DOS QUE PUXAM E SE
ENROLAM – Da esquerda pra direta, um atrito; ou
vice-versa, um choque. Ô vida, só vale bate-boca, aqui ou ali um conflito. Josuíto
mesmo acusou Marcolano de desonesto! O negócio pegou fogo, virou contenda e se
engalfinharam. Um segurando na beca do outro, a mãe no meio e o bafo das
ruindades. Quanto mais bufavam, mais botavam lenha pra queimar. Olho no olho,
arregaçado de mangas, a treta decolando o desacordo. Vem Sebruíno para apartar,
precisa de pulso pra deixar por menos a desavença. Não é bem assim. Ao intervir,
foi atropelado por uma carrada de razão com réplicas e tréplicas sem fim. Cada qual
seu gênio e coração na roda. Tome finca-pé. A coisa incendeia com a gasguita
agulha de vitrola que chega tomando partido. Foi preciso segurá-la pra não
botar tudo a perder. Sebruino entusiasmado tudo fez para ela, dedo na venta, levantar
a saia e baixar as calcinhas, seria o fim. Josuíto primo dela, puxou-la de lado,
defendendo o marido que ronca até quase meio dia. Nessa hora Marcolano dobrou o
matraqueado, ofensa ousada neles apimentou a discórdia. Alto lá, gritou ela,
deitou tintim por tintim no dissenso. Eu sou homem! Ah, não é lá grande coisa, não,
se trouxer a fita métrica, a prova dos nove. Venha ver se não arregaço, quenga!
Duvido fazer o teste da goma, disse ela como se acreditasse na sorte numa vida
só de fiasco, digeria seus dissabores. O frege subiu de temperatura. Ou tira
essa mulher daqui, ou eu não me responsabilizo!, decidiu a vítima. Faz o quê,
ouse se for macho! A querela já ia nas alturas da esquina, levando o rolo pelas
ruas, e tome gente dando pitaco, atiçando. Não é pra menos, as rusgas são cumprimentos;
escaramuças, as saudações: Aquele fidumégua é corno até debaixo d’água, só se
salva porque é meu amigo e pronto! A forma carinhosa e terna no tratamento
entre uns e outros é como se uma peleja estivesse pronta pro pugilato: Esse
fidapeste só não tem hipocondria, mas o resto, carrega tudo no couro, verdadeira
boceta de Pandora! A amizade é um laço feito de duelos em descascar a reputação
do outro: Esse fuleiro caipora fuma tanto que até as plantas no jarro tossem de
madrugada na casa dele! E a certidão da amizade dá-se arranhando a cara outro:
Como é? Ah, esse punheteiro só para o vício quando dá câimbras ou nas mãos ou
no pau! Duvida? Assim os compadrios estreitos, pessoas íntimas, da laia, um dia
chegam ao rompimento: Quem segura amizade com um sujeito perdulário desse, hem?
Chararau, veio desgraça pro compadre e, evidentemente, que os achegados tinham
outros planos e não contavam com uma moleza dessas, azar o dele, fica para
trás. Mas onde come um, comem todos; na hora da requesta: De que lado você está
mesmo, hem? Um pé de peru sempre alivia a cizânia: Olhe aqui que eu trouxe
procê, tá vendo? Gostou? Isso é só pros do coração, viu? E quando a coisa
entorta: Basta seguir o que digo que haverá solução para tudo, hem hem. Em cima
da cartilha a lição pra qualquer disputa. Na cisão, o escárnio: Um ou outro
aqui que vivem; a maioria, só existe mesmo, figurantes, caboetas. De qualquer
forma tem algo errado, tem de ter. Há quem diga: Quem me dera, daria qualquer
real para viver em paz, e toca fogo no primeiro boato que ouve. Assim caminha a
comunidade: feliz e risonha entre vamos juntos e cada um por si, pendengas e
rasga-boca, insultos e palminhas nas costas. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS
[...] Quando o
mundo real se transforma em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres
reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico. O espetáculo, como
tendência a fazer ver (por diferentes mediações especializadas) o mundo que já
não se pode tocar diretamente, serve-se da visão como um sentido privilegiado
