DOIS VERSOS E OUTROS
DA SAUDADE RECORRENTE – Imagem:
ilustração do EP Saudade (Record Sleeve Design, 2019), da banda Soma Soma, cujo som se dá com a fusão
de samba, hi-life, afrobeat e bossa – Quem da boca para fora o coração aceso
pode sorrir sem sangrar a ausência doída. Aonde for se paisagem esplêndida ou
corrimão solitário, o talho de ontem e agora na língua desde a dor anímica. Feito
o verso de Bento Prado Júnior: Resta a exaustão, / mãos
trêmulas, a cara contra o chão, / resta o lamento. Resta o reinício, / a longa
e calcinada espera. Resta-me / reter a força para o outro gesto. O poema
lava a alma e eu aprendi com Josué Montelo: Quem tem
saudades nunca está só. E a minha voz é o eco das vozes comigo de
todos os choros e risos. 
TRÊS SÃO PORQUE TUDO É POESIA – Choro e sorrio, a saudade é extrema, a
vida prossegue. Sou pela poesia e nela me refaço a todo o momento, como no Teardrop – Monument to Being Earthbound
(1984), da artista conceitual húngara Agnes
Denes: Lamento muitas coisas sobre a vida
humana, sobre a natureza humana. Eu me preocupo com o
lado inferior da humanidade, o pensamento ruim versus o bom. Admiro muitas coisas sobre a humanidade, mas também estou ciente de
muitos erros que vamos cometer. Isso pode me fazer querer
me preocupar com o futuro. Mas acho que vamos conseguir. E é a
poesia que me leva até onde não sou e posso estar para enfim ser, como no
versar da poeta Paula Glenadel: Atualmente,
assim se mostra a poesia para mim: uma ginástica interior visando a uma
liberdade maior, a uma espécie de alforria, um modo de naufragar bem, quer
dizer, de naufragar bastante e alegremente, de entrar no não-saber da coisa
toda, de sustentar o vício da dúvida entre perceber e conhecer, tudo isso na
certeza visceral de que pensar pesa. E assim voo porque tudo é poesia, a poesia
é tudo. Até mais ver.
ROSAS A MACHADO, DE ANA LISBOA
A arte da gravadora, artista
plástica, pesquisadora e professora universitária Ana Lisboa - Ana Elizabeth Lisboa Nogueira Cavalcanti.
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