DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE
AQUELA... IDADE, O TRÂMITE DA VIDA - Da infância, os
dias fagueiros na companhia de avós, pais, tias e parentes até de um olho só. Todo
dia descobria um primo distante, da gente chapinhar no brejo, invadir quintais,
inventar presepadas. Todos estavam vivos e a mesa era farta. Da adolescência,
as cabuladas de aula, a ojeriza pela marcha ginasial, a indiferença das moçoilas
namoradeiras, os bregues constantes pelas escapulidas. Nem me dei conta do
amadurecimento, nem aos trinta nem aos quarenta, novinho em folha, com tudo em
cima e em dia. Só quando envelheci e a maturidade falou mais alto. Tinha que
viver para ver cada coisa de retrocesso nesse Brasilzão e o mundo arrepiado
parou de vez. Hoje, entre a quarentena e o genocídio, tal qual o deus Jano,
miro o passado e o futuro. Ao me posicionar com esta atitude reflexiva, Delacroix explicita: Esta vida humana, tão breve para as mais
frívolas experiências, é para as amizades uma prova difícil e demorada. Para
não sofrer, trabalhe. Ouvi-lo e não olvidei: da labuta desde os dez anos de
idade, ainda hoje um workaholic e
resiliente, sem que tenha amealhado qualquer centavo, aposentadoria tão
distante quanto inalcançável, perspectivas de muita mão-de-obra ainda pela
frente. Lucia Santaella anima de lá:
Agir, reagir, interagir e fazer são modos
marcantes, concretos e materiais de dizer o mundo, interação dialógica, ao
nível da ação, do homem com sua historicidade. Não sei mais, fecho os olhos
e vivo agora, é o que me resta. Vou.
DUAS DE OUTRAS TANTAS DOS DITOS & DESDITOS - Ao fechar os olhos pude refletir melhor entre o
apoteótico avanço tecnológico e a desigualdade social, a explosão produtiva e a
desertificação de áreas continentais, o estratosférico conhecimento e a
indigência intelectual, a riqueza paradisíaca de poucos e a pobreza grassando
nas periferias das cidades e para muitos, demais. Contradições tantas quantas
ideologias, até o capitalismo emperrar e se engasgar com a pandemia, enquanto
direitos são usurpados como se mandonismo fosse um disfarce do que é democrático.
Indagar sobre a vida, imediatamente na cara aquela: tudo tem um preço. Hem? Como
sempre fui desindinheirado, tudo que tenho é a força do meu braço, é dele que
me valho. Foi aí que me vi naquela do Carlos Eduardo Novaes, na sua As
Confidências de um espermatozoide careca (Nórdica, 1986): Na verdade
há um mundo de sensações a serem exploradas no corpo humano. Para excitar um
parceiro você pode trabalhar com
as mãos, os pés, os lábios e a língua. Melhor
sorrir, como a piada de outro: A história
de Cândido Urbano Urubu (Nórdica, (1975). Das companheiras, dei de pronto com
Alice naquele A mulher
integral (1975): Mas nós não vamos lutar pela
igualdade de oportunidades, igualdade de salários, igualdade de direitos,
enfim. E essa luta tem que começar
aqui. Sim, sim,
aquiesci. Aqui e agora, mesmo. Por isso mesmo, ao meditar, só tenho o presente,
nada mais.
TRÊS PERSPECTIVAS SÓ
COM A DA VEZ – Sim, apenas o
presente, mesmo que reduzam a ganhar ou perder, ou empatar, das três, nenhuma:
a vida intensa, plena, na condição de que possa ser o último dia. E fazer o
melhor porque, na prova dos noves, somando experiências, dividindo emoções,
subtraindo o desagradável e multiplicando as esperanças, ninguém amanhã, já que
os mais próximos já pinotaram pra outra, os conhecidos estão longe e ao redor
só expectativas. Afinal, amanhã nem existe de mesmo, só quando agora, ao flagrar
o exato momento em que a fotógrafa e artista visual austríaca Birgit Jürgenssen (1949-2003) me diz: É como estar a par dos segredos do laboratório de um alquimista,
animado por suas franquezas e fraquezas humanas. No horizonte
quantas direções e lá vou eu. Até mais ver.
A ARTE DE CAROL DE ANDRADE
Em tudo que eu fotografo, eu procuro poesia. Procuro
uma forma de passar aquele quadro que eu estou imaginando, aquele recorte
lúdico do que é, na verdade, uma cidade caótica. O Recife-sonho seria um lugar
com mais gente sentada na calçada, na cadeira de balanço vendo criança brincar
na rua. E não o trânsito, barulho e sujeira.
A arte da fotógrafa Carol
de Andrade, que é formada em Fotografia pelas
Faculdades Integradas Barros Melo (AESO). Veja mais aqui e aqui.