da pessoa humana – o que em outras épocas fora o tato; o sentido mais abstrato,
e mais sujeito à mistificação, corresponde à abstração generalizada da sociedade
atual [...] O princípio do fetichismo
da mercadoria, a dominação da sociedade por “coisas supra-sensíveis embora
sensíveis”, se realiza completamente no espetáculo, no qual o mundo sensível é
substituído por uma seleção de imagens que existe acima dele, e que ao mesmo tempo
se faz reconhecer como o sensível por excelência [...] o uso sob sua forma mais pobre (comer, morar) já não existe a não ser
aprisionado na riqueza ilusória da sobrevivência ampliada, que é a base real da
aceitação da ilusão geral no consumo das mercadorias modernas.O consumidor real
torna-se consumidor de ilusões. A mercadoria é essa ilusão efetivamente real, e
o espetáculo é a sua manifestação geral [...] O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato
de todas as mercadorias. O dinheiro dominou a sociedade como representação da
equivalência geral, isto é, do caráter intercambiável dos bens múltiplos, cujo uso
permanecia incomparável. O espetáculo é o seu complemento moderno desenvolvido,
no qual a totalidade do mundo mercantil aparece em bloco, como uma equivalência
geral àquilo que o conjunto da sociedade pode ser e fazer. O espetáculo é o
dinheiro que apenas se olha, porque nele a totalidade do uso se troca contra a
totalidade da representação abstrata. O espetáculo não é apenas o servidor do pseudo-uso,
mas já é em si mesmo o pseudo-uso da vida [...]
Trechos extraídos da obra A sociedade do espetáculo (Contraponto, 1997), do escritor e
pensador francês Guy Debord
(1931-1994), denominando o período atual de sociedade de consumo
ostentatório e do espetáculo, por conta da ênfase que o mundo moderno/pós-moderno
dá à imagem, provocando um deslizamento do “ter” para o “parecer”, na qual a
mercadoria (descartável) consumida tem um lugar preponderante e é exaltada de
forma significativa. Acrescenta o autor que a teatralidade é outra
característica desse tipo de sociedade, na qual cada membro se insere como um
ator na cena social, com grande contribuição da mídia. Veja mais aqui.
A ARTE DE EVELIN SIN, SINHÁ
A arte
da poeta, grafiteira e artista Evelin
Sin, ou simplesmente Sinhá e também conhecida como Eveline Gomes, é autora
dos livros Devolva Meu Lado De Dentro (2012), Na Veste Dos Peixes As Palavras
De Ontem (2014), Manga Espada (2015) e Fevereiro (2018). Veja mais aqui.
DOSE DUPLA DE POESIA:
DOIS POEMAS DE SELMA RATIS
PERGUNTA – Oh! Mulher o que
é isso aí? / - É tudo que você / quiser que seja! / O cálice onde você / bebe e
se embriaga / com o vinho / da fantasia. / É a fonte onde / sua imaginação se
sacia / é a montanha onde / você sobre até o / cume do prazer!
BRAGUILHA – Ao
ver um homem / em pé, vestido / isolado, semelhante / a uma ilha. / O que me
encanta / não é o peito, a barriga. / Não são os sapatos / a combinar com as
meias. / O que me atrai e seduz / é o contorno, o desenho / da braguilha.
Poemas recolhidos da obra Falo
com flauta & poesia (Babecco, 2012), da poeta Selma Ratis.
DOIS POEMAS DE CONCEIÇÃO
RAMOS
PALMARES – Paixão, /
história, / memória, / meu chão... / Meu berço, / minh’alma, / meu terço, /
minha calma. / Lembranças, / fantasias, / crianças, / poesias. / Meu povo, /
minha gente, / meu tesouro, / minha mente. / Razão... minhas dores! / Emoção...
Meus amores!
Poema extraído da obra Íntima
mente tua (Tarcisio Pereira, 2017).
MULHER – Beleza / cor /
sabor / alegria / furor / música / luz / o toque / o tom do batom / e o perfume
da flor; / bendita seja a palavra bem dita / na intimidade feminina / pois
estará nela / todo o desejo de continuar... / VIVA!
Poema extraído do livro Ver
melhor (Tarcisio Pereira, 2018), da professora e poeta Conceição Ramos. Veja mais aqui
&
muito
mais na Agenda aqui.