terça-feira, agosto 25, 2020

BYUNG-CHUL HAN, NIETZSCHE, NANCY HOLT, JOSUÉ MONTELLO, GRANJA SÃO BENTO & AS FACES DO DR LAO


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... UMA ENTRE OUTRAS FACES DO HORROR - Ninguém sabe de nada, calendário incerto, vida de um olho a outro no horizonte e a mortandade em ascensão, rondando e escapulo, quantos sucumbem desde as previsões da Johns Hopkins e o simpósio Evento 201, em outubro. Tem horas chego arrepiar, porque trouxe à tona o terror de The eyes of darkness (1981), de Dean Koontz, com o primeiro caso que estourou janeiro em Macau, quando em Pequim passaram a usar máscara na estação de trem e durante as buscas no mercado atacadista de Wuhan, enquanto a contaminação já avançava na Malásia e ganhava o mundo se espalhando rapidamente. No Brasil, tudo aqui em férias, só se falava de carnaval como sempre depois da virada do ano, todo mundo nem aí e Koots era o gatilho para as teorias da conspiração, já que o surto pandêmico grassava e saiu varrendo o mundo. Quando passou a folia, foi que a gente tomou pé da situação e ninguém mais soube de nada daí em diante, nem a do Eric Toner atuando desde 1980 na preparação da saúde para eventos catastróficos, gripe pandêmica e resposta médica ao bioterrorismo, autor de inúmeros artigos a respeito, inventou de organizar várias reuniões com líderes mundiais e grandes corporações, visando a preparação de hospitais para enfrentamento da crise pandêmica, resultando, mesmo com a antecedência dos anúncios da Hopkings, em pleno fracasso. A iniciativa antecipada do capitalismo de combater a pandemia malogrou e, como no passado, tudo é encoberto e os dados manipulados. E daí uma coisa apenas é certa: mesmo com subnotificação, ausência de testes e má vontade política, milhares diariamente vão desaparecendo para nossa real consternação e incerteza. Essa uma das faces do horror, respirar está ficando cada vez mais difícil.

DUAS PRAS SETE - Vi As sete faces do doutor Lao (1964), o premiado circo itinerante de George Pal, a despertar curiosidades e constrangimentos. Vi uma a uma delas, cada uma, e me impressionei. Baseado na obra homônima do professor, abolicionista e avivalista estadunidense, Charles G. Finney (1792-1875), uma metáfora sobre o poder e os desejos mais ocultos e obscuros de cada um. A mim me parecia cada uma delas aquilo que fui e sou. Vi e era Apollonius, Merlin, Pã, a serpente gigante, a Medusa, o homem das neves, afora me tornar o magnata Stark e, ao mesmo tempo, o seu opositor Cunningham para a realização dos sonhos da bibliotecária viúva, Angela, tendo tempo ainda de sonhar com a excitação sensual da Kate Lindquist na cena com Pã, nada mais real para a minha criativa solidão. Aí a falta de energia me deixou fora do ar. Nessa hora Nietzsche soou humano, demasiado humano: Por falta de repouso nossa civilização caminha para a barbárie. É o que confirma na Topologia da violência (Vozes, 2017), o filósofo Byung-Chul Han: Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização. Sem descanso e insone a gente vai persistindo, perseverando, impossível dormir e acordar do sonho, nefelibata e somítico até não aguentar mais. Esta a nossa guerra diária, o lamentável expediente da guerra.

TRÊS IDEIAS E É POSSÍVEL SONHAR: AINDA HÁ ESPERANÇA... (Imagem: Sun Tunnels: Sunset, 1976, da escultora e artista conceitual estadunidense Nancy Holt (1938-2014) – O Sol nasce no horizonte e a esperança me leva outra vez para vida. É maravilhoso viver. Ouço a voz de Nancy Holt na sua performance do Boomerang (1974): Sim, posso ouvir meu eco! Na sua voz, alimento minhas utopias, são tantas, assim vivo. Em apoio, Josué Montello: O que caracteriza a utopia é constituir uma aspiração que ultrapassa o indivíduo que a formulou, e o tempo imediato, para ser uma aspiração de muitos, e para muitos, num tempo futuro. Pode-se dizer, sem receio de erro, que a utopia é consubstancial à condição humana. Ninguém realiza sem sonhar. Para realizar eis a minha esperança: o poder de sonhar cada vez mais e sempre é o que me faz viver plenamente. Até mais ver.

O MASSACRE DA GRANJA SÃO BENTO
Houve um tempo no Brasil, não muito distante, de criminalização do pensamento. O pensar diferente que exerciam o poder pela força das armas levou milhares de pessoas às masmorras da ditadura, ao sofrimento físico e moral das torturas, do banimento, à clandestinidade, e às famílias as dores da morte e angústia sem fim do cruel desaparecimento. A repressão política agiu sempre ao arrepio de todos os princípios jurídicos reconhecidos pela Ordem Internacional para assegurar os direitos humanos e as garantias individuais, com desrespeito aos tratados e até mesmo às próprias normas internas impostas no período ditatorial que buscavam simular um estado democrático de direito. Nesse quadro, diversos foram os acontecidos a marcar a brutal violência imposta aos militantes da oposição pelos agentes do Estado a serviço dos que exerciam com mão de ferro o poder expresso pelo uso da força. [...].
Trecho do prefácio do advogado Humberto Vieira de Mello, para o livro O massacre da granja São Bento: a história de como um traidor e um torturador se aliaram em um dos crimes mais brutais da ditadura militar no Brasil (CEPE, 2017), do jornalista Luiz Felipe Campos, um apelo contra o esquecimento sobre o assassinato de quatro homens e duas mulheres militantes contra a ditadura militar, em um sítio da região metropolitana do Recife, em 1973. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


HIRONDINA JOSHUA, NNEDI OKORAFOR, ELLIOT ARONSON & MARACATU

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Refúgio (2000), Duas Madrugadas (2005), Eyin Okan (2011), Andata e Ritorno (2014), Retalho...