da sensibilização de cada um.
Então, o primeiro passo é dentro de nós mesmos. E começa pelo questionamento do
que consideramos normal e diferente, para chegarmos ao essencial – o ser humano.
Trecho extraído da obra Transversalidade
e inclusão: desafios para o educador (Senac, 2009), organizado por Nely
Wyse Abaurre, Mônica Armon Serrão et al. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui &
aqui.
ECONOMIA
DO BRASIL - [...] O Brasil estará
incluído, como não podia deixar de ser, entre as vítimas dessa brusca
reviravolta da conjuntura internacional. Vã0-lhe faltar os recursos suficientes
de créditos e inversões externas que vinham estimulando e assegurando o
processamento normal de suas atividades econômicas. E o pais se verá na
iminência de situação gravíssima, de conseqüências finais ainda imprevisíveis,
mas que começam a despontar e de que já estamos sofrendo o antegosto. Será o
resultado de uma inconseqüente política econômica – em termos das reais
necessidades do país e da massa de seu povo – que iludida com as facilidades
proporcionadas pelo abundante afluxo de recursos externos que uma conjuntura
internacional muito mais especulativa que outra coisa qualquer tinha
determinado, julgou – ou quis julgar, preferivelmente – que o Brasil entrara em
nova etapa de sua evolução econômica, um take-of rostoviano, isto é, a
decolagem descrita nos textos ortodoxos da teoria econômica, que em breve
período elevaria o país à categoria de grande potência.... A dependência em que
se encontrava e se encontra ainda o funcionamento normal da economia, tal como
se acha estruturada, do financiamento do exterior, já não para alcançar
qualquer coisa que mesmo longinquamente se assemelhe aos enganadores índices
especulativa e artificialmente atingidos nestes últimos anos – pois isso nem
pode entrar em cogitação -, mas simplesmente para subsistir normalmente, uma
tal dependência do financiamento externo pode-se avaliar pela maneira como vem
evoluindo e a situação a que chegaram nossas contas externas [...]. Trecho
extraído da obra História econômica do
Brasil (Brasiliense, 1979), do advogado, historiador,
geógrafo, escritor, político e editor Caio Prado Junior (1907-1990).
Veja mais aqui.
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA – [...]
Estavam muito perto do supermercado, em
algum destes sítios se deixou ela cair, a chorar, naquele dia em que se viu
perdida, grotescamente ajoujada ao peso de sacos de plástico por fortuna
cheios, valeu-lhe um cão para a consolar do desnorte e da angustia, este mesmo
que aqui vai rosnando às matilhas que se chegam demasiado, como se estivesse a
avisá-las, A mim não me enganam vocês, afastem-se para lá. Uma rua à esquerda,
outra à direita, e a porta do supermercado aparece. Só a porta, isto é, está a
porta, está o edifício todo, mas o que não se vê são pessoas a entrar e sair,
aquele formigueiro de gente que a todas as horas encontramos nestes
estabelecimentos, que vivem do concurso das grandes multidões. [...].
Trecho extraído da obra Ensaio sobre a cegueira (Companhia das Letras, 1995), do escritor, teatrólogo, jornalista e dramaturgo
português José Saramago (1922-2010).
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PALMARES
Traça o
tempo no teu rosto
esta ruga : velhos engenhos,
casarões e ruas são as marcas
da tua história centenária,
louvada incessantemente
por quem te vê,
pelo ângulo de teu suor e sangue,
pelo mistério de tuas entranhas
e simplicidade.
Soturna, tua voz grita de repente,
como num repente de viola,
a sábia rima popular.
Refugia-se o folclore
nas mãos estigmadas
de quem te faz continuar,
quando cultiva fazendo florescer,
quando da navalha busca a doçura
neste ofício tão anônimo
que alimenta tuas raízes mais profundas!
És teu próprio canto.
És tua própria poesia.
Tua rima mais concisa.
Tua consciência.
Teu povo mantendo,
nesta ruga do tempo,
a marca talvez triste,
mas legítima, pois se eterniza
no açúcar que tudo te custa :
paisagens, almas e crenças !
esta ruga : velhos engenhos,
casarões e ruas são as marcas
da tua história centenária,
louvada incessantemente
por quem te vê,
pelo ângulo de teu suor e sangue,
pelo mistério de tuas entranhas
e simplicidade.
Soturna, tua voz grita de repente,
como num repente de viola,
a sábia rima popular.
Refugia-se o folclore
nas mãos estigmadas
de quem te faz continuar,
quando cultiva fazendo florescer,
quando da navalha busca a doçura
neste ofício tão anônimo
que alimenta tuas raízes mais profundas!
És teu próprio canto.
És tua própria poesia.
Tua rima mais concisa.
Tua consciência.
Teu povo mantendo,
nesta ruga do tempo,
a marca talvez triste,
mas legítima, pois se eterniza
no açúcar que tudo te custa :
paisagens, almas e crenças !
Poema do
escritor e professor Vilmar Carvalho, autor dos livros Escritos: história, literatura e cultura letrada (Scortecci, 2008),
Bordel Barroco: alegoria de Epicuro
Soares (Bagaço, 2011), Letrados e
ufanos: história do Club Litterario de Palmares 1882-1910 (Bagaço, 2011), O poeta que virou estante (Bagaço,
2011), entre outras obras, editor do blog História, prosa e poesia. Veja mais aqui & aqui.
ENTRE
VERSO DE LUCIAH LOPEZ
Também
neste sábado, 12/08, das 15 às 17hs, no Solar do Barão, lançamento do livro Entre
Versos: a palavra branca é nua, da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez, no sarau Café, poesia
& canção, de Siomara Reis, em Curitiba - PR. Veja mais aqui & aqui.