quinta-feira, agosto 27, 2020

AMADO NERVO, BETINHO, AGOSTINHO DA SILVA, MAN RAY & GENINHA DA ROSA BORGES


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DAS COISAS DESSES TANTOS BRASIS... O Doro nunca se emendou, agora quer consertar tudo! Agora, pode um negócio deste? Nunca é tarde, mas pergunto: Vai dar tempo? Quem sabe. Desde que ele virou a cabeça fã daquela atriz que dizia durante a campanha de 2002 que tinha medo, ele mesmo passou a repetir por aí: Eu tenho medo do Brasil virar uma desgraceira braba! Ele, como a atriz, tinha medo de tudo, até da esperança equilibrista, do Natal sem fome e até do Betinho, aquele ser incandescente de dignidade: O que somos é um presente que a vida nos dá. O que nós seremos é um presente que daremos à vida. Isso o Doro não ouviu e na última eleição, idem ação da sua idolatriz, também coisou: com ele deu Coisonário na cabeça do primeiro ao quinto, no grupo, centena e milhar. Pois é, o tempo passa. Nem bem um ano e meio depois, ele entra em estado de soslaio: Como é, hem? Hummmm... E começou a assuntar: manchas de óleo nas praias do Nordeste, fogo assassino do Dia D na Amazônia e no Pantanal, Queiroz sumido da rachadinha e depois preso e com grana na primeira dama, o terraplanismo (oxe, mas a terra num é redonda, meu?), o negacionismo (ah, sim, nego enquanto puder e de pés juntos, abro não!), perdão das dívidas das evangélicas e do agronegócio em plena pandemia e isso, aquilo, aqueloutro, peraí! Como é que é? Etceteras outras e peibufe cois&tal, até adesão ao jogo do Centrão – aquele da velha política fisiologista formada por deputados dos PP, Republicanos, Solidariedade, PTB, PSD, MDB, DEM, PROS, PSC, Avante, Patriota & Pêessedêbê (PSDB meeeeesmo) e num sei quantos fdps dos pqps, articulados em torno da liderança do presidente do Congresso Nacional (quem é?!?) e, vixe, ainda perguntam por que o Maia não aceitou os trocentos pedidos de empeachment!?! Dá para entender ou quer que eu desenhe? Que é que foi, Doro? Rapaz, o negócio é sério! Como assim? Fui enganado, estou pior que corno quando descobre a furunfada da nega véia lá de casa com safadeza pra cima dum pintudo amolegado e saindo na minha testa! Que é que há, rapaz? Eu pensei que o cara fosse limpo, mas é mais sujo que pano de chão depois da maior farra, com a especialidade de matar e de usar tanto óleo de peroba a ponto de mentir chega o cu dele apita que ouço daqui, meu! Eita! Como é que fui cair numa esparrela dessa? Ah, Doro, você e 57 milhões de eleitores caíram nessa, até gente instruída, coisa inacreditável, afora mais de 42 milhões de votos nulos e mais de 2 milhões e meio em branco! Ah, eu sei, estou de olho neles, alguns tão acordando; outros, nossa, que povo mais dorminhoco! Pois é, Doro, o ódio já passou dos limites. É, vou chamar na grande: Acorda, gente! Ainda hoje passou por mim rouquinho da silva de tanto gritar!

DUAS CENAS & UM TEATRO SURREAL – Imagem: Black and White (1926), do fotógrafo, pintor e anarquista estadunidense Man Ray (1890-1976). - Cena 1: Duas lindas garotas discutiam com o garçom que se negava atendê-las. O atendente chamou o gerente e este reiterou a impossibilidade de atendê-las. Ora, mas por quê? Não dava para entender. Armou-se o maior escarcéu, protestos gerais. Já me levantando para mandar o garçom servi-las que eu pagaria, quando uma lindíssima jovem apareceu do nada – tinha as faces maquiadas com pétalas de gerânio e as sobrancelhas marcadas com cinza de fósforo, olhos vivos, lábios salientes, decote atravessando os seios, vestido colado às suas formas corporais e ao longo da cintura pelas coxas e pernas aos dedinhos dos pés delicados. Cena 2: A encantadora jovem que parecia não ter nada a ver com as duas insatisfeitas, arregaçou a saia até o joelho, pôs o pé na cadeira e subiu na mesa para um discurso com voz estridente: Nunca mais ponho o pé nesta espelunca! Sem chapéu, sem sapatos e sem calcinha! E levantou o vestido até a cintura, de fato: cabelos soltos, descalça e nua! Uma ovação. Cena 3: Intervi e contornei tudo, acertando logo com o garçom e o gerente, mandei servi-las no que quisessem, enfim, levei tudo a bom termo apaziguando o pandemônio, o que me fez ganhar a simpatia delas, logo aboletadas à minha mesa. Pronto. Conversa vai, conversa vem. Como é seu nome, linda? Kiki (na verdade Alice), falava pelos cotovelos nervosamente: Eu estava tão feliz que a pobreza não me afetou. A palavra pesar era como hebraico para mim. Simplesmente não significa nada. Olhava pros lados, inquieta, instigadora e, de repente, virou-se para mim e disse: Você fala muito sobre amor, mas não sabe como fazê-lo. Eu, como assim? Bláblábláblá! Olhei para as outras duas que apenas riam de tudo, inclusive de mim. Dei minhas risadas, mesmo sem entender as piadas ou o que eram delas. Ela então fitou decididamente nos meus olhos e inquiriu: Qual é a sua? Aí dei uma de Man Ray: As ruas estão cheias de artesãos admiráveis, mas tão poucos sonhadores práticos. Uma das satisfações de um gênio é sua energia e obstinação. Os truques de hoje são as verdades de amanhã. A conversa rolou meio sem sentido, com esquisitices, afirmações soltas e senso atordoado pela embriaguez, de bar em bar, no cinema, pensei pintá-la ou fotografá-la, ela recusou: Fotografia não é arte, hehehehe, eu e elas, noite madrugadadentro nem sei como, sei que amanhecemos juntos e ela topou posar nua para minha arte.

TRÊS OLHADELAS, NENHUMA CONCLUSÃO – Imagem do fotógrafo, pintor e anarquista estadunidense Man Ray (1890-1976) – Poderia dizer que já vi de tudo; não, acredito que não, mas já vi um bocado de coisa que fugiu do sensato para a calamidade. Sim, coisa para lá de impensável, doidice das grandes, mesmo para quem que, como eu, professo aquela do Agostinho da Silva: Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo, cada um deles só exprime metade da vida. Sou do paradoxo, que a contém no total. Sim, pois medo de nada nem da morte, enxergo razoavelmente bem apesar da idade, só tenho dores nas costas da coluna ou dos dentes, ou no anular da mão direita, entrevado que só ou um talho qualquer de perder o esparadrapo, esqueço de tudo, péssimo com datas, não sei do calendário e ando impressionado com o tanto de estúpidos que aparecem cada vez mais a cada momento, e lamento muito o crescente número de mortes deste genocídio, ouvindo Amado Nervo: Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós. Aqui, pontualmente não sei que horas são e se vai dá pé, não sei. Sei que há sinais por todo canto e para todo lado, é só olhar direito, os sinais estão para serem descobertos. Descubra, eu persigo na minha. Até mais ver.

GENINHA DA ROSA BORGES, A DAMA DO TEATRO
É preciso sonhar, ousar e trabalhar. Assim os sonhos se realizam. Não tenho preferencias, qualquer personagem depois de vencida é por mim vivida e interpretada sempre com muito carinho e honestidade. Quando conseguimos senti-la integralmente é o que basta e estamos compensados. Fizemos um bom papel.
Trechos extraídos da obra Geninha da Rosa Borges, a dama do teatro (AIP/CEPE, 1997), de Márcia Botto, sobre a trajetória da premiadíssima atriz Geninha da Rosa Borges.
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